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A Conjugação Do Verbo Amar
A Conjugação Do Verbo Amar
A Conjugação Do Verbo Amar
E-book322 páginas4 horas

A Conjugação Do Verbo Amar

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Sobre este e-book

O amor é o sentimento mais puro e, ainda assim, o mais intenso que o ser humano é capaz de sentir. O amor não vê aparência, dinheiro ou conquistas materiais, ele vê unicamente a maneira que você se sente por outra pessoa, seja por alguém da sua família, um amigo, ou aquela pessoa especial por quem você se apaixona. Dylan Johnson pensava entender sobre o amor baseado no que sentia por seus pais, seu irmão, sua melhor amiga e sua filha. Mas tudo o que nutria dentro de seu peito sofre uma bagunça sem igual e um entendimento tão vasto e complexo quanto a galáxia quando conhece Thomas Thompson, um sorridente atendente da loja de coisas de bebê que, além de roubar sorrisos de sua filha apenas com sua presença, também passa a roubar suspiros do próprio Johnson.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de dez. de 2021
A Conjugação Do Verbo Amar

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    A Conjugação Do Verbo Amar - Ohmycherry

    A Conjugação do Verbo

    Amar

    OHMYCHERRY

    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    AGRADECIMENTOS

    Cada um que me ensinou sobre o amor ao longo da minha vida merece um agradecimento, mesmo que nem todos tenham sido de maneira positiva. Tudo faz parte desse grande aprendizado que é a vida, afinal.

    Mas há aquelas pessoas que merecem meu mais sincero

    obrigada, uma vez que todos os dias doam uma parte de si para me fazer feliz. E tem quatro pessoas em específico que consigo pensar enquanto escrevo isso.

    Por isso, eu preciso agradecer aos meus pais, minha irmã e aquela amiga que é a minha pessoa (como diria a série favorita da minha mãe).

    Então, meu agradecimento vai para as quatro pessoas que todos os dias me mostram que o amor é muito além de uma palavra no dicionário. Obrigada, Beatriz, Débora, Fábio e Karol. Obrigada por me apoiarem, estarem ao meu lado (algumas vezes não fisicamente, infelizmente), por aguentarem meus surtos, secarem minhas lágrimas e provocarem meus sorrisos constantemente.

    Agradeço também a sete pessoas que nunca vão ler isso, mas que foram a trilha sonora dos meus momentos de escrita e conforto dos momentos de bloqueio criativo.

    Sem eles, talvez essa história nunca saísse da minha cabeça.

    A todos, o meu mais sincero obrigada.

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    Esse livro é dedicado a todos que, de alguma forma, me ensinaram a conjugação do verbo amar.

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    Prólogo

    2016.

    Dylan Johnson.

    Uma lágrima solitária escorre por meu rosto, pingando na bochecha da pequena menina que tenho em meus braços. A dor em meu peito quase não cabe, está começando a transbordar por meus olhos e não era bem isso que eu desejava mostrar para a minha filha no primeiro contato que temos um com o outro.

    Acontece que eu não estava preparado. Não no quesito ser pai, afinal para isso ninguém nunca está verdadeiramente pronto, mas sim para perder a mãe da minha filha.

    Eu sinto muito. Foi isso o que o médico me disse, mas esse é seu discurso ensaiado para qualquer óbito que ocorra em suas mãos. Não tinha o que fazer, a culpa não foi dele.

    A verdade é que desde a primeira consulta nós sabíamos que Victoria não tinha o necessário para gerar um bebê e manter sua saúde ao mesmo tempo. Ela era estranhamente frágil em inúmeros aspectos.

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    No entanto, era seu sonho. E eu, como seu melhor amigo, resolvi ajudá-la.

    Victoria namorou durante três anos, mas seu namorado não queria filhos e isso ocasionou a separação dos dois. No fundo, compreendo. Ele não fez isso por não a amar, mas sim por entender que, se ficassem juntos, estaria privando-a da realização de seu maior desejo. Isso, na minha percepção, não deixa de ser um gesto de amor e respeito.

    Poucos meses depois, Vic me procurou e pediu a minha ajuda, alegando que iria fazer inseminação artificial e cuidar do filho sozinha. Minha melhor amiga era arquiteta, tinha um bom emprego, uma boa casa e um carro, além de uma condição financeira que certamente a ajudaria nesse momento.

    Ainda assim, me assustei assim que soube que o tipo de ajuda que ela precisava vindo de mim não era exatamente o que eu imaginava. Ela queria que, de certa forma, eu fosse o pai. E não é como se a ideia de um filho me assombrasse, só que a adoção sempre passou pela minha mente ao invés de realmente procriar. Só que… o que eu não fazia pelo sorriso dela? Ela era a pessoa mais importante do mundo para mim, era como parte da minha família.

    Busquei uma solução em conversas com a minha mãe e ela me aconselhou a seguir o meu coração. Todo mundo sempre soube o quão bem eu me dava com crianças, portanto que na adolescência cuidava dos meus sobrinhos quase como se fossem meus próprios filhos.

    Foi por isso que aceitei.

    Victoria fez um tratamento, eu a acompanhei em todas as consultas, e depois de seis meses nós descobrimos que ela estava grávida. Foi a maior alegria que senti na minha vida enquanto tinha minha melhor amiga escorada em meu ombro, chorando e agradecendo por eu a ter ajudado.

    E quando eu ouvi o coração do seu bebê bater, pela primeira vez, algo em mim também mudou e eu soube que não

    [ 8 ]

    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    conseguiria me afastar nem que quisesse muito. Logo, pedir que eu fosse somente padrinho do meu próprio filho não seria justo.

    Eu quero registrar como meu filho. Quando eu disse isso, Victoria chorou ainda mais e me agradeceu, porque ao menos seu filho cresceria com o amor da mãe e do pai, que era uma realização em tanto para ela, que cresceu sem nenhum dos dois.

    Meu relacionamento acabou chegando ao final por conta disso, afinal meu namorado não conseguia aceitar que eu teria um filho com a minha melhor amiga. Ele aceitou bem no começo, enquanto era somente um plano, mas no momento em que se concretizou, ele simplesmente terminou comigo e ainda me chamou de traidor.

    Que fique bem claro, eu nunca me envolvi com Victoria de tal forma, nunca a dei um sequer selinho que fosse, estava fazendo tudo unicamente pela nossa amizade. E, bom, ela podia ser linda, mas eu nunca gostei de mulheres. Logo entendi que ele não me amava mais e que buscou uma saída para me largar.

    Estou melhor sem ele, apesar de ter chorado por algum tempo de saudade.

    Conforme os meses se passaram, Victoria precisou se afastar do trabalho, e eu passava todo o tempo livre cuidando dela. Vic era frágil de inúmeras maneiras, mas a gravidez a levou a um estado totalmente diferente do esperado, o que lhe causou muitas dores, tanto no corpo quanto na cabeça.

    Quando descobrimos que seria uma menina, nós não decidimos um nome, mas eu sabia do seu desejo, sabia que nossa bebê precisaria se chamar Destiny, afinal minha melhor amiga vivia sonhando com uma menina que tinha esse nome.

    Nenhum de nós compreendia o porquê, mas mesmo apenas por meio dos nossos olhares entendíamos que esse seria sim o nome da nossa filha.

    [ 9 ]

    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    As coisas ficaram complexas quando Victoria teve uma hemorragia no final da sua gestação. Nunca vou esquecer que, enquanto chorava de dor e apertava minha perna dentro do carro, ela me pedia para cuidar da nossa filha. E eu senti que ela estava, de alguma forma, se despedindo de mim.

    Mas era só uma hemorragia, não? Não. Perder sangue não pode ser considerado alguma coisa. É algo grave, sim.

    E tive a confirmação disso cerca de oito horas mais tarde, quando tinha minha filha em meus braços e um médico me afirmando que Victoria não tinha sobrevivido. Ou salvariam ela, ou a nossa filha. Não podiam ajudar as duas. E era óbvio o que Victoria tinha escolhido.

    E eu tive sorte da minha pequena estar dormindo quando veio para meus braços, caso contrário ela me veria chorar já na primeira vez em que nos vemos.

    — Ela é linda — minha mãe comenta ao meu lado, emocionada com a neta mais nova.

    — Victoria a viu? — questiono ao médico, que permanece em nossa frente. — Ela conseguiu pegar a filha por pelo menos um minuto?

    — Ela não teve forças para segurá-la, mas, sim, Victoria a viu — me afirma, mas, sendo honesto, isso não me tranquiliza.

    — Ela foi muito forte por muito tempo, Sr. Johnson. Ela disse que… O papai Dylan iria cuidar dela.

    É necessário que eu me sente, pois sinto que tudo em minha volta começa a girar. As coisas não deveriam ser dessa forma, o destino não tinha que nos separar desse jeito. Pior que isso, pior que nos separar, não podia privar minha melhor amiga de realizar o próprio sonho!

    Assim que olho para a pequena em meus braços, noto as semelhanças que ela tem, tanto comigo quanto com Victoria.

    Os lábios grossinhos feito os meus, o nariz arrebitado como o de sua mãe, bochechas gordinhas que me fazem querer mordê-la…

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    — Ela é perfeita — sussurro para minha mãe, que apenas concorda ao meu lado enquanto acaricia uma das mãozinhas da bebê. — E é verdade, meu amor, o papai Dylan vai te dar todo o amor e carinho do mundo, tudo bem? Porque eu amo você, Destiny. E eu sempre vou cuidar de você.

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    01. O verbo chorar

    2016.

    Dylan Johnson.

    Um. Dois. Três.

    Contar até três me faz parar e focar em minha própria respiração. É importante em momentos de estresse, ansiedade, ou quando é preciso engolir o choro em meio a uma reunião importante do trabalho. Segurar as emoções ao longo dos últimos quinze dias tem sido extremamente difícil. Não é como se eu não colocasse para fora o que sinto, mas é que a vontade de chorar vem sempre nos piores momentos. Ou seja, quando Destiny precisa de mim.

    Tê-la em meus braços é, de fato, a parte mais satisfatória dos meus dias. Jamais seria capaz de negar o quão bem a paternidade tem me feito e o quanto sou capaz de amar a minha pequena. Ela é a pessoa mais importante da minha vida, sim. Mas acontece que olhar para ela sempre me faz pensar em Victoria, tendo em vista que os acontecimentos ainda são recentes e a vontade de chorar sempre vem junto com as lembranças.

    [ 13 ]

    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    Ganhei cinco dias de distanciamento do trabalho, tanto pelo luto quanto por ter me tornado pai — o que meus colegas dariam risada em outros momentos, afinal tive um filho com minha melhor amiga, mesmo nunca tendo me deitado com alguma mulher ao longo da vida. Mas, em respeito ao momento, eles somente me desejaram um bom descanso e deram apoio.

    E os dez dias após esse descanso só me desgastaram.

    Incrivelmente, no momento mais cansativo do dia, onde preciso ajudar minha filha a gastar suas energias, é o horário em que me sinto mais renovado. Como se ela fosse o sol me fazendo florescer.

    Qualquer analogia que eu possa fazer ainda soará simples se comparado a tudo que minha filha tem sido capaz de me proporcionar. Eu deveria ser seu protetor, seu porto seguro, sua base. Mas, nesses dias, ela é quem tem significado isso para mim. É ela quem me impede de desabar, de fato.

    Chorar no banho, ou no caminho para casa, é apenas uma porcentagem de tudo que venho guardando e que preciso deixar se esvair.

    Mas, quando estou ao lado dela, contando histórias, fazendo gracinhas, a dando carinho… a tristeza vai embora sozinha por um tempo e eu me renovo ao menos oitenta por cento. Não é exagero declarar que Destiny é como uma cura diária na minha vida.

    — Calma, bebê, o papai já vai chegar — a voz de minha mãe ecoa pelo corredor juntamente do choro de minha pequena.

    É o fim de mais um dia de trabalho, contei os minutos para poder estar em casa, cuidando do meu bem mais precioso.

    Destiny não chora muito, sendo sincero. Meus colegas me contam diariamente histórias um tanto quanto tenebrosas sobre como seus filhos não dormem e estão sempre chorando por fome, dor ou sono. A minha bebê não é assim.

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    Bem, até agora, ao menos.

    Assim que adentro o quarto e minha filha parece sentir minha presença, o choro toma maior intensidade. E antes mesmo que eu possa cumprimentar minha mãe, pego Tiny em meus braços e a deixo com o rosto entre meu ombro e meu peito, onde ela sempre se aconchega. Não gosto de tocá-la logo após chegar da rua, tenho meu ritual de primeiro tomar um banho e trocar de roupa, mas não consigo me segurar perante seu pranto.

    Sua mãozinha tão pequena agarra minha camisa social e o choro diminui gradativamente. Minha presença a acalma de um jeito quase assustador. Não entendo como apenas estar perto dela já pode ser o suficiente.

    — Ela ficou quietinha o dia inteiro, gostou de apertar os brinquedinhos de borracha como sempre faz, dormiu e tomou mamadeira tranquilamente, mas conforme ficou mais perto de você chegar, ela se agitou muito — conta minha mãe. —

    Estou há quase vinte minutos tentando acalmá-la.

    — Me perdoe pela demora, mãe, o trânsito estava horrível

    — explico baixinho, temendo assustar Destiny. — Você pode ir, deve estar cansada.

    — Tome seu banho primeiro, depois eu vou.

    Concordo com a cabeça e tento devolver Destiny para minha mãe assim que a percebo sonolenta. No entanto, sua mãozinha continua presa em minha camisa e seus olhos se arregalam no mesmo instante, como se temessem me perder de vista. Acabo sorrindo, percebendo que não importa o quanto eu tente, ela não vai me deixar agora.

    — Vou cuidar dela primeiro — informo.

    Em seguida, minha mãe se despede, alegando que não ficará para jantar, pois tem um encontro com meu pai. Meus pais são o casal mais incrível que já pude conhecer. Mesmo casados há tantos anos, os dois ainda têm esses encontros

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    como se estivessem no começo do namoro. Sou muito grato por ser filho deles.

    Os dois viajavam bastante, mas com a chegada dos meus sobrinhos, começaram a passar o tempo livre com os netos, já que sempre foram apaixonados por crianças. Não é à toa que minha mãe cuida de Destiny enquanto eu trabalho.

    — Não se preocupa, Tiny, o papai vai tirar férias e vai ficar um mês inteirinho agarrado em você — comento junto a um sorriso. Só ela consegue me fazer sorrir. — Agora vamos cochilar.

    A arrumo em meu colo e sigo para o andar de cima. Ainda não montei o quarto da minha filha, pois preciso buscar na casa de Victoria suas coisas e não criei coragem até o presente momento. Tenho apenas mais alguns dias, visto que a casa dela será leiloada, mas ainda não me sinto pronto.

    Possivelmente farei isso no final de semana com a ajuda dos meus pais. Tenho mais dois dias para me preparar psicologicamente.

    Isso não significa que eu vá, de fato, aguentar passar por isso.

    ○ ○ ○ ○ ○

    Destiny é um bebê muito calmo. Não digo isso apenas por amá-la incondicionalmente ou por ela ser minha filha. Uma coisa não tem absolutamente nada de relacionado com a outra.

    Acontece que cada dia ao seu lado me faz perceber mais ainda que ela se parece com um verdadeiro anjo. Encontro a todo instante semelhanças dela tanto comigo quanto com Victoria, e só consigo ver beleza pairando ao seu redor.

    E isso não necessariamente se resume ao seu físico. Ela é linda de todas as formas.

    No entanto, assim que eu chego em casa e ela se agarra em mim, o único momento em que me solta é ao dormir. Isso

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    porque ela dorme comigo, com sua mãozinha segurando meu dedo indicador. E é a coisa mais linda do mundo vê-la com a bochecha gordinha contra o travesseiro, o que a amassa e faz com que um lindo biquinho fique em seus lábios.

    Quando ela acorda, tem uma pequena crise de espirros —

    que, me julgue, eu acho extremamente fofa — e em seguida boceja e leva uma das mãos aos olhinhos. É a coisa mais adorável do mundo inteirinho, não canso de dizer. E quando ela sorri, então? Como é que uma boquinha sem um sequer dentinho consegue ser dona do meu sorriso favorito?

    Ela faz toda a tempestade ir embora, faz o arco-íris brilhar em meus olhos. Sou o homem mais feliz do mundo por tê-la ao meu lado. Destiny foi o melhor presente que Victoria poderia me dar.

    — É a coisa mais linda do papai — sussurro antes de deixar um beijinho em sua bochecha e finalmente me levantar para tomar meu banho.

    Como sempre durmo ao seu lado, somente crio uma proteção do outro lado da cama para que ela não caia quando eu não estiver perto. Desta vez, no entanto, coloco mais almofadas, pelúcias e travesseiros no lugar geralmente ocupado por mim, assim me sinto um pouco mais tranquilo para ir para o meu banho.

    Ainda assim, certo receio me abate e eu deixo a porta encostada, temendo que ela se movimente muito e acabe caindo. É engraçado, eu fazia isso quando era adolescente para cuidar dos meus sobrinhos, não pensava que fosse fazer o mesmo com a minha filha, pensei já ter um pouco de experiência.

    Mas, bem, todo cuidado é pouco. Não quero arriscar machucá-la nem nada parecido.

    Durante o meu banho, lembro-me de Victoria, de novo. Não é fácil, ela é a primeira morte que preciso encarar desde que me tornei adulto. Meus avós, ao menos os dois que conheci,

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    faleceram quando eu ainda era criança. Logo, não saber lidar com o que sinto agora é extremamente normal, acredito eu.

    Sendo sincero, não enxergo uma receita certa do que fazer em situações como esta. A morte é a única certeza que temos na nossa vida, mas ainda assim nós não sabemos o que fazer quando a encaramos porque, bem, ela geralmente não nos dá um aviso prévio. Ela só… bate na sua porta. Ou melhor, ela invade a sua casa sem nem bater.

    O que eu quero dizer, é que ficar triste por perder quem amamos, é natural. Não saber o que sentir quando algo assim acontece, também é normal.

    E um dia, eu talvez não sinta mais essa tristeza toda.

    Mas a saudade, essa eu sei que sempre vai ficar aqui.

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    02. O verbo sofrer

    2016.

    Dylan Johnson.

    Três meses atrás…

    — Tenho medo de não ser uma boa mãe — Victoria comenta, deitada em minhas pernas enquanto recebe um cafuné que diz ser o melhor do mundo. — E se ela não gostar de mim?

    — Vic, isso é impossível — acabo rindo, porque até pensar em algo assim parece loucura. Como se concordasse, nossa filha chuta Victoria, que acaba rindo apesar da breve dor. —

    Viu? Ela concorda comigo!

    — Você acha que ela vai nos achar estranhos porque somos melhores amigos e nunca sequer nos beijamos? — indaga na sequência. Já havia entendido que era um dia de insegurança total em minha melhor amiga.

    — Victoria, pare de pensar nessas coisas — acabo rindo outra vez. — Ela vai nos amar, sei disso.

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    Momentos atuais…

    A lembrança faz uma singela lágrima escorrer por minha bochecha. Não pensei que entrar no apartamento dela seria tão difícil ou que me traria tantas memórias assim. Mas, era um pouco óbvio, no final das contas. Eu que quis fingir o contrário.

    — Ok, eu fico com a Tiny e você pega o que precisa — minha mãe avisa e eu apenas concordo com a cabeça, me sentindo anestesiado ao ver os porta-retratos nas paredes. — Bebê, não vai te fazer bem ficar aqui por muito tempo, seja o mais rápido que puder, tudo bem?

    Concordo outra vez e dobro as mangas da minha camisa, agradecendo por usá-la por vontade própria e não pela obrigação do trabalho. Ser publicitário tem suas vantagens, entretanto estou feliz por finalmente ter minhas merecidas férias.

    — Acho que o berço pode ficar inteiro no caminhão — meu pai comenta. Ele e minha mãe aceitaram me ajudar a carregar as coisas de Destiny, meu pai até pediu a um amigo seu que fizesse a mudança no seu caminhão de frete. Eu tenho os melhores pais, não canso de dizer. — Aqui a bolsa para as roupas dela.

    Aos poucos, preencho uma bolsa e cinco caixas de roupinhas, brinquedos e fraldas. Victoria não fez um chá de bebê ou coisa parecida, ganhou poucas coisas de seus colegas de trabalho. Eu ganhei mais coisas do que ela. E, bom, Victoria sempre implicava quando eu gastava, afinal estava pagando suas consultas e a levando em todas elas. Na minha percepção, isso era o mínimo que um pai precisava fazer.

    Só que agora percebo o quão pouca coisa minha pequena tem e o fato de que vou gastar o dinheiro todo das minhas

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    [A Conjugação do Verbo Amar], por [OhMyCherry]

    férias comprando roupas para ela. Um bebê cresce muito rápido, então sei que preciso comprar roupinhas de vários tamanhos para acompanhar o crescimento de Destiny sem precisar me preocupar tão cedo.

    Certo, já tenho o que fazer com ela nas minhas férias: ir ao shopping.

    — O guarda-roupa que seu irmão deu vai ser o bastante?

    — meu pai pergunta após carregar a última caixa.

    Eu ainda estou no quarto olhando algumas coisas.

    — Sim, se roupas de gêmeos couberam lá, da minha pequena vai até sobrar espaço — brinco, apenas porque quero engolir a vontade de chorar que está se apossando. — Tem alguma caixa sobrando?

    — Sim. O que você quer guardar?

    — Os porta-retratos — afirmo. — O ensaio que fizemos ficou lindo. Quero mostrar para Destiny no futuro.

    Meu pai apenas sorri e me ajuda a tirar todos os porta-retratos das paredes, em seguida colocando-os dentro da caixa.

    Por último, entro no quarto dela.

    Eu estou com medo, Dy. Foi a última frase que ela me disse, dentro de seu quarto, quando a peguei no colo para levá-la ao hospital.

    Vai ficar tudo bem com vocês duas. Foi o que respondi.

    — Eu sinto sua falta… — acabo sussurrando, observando o painel acima de sua cama, que tinha a foto do ensaio que ela fez para exibir a barriga enorme e linda. — Todos os dias.

    Sinto

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