Ecos Do Meu Pensamento
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Ecos Do Meu Pensamento - Thiago Cherem
Tô rico,
Tô pobre
O brasileiro é um feriado
Nelson Rodrigues
O
Brasil é uma ressaca interminável.
Pobre de quem nasceu por aqui querendo levar as coisas a sério. Crescemos em um país onde os personagens ricos da novela das nove sempre foram os grandes vilões. Por aqui, nos acostumamos a furar filas já que ninguém estava olhando mesmo.
.
Na obra de Ariano Suassuna, O Auto da Compadecida, João Grilo vivia dizendo: tô rico, tô pobre
. E esse é o retrato de uma nação. Povo acostumado a viver o dia do pagamento com intensidade e o resto do mês cortando o cafezinho.
Nenhum brasileiro está impune. O que deixamos de lembrar com frequência, entretanto, é que isso nunca vai mudar. Viveremos sempre como massa de manobra de uma classe política dissimulada, de uma cultura deturpada em seus valores que a cada década escancara mais o absurdo, canoniza os pobres e demoniza a riqueza. Somos expostos aos modelos de fracasso como se eles fossem carregados de virtude. Experimente fazer algum dinheiro, trocar de carro, mudar de apartamento. Não demorará até pensarem: "Deve estar roubando.,
No Brasil quem tem grana é ladrão. ou
Tem dinheiro mas não é feliz.".
A pior parte? Perdemos tempo demais discutindo o futuro abstrato de uma nação que corre atrás do próprio rabo há séculos. Nos tempos da Coroa, em 1808, havia um ditado: "A coroa é grande, mas o mato é maior.". Nunca fomos, de fato, governados. Isso tudo sempre foi uma tremenda bagunça, só que ainda assim gastamos tempo demais tentando encaixar essas peças quebradas.
Um dos fenômenos mais doentios de hoje é testemunharmos cada vez mais jovens da minha idade, de vinte e poucos, trinta anos que adoram discutir sobre possíveis soluções para os problemas lá de Brasília, mas são incapazes de trocar uma lâmpada. Nossos avós teriam vergonha.
Não é raro encontrarmos pais de família que passam o dia no WhatsApp discutindo sobre o sistema de governo chinês e a onda socialista que ruma ao ocidente, mas não conseguem levar estabilidade financeira a sua própria casa. Homens e mulheres, cada vez mais estufam os peitos, cheios da razão, ditando o caminho que julgam como o certo para a sociedade. Trazem todas as respostas para resolver o Brasil nas redes sociais, mas são incapazes de pagar a conta de luz ou salvar um filho que está engasgando. Isso quando houver um filho, porque boa parte são pais de cães e gatos morando na casa dos pais.
Seja qual for a sua posição social ou condição financeira, não importa. Não é este o ponto. Se você quer discutir sobre esquerda e direita, não há o menor problema. Se você não está nem aí, acha que está tudo bem, não cabe a mim dizer o contrário. O que há de ser um belo de um problema é quando pessoas que não são capazes de controlarem nem a si mesmas e a própria vida acham que podem dizer aos outros como se gerencia um país. Discutir sobre essas abstrações não deve ser prioridade. Elas não o tornarão mais digno ou especial do que a média. Não são úteis para sua esposa, filhos, família e muito menos para você. Não estão na vida real. A maior arrogância que pode haver é a de alguém que procura resolver os problemas do mundo atrás da tela do celular.
Não podemos nos dar o luxo de esperar o Brasil dar certo, para darmos certo.
Muitas das coisas que nos afetam são inevitáveis: Os impostos, a ruinosa atuação do Estado, a briga interminável entre os partidos políticos. Uma das poucas certezas que teremos estando nessas terras, é a de que nossos políticos roubarão todos os nossos centavos até seus últimos dias. São realidades que, infelizmente, aceitam infinito debate e gasto de energia, mas não passam de tópicos irrelevantes. Isso mesmo, irrelevantes. Jamais deveríamos perder tempo falando sobre coisas tão fora do nosso controle. É um clichê que nos esquecemos constantemente.
Somos uma nação, há séculos, formada por gado — massa de manobra. A imensa maioria dos brasileiros viverá estacionada, vitima dos políticos de carreira e ganhando menos de três mil reais por mês para sempre. Pouco importa sua indignação, pois não está ao seu alcance mudar isso. Concentre-se no que importa. Se você pensa que pode mudar o sistema judiciário expressando sua revolta nas festas de família, reflita, porque não reluto em acreditar que toda essa energia pode ser melhor empregada noutro lugar. É isso que somos: gado. Nos contentamos com muito pouco. Com qualquer coisa que nos dê uma pequena vantagem aqui ou ali. Preferimos viver de jeitinhos.