Sobre o riso e a loucura
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Sobre o riso e a loucura - Hipócrates
Introdução
O riso e a loucura de Demócrito
Rogério de Campos
Os homens se ocupam com coisas indignas, honrando e perdendo tempo com o que não tem valor nenhum, consumindo a vida, preocupados com coisas prosaicas e risíveis.
Carta 17, de Hipócrates a Damageto
Hipócrates de Cós (Cós, 460–Tessália, 377 a.C.), o pai da medicina grega, tem seu nome atado à coleção conhecida como Corpo Hipocrático. Embora nem todos os tratados dessa coleção estejam de acordo entre si, ela permanece como conjunto representativo da obra de Hipócrates, embora seja, na verdade, o conjunto de textos encontrados na biblioteca de sua escola em Cós. Esses tratados foram produzidos de fato em períodos diversos, compilados na época helenística e não podem ser considerados de Hipócrates em sua totalidade. Uma vez que o Corpo Hipocrático não transmite, pela natureza arbitrária da reunião, uma doutrina única e coesa da escola, ele permanece no tempo como uma ampla coletânea de textos heterogêneos. Mesmo assim, a coleção é uma verdadeira biblioteca
na qual se encontram mais de 50 tratados que nos trazem informação ampla e variada. Não é por acaso que a coleção foi copiada e recopiada ao longo dos séculos, oferecendo importante documentação acerca da arte medicinal antiga.
As cartas presentes nesse volume, embora façam parte do multifacetado Corpo Hipocrático, não provém da pena do ilustre médico. Trata-se de um documento pseudoepigráfico acerca do pensamento médico e literário helenístico, uma vez que seu vocabulário torna possível circunscrevê-las nesse período em que o próprio Corpo Hipocrático foi reunido.
Das cartas
As cartas de 10 a 21 contam uma viagem de Hipócrates a Abdera para sanar a suposta loucura de Demócrito. Nessa ficção, um conjunto de cartas é produzido. Cartas são trocadas, num primeiro momento, pelo conselho de Abdera e Hipócrates, e, num segundo momento, enviadas de Hipócrates a Damageto, a Ameleságoras, a Cratevas, a Dionísio e a Filopoeme. A maioria delas trata dos preparativos da viagem de Hipócrates, a qual se concretiza somente na carta 17, momento do encontro ficcional entre os dois pensadores.
O pequeno conjunto de epístolas é um belo exercício retórico acerca do encontro entre Demócrito e Hipócrates. Na verdade, não há epistolário conhecido entre os dois pensadores, embora não tenha sido impossível encontrar um pretexto ficcional que levasse a descrever os preparativos da viagem de Hipócrates e o encontro com Demócrito, que na verdade é a parte principal do texto. O exercício retórico de inventar um lugar em que transcorre a narrativa (diēgēsis) tem como matéria o encontro dos pensadores.
O Tratado acerca da loucura
(carta 19), anexo à carta 18 de Demócrito a Hipócrates, bem como a devolutiva deste a Demócrito, Acerca do uso do heléboro (21), anexo à carta 20, fornecem uma imagem de um Demócrito que justapõe o materialismo atomista à tradicional medicina hipocrática, doutrinas que não são de forma alguma excludentes entre si, mas que guardam algumas significativas diferenças.
Hipócrates sempre foi conhecido pela sua teoria dos humores, bem como pela sua crítica à superstição que ligava epilepsia e possessão divina.1 Demócrito foi conhecido pelo atomismo, segundo o qual o universo teria sido criado de modo espontâneo pelo turbilhão primordial. Hipócrates nessas cartas é o artífice demandado para curar a loucura de Demócrito, que por sua vez, na narrativa, busca uma explicação sobre a causa da loucura. Tal sobreposição entre as doutrinas acaba por revelar o ambiente das teorias helenísticas, principalmente o epicurismo. Esse Epicuro
das cartas é capaz de resgatar Demócrito e reavivá-lo, operando ainda algumas modificações em suas teorias tradicionais.
Para Epicuro os átomos não tinham movimento ígneo e ascendente como para Demócrito, mas declinavam (parenklisis), condição sem a qual não haveria a integração da matéria. Esse movimento próprio do átomo epicurista tem forte repercussão na ética, uma vez que a alma, também composta de átomos, teria uma inclinação própria, o que quer dizer que o homem, a partir daí, poderia seguir a inclinação da sua alma, movimento que se traduz na autarquia, no autodomínio. Essa autarquia aponta para uma diferente ética, para uma maior liberdade e responsabilidade nas escolhas em diversas esferas. Não foi à toa que Marx estudou as diferenças entre as filosofias naturais de Demócrito e de Epicuro, visto que só a partir de Epicuro se observa com clareza uma autodeterminação
desse tipo, ou essa independência dos homens com relação aos desígnios dos deuses.2
Epicuro foi categórico nesse ponto, ao defender que os deuses existem em um intervalo (diastēma) diferente do intervalo em que vivem os homens, e daí a impossibilidade de comunicação entre esses mundos.3 Por isso também os homens, segundo ele, não deveriam temer os deuses. O epicurismo pode ser observado nas cartas, na medida em que põe em xeque a percepção superficial dos homens de seu tempo e os retrata consumidos pela desmesura do desejo, traduzido na carta 17 pela ganância exacerbada. Infelizmente, nem sempre o epicurismo foi lido pelo viés que lhe é próprio, o da busca por uma boa medida dos desejos, mas, ao contrário, na maior parte das vezes, foi lido simplesmente como uma filosofia hedonista.
O atomismo, recodificado pelo epicurismo, observa