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Órbita Baixa
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E-book448 páginas5 horas

Órbita Baixa

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Sobre este e-book

ROBERTO MORAES se esforçou muito para tornar-se executivo de uma multinacional. Quando assumiu uma divisão no sul do Brasil, acreditava ter subido mais um degrau na sua já bem sucedida carreira. Não esperava, porém, que seria chamado para “outras atividades” na empresa, as quais exigiriam passar a viver uma vida dupla, entre o dia-a-dia “normal” e algo totalmente diferente, no qual suas responsabilidades superavam muito as que detinha. Ao conhecer uma divisão da Empresa da qual pouco sabia, se perguntava se foi uma boa ideia aceitar o “convite” para trabalhar distante de sua família. Afastado da empresa há vinte e cinco anos, foi surpreendido por uma ligação de um ex-colega e amigo, o qual não via desde então. Voltam então lembranças que desejava deixar no passado, obrigando-o a retornar para o convívio de sua antiga empresa e de alguém que tornava presentes e vivas essas lembranças, num ambiente de intriga internacional, corrupção e assassinatos, que o levariam ao outro lado do Atlântico em busca de respostas. Roberto deve agora solucionar um mistério que pode colocar em risco sua família e a estabilidade da paz mundial. Ao mesmo tempo, a felicidade e calmaria de seu ambiente familiar são colocados a prova, diante de uma paixão do passado que retorna. Sob a dor da perda, assume a responsabilidade de ir até o fim, custe o que custar. ÓRBITA BAIXA traz uma história que junta os principais componentes de uma boa leitura: narrativa simples, porém intrigante, a qual vai construindo uma linha do tempo e de fatos os quais colocam o leitor dentro da história, tornando a “vontade de não parar de ler” inevitável. Nos faz também refletir sobre como são conduzidas as relações internacionais, das quais pouco sabem as “pessoas comuns”, sendo apenas coadjuvantes da história.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de jun. de 2023
Órbita Baixa

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    Pré-visualização do livro

    Órbita Baixa - Fernando Borges

    Prefácio I

    Quando recebi o convite para escrever o Prefácio de Órbita Baixa, me senti honrado. Primeiramente por tratar-se da obra de um grande amigo, e não menos importante, alguém que admiro muito, por sua inteligência e habilidade em comunicar.

    A obra, nesse caso, é quase uma impressão digital, poderia dizer que uma extensão do autor, a riqueza de detalhes, a forma com que comunica com o leitor, e o formato de narrativa utilizado, te levam para dentro dos ambientes descritos, constroem, de maneira singular, a imagem dos personagens. Simplesmente magnifico!

    Detalhes, ambientes, aromas, cores, características, biotipos; muito bem – mas e os sentimentos, as sensações? Confesso que pensei, no início da leitura, ele (o autor) não irá conseguir me envolver…, vou ler como um crítico o faz!. Mal sabia eu que ao virar a página minha repulsa seria instantânea por um dos personagens.

    Se encontrei todos os atributos de um bom livro nessa obra, em que a narrativa consegue tornar o leitor um participante da história, creio ser Interessante mencionar que o leitor é levado a uma viagem por locais reais, os quais, através da narrativa, consegue quase estar lá fisicamente. Numa viagem por paisagens que vão do Sul do Brasil para a Califórnia, New York, passando por Paris e indo até o limite entre o Ocidente e o Oriente, em uma cidade na Turquia que divide dois Continentes e faz parte da história, chego à conclusão que, sim, esse é um bom livro!

    Conversando com o autor, e sendo seu amigo, entendi no momento em que me contou estar escrevendo, que a intenção não era criar mais uma fonte de renda, ou assumir a condição de escritor profissional. Sua ideia era seguir uma inspiração, algo prazeroso, e queria dividir isso com outras pessoas. Permitir que elas viajassem em um ambiente de aventura, romance, suspense, mas sem propor a elas um super-herói. O personagem principal é, na verdade, uma pessoa comum. Alguém como eu, como você, ou qualquer outro que encontramos em nosso ambiente profissional e pessoal. Como a história é ambientada em um dia-a-dia do personagem, muito ficou em aberto. Com esse estilo de construir a história, o autor cria curiosidade no leitor, fazendo com que muitas perguntas fiquem sem resposta. Inclusive se a história irá continuar, para o passado ou para o presente.

    Não posso deixar de registrar que o livro tem uma leitura fácil, que traz o cotidiano dos personagens, e tem muita vocação a teledramaturgia, visto que tudo nele é muito real.

    Me diverti muito lendo Órbita Baixa. Acredito que seu objetivo, que é justamente proporcionar às pessoas um momento de relaxamento, um break no stress do dia-a-dia, foi alcançado. Uma viagem ao imaginário, do qual qualquer um poderia estar participando. Vivendo.

    André Rosa

    Prefácio II

    Órbita Baixa constitui um excelente enredo no qual podemos garimpar ideias inovadoras. Apresenta também a evolução tecnológica nos últimos vinte e cinco anos. É atual e possui um desafio futurista a ser explorado.

    O autor, por outro lado, demonstra no personagem sempre um relacionamento familiar, social e empresarial exemplar; algo imperdível.

    Gamil Fanor Lagemann

    Introdução

    ROBERTO MORAES se esforçou muito para tornar-se executivo de uma multinacional. Quando assumiu uma divisão da empresa na Filial Porto Alegre, no sul do Brasil, acreditava ter subido mais um degrau na sua já bem sucedida carreira. Como gerente de divisão, liderava um grupo que compreendia a área comercial e técnica da empresa, atuando em Clientes de alto segmento. Não esperava, porém, que seria chamado para outras atividades na empresa, as quais exigiriam passar a viver uma vida dupla, entre o dia-a-dia normal e algo totalmente diferente, no qual suas responsabilidades superavam muito as que detinha, e exigiria dele um envolvimento maior do que um executivo de uma multinacional norte-americana. Ao ingressar e conhecer uma divisão da Empresa da qual pouco sabia, se perguntava se foi uma boa ideia aceitar o convite para trabalhar distante de sua família.

    Vinte cinco anos após ter deixado a empresa, sem manter mais nenhum contato com ela ou seus antigos integrantes, foi surpreendido por uma ligação de um ex-colega e amigo, o qual não via desde que se afastou. Voltam então lembranças que desejava deixar no passado, obrigando-o a retornar para o convívio de sua antiga empresa e de alguém que tornava presentes e vivas essas lembranças, num ambiente de intriga internacional, corrupção e assassinatos, que o levariam ao outro lado do Atlântico em busca de respostas.

    Roberto deve agora solucionar um mistério que pode colocar em risco sua família e a estabilidade da paz mundial. Ao mesmo tempo, a felicidade e calmaria de seu ambiente familiar são colocados a prova, diante de uma paixão do passado que retorna. Sob a dor da perda de um amigo, assume a responsabilidade de ir até o fim, custe o que custar.

    O que realmente está por trás da morte do amigo? O que de fato está acontecendo com sua antiga divisão de trabalho na empresa? O Governo está envolvido? Essas são perguntas que Roberto deve responder para evitar colocar sua família em perigo, além de um conflito internacional de proporções possivelmente catastróficas… e seu tempo está acabando...

    Capítulo I: Vida Normal

    Dias atuais

    R

    oberto entrou em casa, colocou as chaves do carro no porta-chaves e foi até a cozinha. Pegou uma cerveja e foi até a varanda do living. Ficou admirando a paisagem do vale com os morros ao fundo. O pôr-do-sol de um final de tarde quente de verão tornava a paisagem ainda mais linda.

    Ao longo de seus 55 anos havia passado por períodos de turbulência e outros de tranquilidade. Pensava que esse era um de tranquilidade. Cinco anos atrás havia conhecido a Cláudia: uma loira exuberante de olhos azuis, que apesar de seus 43 anos, tinha além de um lindo rosto emoldurado por um sorriso contagiante, um corpo de fazer inveja às mulheres da pequena Santa Bárbara do Sul, um município ao pé da serra do Estado do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil.

    Cláudia havia saído de um casamento fracassado, que resultou em uma única coisa boa, sua filha Giullia, a qual criou sozinha com a ajuda dos pais. Filha de descendentes ítalo-germânicos (pai alemão e mãe italiana), começou desde cedo a trabalhar na vinícola da família. Após perder o pai para o câncer alguns anos antes de conhecer Roberto (um dos pontos em comum com ele) assumiu de vez os negócios da família. Seu pai Richard era um descendente de alemães que vieram para o Brasil fugindo da difícil vida na Alemanha, agravada depois pela Primeira Guerra Mundial. Homem de personalidade marcante, mas respeitado por todos por sua integridade, serenidade e senso de justiça. Contava em função disso com o respeito da comunidade da cidadezinha de pouco mais de quinze mil habitantes. Isso ajudou a fazer com que sua pequena vinícola prosperasse em meio às dificuldades de tempos difíceis. A mãe de Cláudia, dona Amália, por sua vez, havia sido criada para ser uma verdadeira mama. Apesar da rígida criação da família de italianos, conseguiu se formar professora, tendo sido responsável pela educação de mais da metade dos atuais moradores do pequeno município e seus descendentes.

    Roberto, diferente de Cláudia, vinha de famílias ditas brasileiras, formadas por descendentes de portugueses e espanhóis, as quais não cultivavam as tradições. Se dispersaram logo após a partida da geração dos seus avós. Filho de funcionários públicos, conseguiu estudar em bons colégios, tendo obtido boas notas e reconhecimento. Também viu seu pai partir muito cedo, sendo criado com dificuldade pela mãe. Casou-se cedo também, porém o casamento acabou após vinte anos. Resultou em uma filha, Fernanda, alguns anos mais velha que Giullia, a qual ficou com o pai após a separação. Sua vida profissional trazia sucessos obtidos como funcionário de uma multinacional de informática, e posteriormente como empresário, onde teve que trilhar caminhos não tão fáceis. Esse foi o período onde ele mais demonstrou sua capacidade de superação.

    Quando conheceu Roberto, Cláudia percebeu logo que ele era o homem da sua vida. Culto, inteligente, e dono de uma capacidade única de cativar as pessoas. Logo foi aceito pela família e os amigos, conquistando o carinho e a afeição de dona Amália. Após um breve noivado, casaram-se cerca de um ano depois, o que mudou a rotina de vida conjunta nos finais de semana. Cláudia já havia percebido a capacidade profissional de Roberto, e seu incrível histórico de transformar fracassos em sucessos. Convenceu-o a assumir a vinícola, que apesar de manter-se no mercado, estava em uma situação de estagnação, sem perspectivas de crescimento. Roberto então se desfez de seu escritório de consultoria e mudou-se definitivamente para Santa Bárbara.

    Logo desenvolveu um projeto de qualificação dos produtos, os quais contavam com uma cepa de excelente qualidade, sem similar no mercado nacional. Lançaram então uma nova marca e rótulo, o qual foi destinado quase exclusivamente à exportação.

    Tudo corria bem, mas o ambiente de felicidade foi interrompido por uma triste ocorrência: dona Amália, acometida de complicações decorrentes da antiga gravidez de sua única filha, veio a falecer, para tristeza geral. 

    Absorto em seus pensamentos, Roberto desfrutava neste momento da paz e tranquilidade proporcionados pelo sucesso que vinham tendo com os novos produtos e mercados conquistados. As filhas, ambas morando e estudando nos Estados Unidos, tornaram-se uma a irmã da outra, compartilhando sonhos e desejos futuros. A casa da família, a qual eles modernizaram após a partida de dona Amália, preservando, entretanto, as lembranças da infância de Cláudia, era seu refúgio. Ambos costumavam sentar no terraço curtindo aquela vista e o pôr-do-sol como ele fazia agora, regado a um chimarrão ou a um bom e exclusivo Carménère de sua vinícola, comparável apenas aos bons chilenos. Richard conseguiu importar uma casta do Chile, após a redescoberta dela em 1994 como sendo a mesma atingida nos vinhedos franceses pela devastadora praga filoxera por volta dos anos 1870, fazendo com que essa qualidade fosse dada como extinta na França. Porém, exemplares da uva acabaram migrando com europeus para o continente sul-americano e sendo cultivados no Chile em meio a vinhedos de Merlot, variedade com a qual era confundida. Com uma técnica que ele não revelava a ninguém, conseguiu reproduzir em suas terras essa casta diferenciada, resultando então no vinho de qualidade única.

    Tudo parecia felicidade. Mas algo inquietava Roberto...

    Capítulo II: Lembranças

    Há 25 anos...

    - E

    aí Moraes? Já arrumou as malas? Provocou Marcus espiando na entrada da sala.

    - Ainda não, mas isso só vai levar alguns minutos.

    - Conhecendo você e seu perfeccionismo, vai se atrasar como sempre.

    - Tá bem! Vou fazer hoje à noite. Nosso voo é amanhã cedo, e claro, não queremos atrasos, não é mesmo? Moraes respondeu com um sorriso e uma piscadela.

    - Moraes, o Ricardo quer falar com você antes de ir. Disse a secretária entrando na sala e depositando as passagens na mesa. Sílvia era uma secretária eficiente, do tipo que não deixava nada passar. – Você não ia esquecer disso, ia?

    - Claro que não! Moraes pegou as passagens e colocou na pasta, dirigindo-se à sala do gerente da filial.

    - Olá, chefe! Queria me ver?

    - Sim, entre e feche a porta, disse Ricardo com um olhar sério. Não gostava de ser chamado de chefe, mas Moraes se divertia em vez ou outra, tratá-lo assim.

    A Empresa, uma multinacional que desenvolvia sistemas de monitoramento por satélite e reconhecimento biométrico, inclusive para governos de países aliados dos USA, tinha uma divisão responsável pela venda de módulos de segurança para empresas privadas, bancos e agências do governo. Após uma carreira repleta de sucessos, Moraes havia sido nomeado o responsável dessa divisão no sul do país, e agora estava sendo enviado com o analista Marcus, seu braço direito e ligação com a área técnica, aos Estados Unidos para um treinamento de trinta dias na sede da empresa. O complexo que compreendia o cérebro da empresa, estava assentado em Fairfield, uma cidade (um pouco fora dos padrões brasileiros) e sede do condado de Solano County, Califórnia , na sub-região de North Bay da área da baía de São Francisco . É geralmente considerada o ponto médio entre as cidades de São Francisco e Sacramento , aproximadamente 40 milhas (64 km) do centro da cidade de Oakland. Estrategicamente próxima ao Vale do Silício, também é a casa da Base Aérea de Travis.

    - O que falarei agora é confidencial, e não deve ser compartilhado nem mesmo com seu amigo Marcus. Fui claro?

    - Muito, mas se você queria me deixar preocupado, conseguiu.

    - Você sabe que temos um programa de desenvolvimento de sistemas de monitoramento por satélite que utilizam tecnologia de Inteligência Artificial, certo?

    - Sim, mas não conheço os detalhes.

    - Certo. O quanto você estaria interessado em trabalhar nessa área, e disposto a mudar sua rotina de vida?

    - Você sabe que eu me esforcei muito por esse trabalho. Dei duro para construir uma carreira. No início era por ganhar bem e ter segurança, mas depois, bem, depois percebi que eu queria mais. Queria reconhecimento, realizar algo. Então, sim. Estou interessado. Mesmo que isso signifique mudar de vida, e até de país, se envolver isso.

    - Bem, envolve você ter que passar a trabalhar em duas áreas diferentes, e sobre uma delas, a manter total sigilo. Ninguém poderá saber sobre seu trabalho, nem mesmo seus colegas, ou sua esposa. E claro, você terá um contrato de confidencialidade, e não poderá revelar nunca nada sobre esse projeto. Ainda interessado?

    - Claro. Vou poder manter minha vida particular, pelo menos?

    - Deve. É de suma importância que você continue a ter uma vida normal. Bom, quase. Você terá que viajar e cumprir tarefas especiais, mas na Empresa será uma viagem normal de trabalho ou treinamento.

    Moraes começou a sentir um misto de excitação e receio. Não era alguém que costumava ter medo, mas não gostava de mergulhar em águas onde não pudesse ver o fundo

    - Após a primeira semana do programa, você vai deixar o grupo e passar para outro nível de treinamento. Você vai para um núcleo especial em Pasadena.

    - Pasadena?! Não sabia que tínhamos uma operação lá.

    - Não temos. Pelo menos não oficialmente. O que você sabe sobre o NORAD¹?

    - O Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (North American Aerospace Defense Command)? O que todo mundo sabe, eu acho. Sei que desenvolvemos parte dos sistemas de monitoramento para satélites, mas com meu nível de segurança não tenho acesso aos detalhes desse programa.

    - Agora tem - continuou Ricardo.

    - Estou promovendo você para o nível 11. Ricardo colocou o novo crachá na mesa.

    - Nível 11?! Nossa, meu nível é o 5. Nível 11 não é o seu?

    - Agora meu nível é o 15.

    - Agora você me deixou assustado.

    - Ao chegar no núcleo de Pasadena, você será inteirado dos detalhes. Lá seu treinamento será, digamos, diferente. Madison, responsável pelo seu treinamento, irá inteirar você de tudo o que precisa saber. Ao final dessa fase você irá retornar ao grupo em Fairfield para participar do final do treinamento normal.

    - Mas e o Marcus? Ele não irá saber de nada? Ficará curioso.

    - O Marcus e os demais participantes saberão que você irá participar de um treinamento específico de sua nova função. Agora vá e descanse. Seus próximos trinta dias valerão por alguns anos. Se puder sugerir, procure usar todas as suas habilidades. Boa sorte, garoto!

    Ricardo despediu-se com um forte aperto de mão.

    Moraes saiu da sala e parou alguns minutos na porta, observando Marcus com a cara enfiada em um terminal sem perceber o amigo. Nesse momento, Moraes refletiu se havia feito a coisa certa. Se não estaria comprometendo sua vida, seu casamento, e principalmente o futuro de sua filha.

    Capítulo III: Família

    Dias atuais

    R

    oberto ouviu uma voz vinda de trás:

    - Falou com as meninas?

    - Oi, amor! Onde você estava? Virou e viu Cláudia vindo em sua direção, vestida com roupa de jogging e uma toalha no ombro.

    - Estava caminhando na esteira. Faz tempo que você chegou? Perguntou com um beijo, e pegando a cerveja tomou um gole.

    - Não, uns minutos.

    - Tudo certo?

    - Sim. Chamei a Fe e a Giu, mas claro, nenhuma delas me deu atenção - disse fazendo um muxoxo

    - Ah, você sabe como elas são. Daqui a pouco te respondem.

    Fernanda e Giullia resolveram há cerca de um ano ir para os Estados Unidos. Queriam estudar e quem sabe permanecer por lá. Giullia já tinha estado lá com a mãe, e vendeu a ideia para que Fernanda fosse com ela fazer um curso de inglês. Fernanda, que já havia cursado letras e teatro, resolveu que além do curso de inglês, iria estudar design de mídias digitais, uma nova profissão em ascensão. Sempre teve fascínio por tecnologia, inspirada pelo pai, e decidiu que iria mergulhar nessa área em franca expansão.

    Giullia por sua vez, queria atuar na área da saúde, e resolveu estudar biotecnologia. Aspirava poder ajudar as pessoas, principalmente os mais necessitados, em especial as crianças. De personalidade mais reservada que Fernanda, havia tido alguns poucos relacionamentos, e tendo sofrido uma decepção com um grande amor, acabou por se fechar mais ainda. Focava no trabalho e nos estudos, deixando sua vida social sempre em segundo plano, o que era motivo de preocupação para Roberto.

    Ao chegarem nos Estados Unidos, arrumaram trabalhos temporários, daqueles que os estudantes estrangeiros buscam para se manterem por lá. Fernanda foi trabalhar como estagiária em uma empresa do ramo mobiliário, e Giullia, que havia feito um curso de barista, foi contratada por uma cafeteria famosa. Ambas tocavam seus projetos e nas horas vagas aproveitavam para passear no Central Park ou no Jardim Botânico. Passavam horas sentadas em um gramado, lendo um livro, escutando música, ou simplesmente apreciando a paisagem e conversando. Tinham sempre um assunto que as levava a conversas, às vezes até quase o escurecer.

    Roberto havia assumido a função de pai para Giullia, que sem admitir, o via como um pai amoroso e preocupado com ela. Já Fernanda, que pouco conviveu com a mãe, uma condição inversa, mas comum com Giullia, mantinha uma relação muito próxima a Cláudia. Formou-se assim uma família, onde foram preenchidos os espaços deixados pela vida passada.

    - Vamos mesmo passar as festas de final de ano com elas?

    - Claro! Já comprei as passagens e reservei aquele nosso hotel. Mas quando estivermos lá, quero tentar convencê-las a aceitar comprarmos um apartamento para elas.

    - Amor, você sabe como elas são. Não querem nossa interferência.

    - Sei, mas não custa tentar. Você sabe como sou persuasivo às vezes… piscou.

    - É, eu sei. Claudia abraçou o marido e o beijou com vontade.

    Cláudia adorava e admirava os Estados Unidos. Já havia viajado para lá algumas vezes, e se Roberto dissesse para irem morar lá, ela não pensaria duas vezes. Porém, os negócios da família ainda não tinham condições de caminharem sozinhos. E Roberto não estava disposto a deixar para trás tudo o que seu sogro trabalhou duro para construir.

    O hotel ao qual ele se referia ficava a apenas três quadras do Central Park, próximo do metrô, e com infraestrutura no entorno. Roberto cogitava encontrar um apartamento naquela localização, talvez o que havia alugado para as filhas, para que as meninas pudessem estar acomodadas, e ele e Cláudia poderiam ir sempre que desejassem.

    Mas além do negócio, Roberto ainda tinha sua mãe. Com 92 anos, dona Maria Alice não tinha condições e nem disposição de mudar para outro país, o que tornava inviável, pelo menos por enquanto, uma migração de toda família.

    Cláudia, ainda abraçada a Roberto, fitou o marido nos olhos:

    - Amor, o que está incomodando você?

    Cláudia conhecia bem o marido. Percebia quando ele ficava diferente, e já fazia alguns dias que Roberto estava inquieto.

    - Nada, por quê?

    - Você tem estado distante, parece preocupado. Conheço bem você. Não consegue me enganar, disse com um sorriso que não deixava margem para discussões.

    Roberto respondeu com uma careta simulando ser uma bobagem, mas de forma brincalhona.

    Foram interrompidos por Valentina, a Pug deles que já cobrava atenção. Ambos tinham um gosto por cachorros, e Cláudia em especial por Pugs.

    - Parece que alguém está com fome.

    - Ela sempre está com fome, respondeu Roberto.

    Claudia foi tratar Valentina, e Roberto voltou a fitar o horizonte já com as primeiras estrelas. Não pôde evitar os pensamentos que vinha tendo desde que recebeu uma notícia inesperada, de um amigo que não via há muitos anos, de forma mais inesperada ainda…

    Capítulo IV: Treinamento

    Há 25 anos...

    M

    oraes entrou no quarto do hotel, colocou a mala sobre o suporte, e tirou o casaco. Estava cansado da viagem e só queria um banho. O telefone tocou.

    - Moraes, vamos descer e tomar o café da manhã?

    - Não amigo. Vou tomar um banho e tentar dormir um pouco. Mais tarde podemos almoçar. Hoje o dia é livre.

    Estava um bonito dia de sol, típico do verão na Califórnia. O hotel era um cinco estrelas, com uma infraestrutura de lazer perfeita.

    Moraes acordou por volta das 10h quando o telefone tocou.

    - Sr. Moraes? São 10 horas.

    - Ah, sim. Obrigado.

    Moraes levantou, tomou outra ducha, fez a barba e desceu para o lobby. Muitas pessoas circulavam por lá, e decidiu tomar o "breakfast". Foi até a portaria e perguntou onde era servido.

    - Nesse horário o serviço já foi encerrado, mas o senhor pode solicitar para que lhe sirvam no "Garden" ou na piscina.

    - Peça para servirem na piscina, por favor.

    Ao chegar na piscina, Moraes viu Marcus deitado em uma das camas próximas. Sentou na mesa ao lado.

    - Bom dia!

    - Opa! Bom dia, Bela adormecida. Pensei que ia dormir o dia todo.

    - Vontade não faltou.

    - O que vamos fazer?

    - Você eu não sei, mas eu vou tomar café da manhã.

    O garçom chegou um uma bandeja com um café completo de forma resumida: dois tipos de pães, presunto, queijo, frutas, ovos mexidos, suco de laranja, e claro, café.

    - Nossa! Isso parece um almoço, comentou Marcus baixando os óculos escuros.

    Após tomar o café, Moraes ficou sentado observando as pessoas no entorno. Foi quando viu um homem sentado no lado oposto da piscina. Óculos escuros, parecia estar lendo um jornal. Mas algo chamou a atenção de Moraes: ele não parecia um hóspede.

    - Levantou-se e disse a Marcus: vamos dar uma volta.

    - Certo. Vou subir, tomar uma ducha e desço em seguida.

    Alguns minutos depois estavam no lobby, e saíram pela porta da frente. O hotel ficava distante do centro da cidade, mas Moraes queria caminhar um pouco. Na portaria disseram que eles poderiam pegar um táxi na saída do hotel, após se oferecerem para chamar um. Moraes agradeceu e disse que queria antes caminhar um pouco pelo local.

    O dia continuava lindo e o Sol já estava alto. Com uma temperatura de cerca de 27 graus, não demorou para Marcus reclamar:

    - Cara, tá muito quente! Vamos chamar um táxi. Olha um ali! Táxi!

    Entraram no táxi e pediram para ir até o Centro. A paisagem de um bairro com alguns gramados e casas deslumbrantes logo foi substituída por avenidas com prédios altos, comércio e alguns restaurantes de fast-food.

    Moraes pediu para o táxi parar e desceram no meio de uma quadra repleta de lojas.

    - Vamos onde? Perguntou Marcus.

    - Ainda não sei. Mas aviso quando chegarmos.

    Caminharam algumas quadras, e Marcus viu uma loja de artigos de informática. Havia o lançamento de um novo computador, menor que o de costume. Ao lado (certamente como decoração) um computador pessoal dos primórdios da microinformática, sucesso na época, e que prometia revolucionar o mercado de informática. Um produto de uma empresa startup (termo ainda não usado naquela época).  Uma empresa que seu principal fundador havia iniciado em uma garagem, e que logo conseguiu um significativo aporte de capital, o que permitiu a ela desenvolver e lançar o que chamou de personal cumputer, ou simplesmente PC. Infelizmente no Brasil esses computadores pessoais ainda não haviam chegado, em função de restrições impostas pela legislação brasileira.

    - Na época acharam que nunca ia pegar, comentou Marcus.

    - Para você ver os enganos que muitos cometeram ao longo dos anos. Gostaria de ter tido essa ideia.

    - É, mas você não vive na terra das oportunidades.

    Andaram um pouco mais, e Marcus disse que estava com fome. Viram na próxima quadra um fast-food de pizzas, e resolveram ir até lá. Quando entraram, Roberto não pôde deixar de notar o homem sentado na mesa ao fundo. Era o mesmo que vira antes na piscina do hotel.

    A tarde já vinha terminando quando retornaram ao hotel. Moraes sugeriu fazerem uma sauna, pois na recepção havia um folheto mostrando uma excelente infraestrutura, com sauna seca e a vapor, além de uma piscina interna.

    Naquela noite, após ligar para a esposa no Brasil, Moraes dormiu logo.

    Acordou às 7, com o telefone tocando. Era o serviço de despertar.

    Após o banho e com a barba feita, desceu para o salão onde era servido o café da manhã. Marcus já estava lá comendo bacon com ovos, e tinha na mesa um pouco de tudo que havia no buffet.

    - Bom dia!

    - Bom dia! Dormiu bem?

    - Apaguei!

    Moraes foi até o buffet, se serviu de ovos mexidos, salsicha ao molho, frios, frutas e suco de laranja.

    - Segundo o programa, hoje deverá ser só apresentações. Não se engane Marcus. O programa é puxado, e certamente eles já irão começar forte hoje. Aqui não é o Brasil, onde o pessoal fica enchendo linguiça e demora para entrar no assunto.

    - Li o material de pré-leitura que enviaram. Tem muito conteúdo mesmo.

    O treinamento, pelo menos o normal, consistia em duas partes: uma técnica dos novos produtos, e outra de gestão, mais direcionado ao staff. Como Marcus iria assumir a supervisão do grupo de analistas, gerenciados, porém, por Moraes, ele havia sugerido que Marcus participasse de parte desse módulo, então ele teria uma participação a mais que os analistas de campo, já que o trabalho braçal ficaria a cargo desses, os quais já haviam passado pelo treinamento no Brasil. A Empresa entendeu melhor levar dois técnicos para São Paulo, do que trazer 14 analistas para os USA.

    Ambos terminaram seu café, e depois de uma rápida passagem pelos quartos, foram providenciar um táxi para a sede da Empresa.

    O hotel ficava a poucos quilômetros da sede, passando por uma via expressa que contornava o Centro onde eles estiveram no dia anterior.

    O táxi parou na portaria, e Moraes se identificou e mostrou o crachá de Marcus.

    - Bem vindos senhores. Dirijam-se ao prédio H, por favor. Indicou o guarda.

    O táxi parou na frente do prédio H. Moraes pagou o motorista, e se encaminharam para a portaria.

    - Bom dia. Viemos para o treinamento.

    - Bem-vindo senhor Moraes. Subindo ao segundo andar, sala Antares. Usem seus crachás durante todo o tempo, por favor.

    Ao chegar na sala, foram recepcionados por uma linda moça. - Bom dia! Sejam bem vindos! Fiquem à vontade.

    - Nossa! Isso aqui parece o lobby de um teatro onde haverá um show de alguém famoso - Marcus nunca esteve em um treinamento fora do Brasil, e estava excitado com aquilo tudo.

    - Olá! Sou Ted Willians, coordenador de treinamento para América Latina. Sejam bem vindos! Primeira vez?

    - Para mim não, mas para o Marcus aqui… Prazer, sou Roberto Moraes, gerente de mercado. Esse é Marcus Fisher, supervisor de análise sênior.

    - O prazer é meu. Por favor, acomodem-se que já iremos começar, disse Ted indicando os lugares.

    Ambos se dirigiram aos seus lugares, os quais estavam identificados com seus nomes, impressos em placas feitas de uma espécie de cartolina com seus nomes.

    Alguns minutos depois, e após todos estarem acomodados, um homem subiu ao palco há três fileiras à frente de onde os dois estavam. As luzes foram reduzidas, e o apresentador recebeu iluminação especial.

    - Bom dia a todos. Meu nome é Juan Carlos Espinosa, sou o responsável pela divisão de treinamento e desenvolvimento de recursos humanos. Hoje iniciamos o programa de treinamento de novos gestores, com foco nos mercados latino-americanos, o qual deverá preparar vocês para conduzirem suas operações com a eficiência que a companhia espera.

    - Nosso programa

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