A biblioteca no fim do túnel: Um leitor em seu tempo
()
Sobre este e-book
Relacionado a A biblioteca no fim do túnel
Ebooks relacionados
Seleta: Um mundo de brevidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCoisas que acontecem se você estiver vivo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs pessoas dos livros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs escritores que eu matei Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSobre os felizes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMil navios para Troia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLugar comum Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMais longa vida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #191: Morangos mofados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCravos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHomem de papel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA solidão do amanhã Nota: 4 de 5 estrelas4/5Viver e traduzir Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO jarro de Pandora: Uma visão revolucionária e igualitária sobre a representação das mulheres na mitologia grega Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA face mais doce do azar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPó de parede Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoemas tardios Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO presidente e o sapo Nota: 4 de 5 estrelas4/5Ecologia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA casa dos coelhos Nota: 4 de 5 estrelas4/5A sordidez das pequenas coisas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBula para uma vida inadequada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLonge das aldeias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO bebê é meu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNadando de Volta Para Casa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFoi um péssimo dia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Vou te dizer o que penso Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVergonha dos pés Nota: 4 de 5 estrelas4/5Felizes os felizes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTentativas de capturar o ar Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Crítica Literária para você
A formação da leitura no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Literatura Brasileira Através dos Textos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Literatura Portuguesa Nota: 3 de 5 estrelas3/5Hécate - A deusa das bruxas: Origens, mitos, lendas e rituais da antiga deusa das encruzilhadas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mimesis: A Representação da Realidade na Literatura Ocidental Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPerformance, recepção, leitura Nota: 5 de 5 estrelas5/5Comentário Bíblico - Profeta Isaías Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVamos Escrever! Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRomeu e Julieta Nota: 4 de 5 estrelas4/5Cansei de ser gay Nota: 2 de 5 estrelas2/5História da Literatura Brasileira - Vol. III: Desvairismo e Tendências Contemporâneas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAtrás do pensamento: A filosofia de Clarice Lispector Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPara Ler Grande Sertão: Veredas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSobre a arte poética Nota: 5 de 5 estrelas5/5Coisa de menina?: Uma conversa sobre gênero, sexualidade, maternidade e feminismo Nota: 4 de 5 estrelas4/5Escrita não criativa e autoria: Curadoria nas práticas literárias do século XXI Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Lusíadas (Anotado): Edição Especial de 450 Anos de Publicação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNão me pergunte jamais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória concisa da Literatura Brasileira Nota: 5 de 5 estrelas5/5Palavras Soltas ao Vento: Crônicas, Contos e Memórias Nota: 4 de 5 estrelas4/5Um soco na alma: Relatos e análises sobre violência psicológica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFelicidade distraída Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Jesus Histórico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiteratura: ontem, hoje, amanhã Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA arte do romance Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO mínimo que você precisa fazer para ser um completo idiota Nota: 2 de 5 estrelas2/5Fernando Pessoa - O Espelho e a Esfinge Nota: 5 de 5 estrelas5/5Olhos d'água Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aulas de literatura russa: de Púchkin a Gorenstein Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de A biblioteca no fim do túnel
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
A biblioteca no fim do túnel - Rodrigo Casarin
RODRIGO CASARIN
A BIBLIOTECA NO FIM DO TÚNEL
UM LEITOR EM SEU TEMPO
Logo Arquipélago. Símbolo circular em preto com desenho de folhas em branco no centro. Arquipelago escrito abaixo.© Rodrigo Casarin, 2023
Capa
Paula Hentges
Ilustração da capa
Luísa Fantinel
Preparação
Debora Sander
Revisão
Alec Lisboa
Adaptação para versão digital
Camila Provenzi
CIP-Brasil. Catalogação na Publicação
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
C33b
Casarin, Rodrigo, 1987-
A biblioteca no fim do túnel : um leitor em seu tempo / Rodrigo Casarin. - 1. ed. -
Porto Alegre : Arquipélago, 2023.
208 p. ; 21 cm.
ISBN 978-65-89741-35-0 (impresso)
ISBN 978-65-89741-36-7 (e-book)
1. Crônicas brasileiras. I. Título.
CDD: 869.8
23-84798 CDU: 82-94(81)
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439
Todos os direitos desta edição reservados a
ARQUIPÉLAGO EDITORIAL LTDA.
Rua Marquês do Pombal, 783/408
CEP 90540-001
Porto Alegre — RS
Telefone 51 3012-6975
www.arquipelago.com.br
Para Bel, Fernando e Belinha, que hoje vive com Baleia.
Para meus pais.
A invenção do livro foi talvez o maior triunfo na nossa luta tenaz contra a destruição. […]
Sem os livros, as melhores coisas do nosso mundo teriam se dissipado no esquecimento.
Irene Vallejo em O infinito em um junco
Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
PARTE 1
Prazeres, angústias e fracassos entre os livros
Qual é o melhor livro que você já leu?
A vontade de repetir a primeira vez com certos livros
A leitura como certeza de felicidade
A tentativa de domar uma biblioteca
Quanto tempo devemos levar para ler um livro inteiro?
É tosco dar ares de competição à leitura
Quando parar a leitura e dar um pé na bunda do livro?
Vitória: me entendi com Cem anos de solidão
A maravilha que é ser um leitor fracassado
O que fazer quando se perde a vontade de ler?
Livro, objeto, literatura
O que é ser um leitor?
Bunda no sofá e outras formas de virar um leitor
Sebos: memoriais de preciosidades
Escrever nos livros ou deixá-los imaculados?
As mais puras memórias literárias
Auê abobalhado
Ler um livro é melhor do que ver TV?
Umberto Eco e o amor aos livros
José Mindlin e o vírus da leitura
Antonio Candido e a literatura como bem imprescindível
PARTE 2
Os livros e o caos fora da biblioteca
Realismo mágico e as nossas vidas atropeladas pela fantasia
Carolina de Jesus, a fome e um povo que só é feliz quando dorme
Clarice, Brasil: a vida é um soco no estômago, morrer é um instante
O que 1984 diz sobre nós?
A justiça de boteco de Ariano Suassuna
Uma utopia para os homens-planilha
Graciliano Ramos e a perda do nosso freio moral
O ressentimento e a violência que levam um carniceiro ao poder
Quem você escolheria para escrever a história de Jair Bolsonaro?
Por que guerrilheiro?
Tortura na Casa de Deus
Os milhares de mortos e as formas de viver o luto
Harry Potter e um espelho para o Brasil
Pela família e pelas crianças! Livros que o Brasil precisa banir
Como lidar com leituras incômodas?
Uma atriz na Academia Brasileira de Letras. E daí?
Messi e o Maracanã de Marcelo Moutinho
PARTE 3
Bons autores, grandes histórias e um leitor
Lygia, Clarice e a literatura no boteco
O Brasil não tem grandes romances sobre futebol?
Uma cativante história do livro
A estupidez que nos acompanha desde o começo do século
Dragões de Rubião sofreriam com o atraso dos nossos costumes
Mas Torto arado é tudo isso mesmo?
Carta ao Menino Maluquinho (pode ser lida pelo Ziraldo)
Ainda não lê quadrinhos?
O isolamento palestino e nosso futuro incerto
A ascensão de Hitler e o sucesso de trogloditas
Houellebecq e o mundo incômodo para machões
Países rachados e a instigante literatura de Annie Ernaux
Natalia Ginzburg: os verdadeiros romances e o amor pela vida
Literatura brasileira precisa de mais leitores (e os merece)
As folhas caídas de Ignácio de Loyola Brandão
Os escritores de Pólvora
Leitor raro, sua morte desafia o tempo numa rede social
Posfácio — Por Diego Assis
Agradecimentos
PARTE 1
Prazeres, angústias e fracassos entre os livros
Imagem ilustrativa. Canto de uma sala onde aparece a ponta de um sofá, um vaso com planta e um cachorro deitado em frente ao sofá.É boa a vida entre livros, mas também é complicada pra caramba — e nem digo só pela questão da grana. Como dar atenção a leituras fundamentais, aos lançamentos, ao melhor escritor da última semana, aos estudos…? Como se dividir entre diferentes livros para diferentes trabalhos e os livros lidos por simples (e fundamental) prazer? Como conciliar o tempo da leitura com o da escrita, com o das burocracias rotineiras, do passeio com o cachorro, do futebol?
E de que forma cuidar de uma biblioteca que cresce e cresce a cada dia, ameaçando se espalhar pela casa, prometendo um dia tomar todos os cômodos? Tenho mais histórias para contar e lampejos de possibilidades do que respostas fechadas. Certo caos faz parte da vida, e assim tocamos. É gostoso compartilhar com os leitores essas pressões, angústias, dúvidas, frustrações, fracassos, percalços e, claro, alegrias de uma vida dedicada aos livros.
Refletir publicamente sobre o trabalho, sobre a caminhada como leitor e sobre os hábitos entre os livros é uma forma de dialogar com outros leitores. Perguntas recorrentes (quantos livros você lê por mês? Todo livro tem que ser lido até o fim?) podem gerar pensamentos que se bifurcam por inesgotáveis veredas (o que é exatamente ler um livro? Terminamos a leitura assim que fechamos o volume?). São mistérios que ecoam pela biblioteca.
Podemos imaginar os livros que gostaríamos de ler, mesmo que ainda não tenham sido escritos, e podemos imaginar bibliotecas cheias de livros que gostaríamos de possuir, mesmo que estejam muito além de nosso alcance, porque gostamos de sonhar com uma biblioteca que reflita cada um de nossos interesses e cada uma de nossas fraquezas — uma biblioteca que, em sua variedade e complexidade, reflita integralmente o leitor que somos.
Gosto desse trecho de Identidade
, um dos capítulos de A biblioteca à noite, do grande Alberto Manguel, colega apaixonado por livros aqui traduzido por Samuel Titan Jr. para a Companhia das Letras. Sonhos, interesses, fraquezas, variedade, complexidade. O leitor que somos. Tudo isso construído e evidenciado por meio dos livros. E também pela maneira como nos relacionamos com eles. Os livros ajudam a definir o que sou.
Os escritos aqui reunidos foram publicados entre 2017 e 2022, a maioria na Página Cinco, coluna que assino no UOL, outros no Rascunho, no Cândido e na antiga editoria de entretenimento do próprio UOL. Aqui estão organizados sem apego à cronologia, mas data e espaço de publicação original aparecem ao final de cada texto.
Qual é o melhor livro que você já leu?
Não me aflijo mais. Quando ouço essa pergunta, escolho uma história para contar.
Entre o final da escola e meados da faculdade, passei alguns anos caçando um exemplar de Entre os vândalos. Vivia em arquibancadas e o livro-reportagem com um quê de jornalismo gonzo escrito por Bill Buford sempre aparecia como bibliografia obrigatória para quem se interessava por torcidas. O livro sobre hooligans estava em tudo o que é lista, mas não o encontrava em nenhuma livraria ou sebo da cidade.
Namorei a obra durante tanto tempo que já sabia até o que esperar daquela imersão de Buford no universo cheio de cerveja e briga dos valentões ingleses. Só que de porta em porta não conseguiria nada mesmo. Fui descobrir o meu exemplar de Entre os vândalos quando conheci a Estante Virtual. Lembro até hoje: o livro que ainda tenho bem guardado em casa, como relíquia de valor exclusivamente pessoal, veio de uma loja de Bauru. Uma edição de 1992 da Companhia das Letras com tradução de Júlio Fischer.
Faço um drama aqui, estendo a narrativa em algum ponto e daí finalizo: pela busca, pelo modo como o livro se encaixou naquele momento da minha vida e pela qualidade do texto, Entre os vândalos é um dos meus favoritos. A resposta costuma causar surpresa, o que contribui para não notarem (ou não demonstrarem ter notado) o contorcionismo feito para escapar da pergunta.
O clássico sobre o hooliganismo é sim um dos livros da minha vida, mas está longe de ser um dos melhores já lidos. Só para ficar na não ficção narrativa, Gay Talese, Joan Didion e Ryszard Kapuściński são mestres que desbancam Buford. Em todo caso, costuma ser mais interessante falarmos sobre experiências íntimas do que entrarmos num debate frio e supostamente objetivo sobre quais filigranas fazem um grande livro ser maior do que outro grande livro. Dependendo do momento, adoto estratégia semelhante, mas tomo outro caminho.
A primeira conversa com a garota linda que viria a ser minha namorada, e hoje é a minha esposa, foi durante um churrasco. Meu estado era deplorável: descalço, pés encardidos, cartas na mão, língua inchada de tanto beber e tentativa de se comunicar via balbucios. Dois dias depois, numa tremenda coincidência, nos reencontramos no metrô. Ia para o trabalho enquanto ela pegava o caminho da faculdade de Letras. Ficou surpresa ao notar que aquele ser grotesco da noite anterior estava lendo Dom Quixote. Não bastasse ser, aí sim, um dos melhores livros que já li, o clássico de Cervantes virou símbolo de um momento decisivo da minha vida. Impossível deixá-lo de fora dos meus livros favoritos.
Dificilmente alguém consideraria absurdo se apontasse a saga do cavaleiro da triste figura como melhor livro já lido. Poderia, inclusive, encontrar muitos elementos para defender a escolha. Mas, honestamente, não sei dizer de forma precisa e definitiva se Dom Quixote é melhor do que Dom Casmurro, Cem anos de solidão ou Crime e castigo, isso para ficarmos apenas em alguns romances.
E não vejo isso como problema. Em que pese o valor e a importância dos prêmios, a literatura tem muito mais a ver com identificação e afeto do que com competição e ranking. Não tem por que criar rinhas entre monumentos que podem ser admirados por virtudes bem diferentes. Penso que muitos livros se tornam gigantescos primeiro porque há leitores que se apaixonam por eles, depois porque esses leitores começam a consolidar as virtudes e a construir argumentos para considerar o trabalho genial. Se a hipótese estiver correta, o deslumbramento precede a racionalização.
Daí que faz mais sentido falar em livros favoritos (algo assumidamente subjetivo, em constante movimento e, sim, plural) do que em melhor, o que pressuporia um rigor e uma metodologia que não necessariamente andam juntos com a fruição da arte.
Página Cinco, 4 de outubro de 2021
A vontade de repetir a primeira vez com certos livros
Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal de Pedro Páramo.
Outro dia, meio que do nada, veio a vontade impossível de ser realizada: ler novamente Pedro Páramo pela primeira vez. Olhei para a estante e peguei a edição da Record, com tradução de Eric Nepomuceno. O desejo era sentir o desnorteio da leitura inaugural, perder-se completamente entre vozes de planos distintos a cruzar o caminho do personagem que parte para Comala em busca de seu pai, o tal de Pedro Páramo.
Ainda lembro do fascínio por aquelas páginas. Poucas vezes saí tão desconcertado de um livro. Poucas vezes uma leitura me marcou tanto. Não é por acaso que o breve romance de Rulfo se transformou em peça central da literatura latino-americana. Basta lembrar: não fosse por ele, Cem anos de solidão não existiria. Não da forma como Gabo o construiu, ao menos. Autor de apenas outros dois livros breves, a reunião de contos Chão em chamas e a novela O galo de ouro, o mexicano é autor incontornável e inesgotável.
Impossível desvendar razoavelmente os labirintos de Pedro Páramo com apenas uma leitura. E, sabemos, toda releitura de algum livro também guarda algum grau de ineditismo, revela possibilidades que pareciam não estar ali antes. Ainda assim, cada texto só pode ser desvirginado uma única vez. Recorro ao surrado Heráclito: a água do rio no qual nos banhamos pode até mudar, entretanto o cenário segue muito parecido, já não é um mistério se molhar com aquela substância líquida, um pouco gelada. Se nunca somos mais os mesmos, tampouco somos completamente distintos.
Quando compartilhei meu paradoxal desejo com outros leitores, uma seguidora falou que gostaria de ter a chance de repetir a primeira leitura de Lavoura arcaica, de Raduan Nassar. Outra, a Eliz Oliveira, escreveu justamente para compartilhar as sensações com Pedro Páramo, o livro de sua vida. Leu umas oito vezes o romance de Rulfo e somente ali pela terceira começou a pisar com mais firmeza por aqueles caminhos áridos, fantasmagóricos. É um momento que também carrega uma porção