Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Lugar comum
Lugar comum
Lugar comum
E-book160 páginas1 hora

Lugar comum

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Ler este livro, no mínimo, vai deixar o leitor sem saber em que dia está; aqui, nestas páginas, todo dia é sábado e domingo, como na casa dos avós de Nara. E quando o leitor se vir no quintal da casa, na pequena Guarani, no interior de Minas Gerais, sentado no táxi feito com uma escada de madeira deitada sobre tijolos, não vai querer descer mais desse passeio pelas histórias dessa mineira que não via a hora de sair pelo mundo, desde criança. E um dia saiu. E com ela estão surgindo os seus livros. Logo vamos descobrir que era inevitável tal destino.

Assim como acontecia na infância de Nara, na casa de sua avó, com seus primos que chegavam, "feito torneira aberta", estas crônicas e contos jorram com sabor de tempos bons e inesquecíveis, como quando todos os chocolates na venda eram a grande preocupação da menina durante a maior e assustadora enchente na cidade. O rio subindo, subindo sem parar, transbordando, engolindo quintais, ruas, quase invadindo o estoque de doces na venda do Zé Teixeira.

"O progresso falha, mas as estrelas resistem". A tecnologia, os aplicativos, as redes sociais, falham, mas as recordações não se apagam no céu infinito da memória de Nara, até aquela da notícia sobre o fim do mundo, no rádio, que tanto assustou a menina que não teve coragem de abrir os olhos ao acordar de manhã. Mas o mundo não acabou naquela vez, ela cresceu, atravessou o oceano e agora está em Londres. E levou na bagagem "lembranças embaralhadas, coisa de infância bem vivida que se misturou com um punhado de sonhos". "Poesia, contos e crônicas. Era a sua fortuna". E parte desta riqueza está aqui neste livro.

E lá no outro lado do mundo, casada, durante uma tempestade de verão, testemunhou na janela de casa, com os rostos se iluminando com os relâmpagos, a filha pequena de mãos dadas com o pai, encantada e assustada com a chuva que desabava sobre a cidade, construindo uma lembrança, e que é "bem assim que vamos fazendo a vida".

Lembranças de casas, lugares, pessoas, vizinhos, gente com muito "amor esparramado e uma generosidade que caía que nem manga madura do pé. Era de graça. Era pra quem quisesse pegar." E a pequena Nara pegava, e guardava esses bons momentos que agora se esparramam pelo livro, que basta virar a primeira página para começar a pegar.

Um livro tal qual um pé de fruta madura, em tardes de sol, no quintal, sem mais nada para fazer senão saborear lembranças e um olhar sincero, delicado, poético, de uma menina que cresceu inconformada que no novo terreno agregado ao fundo da casa cresciam espinafres, salsa e cebolinha, e não a piscina tão desejada.

"Que gosto tem a vida?", pergunta Nara em algum lugar do livro e começa a listar: de pipoca, queijinho, de curativo, beabá, bolo, brinquedos. Leite com mamão, pizza, flores. Tricôs e bordados. Caramujo com manteiga. Balas. Salsa e cebolinha do quintal. Uma música. Penteados, bailes. O primeiro beijo.

Que gosto tem esse livro? O gosto de vida.
IdiomaPortuguês
EditoraPasavento
Data de lançamento8 de mar. de 2021
ISBN9788568222065
Lugar comum

Leia mais títulos de Nara Vidal

Relacionado a Lugar comum

Ebooks relacionados

Ficção Geral para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Lugar comum

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Lugar comum - Nara Vidal

    Capa.jpg

    Lugar comum

    o

    Nara Vidal

    Copyright © 2015 Nara Vidal

    Lugar comum © Editora Pasavento

    Editores

    Marcelo Nocelli

    Rennan Martens

    Revisão

    Tuca Mello

    EM Comunicação

    Foto de capa e interna

    Ronaldo Almeida

    www.ronaldoalmeidafotografia.com

    Design e editoração eletrônica

    Negrito Produção Editorial

    Produção de ebook

    S2 Books

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

    Bibliotecária Juliana Farias Motta (crb 7-5880)

    Vidal, Nara

    Lugar comum / Nara Vidal. – São Paulo: Pasavento, 2015.

    216 p.; 14 x 21 cm.

    isbn 78-85-68222-06-5

    1. Literatura brasileira. 2. Contos brasileiros. 3. Ficção brasileira. i. Título.

    v648l                                                                           cdd b869.8

    Índice para catálogo sistemático:

    1. Literatura brasileira 2. Contos brasileiros 3. Ficção brasileira

    Todos os direitos desta edição reservados à:

    Editora Pasavento

    www.pasavento.com.br

    Para Laura, Marcela, Amelie, Louis e Beatriz

    que são um lugar em comum de três.

    Para a minha mãe (em memória)

    e para o meu pai.

    "Vivemos longe de nós, em distante fingimento. Desaparecemo-nos.

    Por que nos preferimos nessa escuridão interior?

    Talvez porque o escuro junta as coisas, costura os fios do disperso. No aconchego da noite, o impossível ganha a suposição do visível.

    Nessa ilusão descansam os nossos fantasmas."

    Mia Couto, Cada homem é uma raça

    Os quintais de Nara

    o

    Ler este livro, no mínimo, vai deixar o leitor sem saber em que dia está; aqui, nestas páginas, todo dia é sábado e domingo, como na casa dos avós de Nara. E quando o leitor se vir no quintal da casa, na pequena Guarani, no interior de Minas Gerais, sentado no táxi feito com uma escada de madeira deitada sobre tijolos, não vai querer descer mais desse passeio pelas histórias dessa mineira que não via a hora de sair pelo mundo, desde criança. E um dia saiu. E com ela estão surgindo os seus livros. Logo vamos descobrir que era inevitável tal destino.

    Assim como acontecia na infância de Nara, na casa de sua avó, com seus primos que chegavam, feito torneira aberta, estas crônicas e contos jorram com sabor de tempos bons e inesquecíveis, como quando todos os chocolates na venda eram a grande preocupação da menina durante a maior e assustadora enchente na cidade. O rio subindo, subindo sem parar, transbordando, engolindo quintais, ruas, quase invadindo o estoque de doces na venda do Zé Teixeira.

    O progresso falha, mas as estrelas resistem. A tecnologia, os aplicativos, as redes sociais, falham, mas as recordações não se apagam no céu infinito da memória de Nara, até aquela da notícia sobre o fim do mundo, no rádio, que tanto assustou a menina que não teve coragem de abrir os olhos ao acordar de manhã. Mas o mundo não acabou naquela vez, ela cresceu, atravessou o oceano e agora está em Londres. E levou na bagagem lembranças embaralhadas, coisa de infância bem vivida que se misturou com um punhado de sonhos. Poesia, contos e crônicas. Era a sua fortuna. E parte desta riqueza está aqui neste livro.

    E lá no outro lado do mundo, casada, durante uma tempestade de verão, testemunhou na janela de casa, com os rostos se iluminando com os relâmpagos, a filha pequena de mãos dadas com o pai, encantada e assustada com a chuva que desabava sobre a cidade, construindo uma lembrança, e que é bem assim que vamos fazendo a vida.

    Lembranças de casas, lugares, pessoas, vizinhos, gente com muito amor esparramado e uma generosidade que caía que nem manga madura do pé. Era de graça. Era pra quem quisesse pegar. E a pequena Nara pegava, e guardava esses bons momentos que agora se esparramam pelo livro, que basta virar a primeira página para começar a pegar.

    Um livro tal qual um pé de fruta madura, em tardes de sol, no quintal, sem mais nada para fazer senão saborear lembranças e um olhar sincero, delicado, poético, de uma menina que cresceu inconformada que no novo terreno agregado ao fundo da casa cresciam espinafres, salsa e cebolinha, e não a piscina tão desejada.

    Que gosto tem a vida?, pergunta Nara em algum lugar do livro e começa a listar: de pipoca, queijinho, de curativo, beabá, bolo, brinquedos. Leite com mamão, pizza, flores. Tricôs e bordados. Caramujo com manteiga. Balas. Salsa e cebolinha do quintal. Uma música. Penteados, bailes. O primeiro beijo.

    Que gosto tem esse livro? O gosto de vida.

    Alonso Alvarez

    Sumário

    o

    Capa

    Folha de rosto

    Créditos

    Dedicatória

    Os quintais de Nara

    1979 Tempestade

    A louca do parque

    Festa Junina

    Estreito de Dover

    Caduquice

    Noite feliz

    A morte

    Chinelo

    O táxi

    Adèle

    Mosquito

    Os olhos verdes da Fernanda

    Mesa posta

    O primeiro beijo

    Canal da Mancha

    A vista da torre

    A casa

    4 de julho

    Otimismo

    O maior caso de amor do mundo

    Prestígio

    O dinheiro e o amor

    Enrolado

    Lugar comum

    Marieta

    Campos de lavanda

    Desordem

    O fim

    Porta

    Partícula

    Procura-se amigo com piscina

    La dolce vita (Dolce fa quase niente!)

    Terça-feira de carnaval

    Excursão

    Alimento para sonhar

    Cidade flutuante

    Iniciação

    José Vieira de Souza

    O pão nosso de cada dia

    Frango assado e sacolinha

    Dominó

    Antigamente

    Problema

    Com açúcar e com afeto

    Damas e cavalheiros

    O sonho da padaria

    Paixão

    Pureza

    Lactário

    Papel

    Tesoura na janela

    Viver de arte

    Outono

    Férias de verão

    A figueira

    Avião

    Arte

    O pirata e o monstro

    O Pão de Açúcar

    Sessenta e quatro

    Pardal

    Ms Lewis

    Paletó de madeira

    Vida de escritor

    Figurino

    Pilipirtas Blotícias

    Meu pai

    A mineirinha

    Jane L. Marsh

    Em praça pública

    Sá Onça

    Hello

    Zora Ionara

    Borboletas

    Para a calma

    No meio

    A notícia

    A caminho

    Transparência

    A leitura

    Por pouco

    1979 Tempestade

    o

    Toró. Desde menina achava a palavra feia. Parecia palavra de feitiço ruim. Quando a tia gritava da cozinha que ia cair um toró danado era apreensão na certa. Enroscava os braços e ia ajudar a fechar as janelas, depois as tramelas de ferro, dignas da porta do céu. Não tinha cortinas na casa. Seguia com as tias e a avó para a gaveta de lençóis. As de enxoval ficavam no fundo, amparados por naftalina, esperança ou memória. Os panos mais velhos cobriam os espelhos. Um raio pode cair no reflexo e partir tudo! Superstição pairava na casa tanto quanto fé e amor. Tudo era possível com Deus, mas não custava varrer a casa depois de um passarinho perdido entrar. Notícia ruim se espantava com a vassoura e bom bocado de fé.

    O toró se formava com um pisca-pisca lá fora. Trovões indicavam a brabeza de Deus. Quem manda chuva é São Pedro. Deus não tem nada com isso! falava um especialista lá da cozinha. Tv em preto e branco desligada. Rádio desligado. Geladeira fora da tomada. Lá na rua começava a tempestade. Não que a menina pudesse vê-la. Mas entrava na casa velha o melhor cheiro do mundo. O cheiro quente da chuva morna naquela terra sua. Se o cheiro era bom com a janela fechada, imagina se não houvesse a preocupação em molhar as tábuas do chão lustradas com esmero pela Tonha?

    Não se formam grandes torós pelas bandas de cá, mas a qualquer chuvisco, ela corre para abrir a janela. O cheiro não vem, mas como os lençóis do enxoval, vêm a memória e a esperança. Afinal, os olhos de uma criança que sonha não têm tamanho. No ouvido cabe o infinito.

    A louca do parque

    o

    Mãe! Fui promovida! Mãe! Fui promovida por puro mérito. Mãe, que orgulho, hein?

    Não que fosse louca, mas a mania de falar sozinha pelo parque afora tornava-se lentamente um hábito.

    Às vezes chegava a chorar pensando na emoção que a mãe sentiria se vivesse o mérito da filha. Precisava muito parar de carregar a mãe consigo. Andava pesada demais, doente. Tantos problemas. Mas o que pesava mesmo na mãe era a vontade louca de viver a vida que não tinha mais. As costas começaram a entortar. Sozinha, passou a dialogar com hipóteses. Mas era tudo normal. Vivia relembrando o passado, o bom, o ruim. Refazia passos dados. Pisava firme naqueles que antes cambaleara. Flutuava sobre aqueles que antes batera o pé em teimosia. Cuidava dos filhos. Fazia questão de preparar comida fresca, trancar as janelas antes de sair, fechar a porta duas vezes.

    Mas dava dezesseis passos e adentrava o parque. O planalto da sua insensatez, dos seus surtos. Era seguro cometer loucuras ali em cenário bucólico, de famílias felizes feito a sua, quando ainda tinha paciência. O espaço vasto e sem esquinas do parque libertava sua amargura, seu inconformismo e sua raiva.

    Mostrar pra quem seu feito? Mãe, você se orgulharia demais! Era impossível colocar rédeas nos cavalos fortes e cegos da

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1