Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

A árvore da vida: Proposto de modelo de formação inicial e permanente
A árvore da vida: Proposto de modelo de formação inicial e permanente
A árvore da vida: Proposto de modelo de formação inicial e permanente
E-book535 páginas6 horas

A árvore da vida: Proposto de modelo de formação inicial e permanente

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Este ebook propõe um modelo formativo que integra um conjunto teórico-prático de considerações e orientações, inspiradas num ideal antropológico e vocacional, que visa a um objetivo final e a objetivos intermediários intimamente correspondentes a esse ideal. Adota estratégias pedagógicas particulares, com instrumentos apropriados, em função das metas a serem alcançados e indica aqueles sinais pessoais e comportamentais que permitem avaliar a consecução do objetivo.
Depois de mostrar a insuficiência dos modelos habituais (1ª parte), que partem de um ideal abstrato de perfeição, observância, auto realização, auto aceitação ou, quando muito, de uma visão parcial da vida humana, a obra propõe (2ª parte) um modelo de integração inspirado na antropologia cristã: tudo, na vida da pessoa e da comunidade, deve ser recapitulado em Cristo, deve ser pensado a partir e em função de Jesus no Espírito.
A 3ª parte desenvolve, finalmente, uma pedagogia em três fases: educativa, formativa e denominada ""transfigurante"", em que as limitações de toda pessoa e comunidade são interpretadas à luz da cruz. Mais que um roteiro dentre outros, a obra estimula a reflexão de todos que, em nossos dias, estão empenhados na tarefa grandiosa da formação de presbíteros e consagrados.
IdiomaPortuguês
EditoraPaulinas
Data de lançamento6 de out. de 2023
ISBN9786558082323
A árvore da vida: Proposto de modelo de formação inicial e permanente

Relacionado a A árvore da vida

Ebooks relacionados

Cristianismo para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de A árvore da vida

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    A árvore da vida - Amedeo Cencini

    PREFÁCIO

    Fiquei surpreso quando o padre Amedeo me enviou o texto desta sua nova obra e me pediu que escrevesse o prefácio. Eu nunca escrevi um livro, não sei como se escreve um prefácio. Sou alguém que foi reitor de um seminário maior por nove anos e agora, há cinco, sou delegado para o clero da diocese de Pádua, com a responsabilidade, também, pela formação permanente desse clero. Sou somente um operador, um destinatário ou interlocutor deste livro. Partindo desta condição, tento escrever algumas reações mais imediatas.

    Agradeço ao padre Amedeo por este seu esforço que se coloca na encruzilhada entre a experiência e a ciência.

    O Espírito Santo continua a agir com fantasia nas pessoas e nas comunidades. Quando a variedade das experiências é colocada em comum e aceita ser verificada pela experiência de outros, pela contribuição da teologia da fé, pelo magistério, pelas ciências positivas, então o Espírito leva a termo a sua obra: a riqueza não acontece por soma, mas por multiplicação, se constata a real presença de um sensus fidelium, na convergência em algumas orientações de base.

    Estou convencido de que na vida das comunidades cristãs de hoje existe uma riqueza de recursos, de experiências, também no campo da formação, que deveria ser posta em circulação para um enriquecimento e para um confronto. Se, realmente, pobreza e riquezas da experiência formativa fossem seriamente compartilhadas, iluminar-se-ia o caminho desta nossa Igreja. Recolhendo e confrontando a experiência, descobrir-se-ia, surpreendentemente, que ela revela uma sabedoria que não conhecíamos, ou que no seu interior esconde as leis profundas da vida e da formação.

    Parece-me que este texto de padre Amedeo se coloca nessa dinâmica: não nasce no escritório, não nasce dedutivamente; tem nas suas origens um conhecimento vasto de experiências de vida e de formação, e sobre esta empreende uma reflexão sistemática que ilumina o caminho, corrige e previne dispersões, define objetivos que haviam sido intuídos aproximativamente. Tal contribuição volta à base para uma circularidade de influxo e para continuar o caminho e a reflexão.

    Nós, operadores, temos necessidade dessas contribuições.

    Compartilho a abordagem de fundo que insiste na globalidade do caminho formativo. A apresentação analítica de vários modelos torna mais convincente a proposta do modelo da integração.

    Não se forma o padre (e o religioso) sem formar, contemporaneamente, o homem e o crente. Como paradoxo, eu dizia aos seminaristas: Para vocês se formarem como padres, bastariam três meses; para formar em vocês o homem e o crente não seria suficiente o tempo. É um trabalho árduo e que nunca chega ao fim. Todo trabalho num âmbito ou num setor da vida do padre envolve toda a esfera da sua humanidade e deve encontrar a sua síntese numa espiritualidade coerente. A esquizofrenia é muito perigosa para qualquer um, mas, sobretudo, para quem é chamado a ser testemunha, guia, pastor de uma comunidade de discípulos de Jesus. Naturalmente, tal colocação global diz respeito tanto à formação inicial como à permanente.

    Muito oportuno o destaque dado à memória no caminho educativo e formativo.

    Na nossa mais recente experiência de formação permanente na diocese, aconteceu um salto de qualidade no momento em que adotamos um procedimento que chamamos narrar a fé. Em vez de falar teologicamente da fé ou discutir problemas pastorais, os padres foram convidados a lembrar-se de alguma página da própria história de fé e a fazer disso um presente para um pequeno grupo de outros padres. Foi uma concretização de um processo que viu crescer a escuta, a acolhida, a estima mútua, que deu a percepção de que a história sagrada continua e que é preciso levar a sério o existente, a minha pessoa, a minha história, as minhas relações, a comunidade na qual estou inserido (diocese, presbitério, paróquia) com a sua história e o seu presente. De uma abordagem formativa e pastoral que partia do dever ser (método dedutivo: a Escritura, o catecismo, o Código de Direito Canônico dizem...) a uma abordagem que parte do existente para o projeto de Deus. Partimos da situa­ção pessoal, comunitária, e nos confrontamos com a tradição eclesial em toda a sua riqueza, acreditando na ação do Espírito que o Senhor prometeu a todos os que estão reunidos em seu nome. Há uma circularidade entre vida, experiência, Palavra de Deus, reflexão e confronto. A unilateralidade parece, às vezes, radicalidade, mas não respeita a lógica complexa e difícil da encarnação.

    Compartilho a intuição da necessidade de que um único projeto deva guiar a formação inicial e a permanente, e que a formação permanente será possível somente com uma impostação determinada da formação inicial.

    Em nossa diocese, há três anos, os padres pediram ao bispo para criar uma estrutura estável para a formação permanente dos presbíteros, com um projeto, pessoas, uma sede e recursos econômicos. Nasceu o Instituto São Lucas, que se alojou em alguns ambientes do seminário maior. Brincando, digo ao reitor do seminário que, provavelmente, os três quartos iniciais algum dia serão ampliados e o seminário será dividido em duas partes: uma para a formação permanente e outra para a formação inicial.

    Antigamente, objetivava-se aparelhar o jovem seminarista por toda a vida, era-lhe fornecida uma mala cheia de tudo o que era necessário. Hoje, talvez se deva ter o objetivo de fornecer uma mochilinha com instrumentos e mapas com os quais o padre saberá procurar o necessário ao longo do percurso.

    Constato que ao redor do seminarista circulam muitas pessoas a seu serviço: porque o padre não deveria sentir que essas pessoas estão à sua disposição, prontas para ajudá-lo, que cuidam dele? Não basta cuidar do jovem em formação, a Igreja deve responsabilizar-se por fornecer uma assistência durante toda a vida. Naturalmente, deve antes amadurecer, no jovem que se prepara para o ministério, a docilitas de que fala o padre Cencini.

    Expus algumas convicções nascidas da minha experiência que encontro no livro: deixo para a leitura do texto o encontrar a riqueza documentada de análises e propostas, que fornecerão aos formadores e também aos que estão no caminho da formação uma ajuda para um confronto iluminador.

    Padre Giuseppe Zanon

    Diretor do Instituto São Lucas

    para a formação permanente do clero

    da diocese de Pádua

    INTRODUÇÃO

    Este livro dá sequência a O respiro da vida. A graça da formação permanente . ¹ Foi anunciado lá, embora com um estilo ligeiramente diferente daquele que depois assumiu. Devia, de fato, num primeiro esboço, apresentar os conteúdos oferecidos num projeto sistemático e diferenciado de formação permanente do presbítero ou do consagrado, conforme as diversas idades da vida e situações pastorais. Mas, caminhando, a reflexão sobre o assunto, com as primeiras tentativas de redação do texto, unida à experiência sobre o campo, através de contatos com diversos grupos de padres e religiosos(as) na Itália e no exterior, me orientou diferentemente, para o aprofundamento de uma questão que me pareceu mais substancial e basilar: procurar definir o modelo formativo em torno do qual se pode construir um projeto de formação permanente.

    E assim nasceu este livro. Por outro lado, quando alguém escreve e aceita esta ascese trabalhosa (pelo menos alguém como eu, que não é um escritor por natureza, mas somente por necessidade de transmitir alguma mensagem), sabe muito bem que não pode prosseguir em tudo e por tudo como tinha pensado no começo.

    O escrever abre horizontes novos e perspectivas impensadas, faz descobrir a pobreza ou a superficialidade do projeto inicial ou do próprio pensamento em geral. E é bem verdade que o escrever é a forma mais elevada do pensar, representa sua modalidade mais evoluída. Justamente por isso, talvez, escrever é uma ascese, porque impede que se enrijeça em posições anteriores, ou obriga a deixar-se ir... atrás da caneta ou do símbolo gráfico digitado na tela do computador. Como num ato de abandono e sem saber bem aonde se vai chegar.

    Por isso este livro assumiu a forma e o conteúdo diversos daqueles planejados. Mas sempre, obviamente, na busca da verdade que todos temos o dever de procurar e que o leitor tem, também, o dever de encontrar, pelo menos como tensão, seriedade e sinceridade de busca, no livro que lê.

    1. Formação inicial e permanente

    Uma questão fundamental e decisiva no discurso sobre a formação permanente é, sem mais, a relativa ao modelo formativo segundo o qual a pessoa recebeu a primeira formação.

    Se é verdade que a tarefa da primeira formação é exatamente a de tornar a pessoa não somente dócil, mas docível, inteligente e ativamente disponível a deixar-se formar durante toda a vida pela vida, isto é, em qualquer circunstância, em qualquer idade, em qualquer contexto existencial (comunidade religiosa ou paroquial ou familiar), na boa e na má sorte, e por qualquer pessoa (douta ou menos douta, santa ou pecadora, amiga ou inimiga...), torna-se decisivo o modelo formativo com o qual a pessoa mesma foi educada e formada. Por três motivos.

    Antes de tudo, porque já, teoricamente, nem todo modelo formativo prepara ou dispõe do mesmo modo, tendo em vista a formação permanente; pode haver até modelos ou programas formativos que pareçam deixar pouco espaço e poucas razões para a formação permanente, ou que parecem, implicitamente, limitar a possibilidade de intervir eficazmente na pessoa somente no tempo da primeira formação, a considerada institucional.

    Depois, porque nem todo itinerário formativo de fato consegue tornar o sujeito docibilis, isto é, disponível, no sentido já referido, para uma formação que continua por toda a vida, e livre para abrir-se, em trezentos e sessenta graus, para toda a realidade ao redor de si, que poderá, direta ou indiretamente, ter um influxo educativo-formativo sobre ele. Nem todo modelo formativo visa a esse objetivo final, nem parece concebido ou estruturado para criar no objeto esse tipo de disponibilidade inteligente e empreendedora; são muitos, ainda, aqueles que pensam que a formação pode acontecer somente em alguns lugares, em determinadas condições, graças à presença de pessoas qualificadas, exclusivamente em contextos para isso delegados e por isso... purificados, como um produto bem confeccionado pelo exterior, e não em qualquer lugar, de alguma forma, com qualquer um e para sempre, até o dia da morte, e em força, fundamentalmente, de uma receptividade interior. Nem todo modelo formativo se coloca, explicitamente, o objetivo de educar para tal receptividade.

    Por fim, o modelo adotado nos inícios do caminho, mesmo que não através de uma decisão explícita e declarada, normalmente tende a durar no tempo, é como se fosse alguma coisa que se planta profundamente no sujeito e é pelo mesmo colocado em prática, como filtro interpretativo da realidade ou esquema bastante fixo de ação. Mesmo nos casos em que, por vários motivos, o sujeito parece rejeitar o estilo educativo recebido (ou a pessoa que aquele estilo propôs e encarnou), e até quando o modelo educativo não foi bem definido, nem o indivíduo mesmo saberia dar-lhe um nome ou reconhecer nele componentes e consequências. Também, então, um modo concreto de ir ao encontro da vida ou de entender a fé ou de viver a própria vocação foi transmitido e tenderá a permanecer e influenciar a vida.

    Mas que entendemos por modelo formativo?

    2. Natureza do modelo formativo

    Poderíamos dizer que o modelo formativo, no nosso caso, é um conjunto teórico-prático que

    • se inspira num ideal antropológico e vocacional, num modo de entender o ser humano e o chamado;

    • visa a um objetivo final e a objetivos intermediários intimamente correspondentes àquele ideal;

    • adota estratégias pedagógicas particulares, com instrumentos apropriados, em função dos objetivos a serem conseguidos;

    • indica aqueles sinais pessoais e comportamentais que permitem avaliar a consecução do objetivo.²

    Daqui, ainda há duas consequências.

    A primeira. Definido assim, o modelo formativo deveria corresponder a uma escolha de campo precisa que todo educador deveria fazer e em termos bem explícitos; são muito relevantes os componentes deste modelo. De fato, nem sempre é assim; ou melhor: talvez não seja raro o caso do educador que adota um modelo formativo sem confessar, antes de tudo a si mesmo, a própria escolha; ou, então, com pouca consciência daquilo que faz e porque o faz daquele modo, nem em estar lá pensando tanto (talvez porque não a considera coisa muito importante), talvez simplesmente o copia de algum outro ou o recebe como herança de quem o precedeu; sem, portanto, sequer tirar consequências e implicações de certa opção pedagógica, nem relacionar entre eles intervenções educativas, estilo operativo, opções pedagógicas... de modo linear e coerente, deixando inconcluso algum dos componentes constitutivos do mesmo modelo (ou o ponto de partida antropológico, ou o objetivo que entende perseguir, ou o itinerário pedagógico que parece mais adaptado...) e aplicando o método de modo rígido. No fim, tornando fraca e confusa a proposta educativa.

    Na realidade, porém, qualquer educador deve saber que, sempre que adota um modelo formativo, tenha consciência ou não, deve conhecer ou não o modelo escolhido.

    Mas se as coisas estão assim, e é a segunda consequência, tratar dos modelos formativos não pode ser coisa que diga respeito, unicamente, aos ambientes de (primeira) formação e que age diretamente nela, como formador ou como jovem em formação. Diz respeito, absolutamente, a todos, particularmente a quem está entrando, decididamente, na ótica da formação permanente e quer compreender como adquirir cada vez mais aquela disponibilidade empreendedora e inteligente, ágil e engenhosa, que faz crescer com a vida e graças à vida; ou como libertar-se de certas singulares rijezas pessoais que impedem qualquer crescimento, diante de Deus e diante dos seres humanos.

    Primeira parte

    MODELOS DO PASSADO

    (E DO PRESENTE)

    Começamos, então, considerando alguns modelos de formação. Sem pretender indicá-los e recapitular todos, faremos referência àqueles que mais caracterizaram a experiência educativo-formativa dos nossos ambientes de formação e marcaram a vida de cada um de nós, de modo mais ou menos incisivo, nas últimas décadas. Esses modelos, dissemos, estão ainda vivos em nós, e nos dispõem ou não para a formação permanente, mesmo que, não necessariamente, na forma que vamos descrever e com as acentuações que vamos propor.

    São, substancialmente, cinco e os apresentaremos em ordem de... aparecimento no cenário da realidade da formação, pelo menos nas últimas décadas (a partir do Concílio Vaticano II): o modelo da perfeição (cap. I); o modelo da observância comum (cap. II); o modelo da auto-realização (cap. III); o modelo da auto-aceitação (cap. IV); finalmente, o módulo único (ou da não-integração) (cap. V).

    Procuraremos compreender a inspiração de cada um desses modelos para apresentar, depois, os aspectos positivos e os menos positivos, ou menos capazes de suscitar uma lógica de continuidade e disponibilidade formativa na vida do chamado, chamado feito por aquele que não cessa de chamar em cada dia da vida.

    Capítulo I

    MODELO DA PERFEIÇÃO

    Antigamente, não havia qualquer dúvida: o escopo da formação era a perfeição . A ponto de a vida consagrada, especialmente (como o projeto de santidade do presbítero), ter sido por muito tempo chamada vida de perfeição, e cada congregação religiosa Institutos de perfeição. ³

    Este modelo chegou até os nossos dias, obviamente através de revisitações e adaptações, que de alguma forma não perderam de vista o objetivo de fundo do mesmo modelo e certa lógica nele subentendida.

    1. Canalização e exclusão

    O modelo operativo do santo perfeito e de uma formação que tende à perfeição é o que poderíamos definir sobre canalização, representável como uma flecha que toma a direção precisa para um ponto preciso, a perfeição, justamente, excluindo todo o resto. Canalização, portanto, e exclusão.

    A estratégia da canalização prevê que as energias instintivas do ser humano, ambíguas como são, sejam assumidas somente na medida em que auxiliem um projeto elaborado pela razão. Consequentemente, há o risco, embora não fatal, de que algumas dimensões (pensemos, por exemplo, na sexualidade) que não entram, imediatamente, nos esquemas daquilo que chamamos (ou que o indivíduo chama) perfeição sejam retomadas, negadas ou canceladas, mais ou menos, intencionalmente.

    Com efeito, esta estratégia aparece muito mais assertivo-diretiva que pedagógica, muito mais preocupada em indicar o objetivo final que em indicar os percursos metodológicos. Parte da idéia, de fato, de que o elemento em questão (energia pulsátil ou movimento instintivo) deva ser, imediatamente, integrável com o ideal que o sujeito pretende conseguir, totalmente alinhado com ele. Diversamente, deve ser eliminado ou de alguma forma tornado eficaz, como se não houvesse ou não tivesse qualquer direito de existir na vida do jovem em formação.

    É a esse tipo de formação que, provavelmente, é dirigida a acusação, um pouco generalizada, do

    insustentável peso da formação. Pesada, pesadíssima... Não se discute sobre o seu primado. Ninguém ousa fazê-lo, todos estão arquiconvencidos. Mas é um primado que se reveste de retórica, de invencível vagueza, de tons optativos, e o optativo, na gramática grega, é o modo das aspirações. E das veleidades.

    Assim, num programa formativo que se inspira no modelo da perfeição há um pouco de risco de dizer tudo (o objetivo da perfeição) e nada ao mesmo tempo (o método para atingi-la). Pode haver, também, uma espécie de hipertrofia dos fins, uma hipertrofia que, às vezes, parece até exaltar-se, tornando-se excessiva e redundante, pela alegria ou pela tranquilidade de quem considera que para fazer formação basta dizer, altíssimos e vagos, fortes e inquestionáveis, os fins, pretendendo ignorar os meios, e depois querendo dizer os sujeitos, os contextos, os métodos. E expondo o jovem em formação a uma pretensão e a um risco.

    2. Pretensão (irreal) e risco (real)

    A pretensão, de fato, de que a energia pulsional seja imediatamente conforme aos valores, apesar de sua eliminação, parece irreal e acaba, depois, empobrecendo a vida psíquica do aspirante santo. Mesmo que, de fato, as forças negadas não desapareçam nem possam deixar de existir, seria simplesmente impossível. Eventualmente, permanecem presentes, mas como forças negadas e não-aceitas, como intrusas ou irregulares, sem direito de cidadania e, cada vez mais, também fora de controle.

    Falando de outra maneira: a sua energia não é mais uma força que o indivíduo pode desfrutar e da qual pode servir-se para viver os seus ideais. É como uma força má que o indivíduo combate, mas que tenta emergir continuamente e impor-se a seu modo (visto que o indivíduo a rejeitou intencionalmente), tornando dramática a vida consciente e colocando cada vez mais em perigo a consecução do mesmo ideal da perfeição.

    A vida, assim, se complica perigosamente e o modelo original corre o risco de transformar-se em modelo da luta até o fim e da tensão insuportável a longo prazo: luta psicológica, não-religiosa, portanto luta inútil, e tensão de frustração, não de renúncia, com desgaste enorme de energia.

    Com o resultado, frequente na nossa história, que muitos aspirantes a este tipo de perfeição, num determinado ponto, não resistem mais à tensão e, às vezes, passam até ao extremo oposto, ou preferem levar uma vida medíocre ou ainda pior. Num jogo escuro de atrações misteriosas entre polaridades contrárias. Quantos ex-perfeitos (ou ex-aspirantes) se tornaram depois crentes decadentes ou caíram até muito mais abaixo!

    3. Controlador perfeito (e exausto)

    Outra consequência ou componente mais ou menos inevitável. Quanto maior for a força subjetiva de controle, tanto maior será a ameaça que o eros e o pathos (os símbolos da energia instintiva) fazem à consciência e que o sujeito mesmo perceberá com certa angústia. Às tentações, então, o indivíduo oporá uma resistência frontal que pretende jogar fora tudo, água suja e criança dentro... Tem, de fato, direito de existir na sua vida somente a dimensão de luz e de bondade, de pureza e de positividade. As outras dimensões que sobram, que também pertencem à realidade humana, são colocadas, continuamente, sob acusação e sob controle.

    O modelo desta idéia de perfeição cristã é o controlador perfeito de todos os seus instintos; é alguém que, inflexível, persegue um ideal máximo; castiga e reprime a paixão que se opõe à virtude; mas deve, sempre, recorrer a um empenho exigente da vontade, com gasto notável de energia psíquica, aquele gasto que torna a pessoa cansada e oprimida.

    Aquilo que o seu mesmo ideal de perfeição, com todas as renúncias e penitências que comporta, faz, é mais uma obrigação que se impôs ou que é percebida como imposta, como um jugo, do que uma exigência e consequência de um relacionamento de amor. Quis com toda a sua vontade, não interessa se não o ama; o que importa é que se decida a converter-se, isto é, a mudar comportamentos, não que se encontre nisso gosto em deixar-se atrair pelo Espírito ou que experimente a liberdade de amor ou o sabor das bem-aventuranças.

    Em tudo isso há muita boa vontade e uma intenção sincera, da qual ninguém pode duvidar, mas, provavelmente, há pouca liberdade interior e ainda menos real transcendência de si (apesar da tensão para a superação do eu).

    4. Sem paixões e sem paixão

    Vejamos algumas implicações deste equívoco no plano da formação.

    O jovem é orientado ao longo de um percurso que se revela impossível: é impelido, de fato, a cancelar uma parte do próprio eu, aquela considerada menos nobre ou mais humilhante, a ponto de iludi-lo de que pode ter êxito na tentativa, eliminando-a e extirpando-a pela raiz; com o resultado que não se elimina nada, eventualmente se relega tudo ao inconsciente, de onde o instinto negado continua a perturbar – imperturbado – a vida consciente do sujeito. Infiltrando-se sutil como motivação profunda de gestos aparentemente corretos e evangélicos, ou como razão última de sensações, reações, estados de espírito, crises inexplicáveis em sujeitos julgados no tempo da formação inicial, às vezes com ingenuidade olímpica, serenos.

    Outra consequência muito negativa no nível formativo: transmite-se ao jovem uma idéia contraditória de si mesmo; haveria, de fato, no seu eu uma zona irremediavelmente negativa que é dominada ou que é melhor ignorar, misterioso buraco negro. De um lado, então, se favorece certo sentido de presunção e de suficiência ("você deve dominar e cancelar tudo o que é negativo"); de outro, se insinua uma concepção negativa do próprio ser, que não tardará a emergir como raiva e sentimento de culpa quando o sujeito não consegue vencer e dominar, ou como depressão e perturbação quando é obrigado a constatar que não cancelou exatamente nada.

    O resultante dessa confusão será que o sujeito não é ajudado a conhecer-se nem a aceitar-se; numa palavra: será pouco livre consigo mesmo e com os outros, sobre os quais tenderá, defensivamente, a projetar tudo o que lhe causa problema e não aceita de si. Finalmente, como já foi acenado, se empobrece, em geral, a vida psíquica: toda paixão, porquanto diabólica, contém energia, e sem energia o ser humano não pode realizar nada. Será ou correrá o risco de ser um ser sem paixões, mas também sem paixão. Não cometerá pecados, mas não será sequer virtuoso se a virtude, como ensina santo Tomás, consiste em gozar das ações justas e virtuosas.⁷ Ou, então, se empobrece não somente a vida psíquica, mas também a vida espiritual.

    5. Aspectos positivos

    A vantagem do modelo da perfeição é, antes de tudo, a extrema clareza do projeto proposto, dos valores a serem conseguidos e da disciplina que deve ser praticada, da distinção entre aquilo que é bom e aquilo que é mau e das renúncias inevitáveis. E não é pouco. A lucidez e a nitidez do objetivo final e dos intermediários não tornam somente mais seguro o caminho, mas acabam por dar segurança ao mesmo indivíduo, ao seu próprio sentimento de identidade, infundindo nele coragem e confiança e reforçando a sua mesma opção vocacional. É um aspecto que não pode ser menosprezado e que talvez seja particularmente destacado em tempos de indecisão e transição, como os nossos.

    Com a precisão na indicação dos objetivos a serem conseguidos, outro elemento funcional num caminho educativo e típico deste modelo é o treinamento para assumir uma determinada disciplina como estilo de vida e de crescimento. Tem vantagens indubitáveis para a pessoa, em termos de aprendizagem de um método, de regularidade e de constância no caminho ascético, de aquisição de bons hábitos, de certa ordem imprimida à própria vida, de paciência e fidelidade na tensão para determinados limites, também de certo rigor em relação a si mesmo.

    Finalmente, este modelo, sobretudo se purificado de extremismos e radicalizações de origem suspeita, responde àquela lei psicológica segundo a qual um valor é autêntico na medida em que pede o máximo ao indivíduo. Porque o ser humano é feito para tender ao vértice das suas potencialidades:

    Na medida em que um ideal reflete o melhor que a pessoa pode atingir, é objetivamente válido como escopo do desenvolvimento. Ao contrário, escolher... um ideal menor que aquele que a nossa natureza pode conseguir quer dizer escolher a nossa limitação.

    É, de fato, o que acontece: como um trabalho monótono fica enfadonho para quem é muito inteligente para ele, assim aspirar menos que o melhor que está em nós, ou tender a um nível de serviços apenas abaixo das próprias possibilidades, levará logo ao enfado, mal-estar e desilusão.

    Pois bem. O modelo da perfeição certamente soube responder a tal exigência de radicalidade do coração humano, e talvez justamente por isso foi por muito tempo e continua a ser, ainda, modelo que atrai e no qual muitos educadores apostam e diversos jovens em formação investem. É provável que justamente por isso, além das dúvidas e dos relevos por nós levantados (muitos dos quais ligados à evolução normal da concepção antropológica, portanto, também a uma concepção pedagógica diversa em relação a algum tempo atrás), este modelo tenha sido, de alguma forma, modelo de crescimento para muitíssimos crentes.

    6. Modelo da perfeição e formação permanente

    Procuremos, finalmente, ver explicitamente o quanto este modelo abre para uma concepção contínua da formação e pode, portanto, ainda hoje, ser proposto como método de formação que acompanha durante o tempo todo a vida do presbítero e do consagrado.

    Antes de tudo, diz-se que este modelo é filho dos tempos nos quais não se falava grande coisa de formação permanente, tempos nos quais se tendia, às vezes também explicitamente, a transmitir a idéia de que a formação se completa toda no tempo da primeira e única formação,⁹ sem consequências e prolongamentos posteriores, a não ser para os casos que não foram bem sucedidos no período da formação considerada institucional.

    Por outro lado, a idéia de perfeição implica a idéia do noviço perfeito, do clérigo ou do professo modelo, e talvez do reitor ou do padre–mestre ou do educador igualmente muito bem preparados e atualizados,¹⁰ naturalmente numa comunidade ideal e numa Igreja sem defeitos, ou dentro de um contexto de crentes (paróquia ou outro), no qual tudo visa à perfeição. Em suma: tudo tão perfeito que não solicita, nem supõe a idéia de que o caminho de crescimento deva continuar; muito ao contrário, tal crescimento deverá consolidar-se, confirmar-se, manter as posições conquistadas e não retroceder, mas sem nada de absolutamente novo para ser adquirido. Portanto, é exatamente o conceito de perfeição em si mesmo que parece privilegiar a idéia de alguma coisa a ser conquistada e que é possível e necessário conquistar nos termos da formação inicial (que fica sendo a única e verdadeira formação), tornando, de fato, menos importante o caminho seguinte, quase esvaziando de valor formativo verdadeiro e próprio.

    E se, no melhor dos casos, o tipo educado segundo este modelo entrar na ordem de idéias de continuar a deixar-se formar pela vida, pelo ministério, pelos outros, pelos acontecimentos..., deverá ser perfeito também o programa da formação permanente, ou seja, será, nesse sentido, bem disposto somente para aquilo que de alguma forma é perfeito, não poderá aceitar deixar-se educar-formar pelas mediações imperfeitas, pelas situações absurdas, pelo outro que está cheio de limites, por um mundo onde reina o pecado, pela realidade quotidiana e normal, pequena e discreta, débil e frágil... como aquele religioso quinquagenário que afirmava, depois de uma côngrua experiência de vida, ter chegado à decisão de obedecer somente aos superiores mais santos e mais inteligentes que ele (obviamente julgados tais por ele mesmo). Ou como aquele sacerdote que não ia aos encontros de formação permanente porque eram ministrados por pessoas do ambiente e muito conhecidas, mediações muito normais e habituais, e não pelos especialistas que ele conhecia...

    A pretensão da perfeição nos outros, na Igreja, na estrutura, no contexto de vida onde se vive (comunidade, paróquia...) tem um quê de diabólico, e coloca a pessoa, radicalmente, fora da lógica e de qualquer possibilidade de formação permanente, a qual é graça e ação de Deus, antes de tudo, não esforço e projeto humanos, e justamente porque assim pode passar através de toda realidade, pequena e limitada, pecadora e quotidiana, mas pede ao sujeito a liberdade interior (a docibilitas) de acolher o humano que está ao seu redor como mediação preciosa, antes que misteriosa, do Pai que educa, do Filho que forma, do Espírito que acompanha.¹¹

    Dificilmente terá essa liberdade aquele que foi formado segundo este modelo, e se encontra, interiormente, dividido entre a convicção tenaz, por um lado, que uma formação inicial tão precisa e rigorosa, exigente e qualificadora, o tornou já adulto e maduro, e a constatação, por outro lado, mesmo que somente implícita, de que agora não há mais nada a fazer, os dados estão lançados. É como uma estranha síntese, um pouco esquizofrênica, de presunção suficiente e resignação inerte.

    7. Modelo do passado?

    Em todo caso, este modelo pertence a um passado, mesmo que não seja totalmente passado; cá e acolá são ainda reconhecíveis em certas concepções modernas e práticas educativas resíduos desta mentalidade. Em tempos, depois, de incerteza e desorientação, como os nossos, há quem considere que tudo poderia ser resolvido voltando, simplesmente, a este modelo, com a clareza que o diferencia e a disciplina que deriva dele, como melhor veremos no modelo seguinte.

    Mas depois há o inevitável fascínio exercido desde sempre por este termo perfeição, com ressonâncias até evangélicas (Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito, Mt 5,48; cf. também Jo 17,23).

    Vale a pena, então, procurar esclarecer.

    Antropologia subjacente

    O problema não está, pelo menos aparentemente, no objetivo que se quer atingir, ou, então, no ideal da perfeição, mas na modalidade concreta que se quer perseguir para a realização do objetivo, uma modalidade que revela uma antropologia pobre na base deste projeto e, ao mesmo tempo, faz nascer mais que alguma suspeita sobre a real motivação da operação, do ponto de vista tanto psicológico como espiritual.

    A antropologia de partida se mostra pobre porque construída sobre uma concepção um pouco estranha e redutiva do ser humano, sutilmente maniquéia: bom seria tudo o que é logo orientado para o bem e para a realização do ideal vocacional transcendente; mau seria, como já se disse,

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1