Controle de estímulos e comportamento operante: Uma (nova) introdução
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Controle de estímulos e comportamento operante - Tereza Maria de Azevedo Pires Sério
© 2023 Tereza Maria de Azevedo Pires Sério. Foi feito o depósito legal.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri / PUC-SP
Nasser, Reginaldo Mattar
Controle de estímulos e comportamento operante / Tereza Maria de Azevedo Pires Sério et al. - 3 ed. revisada – São Paulo : EDUC, 2023.
1. Recurso on-line: ePub
ISBN 978-85-283-0723-8
Disponível para ler em: todas as mídias eletrônicas.
Acesso restrito: http://pucsp.br/educ
Disponível no formato impresso: Controle de estímulos e comportamento operante / Tereza Maria de Azevedo Pires Sério et al. - 3 ed. revisada – São Paulo : EDUC, 2023. ISBN 978-85-283-0376-6.
1. Comportamento operante. 2. Comportamento humano. 3. Discriminação. 4. Estimulação sensorial. 5. Comportamento verbal. 6. Linguagem. 7. Conhecimento – Teoria. I. Sério, Tereza Maria de Azevedo Pires.
CDD 121, 150, 152.1
153, 392, 401
EDUC – Editora da PUC-SP
Direção
Thiago Pacheco Ferreira
Produção Editorial
Sonia Montone
Preparação e Revisão
Sonia Rangel
Editoração Eletrônica
Waldir Alves
Capa
Marilá Dardot
Realização: Waldir Alves
Administração e Vendas
Ronaldo Decicino
Produção do e-book
Waldir Alves
Revisão técnica do e-book
Gabriel Moraes
Rua Monte Alegre, 984 – sala S16
CEP 05014-901 – São Paulo – SP
Tel./Fax: (11) 3670-8085 e 3670-8558
E-mail: educ@pucsp.br – Site: www.pucsp.br/educ
Sumário
OS CONCEITOS DE DISCRIMINAÇÃO E GENERALIZAÇÃO
Referências bibliográficas
DISCRIMINAÇÃO E GENERALIZAÇÃO: ALGUMAS EXTENSÕES
Estudo experimental dos processos de discriminação e generalização: alguns exemplos
Discriminação e generalização: extensão e aplicação
Referências bibliográficas
DISCRIMINAÇÃO E GENERALIZAÇÃO: COMPORTAMENTO HUMANO COMPLEXO
Percepção e atenção
Conhecimento, formação de conceitos e abstração
Referências bibliográficas
DISCRIMINAÇÃO CONDICIONAL
1) Fase de teste
2) Fase de treino
3) Pós-teste
Referências bibliográficas
COMPORTAMENTO VERBAL
Por que comportamento verbal?
A definição de comportamento verbal
Operantes verbais
Comportamento verbal secundário
A multideterminação do comportamento verbal
Referências bibliográficas
COMPORTAMENTO VERBAL E O CONTROLE DO COMPORTAMENTO HUMANO
Referências bibliográficas
ROTEIROS DE LEITURA
Os conceitos de discriminação e generalização
Discriminação e generalização: algumas extensões
Discriminação e generalização: comportamento humano complexo
Discriminação condicional
Comportamento verbal
Comportamento verbal e o controle do comportamento humano
OS CONCEITOS DE DISCRIMINAÇÃO E GENERALIZAÇÃO
Tereza Maria de Azevedo Pires Sério
Maria Amalia Andery
Paula Suzana Gioia
Nilza Micheletto
Em 1938, B. F. Skinner publicou seu primeiro livro: The Behavior of Organisms: An Experimental Analysis. Desde 1930, Skinner vinha realizando experimentos de laboratório com sujeitos animais; quase todos os experimentos tinham como objetivo o estudo de relações operantes. Em The Behavior of Organisms: An Experimental Analysis, Skinner apresenta a sistematização desses resultados experimentais, organizados a partir de um conjunto de conceitos; essa apresentação pode ser considerada como uma primeira versão
do sistema explicativo construído por ele e seus colaboradores.
Nessa primeira versão, estavam já presentes conceitos que são, até hoje, básicos para análise do comportamento, como, por exemplo, comportamento operante, reforçamento, extinção e conceitos relacionados com o que hoje é denominado controle de estímulos do comportamento operante.
O estudo do controle de estímulos constitui uma área de pesquisa muito importante dentro da análise experimental do comportamento. Essa área de pesquisa vem se desenvolvendo bastante e tem produzido resultados promissores no que se refere à compreensão de comportamentos humanos complexos, como é o caso dos comportamentos envolvidos no conhecimento do mundo e de si próprio. As pesquisas sobre controle de estímulos têm produzido também resultados promissores com relação às possibilidades de atuação do analista do comportamento, por exemplo, na alfabetização de crianças e adultos, no desenvolvimento de programas de ensino e no desenvolvimen-to de estratégias para lidar com os mais diversos tipos
de distúrbios de comportamento.
Para iniciar nosso estudo dos conceitos envolvidos no controle de estímulos do comportamento operante, vamos recorrer ao livro The Behavior of Organisms: An Experimental Analysis. Foi assim que Skinner apresentou a questão do controle de estímulos, em 1938:
Uma conexão entre um operante e um estímulo reforçador pode ser estabelecida independentemente de qualquer estimulação específica que esteja agindo antes da resposta. (...) com atenção constante, é possível reforçar uma resposta (...) sob muitos conjuntos diferentes de forças estimuladoras e independentemente de qualquer conjunto específico. Na natureza, entretanto, a contingência de reforçamento para uma dada resposta não é mágica; o operante deve operar sobre a natureza para produzir seu reforçamento. Embora a resposta seja livre para ocorrer em um número muito grande de situações estimuladoras, ela será efetiva na produção de reforçamento somente em uma pequena parte delas. Usualmente, a situação favorável é marcada de alguma maneira e o organismo faz uma discriminação (...). Ele passa a responder sempre que estiver presente o estímulo que estava presente na ocasião do reforçamento anterior e a não responder em outras situações. O estímulo anterior (...) meramente estabelece a ocasião na qual a resposta será reforçada.
Em um mundo no qual o organismo é um ser isolado e errante, as necessidades mecânicas de reforçamento requerem, além da correlação da resposta e do reforçamento, essa correlação adicional com a estimulação anterior. Portanto, três termos devem ser considerados: um estímulo discriminativo anterior (SD), a resposta (RO) e o estímulo reforçador (S¹). A relação entre eles pode ser afirmada como se segue: somente na presença de SD a RO é seguida por S¹. Um exemplo conveniente é o comportamento elementar de fazer contato com partes específicas do ambiente estimulador. Um certo movimento do meu braço (RO) é reforçado pela estimulação tátil do lápis sobre minha escrivaninha (S¹). O movimento não é sempre reforçado porque o lápis não está sempre lá. Em virtude da estimulação visual do lápis (SD), faço o movimento exigido apenas quando ele for reforçado. (Skinner, 1966, pp. 177-178)
Vamos examinar detalhadamente esse trecho de Skinner, verificando tudo que podemos aprender com ele.
A descrição do comportamento operante envolve pelo menos duas relações: a relação entre a resposta e sua conseqüência e a relação entre a resposta e os estímulos que a antecedem. Essas duas relações são características de todo comportamento operante. Skinner (ibid.) afirma essa dupla relação como característica do comportamento operante quando menciona que na natureza, a contingência de reforçamento não é mágica
, a resposta só opera no ambiente em determinadas situações, em determinadas ocasiões. Em outras palavras, uma resposta produzirá reforço apenas na presença de determinados estímulos, ela não será efetiva em outras situações. Para Skinner (ibid.), essa relação da resposta operante com a estimulação que a antecede é tão característica do comportamento operante que apenas em condições propositalmente arranjadas (com atenção constante, é possível reforçar uma resposta (...) sob muitos conjuntos diferentes de forças estimuladoras e independentemente de qualquer conjunto específico
) essa relação pode ser rompida, pode deixar de existir.
Dizer que essa dupla relação é característica do comportamento operante é supor que a sensibilidade aos estímulos que antecedem a resposta é produto evolucionário. Isto é, a história de cada uma das diferentes espécies (como você deve lembrar, história de variação e seleção) selecionou organismos com condições de responder aos estímulos que antecedem a emissão de uma resposta em função das conseqüências dessa resposta na presença desses estímulos. É isso que Skinner está dizendo quando afirma que em um mundo no qual o organismo é um ser isolado e errante
a produção do reforço por uma determinada resposta exige a emissão da resposta (correlação de resposta e reforçamento
), mas exige mais, exige também que a resposta seja emitida em determinada situação (correlação com estimulação anterior
). Em outros textos, Skinner enfatiza esse aspecto; por exemplo, em Science and Human Behavior¹ (1965), ele diz:
Se todos os comportamentos tivessem a mesma probabilidade de ocorrência em todas as ocasiões, o resultado seria caótico. A vantagem de que uma resposta só ocorra quando tem certa probabilidade de ser reforçada é evidente. (p. 108)
O estabelecimento do controle dos estímulos antecedentes sobre a emissão da resposta é, por sua vez, produto de uma história específica de reforçamento. Uma história na qual a resposta foi seguida de reforço quando emitida na presença de determinados estímulos e não foi seguida de reforço quando emitida na presença de outros estímulos. Dito de outra forma, uma história de reforçamento diferencial (reforçamento de algumas respostas e de outras não) tendo como critério os estímulos na presença dos quais a resposta é emitida (a produção de reforço para determinada resposta depende não simplesmente da emissão da resposta, mas também dos estímulos presentes quando a resposta é emitida). Como resultados dessa história: a) a resposta será emitida dependendo dos estímulos presentes e b) a apresentação de determinados estímulos alterará a probabilidade de emissão da resposta.
Isso significa que, se a história de reforçamento diferencial for conhecida, é possível prever quando a resposta ocorrerá e, mais, é possível aumentar a probabilidade de ocorrência de uma determinada resposta apresentando os estímulos antecedentes que a controlam.
Chamamos de discriminação o controle de estímulos assim estabelecido. O estímulo que aumenta a probabilidade de a resposta ocorrer (portanto, o estímulo na presença do qual a resposta foi reforçada) é chamado de estímulo discriminativo (SD ou S+). Os estímulos que diminuem a probabilidade de a resposta ocorrer (portanto, os estímulos na presença dos quais a resposta não foi seguida de reforço) são chamados de estímulos delta (S∆ ou S-). Vamos utilizar, pelo menos nos textos introdutórios, a terminologia SD e S∆, embora alguns estudiosos da área ressaltem que outra terminologia seria mais adequada. Como afirma Matos (1981),
[...] como, na realidade, diferentes estímulos podem estar associados a diferentes probabilidades de reforçamento, e não apenas a zero ou 100%, seria melhor dizer, simplesmente, estímulo discriminativo S1, S2, S3 etc
, para indicar essas diferenças. (p. 1)
O processo de estabelecimento de uma discriminação envolve experiência com, pelo menos, uma classe de respostas e dois conjuntos de estímulos: aqueles que deverão assumir uma função de SD para essa classe de respostas e aqueles que deverão assumir uma função de S∆ com relação a essa classe. No caso de estabelecimento de discriminações simples, há pelo menos dois procedimentos pelos quais os estímulos podem ser apresentados:
1. Os estímulos SD e S∆ podem ser apresentados em sucessão, um após o outro. Na presença do SD, o responder é seguido de reforço e, na presença do S∆, o responder não é reforçado. Suponha, por exemplo, uma situação de laboratório com sujeitos infra-humanos. Nesse caso, um pombo deve