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Os Céus Proclamam: Astronomia no Vaticano
Os Céus Proclamam: Astronomia no Vaticano
Os Céus Proclamam: Astronomia no Vaticano
E-book578 páginas5 horas

Os Céus Proclamam: Astronomia no Vaticano

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Sobre este e-book

POR QUE HÁ CÚPULAS DE TELESCÓPIO NO TELHADO DA CASA DE VERÃO DO PAPA EM CASTEL GANDOLFO?

Por mais de 100 anos, o Vaticano tem mantido um observatório astronômico. Mas isso não deveria ser surpresa; desde antes mesmo da Reforma Gregoriana do Calendário, em 1582, na verdade remontando à invenção da Universidade (onde estudar Astronomia era um requisito para quem quisesse um Doutorado em Filoso¬fia ou Teologia!) a Igreja não só apoiou a pesquisa astronômica... ela viu o estudo dos Céus como uma forma de conhecer o Criador!
Para mostrar isso de fato, o Vaticano e seu Observatório organizaram esta publicação repleta de belas imagens dos telescópios do Vaticano e sabedoria dos Papas.
IdiomaPortuguês
EditoraPUCPRess
Data de lançamento22 de jan. de 2024
ISBN9786553850835
Os Céus Proclamam: Astronomia no Vaticano

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    Pré-visualização do livro

    Os Céus Proclamam - Guy Consolmagno

    Título original: The Heavens Proclaim. Astronomy and the Vatican

    2009, ©Amministrazione del Patrimonio della Santa Sede Apostolica e ©Libreria Editrice Vaticana – Cidade do Vaticano. Tradução autorizada.

    Direitos para a edição brasileira.

    ©2024, Guy Consolmagno

    2024, PUCPRESS

    Este livro, na totalidade ou em parte, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização expressa por escrito da Editora.

    Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

    Reitor

    Ir. Rogério Renato Mateucci

    Vice-Reitor

    Vidal Martins

    Pró-Reitor de Missão, Identidade e Extensão

    Fabiano Incerti

    Diretor de Identidade Institucional

    Khalil Gibran Martins Zeraik Abdalla

    Gerente de Identidade Institucional

    Diogo Marangon Pessotto

    Especialista do Instituto Ciência e Fé

    Douglas Borges Candido

    Organização da tradução

    Douglas Borges Candido

    Tradução

    Alexandre Cherman

    PUCPRESS

    Gerente da Editora

    Michele Marcos de Oliveira

    Edição

    Susan Cristine Trevisani dos Reis

    Edição de arte

    Rafael Matta Carnasciali

    Preparação de texto

    Clarisse Lye Longhi

    Revisão

    Clarisse Lye Longhi

    Capa e projeto gráfico

    Rafael Matta Carnasciali

    Diagramação

    Rafael da Matta Hasselmann

    Produção de ebook

    S2 Books

    IMAGEM DA CAPA

    NGC 5128 observada por Frei José Funes, SJ, no Observatório Interamericano de Cerro Tololo, Chile e processada por Sanae Akiyama. As estrelas da galáxia aparecem em azul e as emissões de gás ionizado em vermelho.

    IMAGEM DA FOLHA DE ROSTO

    Um dos objetos mais famosos do céu, a Nebulosa da Cabeça de Cavalo. É uma nuvem escura que absorve a luz de uma nebulosa de emissão mais distante. O chifre do unicórnio nessa imagem é causado por uma estrela que está fora do campo de visão. Imagem obtida por Brucker, Romanishin, Tegler e Consolmagno no Telescópio de Tecnologia Avançada do Vaticano (VATT).

    OBSERVAÇÕES

    Todas as citações bíblicas foram retiradas da Bíblia Sagrada – Tradução oficial da CNBB, 3ª edição, 2019.

    Para a edição brasileira, o livro foi revisto e ampliando pelos especialistas do Observatório do Vaticano.

    Instituto Ciência e Fé PUCPR

    Rua Imaculada Conceição, 1155 - Prédio da Identidade Institucional

    Câmpus Curitiba - CEP 80215-901 - Curitiba / PR

    Tel. +55 (41) 3271-1900

    E-mail: icf@pucpr.br

    PUCPRESS / Editora Universitária Champagnat

    Rua Imaculada Conceição, 1155 - Prédio da Administração - 6º andar

    Câmpus Curitiba - CEP 80215-901 - Curitiba / PR

    Tel. +55 (41) 3271-1701

    pucpress@pucpr.br

    Dados da Catalogação na Publicação

    Pontifícia Universidade Católica do Paraná

    Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR

    Biblioteca Central

    Sônia Maria Magalhães da Silva – CRB 9/1191

    Os céus proclamam: astronomia no Vaticano / editor: Guy Consolmagno.

    C423

    – Curitiba : PUCPRESS, 2024.

    2024

    288 p. : il. ; 24 cm

    Tradução original: The heavens proclaim, astronomy and the Vatican

    Um livro preparado por membros do Observatório do Vaticano pela ocasião

    do Ano Internacional da Astronomia

    ISBN: 978-65-5385-082-8 (impresso)

    978-65-5385-083-5 (e-book)

    1. Astronomia – História - Cidade do Vaticano. 2. Religião e ciência - História. I. Consolmagno, Guy, 1952-.

    23-158

    CDD 20. ed. – 520

    A Via Láctea se pondo atrás da cúpula do Telescópio de Tecnologia Avançada do Vaticano (VATT), no Monte Graham, Arizona, em 20 de setembro de 2007. A Lua tinha acabado de se pôr atrás da cúpula, mas ainda iluminava o céu; a cor vermelha do prédio se deve a uma fraca luz vermelha do lado de fora da entrada do vizinho Telescópio Submilimétrico. Foto de Jim Scotti, que usou uma Canon 20D D-SLR com uma lente com distância focal de 8 mm e f/3.5; 120 segundos de exposição com ISO 400.

    Foto de Alfredo Matacotta.

    SUMÁRIO

    Capa

    Folha de rosto

    Créditos

    Prefácio à edição brasileira

    Introdução

    Contando a nossa história

    As estrelas nas escrituras

    As estrelas na nossa história

    Astronomia, calendários e religião

    Galileu e sua época: algum as histórias

    Uma história do observatório do Vaticano

    As estrelas e as galáxias

    As estrelas e a via láctea

    O universo galáctico

    Aglomerados de galáxias: famílias de famílias de estrelas

    Observando estrelas

    O observatório em Castel Gandolfo

    No Vatt

    Os companheiros de uma estrela

    O sol e os planetas, passado e futuro

    Meteoritos: alienígenas no Vaticano

    A natureza física dos meteoros

    Planetas extrassolares

    Ponderações estelares

    A cosmologia do big bang está em conflito com a cria

    Matemática: o idioma da astronomia e da mente de Deus

    Os papas e a astronomia

    Perguntas sobre as estrelas

    Sobre o universo

    Mais próximo da terra

    Sobre o observatório do Vaticano [ 01 ]

    Agradecimentos

    PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA

    Guy Consolmagno, SJ

    Astrônomo jesuíta e atual Diretor do Observatório do Vaticano

    Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos. Assim começa o Salmo 19. Mas como os céus proclamam a glória de Deus?

    Um jeito é a própria beleza do céu noturno, infelizmente muito ofuscado hoje pela maldição da poluição luminosa. Simplesmente olhar para as estrelas nos traz admiração e assombro. Recorda-nos as palavras do Papa Pio XII, citadas neste livro: O homem chega a Deus subindo a escada do universo.

    Mas vai além da beleza. Os escritores dos salmos também conheciam os céus como fonte de luz e vida, e a base da contagem do tempo. Deus nos dá ordem e sentido junto com a beleza. Ao estudar as estrelas, nós, humanos, aprendemos a prever quando caçar e pescar sob uma lua cheia e suas marés; quando plantar e quando colher; e quando nos reunirmos para adorar Aquele que fez tudo.

    O estudo da Astronomia se aprofunda ainda mais nas glórias que se encontram nos céus.

    Certamente ainda admiramos a beleza das estrelas, mas com telescópios podemos alcançar vistas ainda mais gloriosas. Algumas de nossas imagens favoritas são compartilhadas aqui.

    Certamente os movimentos da Lua e das estrelas regulam nosso calendário, mas eles também contam uma história da humanidade enquanto tentamos fazer calendários cada vez melhores. Essa história é paralela à história mais profunda de como nós, como humanos, lutamos para viver juntos e funcionarmos como uma comunidade.

    E, certamente, com nosso estudo do universo atrelado às observações das estrelas, agora podemos reconhecer um Criador que fez mais do que apenas o que podemos ver a olho nu. De fato, Sua habilidade nos deu outros planetas para explorar, outras estrelas para estudar, um sem-número de outras galáxias e o próprio ato da criação.

    Mas, acima de tudo, esse Criador deu a nós, Suas criaturas, a capacidade de ver, entender e compartilhar o que entendemos. Isso, acima de tudo, é o que compartilhamos neste livro.

    Este livro originalmente surgiu de uma celebração dos primórdios da Astronomia moderna com as primeiras observações telescópicas de Galileu. (Também discutimos aqui a relação entre Galileu e a Igreja ao longo dos tempos.) O ano de 2009 marcou o 400º aniversário do telescópio de Galileu e desencadeou uma série de eventos em todo o mundo como parte de um Ano Internacional da Astronomia.

    O então presidente da Cidade do Vaticano, o Cardeal Giovanni Lajolo, veio até nós no Observatório do Vaticano com a ideia de preparar um livro sobre o próprio Observatório Astronômico do Vaticano... tanto nossa história, nosso trabalho atual e até mesmo uma seção de perguntas frequentes sobre as implicações mais profundas que a Astronomia inspira em qualquer um que reflita sobre nosso lugar no universo. (O próprio Cardeal fez algumas dessas perguntas!)

    Com seu apoio – incluindo o maravilhoso design do livro de GianCarlo Olcuire, que havia trabalhado com os Museus do Vaticano no passado – este livro estava pronto para ser distribuído em 2009. O governo da Cidade do Vaticano não só apoiou a produção das versões em inglês e italiano deste livro, mas também providenciou para que ele fosse traduzido para várias línguas, entre elas árabe, eslovaco, espanhol...

    Mas, curiosamente, nenhuma tradução em português foi feita naquela época. Com este volume, essa lacuna foi corrigida. Somos profundamente gratos a Douglas Borges Candido e ao Instituto Ciência e Fé da PUCPR por patrocinarem este trabalho.

    Grande parte do livro descreve nossa história e as várias técnicas que usamos para estudar o universo. Na maior parte dos casos, estes capítulos permanecem atuais. O único capítulo que representa um campo que se desenvolveu rapidamente desde 2009 foi a contribuição do Padre Koch sobre exoplanetas. Ele graciosamente a atualizou para esta edição; esta é a sua primeira publicação em qualquer lugar.

    As outras mudanças desde 2009 estão nas próprias biografias dos autores. Infelizmente, vários daqueles que nos ajudaram a escrever este livro morreram desde a sua publicação original. Entre eles, o Padre Juan Casanovas, SJ; Padre George Coyne, SJ; Dr. A. G. D. Philip; Padre William Stoeger, SJ; e Padre Andrew Whitman, SJ. Sentimos falta de todos eles e somos gratos por sua sabedoria perdurar nestas páginas. Em uma nota mais feliz, posso informar que o Padre Sabino Maffeo, SJ, comemorou um feliz aniversário de 100 anos em novembro de 2022!

    Em 2015, o Padre José Funes completou seu segundo mandato como diretor do Observatório e, na época, o Papa Francisco me nomeou para sucedê-lo. Assim continua o nosso trabalho, aprendendo cada vez mais profundamente e mostrando ao mundo como os céus proclamam a glória de Deus.

    INTRODUÇÃO

    Por que o céu noturno nos traz tanta fascinação? Talvez porque seja ali que encontramos, juntos, os mistérios da luz e da escuridão – duas experiências ancestrais que se conectam ao começo e ao fim da vida humana. Talvez porque percebamos a ordem, tanto aparente quanto oculta, no movimento das esferas celestes, com as quais nos sentimos secretamente conectados. Talvez porque nos sintamos tão pequenos ante ao universo estrelado; como um grão de areia na imensidão do oceano da existência, nós nos vemos confrontados com o Destino, e desse modo começamos perceber em nós mesmos, mesmo que de forma rudimentar, as perguntas grandiosas a respeito da nossa existência e de nossa passagem por esse mundo. Ou talvez porque o amor move o Sol e as demais estrelas, como escreveu Dante?

    Esperamos que, por meio deste livro, o leitor perceba pelo menos algumas das profundezas do universo. Por milênios, isso fez parte da busca humana, mas somente em séculos mais recentes a Ciência construiu a metodologia e as ferramentas adequadas para avançar com confiança.

    E se o mistério do universo, de alguma forma, está sendo revelado, ainda assim permanece cada vez mais impenetrável. Porque, como sempre, quanto mais o nosso entendimento avança, mais amplos ficam os nossos horizontes rumo às novas descobertas. Uma vastidão sem fim, tão grande quanto o próprio universo, é o que devemos cruzar a bordo da inteligência humana.

    Este livro pode ajudar o leitor a compreender as perspectivas da pesquisa atual em Astronomia. No entanto, ele também tem outras mensagens que pretende passar.

    A primeira mensagem, e a mais importante, é deixar claro que a Ciência – e em particular a Astronomia – não somente não vai contra as revelações da Fé, mas está aberta a ela e de certa forma as duas andam lado a lado (ainda que não sejam de modo algum equivalentes; seria um erro monumental achar que Deus pode ser englobado por e identificado com objetos que são estudados corretamente por meios e métodos científicos não metafísicos). Para isso, além dos capítulos dedicados ao conhecimento concreto do universo das estrelas, há também um dedicado à visão bíblica do Cosmos, uma visão que não é baseada na Ciência, mas na experiência comum, iluminada por um sentimento poético e pela Fé na existência e na providência de Deus.

    Outro capítulo é dedicado à relação entre a Cosmologia científica e a criação divina. E há outro ainda que traz passagens importantes de discursos recentes dos pontífices romanos, de Leão XIII a Bento XVI.

    A segunda mensagem, mais modesta, mas também interessante, é direcionada ao mundo da cultura geral e, em particular, aos círculos mais restritos daqueles interessados nos problemas da Astronomia moderna que podem estar curiosos sobre os cientistas que trabalham no Observatório do Vaticano e o que eles fazem. Isto já é de conhecimento dos especialistas, a partir da publicação de artigos científicos (listados no Relatório Anual) e do Vatican Observatory Newsletter[ 02 ] , publicados várias vezes ao ano.

    Os cientistas do Observatório do Vaticano herdaram, e a mantêm até hoje, uma tradição astronômica grandiosa que remonta ao renomado observatório do Colégio Romano. Mas eles conseguem relacionar sua história aos tempos mais antigos, à grande tradição dos estudos astronômicos e ao interesse milenar da Igreja nesse assunto, que será mostrado neste livro. Após a invasão a Roma, em 1870, e a destruição do Observatório original, em 1891, o grande Papa Leão XIII deu nova vida ao Observatório sob o nome Specola Vaticana, que operou na Torre dos Ventos durante as primeiras décadas do século XX. Depois, com a reconciliação com a Itália, no período de 1932 a 1935, Pio XI fundou o Observatório atual no próprio Palácio Pontifício, em Castel Gandolfo. Um importante fato novo ocorreu nos anos 1980, quando uma colaboração com a Universidade do Arizona possibilitou que o Observatório do Vaticano passasse a operar o novo Telescópio de Tecnologia Avançada do Vaticano (VATT, na sigla em inglês), no Monte Graham, a 3.200 m de altitude.

    Para os cientistas do Observatório do Vaticano – em sua maioria sacerdotes jesuítas –, vai nossa mais profunda admiração, da Santa Sé, do governo do Vaticano e minha pessoal. Eu não tenho dúvidas que os leitores deste livro também sentirão isso.

    É com grande prazer que relaciono a eles as palavras do Evangelho de Lucas, quando Jesus diz aos seus 70 discípulos: [...] vossos nomes estão inscritos nos céus (Lucas 10, 20).

    E este é um céu muito mais profundo que o maravilhoso firmamento tão familiar aos nossos cientistas – mas não tão familiar ao ponto de que eles se sintam satisfeitos com o que já sabem; pois como diz em Sirácida: Muitas coisas escondidas são ainda maiores, pois vimos apenas poucas de suas obras. (43, 36)

    ***

    Este livro é dedicado ao Santo Padre, Bento XVI, em cuja residência em Castel Gandolfo está localizado o Observatório do Vaticano. Alguns trechos de seus ensinamentos sobre a ligação entre a inteligibilidade do mundo material, a estrutura do universo e o nosso conhecimento de Deus, no que tange à relação entre a Ciência e a Fé, estão contidos em um capítulo deste livro.

    Cardeal Giovanni Lajolo

    Presidente-emérito do Governatorato da Cidade do Vaticano

    CONTANDO A NOSSA HISTÓRIA

    Padre José Gabriel Funes, SJ

    Diretor do Observatório do Vaticano de 2006 a 2015

    [...] que todos possam ver claramente que a Igreja e seus Pastores não se opõem à Ciência sólida e verdadeira, tanto humana quanto divina, mas que a abraçam, a encorajam e a promovem com a maior devoção possível.

    Papa Leão XIII

    A Refundação e a Reestruturação do Observatório do Vaticano

    14 de março de 1891

    Às vezes é preciso contar uma história para explicar como as coisas são…

    Em uma carta endereçada a mim, de 8 de maio de 2007, o Cardeal Giovanni Lajolo, Presidente do Governatorato, convidou a equipe do Observatório do Vaticano a produzir um livro destinado ao público geral. O convite do Cardeal estava perfeitamente alinhado com a dupla missão do Observatório. Temos que produzir Ciência de qualidade; mas também precisamos ser notados ao fazer isso – é preciso que o mundo saiba que a Igreja nos está apoiando enquanto fazemos isso. Este livro se concentra nesta segunda parte de nossa missão.

    A história que explica a nossa existência é a História da Criação. As estrelas nos contam essa história, como o título do livro dá a entender. Por isso, em nosso primeiro capítulo, trazemos trechos selecionados da Escritura Sagrada acompanhados lado a lado com imagens astronômicas para sermos lembrados da beleza do universo e de seu Criador.

    O subtítulo faz a conexão entre a Astronomia e o Vaticano, e expressa a vontade dos Papas modernos de terem um instituto de pesquisa em Astronomia. Esse desejo é visto aqui a partir de como eles abordaram tópicos relacionados ao estudo da Astronomia.

    Mais à frente, neste livro, você encontrará uma seção de perguntas frequentes. Por que o Vaticano se interessa por Astronomia? é a mais frequente de todas! Para entender o porquê, é essencial que contemos nossa história. Assim, a História da Astronomia é uma parte importante da nossa pesquisa. Três capítulos são dedicados à reforma do Calendário, a Galileu e à história do Observatório do Vaticano.

    Ainda que tenhamos uma equipe enxuta, nós atuamos nos principais campos da Astrofísica: nosso quintal, o sistema solar, as galáxias distantes e o universo como um todo. Algumas das nossas pesquisas estão aqui neste livro. Mas o nosso conhecimento científico atual e a nossa ignorância sobre a origem do universo suscitam muitas perguntas que vão além da Ciência. Como este belo universo está relacionado à Criação ex nihilo? Há um capítulo aqui que fala sobre isso.

    Uma outra pergunta que nos é feita frequentemente por nossos visitantes e por jornalistas tem a ver com a relação entre a Ciência e a Fé. O leitor pode se perguntar por que não há um capítulo específico sobre Astronomia e Fé. Mas o simples fato de que somos, ao mesmo tempo, homens religiosos e cientistas diz mais sobre a compatibilidade da Fé e da Ciência do que quaisquer palavras. Nossa simples existência é testemunho de que a Ciência e a Religião podem existir em harmonia. Por muito tempo tem havido uma guerra entre os dois lados. O diálogo, apesar de difícil, é necessário. Podem existir conflitos e tensões, mas não devemos temê-los. A Igreja não teme a Ciência e suas descobertas.

    O Papa João XXIII certa vez disse que a nossa missão deve ser explicar a Igreja para os astrônomos, e a Astronomia para a Igreja. E o Papa Bento XVI, ao falar perante a mais recente Congregação Geral dos Jesuítas, insistiu que devemos estar na fronteira. Eu acredito que o Observatório do Vaticano tem esta missão: se posicionar na fronteira entre o mundo da Ciência e o mundo da Fé, ser testemunha de como é possível acreditar em Deus e, ao mesmo tempo, ser um bom cientista. O Observatório é uma ponte, uma pequena ponte, entre a Igreja e a Astronomia.

    Este livro foi publicado em 2009, o Ano Internacional da Astronomia, quando comemoramos os 400 anos do primeiro uso de um telescópio astronômico por Galileu Galilei. Esse evento ordinário-extraordinário na história humana de fato abriu uma nova janela para que todos pudessem explorar o universo. A Astronomia teve um impacto gigantesco em nossa cultura. A Astronomia nos permite enxergar a beleza do universo e apreciar a fragilidade da nossa existência. Para as pessoas de Fé, ela abre as mentes e os corações para o Criador. A Igreja sempre entendeu a importância da Astronomia na cultura humana, a abraçou, a encorajou e a promoveu. O Observatório é uma prova concreta deste compromisso.

    Somos profundamente gratos ao Cardeal Lajolo por apoiar o nosso trabalho e por nos encorajar e contar o que fazemos. Eu gostaria também de agradecer ao Irmão Guy Consolmagno, SJ, o editor, que tanto se dedicou a este livro. Que você, leitor, encontre consolo espiritual na contemplação das estrelas brilhando com alegria para aquele que as fez (Baruc 3, 35).

    Palácio Pontifício

    Castel Gandolfo

    Outubro de 2008

    Eclipse anular do Sol, fotografado por Sassone Corsi com o telescópio Coronado do Observatório do Vaticano. Tunísia, outubro de 2005.

    OS CORPOS NO FIRMAMENTO SÃO CRIAÇÕES DE DEUS

    Deus fez os dois grandes luzeiros, o luzeiro maior para presidir o dia e o luzeiro menor para presidir a noite, e também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento do céu para iluminar a terra, para presidir o dia e a noite e separar luz e trevas. E Deus viu que era bom. Houve tarde e manhã: o quarto dia.

    Gênesis 1, 16-19

    A cratera Copérnico, fotografada com o telescópio Visuale, de 40 cm, em Castel Gandolfo, pelo Padre Manuel Carriera, SJ, durante a Escola de Verão do Observatório do Vaticano, em 1995.

    A constelação de Órion – repare nas Três Marias – é vista nesta exposição de longa duração se pondo atrás da cúpula do Telescópio de Tecnologia Avançada do Vaticano, no Monte Graham, Arizona, EUA. Crédito da foto: Roelof de Jong, atualmente no Instituto do Telescópio Espacial.

    Uma fina seção de um meteorito originário do Cinturão de Asteroides que caiu perto da cidade de Knyahinya, na Ucrânia, em 1866; observada através de luz polarizada pelo Irmão Guy Consolmagno, usando o microscópio ótico, no Laboratório de Meteoritos do Observatório do Vaticano, em Castel Gandolfo.

    TODO O UNIVERSO OBEDECE À LEI DE DEUS

    Respondendo-lhe, Jó disse: Sei muito bem que é assim: Como poderia alguém prevalecer diante de Deus? Se quisesse disputar com Ele, não poderia responder nem a uma questão de mil.

    Ele é sábio de coração e poderoso em sua força. Quem já O enfrentou ficou ileso? Ele desloca as montanhas sem que elas percebam, e as derruba em Sua ira. Ele abala a terra em suas bases e suas colunas vacilam. Ele manda ao Sol que não se levante e guarda sob chave as estrelas. Sozinho desdobra os céus e caminha sobre as ondas do mar. É Ele quem faz a Ursa e o Órion, as Plêiades e as constelações do Sul. Faz prodígios insondáveis, maravilhas que não se podem contar!

    Jó 9, 1-10

    Louvai o Senhor, porque é bom cantar os salmos ao nosso Deus, é agradável celebrar o louvor.

    O Senhor constrói Jerusalém, reúne os dispersos de Israel.

    Ele cura os de coração atribulado e enfaixa as suas feridas;

    Ele conta a multidão das estrelas e chama cada uma pelo nome.

    Salmo 147

    O aglomerado de galáxias Abell 397, capturado pelo Telescópio de Tecnologia Avançada do Vaticano por Matt Nelson, em 2001, em uma composição de quatro imagens com filtro V (verde), cinco com filtro R (vermelho) e sete com filtro B (azul), obtidas ao longo de cerca de uma hora. O registro de cada filtro pode ser visto na imagem da trilha de um asteroide, movendo--se da direita para a esquerda a partir do centro da imagem, visto primeiro como um traço verde, depois vermelho e, finalmente, azul.

    AS ESTRELAS TAMBÉM LOUVAM E ADORAM A DEUS

    Então o Senhor, do meio da tempestade, respondeu a Jó: Quem é este que obscurece o meu desígnio com palavras insensatas? Cinge, pois, os teus rins como um valente! Vou interrogar-te, e tu me ensinarás. Onde estavas, quando lancei os fundamentos da terra? Informa-me, se tens entendimento! Quem lhe deu as medidas, se sabes? Ou quem estendeu o cordel sobre ela? Onde se encaixam suas bases? Ou quem assentou a sua pedra angular, enquanto aclamavam em coro os astros da manhã e jubilavam todos os filhos de Deus?

    Jó 38, 1-7

    Louvai ao Senhor do alto dos céus, louvai-O nas alturas!

    Louvai-O, todos os seus anjos, louvai-O todos os seus exércitos!

    Louvai-O, Sol e Lua, louvai-O, todas as estrelas reluzentes!

    Louvai-O, o céu dos céus, e todas as águas que estão acima dos céus.

    Louvem o nome do Senhor, pois Ele mandou, e foram criados; estabeleceu-os para sempre e pelos séculos dos séculos fixou-lhes um decreto, que não passará.

    Salmo 148

    Como é grande, ó Israel, a casa de Deus, quão extenso o lugar do seu domínio! É tão grande que não tem fim, é tão alto que não tem teto...

    Quem acaso subiu ao céu para alcançá-la, para, do alto das nuvens, arrastá-la até embaixo?

    [...] As estrelas brilham alegres cada qual no seu lugar. Deus chama e elas respondem: Aqui estamos! brilhando com alegria para Aquele que as fez.

    É este o nosso Deus! Outro não se pode imaginar ao lado Dele!

    Baruc 3, 24-36

    AS ESTRELAS SÃO PROVA DA GLÓRIA DE DEUS

    Tudo isso vive e permanece para sempre, em todas as circunstâncias tudo lhe obedece. Todas as coisas existem aos pares, uma frente à outra e Ele nada fez de incompleto: uma coisa completa a bondade da outra: quem, pois, se fartará de contemplar a Sua glória? Glória das alturas é o límpido firmamento, eis a visão do céu num espetáculo de glória!

    O Sol, aparecendo, proclama, ao sair: coisa maravilhosa é a obra do Excelso! No seu meio-dia abrasa a terra: quem poderá resistir diante do seu ardor? Como quem acende a fornalha para os trabalhos a fogo, o Sol queima as montanhas três vezes mais, exalando vapores ardentes e, refulgindo com seus raios, ofusca os olhos. Grande é o Senhor, que o criou e a cujas ordens ele acelera a rota.

    Também a Lua, pontual em suas fases, indica as datas e é um sinal do tempo. Da Lua vem o sinal do dia festivo; é um luzeiro que diminui até desaparecer. É dela que o mês recebe o nome, enquanto cresce maravilhosamente até ficar cheia. Instrumento dos exércitos celestes, ela rebrilha esplendidamente no firmamento do céu. Beleza do céu é o brilho das estrelas, iluminando o mundo nas alturas do Senhor. Às ordens do Santo ficarão, segundo seu preceito, sem jamais falharem em seus postos de vigia.

    Sirácida 42, 24 – 43, 11

    Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o Teu nome em toda a terra, pois se eleva a Tua magnificência acima dos céus...

    Quando vejo os Teus céus, obra dos Teus dedos, a Lua e as estrelas, as coisas que criaste,

    que é o ser humano, para que dele Te lembrares, o filho do homem para que o visites?

    Tu o fizeste pouco menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste.

    Salmo 8

    Todas as coisas existem aos pares. Às vezes, um par de imagens nos ajuda a entender algo de um modo que não conseguiríamos a partir de uma única imagem.

    O aglomerado globular M2 observado pelo VATT, por Melissa Brucker e Bill Romanishin, da Universidade de Oklahoma; por Steve Tegler, da Universidade do Norte do Arizona; e pelo Irmão Guy Consolmagno, do Observatório do Vaticano.

    Câmeras CCD avançadas são capazes de capturar um espectro abrangente de luz, da mais fraca à mais brilhante; aqui a mesma imagem é reproduzida com dois níveis de contraste diferentes, para mostrar as estrelas pouco brilhantes da borda (abaixo, p. 24) e a estrutura central do aglomerado (acima, p. 25).

    A galáxia espiral NGC 628 registrada com filtros vermelho (acima, p. 24) e H-alfa (abaixo, p. 25), observada pelo Padre José Funes, SJ. Na imagem em H-alfa, os pontos brilhantes mostram onde novas estrelas estão se formando.

    DEUS NOS DÁ SABEDORIA PARA ENTENDER AS ESTRELAS

    Deus me conceda falar segundo o Seu desejo e ter pensamentos dignos dos dons que recebi, pois Ele é o guia da Sabedoria e é também quem corrige os sábios. Em Suas mãos estamos nós e as nossas palavras, assim como toda a Sabedoria e a habilidade.

    Ele me deu um conhecimento exato de tudo o que existe, para eu entender a estrutura do mundo e as propriedades dos elementos, o começo, o meio e o fim dos tempos, a alteração dos solstícios, as mudanças das estações, os ciclos do ano e a posição das estrelas, a natureza dos animais e a fúria das feras, a força dos espíritos e os pensamentos humanos, a variedade das plantas e as propriedades das raízes. Aprendi tudo o que está oculto e tudo o que se vê, pois a Sabedoria, artífice de todas as coisas, me ensinou.

    Há nela um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil, móvel, perspicaz, imaculado, lúcido, invulnerável, amante do bem, penetrante, incoercível, benfazejo, humano, benigno, constante, certeiro, seguro, que tudo pode, que tudo supervisiona, que penetra todos os espíritos, os inteligentes, os puros, os mais sutis. Pois a Sabedoria é mais ágil que qualquer movimento, e atravessa e penetra tudo por causa da sua pureza.

    Ela é o sopro do poder de Deus, uma emanação pura da glória do Todo-Poderoso. Por isso, nada de impuro pode introduzir-se nela. Ela é o reflexo da luz eterna, espelho sem mancha do poder de Deus e imagem da Sua bondade. Embora sendo uma só, tudo pode, permanecendo imutável, renova tudo; e comunicando-se às almas santas através das gerações, forma os amigos de Deus e os profetas. Pois Deus ama tão somente aquele que convive com a Sabedoria.

    De fato, ela é mais bela que o Sol e supera todas as constelações. Comparada à luz, ela é mais brilhante: pois à luz sucede a noite, ao passo que, contra a Sabedoria, o mal não prevalece.

    Sabedoria 7, 15-30

    Esta imagem composta, feita pelo Irmão Karl Treusch, SJ, foi tirada do livro The Green Flash and Other Low Sun Phenomena, do Padre Daniel O’Connel, SJ. Esse livro, de 1958, continha as primeiras fotografias do flash verde, comprovando que isso era um fenômeno real, e não uma ilusão de ótica. Observações do flash verde nos trouxeram novos entendimentos sobre a estrutura da atmosfera e sua turbulência.

    NGC 2903, uma galáxia com aproximadamente 1 bilhão de estrelas e 80 mil anos-luz de diâmetro, distante a cerca de 20 milhões de

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