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O mal
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E-book113 páginas1 hora

O mal

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Sobre este e-book

Convite à reflexão é um projeto da Discurso Editorial e da Editora Almedina, tendo como autores os professores do departamento de filosofia da USP e demais universidades, com o propósito de oferecer subsídios aos professores, estudantes do ensino médio e também a todos os iniciantes dos estudos de filosofia em geral, por intermédio da análise de temas da tradição filosófica.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de ago. de 2019
ISBN9788562938221
O mal

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    O mal - Luís César Oliva

    CONVITE À REFLEXÃO O MAL

    front70

    O MAL

    © Almedina, 2019

    Publicado em coedição com a Discurso Editorial

    AUTOR: Luís César Oliva

    COORDENAÇÂO EDITORIAL: Milton Meira do Nascimento

    EDITOR DE AQUISIÇÃO: Marco Pace

    PROJETO GRÁFICO: Marcelo Girard

    REVISÃO: Roberto Alves

    DIAGRAMAÇÃO: IMG3

    ISBN: 9788562938221

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)


    Oliva, Luís César

    O mal / Luís César Oliva. -- São Paulo : Almedina, 2019.

    Bibliografia.

    ISBN 978-85-62938-22-1

    1. Bem e mal 2. Filosofia I. Título.

    19-27641                        CDD-170


    Índices para catálogo sistemático: 1. Bem e mal : Filosofia 170

    Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

    Este livro segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro, protegido por copyright, pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida de alguma forma ou por algum meio, seja eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópia, gravação ou qualquer sistema de armazenagem de informações, sem a permissão expressa e por escrito da editora.

    Agosto, 2019

    EDITORA: Almedina Brasil

    Rua José Maria Lisboa, 860, Conj.131 e 132 Jardim Paulista | 01423-001 São Paulo | Brasil

    editora@almedina.com.br

    www.almedina.com.br

    Índice

    Introdução

    1. O mal como negação e pecado

    2. O mal no melhor dos mundos

    3. O mal inegável

    4. A banalidade do mal

    Referências bibliográficas

    Introdução

    BASTA ABRIR O JORNAL para ver mortes, violência, terremotos avassaladores, escândalos de corrupção etc. Diante de tudo isso, o que nos vem de imediato à mente é a pergunta: como pode haver tanto mal no mundo? A indignação diante do escândalo, a comiseração diante da violência e a solidariedade diante do terremoto pressupõem implicitamente a pergunta pela causa do mal. O espanto do espectador, no mais das vezes impotente diante das desgraças que lhe passam diante dos olhos, só ocorre porque existe uma convicção geral de que as coisas poderiam ser melhores do que são. Quando ele as vê piores do que imagina poderem ser, indigna-se como se o bem tivesse direito natural de existir, enquanto a presença do mal é injustificada e precisa de uma boa explicação.

    Por outro lado, um olhar mais crítico sobre a realidade não pode deixar de constatar que os males aparecem tanto quanto os bens. Em outras palavras, nossa experiência cotidiana é de ver o mal por todos os lados, embora nossa expectativa vá frequentemente no sentido oposto. Porém o mal, por mais habitual que seja, ainda nos causa repulsa. Mas será que esta repulsa, esta indignação, não mascaram uma outra pergunta ainda mais fundamental, a saber, o que é o mal? Afinal, tanto a pergunta pela causa do mal quanto a luta contra ele são inócuas enquanto não se sabe exatamente o que ele é. O fato de nos rebelarmos contra o mal e às vezes o combatermos (quem nunca se sentiu como parte da luta do bem contra o mal, tão explorada nos filmes de TV?) não significa que tenhamos plena consciência do que ele é. O policial, o agente de saúde, o juiz e quaisquer outros homens lidam diariamente com um inimigo que lhes parece conhecido, mas na verdade não é. Tanto é assim que, quando instigados a definir este velho adversário, o máximo que conseguem oferecer são exemplos de coisas más, como se todos já soubessem do que se trata. Cabe à filosofia pôr à prova estas aparentes evidências, frequentemente ilusões de que se conhece algo que de fato permanece desconhecido. Por isso, nossa tarefa neste pequeno livro será dar alguns passos além do mero exemplo, examinando o que a história da filosofia teve a dizer sobre o problema do mal.

    De maneira geral, poderíamos dizer que o mal teve dois tratamentos básicos pelos filósofos que o abordaram. De um lado, a tentativa de compreendê-lo teoricamente, de onde resultou, na maior parte dos casos, a conclusão de que o mal, enquanto tal, não existe. De outro lado, a tentativa de explorar a experiência do mal, o mal que sofremos e vemos os outros sofrerem, o mal que causamos e vemos os outros causarem, de onde resultou a conclusão de que estamos mergulhados no mal e que é impossível evitá-lo. A partir deste aparente paradoxo (o mal não existe e ao mesmo tempo é inevitável) e da maneira como a filosofia confrontou-o, pudemos selecionar um percurso mínimo para entender os rumos da questão.

    Esta rota passa por Santo Agostinho, que demarcou a questão de maneira decisiva, entendendo o mal como uma ausência, uma falta, portanto algo que não tem existência própria, embora tenha imensas consequências para nossa vida, na medida em que assume a forma do pecado. Acima disso, paira a ideia cristã de Deus, como um criador perfeitíssimo e bondoso, que no entanto permitiu que o mal corrompesse o mundo criado. Depois, passamos a Leibniz, que com a ideia de que vivemos no melhor dos mundos possíveis, ainda que contenha uma parcela de mal, julgou que havia inocentado a Deus. As limitações desta resposta serão explicitadas em nossa passagem por Voltaire, um dos pensadores que mais fortemente compreenderam a experiência do mal, em contraste com o já mencionado Leibniz, que talvez tenha sido seu principal teorizador. Finalmente, chegamos ao século XX, em que a experiência do mal chega ao seu cume através do nazismo, o que nos levará a analisar rapidamente uma das obras de Hannah Arendt.

    Como se vê, este trabalho não tem a menor pretensão de esgotar um tema tão amplo e relevante como o mal. O intuito foi apenas propor um convite à leitura de alguns dos importantes filósofos que abordaram a questão, mostrando suas relações, o quanto devem uns aos outros e o quanto se afastam uns dos outros. A inserção de outros nomes igualmente relevantes, como Epicuro, Espinosa, Schopenhauer e Nietzsche, só para citar alguns, extrapolaria os limites desta coleção e constituiria, de fato, outros percursos, os quais creio que o leitor pode e deve trilhar por conta própria se gostar da amostra contida nas próximas páginas.

    1. O mal como

    negação e pecado

    Agostinho e os maniqueus

    SERIA JUSTO PERGUNTAR por que começaríamos a investigação do mal por Santo Agostinho (354 a 430 depois de Cristo), filósofo africano formado na cultura clássica romana. Afinal, a discussão é bem mais antiga e pode ser encontrada já entre os gregos. De fato, embora estes estivessem preocupados sobretudo com a compreensão filosófica do bem, a discussão sobre mal, por contraste com o bem e em geral sob um viés de crítica, também estava presente. Epicuro (341-270 AC), em particular, formulou o problema das relações entre Deus e o mal em termos que seriam apreciados até a época moderna. Começar por Agostinho seria então uma escolha puramente arbitrária, sem nenhuma razão de ser? Não. Trata-se de um caminho defensável, visto que este pensador, que também foi bispo da cidade africana de Hippona, tem um papel central na difusão da concepção de mal que prevalecerá em quase toda a filosofia cristã. Mesmo que não tenha propriamente iniciado esta concepção, Agostinho desenvolve-a de tal maneira que todas as filosofias posteriores serão obrigadas a referir-se a ele. Além disso, na busca da solução para um problema que o atormentara desde a adolescência (segundo seu próprio relato autobiográfico, nas Confissões), Agostinho passou pela concepção antagônica àquela que seria a sua posição definitiva, e por certo tempo aderiu sinceramente à primeira. De fato, apesar de ser filho de uma cristã fervorosa, Santa Mônica, Agostinho só se converteu na vida adulta. Portanto, acompanhar o percurso de Agostinho é seguir o embate da solução que ele escolherá, a da redução do mal a uma mera ausência de realidade, contra a solução oposta, a dos maniqueus, que viam uma dualidade na realidade, como se esta se dividisse em bem e mal como dois pólos opostos (nas páginas que se seguem, veremos isso com calma). Ao mesmo tempo, acompanhar o percurso de Agostinho é confrontar-se com os limites e dificuldades da solução escolhida, o que Agostinho não esconde do leitor nos intrincados debates de uma das suas principais obras, chamada Do livre-arbítrio.

    Esta última obra, em forma de diálogo entre Agostinho e seu discípulo Evódio, explora as possibilidades de solução para o problema do mal, o que rapidamente conduz o autor para a discussão do tema que dá título ao livro. Antes, porém,

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