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Doutrina Drakein
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E-book934 páginas13 horas

Doutrina Drakein

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Sobre este e-book

Os Dragões sempre foram um mistério para a humanidade assim como a magia, mas e se houvesse um caminho que mostrasse o que a mente humana não compreende? Dizem que aqueles que são tocados pela magia não conseguem viver sem ela novamente. O que você faria se encontrasse este caminho? A magia tenta te encontrar todos os noites quando deita para dormir, você a experimenta sem restrições, mas não acorda para a verdade, mas existe uma fagulha que pode te despertar e este caminho se chama Doutrina Drakein. Este é o caminho que um Dragão trilha desde seu nascimento até seu ápice.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de jan. de 2024
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    Doutrina Drakein - Cicero Capitulino

    Cicero Capitulino

    Uma produção independente

    1ª edição

    ___________________________________________________

                        Capitulino, Cicero

                          O fulgor do Dragão — Doutrina Drakein / Cicero Capitulino —

                        1ª ed. — Minas Gerais, 2021.

                          ISBN 978-65-00-34384-7

                  1 Dragões – Ficção. 2. Ocultismo – Magia — 2017 – 2018 –

                  Ficção. 3. Ficção brasileira.

    Copyright © Cicero Capitulino. Todos os direitos reservados.

    Proibida a reprodução no todo ou

    em parte, através de quaisquer meios.

    Os direitos morais do autor foram reservados. 

    Quando alguém diz que nos contará uma história, esperamos que ela conte sobre um herói que salva várias pessoas e que tenha um final feliz, onde aqueles que sofreram consigam alcançar seus sonhos e ideais, para que sua trajetória não seja fugaz...

    ...No entanto, a história que vou contar possui um desfecho diferente. Ela mostrará como o mundo tem medo e não aceita o desconhecido, mostrará como grande parte das pessoas preferem viver na ignorância de seu mundinho particular. Enquanto isso, outra parte das pessoas buscam desesperadamente saber a verdade oculta. Tudo aquilo que está bem na nossa frente e que não conseguimos enxergar será exposto aqui e não enxergamos não porque não queremos, mas porque nos doutrinam todos os dias a enxergarmos cada vez menos.

    — Embora eu acreditasse estar aprendendo a viver,

    estava aprendendo a morrer.

    Leonardo da Vinci.

    Capítulo 1

    Uma encruzilhada do destino

    A chuva é uma benção para todo ser humano, uma dádiva da natureza que poucos sabem agradecer. Além de reabastecer as reservas, trazer umidade ao ar e regar a terra, ela possui uma particularidade humana, uma conexão que podemos chamar de espiritual, algo que poucos adultos sabem apreciar, mas que toda criança sente, embora não saiba explicar.

    Nada nesta vida dá uma sensação de liberdade maior que a chuva. Quando ela cai sobre a pele, diz que não há paredes ou teto. A sensação de estar encharcado e saber que foi escolha sua estar ali traz serenidade à vida. Um corpo quente recebendo a chuva fria faz com que o sistema nervoso envie uma mensagem ao cérebro, liberando milhares de sinapses nervosas informando o que está acontecendo. O cérebro, então, analisa se aquilo é bom ou ruim para decidir se informa o que está acontecendo.

    Comprovado que é uma sensação boa, libera endorfina, o que lhe trará a sensação de prazer. Isso se torna prazeroso de uma forma libertadora, fazendo-nos perceber que coisas simples afetam nossas emoções e nossa paz de espírito, porque há coisas que só fazem sentido quando paramos para observá-las.

    Já parou para pensar por que uma criança, um ser que só enxerga o lado bom da vida, pode ter pesadelos? Como um ser tão puro, capaz de perdoar sem qualquer condição ou arrependimento, pode ter pesadelos? Este é o caso de um garoto que você conhecerá bem em breve. Algumas vezes, esse garoto foi levado à igreja quando criança e ouviu histórias bíblicas contadas com muito afinco e veemência.

    Os padres e pastores são verdadeiros intérpretes, contadores de histórias que nos fazem imaginar aquele momento e que muitas vezes enfatizam mais o mal do que o bem. Isso fazia o garoto ter sonhos de horror, pesadelos realísticos, porque a mente de uma criança é um lugar sem limites, capaz de transformar seus maiores medos em realidade. Mas os pesadelos desse garoto em questão eram causados por outra coisa, algo que ele não entenderia se não tivesse ajuda, alguém para explicá-lo.

    No início, ele achou que, sem perceber, tivesse criado um amigo imaginário que conversava com ele e o ouvia tão nitidamente que pensava estar realmente acompanhado, não apenas quando jogava futebol ou corria brincando de pique-esconde, mas também quando estava sozinho, às vezes quando estava com raiva e se sentia abandonado. O amigo dizia:

    — Está chegando a hora! E eu estarei lá com você!

    O nome do garoto protagonista da nossa história é Luther, um brasileiro de dezesseis anos, com estatura mediana, cabelos e olhos castanhos, raça miscigenada aparentemente branca, mas com o bronze típico de quem nasce no Brasil. Ele tem um corpo mesomorfo que ainda não desenvolveu sua musculatura como poderia. Sua infância foi bastante complicada, pois ele não foi criado por sua mãe e nunca conheceu seu pai.

    Apesar de ter nascido no Brasil, Luther passou por vários orfanatos ao redor do mundo. O orfanato onde ele passou boa parte de sua vida tinha um programa que incentivava a adoção de pessoas que moravam em outras nacionalidades. Por isso, todas as crianças eram alfabetizadas em inglês e português.

    O programa determinava que as crianças deveriam ficar um mês no país de origem e depois fazer uma experiência de dois meses fora do país para se adaptarem. Esse programa deu a Luther a oportunidade de ter alguns pais adotivos e morar em outras partes do mundo, proporcionando-lhe diversas experiências. No entanto, ele guarda na memória com certo desprezo que sempre foi adotado com uma finalidade No início, parecia que seria uma família normal, mas as pessoas sempre o adotavam para usá-lo de alguma forma, às vezes era para que realizasse seus próprios sonhos não alcançados, não permitindo que Luther desenvolvesse sua própria personalidade, mas tentavam transformá-lo em alguém que gostariam que ele fosse, às vezes queriam que ele se tornasse o filho que perderam, que assumisse até a personalidade desta pessoa, tentando forçá-lo a ser uma espécie de substituto, o que era muito triste para um garotinho. No entanto, seu gênio forte não o permitia aceitar o que não fazia sentido para ele e, então, sempre retornava antes do período de adaptação acabar.

    Ainda é bem forte em sua lembrança que, após completar nove anos, ninguém mais o quis adotar. As tentativas pararam, talvez pela idade, talvez pelo histórico de comportamento. Sempre era levado em conta o que os pais adotivos diziam, e, por mais que a criança fosse ouvida, não era levada muito em consideração. Um garoto que cresce em um orfanato sonha somente em ter alguém que se importe com ele de forma paternal, que o ame.

    Em um determinado período, Luther passou seis meses nas ruas como uma experiência. Ele queria possuir a percepção de se virar fora de um orfanato. Conheceu muitas pessoas que não eram boas companhias, aprendeu algumas malandragens da rua, passou por diversas situações de perigo, quase foi morto, mas também conheceu algumas pessoas boas. Entretanto, entendeu que a rua não era um lugar de oportunidades. Foi um amadurecimento que modificou sua visão de mundo, entendendo que, por mais que não fosse a melhor coisa estar em um orfanato, ainda era uma opção melhor.

    Geralmente saía dos orfanatos não por ser indisciplinado, mas porque não teve sorte de estar em uma instituição que não fosse corrupta. Bom, ele tinha que escolher, ou era aquilo, ou era a rua. Pelo menos ali tinha uma cama e comida. Não teve muito tempo para fazer amigos e não costumava se abrir com as pessoas, exceto com um garoto chamado Collin. Ele era uma piada, muito medroso, mas era engraçado e era um parceiro para todas as horas, até apanhar apanhavam juntos Luther e seu amigo costumavam apanhar juntos quando eram atormentados por alguns caras mais velhos. Embora soubessem que seriam derrotados, não recuavam, pois não podiam permitir que fossem abusados só por serem mais novos e menores. Luther já havia passado por muitas dificuldades nas ruas e sabia como era enfrentar aquilo que parecia invencível. Por isso, eles apanhavam sempre que eram desafiados.

    Luther sempre procurava aprender tudo o que podia e tinha uma excelente memória. Quando cresce sem pais, não há muitas pessoas dispostas a ensinar sobre a vida e você fica à mercê do destino. Em uma dessas visitas à igreja que o orfanato obrigava todos a fazer, Luther conversou com um pastor sobre a voz que às vezes ouvia em sua cabeça. Ele tentava convencer o pastor de que não se tratava de uma doença mental, brincadeira, invenção ou fantasia de um garoto triste e depressivo. O pastor lhe disse que faria uma oração para afastar as forças malignas que o cercavam e que aquilo era o próprio diabo que o atormentava. Foi nesse dia que Luther conheceu a palavra obsesso, que significa pessoa que acha que é influenciada ou atormentada pelo diabo.

    Mesmo tendo uma natureza cristã, essa ideia não o convenceu e também não o ajudou. As pessoas sempre tentam dar uma explicação baseada em suas crenças, mas de uma forma muito simplista e impositiva, sem qualquer fundamento. É impossível aceitar isso, e uma criança também não aceita esse tipo de imposição sem questionar e ficar pensando nisso durante a noite antes de dormir. É um verdadeiro tormento. Além disso, a voz em sua mente o advertiu sobre o que o pastor lhe disse assim que saiu da igreja:

    — As mentes que se trancam em casulos como religiões não conseguem enxergar a vastidão que o universo possui. Aprisionadas em seus dogmas, elas não questionam nem mesmo suas próprias existências, simplesmente aceitam o que lhes foi imposto. O universo está à espera daqueles que são capazes de enxergar o que a humanidade ainda não conseguiu compreender, e só não compreenderam porque lhes faltam o que pouquíssimos seres humanos possuem: Audácia!

    Apesar de essa frase nunca sair de sua cabeça, ela se torna uma martelada na bigorna. Luther ainda não consegue compreender o que foi dito, é uma filosofia tão profunda que será a chave para o seu amadurecimento. Às vezes, temos a solução para nossos problemas, mas só conseguimos resolvê-los quando compreendemos as respostas que já possuímos e a estupidez humana nos faz perder muito tempo até chegar à compreensão.

    Certa vez, Luther conheceu um garoto na escola que lhe explicou como era ter um amigo imaginário. Ele já havia assistido ao filme Bógus e tinha uma noção hollywoodiana da coisa.

    Nesse ponto, Luther sentiu a necessidade de tentar de tudo, pois realmente precisava saber o que estava acontecendo com ele. Sempre se lembra quando ouve a voz do garoto que explicou que um amigo imaginário pode ser visto pelo seu criador. Então, ele descartou a ideia de ser um, pois não o via, apenas o escutava e eles nem sequer tinham um diálogo, apenas trocavam algumas palavras e depois se calavam.

    A reitora do orfanato chegou a colocar Luther em um quarto isolado, onde só havia espaço para uma cama e um armário. Ela o explicou que ele falava dormindo e que estava assustando as outras crianças. Disse também que era corriqueiro e que cada vez ele tinha mais sonhos lúcidos, mas o que assustava as outras crianças era que ele parecia falar outra língua e que sua voz mudava drasticamente, de modo que nem ela e nem ninguém conseguiam entender o que o garoto dizia.

    Luther conversou com outras crianças para entender como eles o ouviam durante seus solilóquios e eles lhe disseram que o ouviam dizer coisas assustadoras. Foi assim que ele descobriu que as outras crianças tinham medo dele por achá-lo estranho, o que era a razão pela qual elas se afastavam dele. Havia uma garota que às vezes conversava com Luther.

    É importante mencionar que a pessoa era do sexo feminino porque nem mesmo os garotos mais falavam com ele, até mesmo Collin havia diminuído sua frequência de conversas. Ela era bonita e não demorou muito para que Luther se apaixonasse por ela, um amor juvenil, inocente e sem maldade. As crianças bonitas não ficam muito tempo em um orfanato, elas são adotadas rapidamente, e foi o que aconteceu com ela.

    Seu nome não era muito comum, se chamava Franciane, mas seria alguém que ele nunca esqueceria, pois foi com ela que ele teve seu primeiro beijo. Quando ela foi embora, Luther sabia que precisava voltar para a sua realidade, onde as decepções retornavam à sua vida. Se eles fossem adotados pela mesma família, eles não poderiam ficar juntos porque seriam irmãos, então ele mais uma vez teve que entender como é o mundo real, onde idealizamos coisas, mas só podemos controlar a nós mesmos e cada um tem que encontrar seu próprio caminho a seguir.

    No dia de seu aniversário de 12 anos, Luther pediu à reitora um gravador de voz, um daqueles pequenos que se carregam na mão. Ele havia insistido muito com ela nos meses anteriores para que ela não esquecesse e, finalmente, no dia de seu aniversário, ela lhe presenteou com um. Era de longe o presente mais legal que ele já havia recebido, pois até então os presentes eram doações de roupas e sapatos. Em um dia chuvoso, que ele adorava, Luther foi dormir tarde e pegou seu gravador de voz, deixando-o ligado enquanto dormia para registrar todos os seus balbucios. Ele não sabia que aquela fita K7 seria o início de uma jornada que mudaria todo o conceito de mundo que ele havia construído e para todos que estivessem em seu destino.

    Sua vida estava prestes a mudar e ele ainda não sabia disso. Quando completou 16 anos, um homem de aparência rica entrou na instituição para adotar uma criança. Ele era um filantropo que queria ajudar uma criança que não havia sido muito aceita em lares anteriores. É estranho como às vezes a vida nos surpreende: a maioria das pessoas que vão a um orfanato para adotar uma criança geralmente prefere um bebê, pois provavelmente não podem ter filhos.

    As crianças mais velhas perdem as esperanças com o tempo e Luther havia perdido a sua aos nove anos. O pior de não se lembrar de nada é não se lembrar da sua mãe e do seu pai. Provavelmente ele nasceu e foi abandonado em um orfanato. Eles nunca permitiram que ele lesse a sua própria ficha e não gostavam de contar coisas do passado para as crianças, justamente para evitar possíveis fugas desesperadas dos mesmos à procura de seus pais biológicos. Depois que este benfeitor entrou na sala da reitora, passaram-se alguns minutos e eles mandaram chamar Luther, logo após ele chegar da escola. Ele foi direto para a sala da reitora, onde fez as honras.

    — Luther, este homem leu sua ficha, seu histórico, e está muito empolgado em adotá-lo. O que você acha dessa possibilidade?

    Pego de surpresa com a pergunta, já que ninguém havia lhe avisado do que se tratava quando foi chamado para a sala, Luther responde o que vem à cabeça:

    — Eu espero que ele não pense muito.

    O senhor, que estava com um semblante esperançoso e temeroso, abre um sorriso e ri alto, surpreso com a resposta imprevisível e sincera de Luther. A reitora, com uma cara de quem não entendeu a graça das palavras proferidas, mantém o seu semblante sério olhando para o senhor, que aos poucos vai desfazendo o seu sorriso em respeito à senhora à sua frente. Assim que para de sorrir, ela o apresenta:

    — Ele se chama Bartholomeu Amstalden. Já ouviu falar?

    — Nunca... digo, não, senhora. O nome não me é familiar.

    — Bom, então deixarei vocês conversando para se conhecerem um pouco melhor. Volto em trinta minutos. Seja educado e responda às perguntas que ele lhe fizer, sim.

    Durante alguns segundos, o silêncio reinou na sala enquanto os dois se olhavam. Luther observou Bartholomeu, principalmente suas roupas caras, sua barba perfeita, seus olhos verdes e um anel muito bonito em seu indicador esquerdo, que continha um brasão da família, com algumas pedras incrustadas, que parecia mais caro que suas roupas. Ele percebeu que Bartholomeu tinha uma postura muito diferente das pessoas que havia conhecido, segura e confiante. É impressionante como uma pessoa segura passa uma energia diferente para as pessoas, fazendo-as sentir tranquilidade em conversar sem inibições. Bartholomeu também observou Luther, não com desdém, mas como se enxergasse um grande potencial naquele garoto, como se estivesse vendo-o no futuro, o que ele se tornaria. Em poucos segundos, Luther se sente confiante o suficiente para perguntar:

    — Por que o senhor quer adotar um adolescente? Ninguém quer adotar um.

    Luther abre um sorriso discreto, foi difícil segurar, ele esperava uma resposta séria e não algo direto e engraçado.

    — Fui devolvido por algumas famílias, você deve ter visto isso no meu histórico.

    — Dizendo isso não acha que eu posso desistir?

    — Acho sim..., mas é melhor o senhor desistir aqui, do que acontecer tudo novamente.

    — Entendo, você é um garoto bem sagaz e bem sincero também. Mas eu já estava ciente de sua condição, todas as crianças possuem uma ficha e eu havia lido a de todos. Fui eu quem escolheu você, e é justamente por isso que quero te ajudar e ser seu amigo.

    — Não consegui entender o propósito, digo, não que eu não queira é que, talvez eu seja o garoto que mais foi devolvido, fugi daqui uma vez também, então me perdoe por estar cobrando uma justificativa para sua escolha.

    — Não precisa se justificar. O meu raciocínio é bem simples, se várias pessoas tentaram adotá-lo é porque você possui algo especial, dentre tantas crianças, por que você sempre era escolhido? O fato é que gosto de desafios e me proponho a descobrir o que você possui de tão especial assim que atrai as pessoas, mas que elas não entendem o que é. Pelo tipo de pergunta que me fez, posso ver que é um garoto muito autêntico, que está em busca de sua própria personalidade. Luther fica impressionado em ter sido desvendado com tão poucas palavras, e fica muito interessado na pessoa que está a sua frente agora. Pessoas capazes de desvendar outras, possuem uma capacidade incomum de atraí-las, pois, todo mundo deseja ser compreendido.

    — Por que a reitora me perguntou se eu já havia ouvido falar do senhor? Você é famoso como um artista? O homem desferiu uma outra gargalhada, mais discreta que a primeira desta vez, não com deboche, mas como quem não se veria como um artista. corrija e formate para livro:

    — Se me permite, gostaria de tornar a conversa menos formal, pedindo para me chamar apenas de Bart, não precisa me chamar de Senhor todas as vezes que se referir a mim. Respondendo sua pergunta, sou uma referência na área em que atuo, uma autoridade no assunto se preferir, mas não sou famoso como um artista, sou conhecido por ser bilionário. Era a primeira vez que Luther seria adotado por alguém bilionário, e ele ficou muito nervoso com o fato de não saber como se comportar, ou se vestir em uma família da alta sociedade.

    — Bart, você tem outros filhos?

    — Sim, eu tenho uma filha de 17 anos que está muito ansiosa para conhecer você e saber quem será o seu irmão mais novo.

    —Mas e se ela não gostar de mim? Ou do senhor adotar um adolescente?

    —Não, na verdade essa ideia partiu dela. Ela estava se sentindo muito sozinha.

    —Mas sendo ela milionária, achei que estivesse cercada de amigos.

    —Talvez de pessoas... amigos são difíceis de se conseguir. E minha filha não gosta de ficar cercada por pessoas que não compartilham o mesmo entusiasmo que ela. Você só entenderá o que estou dizendo quando a conhecer. Ela é uma pessoa diferente de qualquer outra que já conheci, e eu conheço muitas pessoas. Sou afortunado por tê-la como filha.

    Eles conversaram sobre outros assuntos até que a reitora voltou, com um semblante muito satisfeito, como se algo bom tivesse acontecido. O orfanato não era dos piores, mas Luther não acreditava que a reitora tivesse um salário tão bom para usar as roupas caras que ela usou nas últimas semanas.

    — Como foi a conversa de vocês? Espero que tenham se dado bem.

    — Luther é um garoto muito interessante. Nos conhecemos um pouco e criamos uma afinidade.

    — E você, Luther, o que achou do senhor Amstalden?

    — Ele parece ser diferente de todoscom quem já conversei na vida.

    — Ótimo! Fico feliz que tenham se dado bem. Faremos um teste de três meses para ver se você se adapta à família Amstalden. Se não quiser ficar com eles, pode ligar para mim e o traremos de volta. Vou conversar com o senhor Amstalden para que ele assine os papéis e os termos de responsabilidade. Você está de acordo?

    Luther não respondeu imediatamente, pois a reitora parecia ter pressa em finalizar a adoção. Ele tentou esconder a empolgação, mas era óbvio que estava feliz.

    — Claro! Eu aceito fazer este teste! Quero sim!

    — Ótimo! Pode esperar do lado de for a da sala, Luther, enquanto formalizo sua adoção.

    Ao sair, Luther observou os rostos deles. Após trancar a porta, colocou sua orelha na porta na tentativa de escutar a conversa, mas foi frustrada a tentativa, não era possível escutar uma palavra sequer, como se eles estivessem cochichando. Eles ficaram lá por quase uma hora e a ansiedade e a curiosidade estavam matando-o, é nessas horas que se pensa várias coisas, como: se ele havia desistido e ela estava tentando convencer ele do contrário, ou que ela poderia estar vendendo o garoto e que ele o levaria para outro país e venderia seus órgãos, esses tipos de coisas. Até que finalmente a reitora abriu a porta e se despediram. Antes de ir embora, Bartholomeu se aproximou de Luther, retirou o anel que ele havia admirado e em seguida falou a ele:

    — Tenho certeza de que deve estar passando muitas coisas em sua cabeça, mas isso é para você ter a certeza de que volto em dois dias, ele é seu, todo membro da família possui um deste.

    Ele sorriu pra Luther e foi embora. À noite, mesmo sabendo que seu pai só voltaria após dois dias, Luther arrumou a sua pequena mala somente para experimentar a situação e desta vez não sentiu o frio na barriga como das outras vezes. Lhe ocorreu a ideia de pesquisar um pouco sobre esse cara tão famoso, por isso foi até a sala de informática onde só havia três computadores para todos do orfanato utilizarem, infelizmente os três computadores já estavam sendo usados, por esse motivo ficou aguardando por vinte minutos aproximadamente, até que desocupasse algum.

    Assim que vagou o primeiro, se sentou e se conectou a internet, na barra do buscador digitou o nome do milionário e como já era de se esperar, era dono de um império multibilionário, mas não atuava em apenas uma área, ele era um investidor de vários ramos, se algo pode dar certo e ser lucrativo, lá estava ele, basicamente entrando com a parte do investimento financeiro em todos os negócios. Enquanto estava pesquisando bateram a mão em seu ombro, rapidamente fechou a página, uma reação instintiva, como se estivesse fazendo algo de errado, não sabendo explicar o porquê, estava inseguro e, mesmo que soubesse o motivo, não estava a fim de explicar. Talvez fosse ansiedade, talvez fosse o medo de ser deixado novamente. Não se sabe.

    A mão que tocou o seu ombro pertencia a Collin, o garoto mencionado no início. Ele era a pessoa com quem mais se relacionava durante a estadia no orfanato, apesar de não haver muitas oportunidades. Collin possuía descendência japonesa, já que sua mãe se casou com um latino. Isso o torna um sansei. Infelizmente, sua mãe desapareceu sem deixar vestígios e seu pai teve uma morte bem trágica. Ele contou que era bem pequeno quando aconteceu, mas ainda se lembra de enterrarem um caixão vazio.

    Collin sempre foi magrelo e estava no orfanato desde sempre. Luther o ajudava algumas vezes e foi recíproco em várias ocasiões. Ele sempre foi uma pessoa legal e engraçada com todos a sua volta. No entanto, devido ao seu físico, Luther não podia contar com ele muito nas horas de conflito. Quando era para brigar, apanhavam juntos. Os garotos mais velhos sempre tiravam vantagem deles por possuírem corpos fracos, mas eles nunca abaixavam a cabeça para ninguém. Collin sempre incluía Luther nas coisas que fazia e sempre se importou. Como seu amigo não foi contar a novidade, ele veio até ele.

    — Ei, cara, o que foi? Parece assustado.

    — Por que eu estaria assustado? Até onde me lembro, o assustado aqui é você.

    — Não sei... Talvez porque você vai se tornar um bilionário? (gargalhada) Cara, todo mundo só fala disso aqui dentro. Você é um cara de muita sorte.

    — Se eu fosse um cara de muita sorte, teria uma família. Meus pais não me teriam abandonado e estaria cercado de amigos. Não acha?

    Silêncio constrangedor

    — Cara, só vim te desejar boa sorte. Sabe, não há nada de errado em ter um pouco de medo. Todo mundo sente medo às vezes, até mesmo de coisas absurdas como palhaços ou carros de bombeiros. (Sorriso quase imperceptível)

    Ele ficou calado por um tempo, olhando para os lados. Era notório que estava emocionado de um jeito pessoal e confuso, mas continuou mesmo assim:

    — Eu nunca desejei boa sorte a ninguém. Talvez por isso nunca fui adotado. Acho que na verdade nunca apareceu alguém que valesse a pena estar junto a mim. De certa forma, isso é bom, porque fui para vários lares, mas sempre voltei. E o sentimento de voltar é pior do que o de não ter saído. Mesmo assim, lhe desejo boa sorte! Se puder, venha me visitar de vez em quando. Eu não tenho ninguém para isso. E aí você me conta como é ser adotado e rico ao mesmo tempo. Se tudo ocorrer como previsto, ao término do meu estado probatório, vou te chamar para conferir pessoalmente.

    Os dois sorriram juntos, e Luther sentiu como se estivesse deixando algo precioso para trás. Ele realmente estava deixando, mas ainda não compreendia isso. Sentiu-se também como um traidor, como se o fato de estar indo embora fosse um ato de abandono, de puro egoísmo. Sentiu-se exatamente como um soldado que tem que ir embora e deixa seus companheiros no campo de batalha para morrer. Mesmo que em muitas situações os dois compartilhassem sonhos e ideias, Luther nunca foi capaz de se abrir para ele com relação a muitas coisas.

    — Sabe, às vezes pessoas boas estão à nossa volta, mas não permitimos que se aproximem de nós, ou não nos permitimos aproximar delas. Às vezes é por orgulho, às vezes é por falta de tempo ou de interesse. O que sei é que muitas outras pessoas poderiam fazer parte de nossas vidas e, por falta de um bom dia ou um obrigado, deixamos de conhecer pessoas maravilhosas.

    O grande problema é que a vida está cheia de pessoas que não possuem empatia, pelo menos não a um nível abrangente, no máximo os mais próximos e ainda restritos. Algumas pessoas querem apenas se aproveitar do próximo, ter ganhos em estar conosco, em todos os sentidos, mas principalmente financeiramente e sexualmente. Entende o que está sendo dito?

    É difícil entender por que sentimos com tanta dor o que não teremos mais. Por que essa intensidade não é vivida a todo instante, não enquanto ainda possuímos este bem precioso? Isso nem é uma perda, é só o início de uma nova etapa na vida. Errar faz parte do aprendizado e temos que dar chance para que as pessoas nos mostrem quem realmente são.

    — Deixa comigo, tudo vai dar certo. Virei te visitar e te levar para conhecer onde estiver morando.

    — Não virá nada. Passarinho que sai da gaiola não quer ver a gaiola nunca mais. Disse Collin, sorrindo.

    — O que assusta o pássaro não é a gaiola, mas o medo de ficar preso, e nós sabemos que esse risco eu não corro mais.

    Passados dois dias, o senhor Bartholomeu, assim como prometido a Luther e acordado em termos legais com o orfanato, veio buscá-lo em um confortável Lincoln de cor preta de vidros espelhados. O chofer abriu a porta e ele caminhou em direção ao rapaz, que já o aguardava com uma pequena mala. Bartholomeu se aproximou e o abraçou, ficando um pouco sem reação por não saber o que deveria fazer. Luther, que a esta altura já havia perdido a sensibilidade de como era abraçar alguém e transmitir carinho e segurança, o abraçou também, um pouco desengonçado e sem jeito.

    Pela primeira vez, ele entrava em um carro mais caro que uma casa. Ao entrar, seus olhos foram diretos para Veruska, a filha mencionada que estava ansiosa para conhecê-lo. Ela era muito bonita, ruiva natural com sardas, olhos verdes e cabelos cacheados, parecia ter vindo direto da Escócia ou da Holanda. Ela sorriu para o garoto que entrava no carro e parecia nada tímida com a situação.

    — Você contou para ele como eu sou, pai?

    — Um pouco.

    — Ele ainda está bem tímido. Achei que o deixaria à vontade.

    — Dê um tempo a ele. É normal se sentir assim diante de pessoas com as quais ainda não se tem convívio, mas se me conhece bem, em um dia você o fará se sentir em casa.

    Após este diálogo, Veruska conversou com o rapaz de uma maneira que o deixou bem à vontade. Começou então a contar a ele sobre coisas que seu pai e ela pesquisavam, como lendas de tesouros perdidos e criaturas místicas, e o deixou imerso enquanto se dirigiam à sua nova moradia. Durante o caminho, Bartholomeu observou o rapaz mais do que conversou. Foi notado que ele carregava consigo uma caixa, que permaneceu todo o tempo em suas mãos. Depois que deixou Veruska conversar bastante com Luther, ele a interrompeu:

    — Luther, tenho um presente de boas-vindas para você, algo que gostaria que usasse com muito orgulho, algo que o fará sentir-se bem mais próximo de nós.

    Ao receber a caixa, Luther retirou seu invólucro e a abriu. Dentro havia uma almofada pequena de seda vermelha com um anel idêntico ao que seu benfeitor lhe deu quando prometeu voltar para buscá-lo. O anel era feito de ouro 18k com um emblema muito bem desenhado, com um escudo que fora adornado com pedras preciosas que davam cor e formato ao desenho. Dois dragões, um de cada lado, que acreditava ser o brasão da família. Luther observou as mãos de Veruska e percebeu que ela usava um anel idêntico com diferentes iniciais. No dele, tinham as iniciais L. A. gravadas, o que fazia o anel único para cada um. Então, com um sorriso afetivo, o anel foi ofertado ao garoto. Bartholomeu o perguntou:

    — Que tal devolver o meu? Ele não cabe em seu dedo, mas este aí cabe.

    Com um sorriso no rosto, Luther enfiou a mão no bolso procurando o anel que havia sido lhe dado como garantia de retorno, pois não o havia colocado no dedo. Quando o encontrou, observou as iniciais de Bartholomeu gravadas e o entregou a seu verdadeiro dono.

    Retirando da caixinha o anel que acabara de ganhar, colocou-o no dedo indicador da mão esquerda e o observou para ter uma ideia de como ficara. Com este gesto simples, Bartholomeu o fez sentir incluído na família, como se o anel representasse uma aliança familiar. Ele estava tão feliz que mal podia se conter. Para emocioná-lo ainda mais, Veruska o elogiou:

    — Ficou muito bonito em seu dedo. Agora você é um integrante genuíno da família. Agora é um Amstalden!

    Quando o carro parou na frente do portão da mansão, ele pôde ver o quanto o homem que o adotara era rico. O carro andou por quase vinte minutos e ainda não haviam chegado à casa. Durante o caminho, observou diversas quadras esportivas, um campo de golfe particular, várias piscinas e casas de piscinas, árvores de várias espécies e uma flora diversificada que Bartholomeu havia investido uma grande fortuna para preservar. Veruska estava tão acostumada que nem se impressionava mais com a propriedade, mas adorava as árvores antigas e continuava interessada nos enigmas e mitos.

    Uma coisa que impressionou Luther é que alguns dos mitos que ela lhe contou ocorreram nesta propriedade. Quando chegaram à casa, Bartholomeu pediu ao mordomo para levar as malas direto ao quarto que seria de Luther e se encarregou de levá-lo para apresentá-lo.

    A frente da casa havia dois carros de luxo estacionados. Um chafariz enorme e bem ornamentado, com várias estatuetas de anjos, decorava a entrada. A porta de entrada era grande e alta, com detalhes no marco entalhados à mão, uma obra de arte fascinante. Dentro da casa, como já se esperava, era suntuosa. Ao entrar, eles foram abraçados por duas escadas que desciam do segundo andar, uma à direita, outra à esquerda, acompanhadas por um lustre de cristais que parecia valer milhões. Os detalhes do corrimão eram feitos em ouro, como Luther havia perguntado e confirmado.

    Antes que ele reparasse mais, Veruska o tomou pela mão e quase o arrastou correndo para o quarto que seria dele, nem esperando seu pai, espantosamente admirado mal podia acreditar, seu quarto no orfanato se resumia a uma cama, um armário e uma televisão, seu novo quarto parecia uma casa, só o banheiro da suíte era quinze vezes maior que seu antigo quarto.

    Veruska estava ansiosa para lhe mostrar os locais da propriedade que ela passava mais tempo, quase não o deixou olhar o quarto, ela já estava ensandecida para sair correndo dali de dentro, mas esperava seu pai se retirar, ele percebendo a euforia em que ela se encontrava, os advertiu:

    — Deixarei que explorarem a mansão, Veruska te mostrará o lugar todo o tenho certeza e caso precisem de mim, estarei em meu escritório, se caso precisem de algo chamem Mr. Simon, o mordomo. Luther sinta-se em sua casa, porque ela é sua casa mesmo. — Disse ele sorrindo

    — Agradeço imensamente.

    — Pai pare com essas formalidades, fica parecendo que ele é um visitante.

    — Não foi o que quis transmitir, só quero que ele se sinta confortável.

    — Está bem! Depois a gente se fala no almoço.

    Veruska nem espera que seu pai vire as costas e sai correndo pedindo que seu irmão a acompanhe se conseguir, desceram as escadas, passado pela sala, que o deixou boquiaberto de tão luxuosa, uma das coisas que chamou sua atenção é que os sofás são rebaixados no centro da sala, havendo degraus para chegar a eles, mas sem tempo para reparar mais, saíram pela lateral da casa, correndo na propriedade por alguns minutos entre várias esculturas em árvores no jardim, até chegar a um portão, que Veruska abre e entra.

    O lugar é um jardim fechado, bem podado e cuidado, aparentemente não deve ser qualquer pessoa que pode ter acesso a ele. Quando Luther percebeu, já depois de ter corrido bastante atrás dela, notou que esse jardim era um daqueles labirintos que só vê em filmes e ela fez questão de vê-lo perdido dentro do mesmo, por um instante ele se apavorou por estar perdido, mas logo se acalmou, tentou escutar os passos de sua irmã, sem sucesso algum, pois já havia se distanciado demais de onde ele se encontrava. 

    Começou então a andar e procurar uma saída, mesmo bufando cansado. Após meia-hora andando, não conseguiu encontrar saída alguma, parecia que não haver uma, é que todos os corredores eram iguais, tanto o chão, quanto as paredes.

    Ainda era dia e o sol estava a pino, não que ele quisesse desistir, só não queria mais estar naquele labirinto. Uma hora e meia depois, o coitado ainda estava procurando a saída, então pode escutar a voz de Veruska chamando-o. Ele a procurou como alguém que morria de sede no deserto sentindo cheiro de água corrente, começou a gritar onde estava, para que seu socorro viesse a seu encontro. Quando o encontrou, Veruska se aproximou, percebendo sua cara de insatisfeito, cansado e bravo, ela o ajudou a encontrar a saída. Caminharam até uma árvore que seus vários galhos se abriam como um leque, em um deles havia balanços. Depois de se sentarem, Luther lhe fez uma pergunta:

    — Por que você fez isso comigo? Olha quanto tempo passei lá dentro!

    — É o meu teste... deveria se sentir honrado. Só aplico ele em pessoas que quero ao meu lado.

    — Você não deveria ter me perguntado se eu queria?

    — E qual seria a graça? A melhor parte foi ver você com cara de choro, parecia um bebê. Diz ela debochando.

    — Que tipo de doente é você? que aplica teste em pessoas para gostar delas?

    — Ai Luther! A vida nos aplica testes a todo tempo e você nem percebe, alguns chamam de azar quando não passam neles, outros de sorte quando são bem sucedidos, mas a verdade é que a vida é feita de vários testes, e você preparado ou não, serão aplicados assim mesmo, a vida não quer saber se você é o mais forte, ou o mais esperto, ela quer saber se você é capaz de passar por aquele teste e seguir em frente, independente se o resultado é positivo ou negativo.

    — Eu nunca tinha pensado na vida dessa maneira. Mas ainda assim, foi bem ruim a sensação.

    — O melhor jeito de conhecer alguém é ver como ela lida com uma situação inusitada, se você coloca alguém em uma situação constrangedora, ou desconfortável, não conseguem manter o personagem muito tempo, a máscara cai e você pode ver quem é o sujeito realmente.

    — Mas, eu não passei no seu teste. O que isso significa para você?

    — Depende. Você vai desistir, ou vai continuar tentando passar no teste?

    — Vou falar na real com você! Sabe que eu não ligo a mínima para o seu teste, né? Quero dizer...  você parece ser uma pessoa legal, mas não sou obrigado a passar por testes para ser seu amigo.

    — Oooh... Falando assim você até me magoa, parece até uma princesa de verdade e a bruxa aqui, fica te oferecendo maçãs envenenadas (gargalhada), sendo um bebê chorão desse jeito, você não consegue se dar bem na vida não. Você quem sabe, eu estou te dando a oportunidade de aprender coisas legais comigo, mas se você preferir ser o garoto do orfanato em uma mansão para mim está tudo bem.

    Luther fala com um sorriso debochado — Legais como? Ficar lendo livros?

    — Conhecimento Luther, nunca zombe de livros, pelo menos não dos bons, conhecimento é quase um superpoder.

    — Como conseguiu resolver o labirinto e ainda voltar e me encontrar lá dentro? Você o decorou?

    — Não. Eu li livros, idiota.

    Depois de ficar bem sem graça, ajeitar o cabelo, olhar para cima e para baixo algumas vezes, desconcertado pelo troco que veio a cavalo, ele fala algo para quebrar o silêncio que mortificou o lugar.

    — De tanto andar por esse labirinto você já deve ter decorado o caminho, por isso foi fácil para você sair e voltar.

    — Na verdade, peço ao jardineiro para modificar todo o labirinto uma vez por mês, para que não se repita. Eu não acredito que você já desistiu em algumas horinhas, você tem um mês para desvendar ele. Isso porque você só tentou um labirinto de quinhentos metros, o que fará quando te colocar em um de cinco quilômetros?

    — O que? Tem outros labirintos aqui e maiores do que esse? Por que o Bart tem tantos?

    — Não são para ele tolinho, são para mim. Eu amo labirintos. Você me acha estranha né?

    — ... Sei lá, nem sei o que dizer. Talvez excêntrica... Por que você gosta tanto assim de labirintos?

    O caos é uma ordem por decifrar,

    — O que? Não entendi!

    — José Saramago, um escritor português escreveu isso, e a melhor coisa que ilustra essa frase para mim, é um labirinto, por mais que ele possua um padrão, para quem está de dentro é um caos, você não sabe o que fazer para sair dele, a maioria pensa que sair de um labirinto é sorte, mas não é. Como eu te falei Luther, conhecimento é tudo.

    Criaram um método que consiste em manter a mão na parede do labirinto para não perder o lado em que você começou desbravando-o e para saber sempre por onde veio, mas isso só funciona em labirintos pequenos e fáceis.

    Um escritor chamado Charles Pierre Tremaux, inventou o método Tremaux que consiste em; primeiro: nunca seguir o mesmo caminho por duas vezes; segundo: se chegar a uma encruzilhada escolha um caminho para seguir e se falhar, volte à encruzilhada; terceiro: se um caminho te levar por algum lugar que já passou, volte por onde veio e por último se chegar a uma encruzilhada antiga pegue um caminho novo, se não existir um novo caminho, pegue o primeiro caminho usado para chegar até ali.

    Existem várias técnicas, todas parecem complicadas e algumas realmente são, mas o comum entre todas é que: todas exigem memória e raciocínio, então, se não exercita o seu, estará preso para sempre. Quando estou dentro de um labirinto consigo pensar em tudo que eu não consigo resolver quando estou do lado de fora, este é o meu caos particular, é aqui que eu me lembro de que tenho que reorganizar as peças destes quebra-cabeças para poder enxergar o padrão e assim eu consigo resolver muitos dos meus problemas. Durante muito tempo eu me senti perdida e sozinha, resolvendo esses labirintos aprendi que estar perdido por escolher um caminho é normal, mas o que importa na verdade é tentar outros caminhos, até encontrar o correto.

    — Foi mal ter zombado dos livros, me sinto até mal agora, você me contando e me ensinando um monte de coisas maneiras, que deve ter dedicado um bom tempo da sua vida para saber, e eu sendo um infante, bancando o idiota.

    — E você nem se esforça pra isso em! Relaxa panaca! Mas, e aí chorão? Amanhã vai tentar de novo ou vai desistir?

    — Amanhã temos que ir à escola? Ou você não vai à escola?

    — Não precisamos ir à escola, os professores vêm até nós. Assim podemos aprender muito mais coisas e eliminar inutilidades que as escolas aplicam as crianças, certo é que perdemos um pouco o contato com outras pessoas, mas é compensatório. Eliminando bobagens você fica muito mais inteligente. Mas quero te perguntar uma coisa.

    — Fala aí.

    — Você acredita em Vampiros? Ou em lobisomens? Ou em alguma outra criatura mística?

    — Sei lá... Eu não acho que seja real (pensando na voz de sua cabeça), acho que não.

    —... Depois das coisas que vou te mostrar, mudará de ideia com certeza.

    — Agora deixe que eu te faça uma pergunta. Você tem algum amigo imaginário?

    — Já tive, mas eles vão embora quando crescemos. Eles são como fadas, só podem enxergá-las aqueles que possuem um coração puro. Vem vamos até a biblioteca do papai, vou te mostrar umas paradas que só tem aqui.

    Ele gostaria de ter entendido por que Veruska disse que os amigos imaginários vão embora quando crescemos, qual o significado possuir um coração puro para enxergar fadas? Essas coisas não fizeram muito sentido para ele. Às vezes parece que ela se perde na fantasia do mundo que tem em sua cabeça, misturando-as com a vida real. Em seus pensamentos, admite que às vezes fica perdido no que ela está falando, quando ela explica, tudo parece fazer sentido, mas quando tenta pensar sobre o assunto, tudo parece tão confuso.

    — Venha você precisa conhecer a biblioteca, não vai acreditar em seu tamanho. Eu nem te perguntei, você gosta de ler? Não importa, é um conhecimento sem preço, até quem não gosta acaba pegando gosto.

    Sendo competitiva como só, gosta de fazer apostas por tudo, ela queria apostar corrida até a biblioteca, explicou a ele como chegava até ela e já saiu correndo para ter vantagem, correram por volta de dez minutos, e Luther pôde ver mais uma boa parte da propriedade, viu que possuíam um estábulo para cavalos, e enquanto corria, começou a pensar que nunca havia montado a cavalo.

    Como Veruska já conhecia o lugar, quando passava por arbustos, ela já sabia o que havia depois deles e não tinha problema em desviar dos obstáculos que surgiriam, como bancos, pequenos lagos, escadas, estátuas etc.

    já seu irmão, por outro lado, perdia bastante tempo tendo que parar para desviar e raciocinar o caminho mais rápido, ela possuía uma vantagem enorme, enquanto corria a sua frente, era notório que já tinha tomado lições de Parkour, pulava como um gato, e dava alguns saltos mortais enquanto desvia dos obstáculos. Os obstáculos não pareciam atrapalhá-la, na verdade dava a impressão que a ajudava a ir mais rápido ainda.

    Quando finalmente chegam à porta da casa, ele já estava sem pernas e totalmente ofegante, havia muito tempo que não corria daquele jeito. Ele precisava perguntar a ela depois de recuperar o fôlego:

    — Por que vive fazendo essas coisas? Saiu correndo sem que eu estivesse preparado, isso é trapaça!

    — Claro que não! Te expliquei as regras, eu não tenho que te preparar para nada. E mais uma coisa, não fique esperando que alguém mastigue as coisas para você, tem que ficar atento. Quando eu jogo, eu jogo para ganhar e não para competir.

    — Estava na cara que você queria era se exibir mostrando suas habilidades e destreza.

    — Pode falar, você babou né, estou treinando a muitos anos.

    — Parecia que você era um felino correndo, você podia me ensinar umas paradas dessas depois.

    — Pode apostar que sim.

      Pegando o elevador que os leva diretamente a biblioteca, foi desnecessária a procura pelo livro, pois Veruska já havia separado aquele que a tornou tão obcecada pelos seres despertos. Neste momento Luther se lembra que ela havia lhe dito que esta biblioteca possui livros que a humanidade já nem fazia ideia de que existiam mais, livros muito antigos considerados amaldiçoados e Veruska os adorava, ela possui um fascínio por cada história que não pôde ser explicada, acreditando que estes seres místicos são reais, tais como: vampiros, demônios, magos, lobisomens etc. Ele até queria entrar e ver a biblioteca, mas ficaria para uma outra hora.

    — Este é o livro que falei a você, foi por causa deste livro que comecei a acreditar em magia, ele revela tanta coisa sobre criaturas místicas, conta o que nos falta saber, fala sobre aquilo que os filmes não falam e os livros romancistas não contam. Papai possui muitos outros livros ocultistas, mas disse que só posso ler quando fizer dezoito, aí ele liberará todo o acervo pra mim e aí poderei ter o conhecimento que me falta sobre os seres despertos, eu acho que se eu souber mais poderei encontrá-los.

    — Wow! Wow! Wow! Encontrar? Você está dizendo que se estas coisas fossem reais, você ia querer encontrá-las? Tá bom, você estava certa, agora eu te acho doida mesmo! Se essas coisas fossem reais matariam milhares de pessoas e dominariam o mundo, você não acha não?

    — E quem disse que não são elas que dominam? Milhares de pessoas morrem todos os dias, quem pode provar que não são eles? Desculpas e mais desculpas, mais de 70% dos casos de assassinatos não são resolvidos pelo mundo e olha que nem incluí os sequestros, pensa um pouco, tudo isso pode ser verdade. Se fosse, você não ia querer saber?

    — Bom... se fosse não acha que já teriam descoberto e espalhado nas mídias e redes sociais?

    — Você não respondeu à pergunta, por isso vou realizá-la novamente: você não ia querer saber?

    — Olha, às vezes não saber pode ser bom. É tipo eu não saber nada sobre a minha mãe biológica, acho que dói menos.

    — Mas ainda dói seu vacilão... não importa se dói pouco ou muito, porque no fim das contas está te causando dor. E nunca mais fale como gado na minha frente, como alguém que aceita ir para o matadouro se não souber que está indo, nunca permita, ou aceite que a falta de conhecimento pode ser boa, enquanto você não souber o que acontece, outras pessoas que sabem, estarão tirando proveito das que são ignorantes quanto a isso.

    E as pessoas que estão sendo surrupiadas, molestadas e maltratadas? Se você não souber delas, está tudo bem pra você? Muitas coisas ruins que acontecem não podemos evitar, mas muitas coisas ruins acontecem porque permitimos, com atitudes egoístas como essa sua, se eu estou bem e não sei dos problemas dos outros, vida que segue. Negativo meu irmão!

    — Qual é o seu problema? Por que tudo que eu falo soa para você como errado?

    — Porque você fala como alguém que foi doutrinado, você fala como o sistema quer que você fale, não possui uma voz própria, fala como alguém que escuta e só repete o que foi dito. Quando foi a última vez que você confirmou a veracidade de uma informação? Você ainda é só um garotinho assustado. Toma! Leia o livro, nos vemos amanhã para sua primeira aula em casa.

    — Você acha que ler um livro vai ajudar a mudar o mundo, por acaso?

    — Se cada pessoa que lesse um livro decidisse mudar suas atitudes, o mundo seria transformado por um livro. Então mude a si mesmo e estaremos dando um passo para frente.

    — Compreendi a sua visão e realmente parece melhor.

    — O almoço já deve estar pronto e daqui a pouco vamos ser servidos, então suba, tome um banho, pegue roupas novas no armário e desça para almoçarmos.

          Após tomar seu banho e escolher a roupa que mais lhe agradou, Luther desce para o almoço e é surpreendido, para ele ficou evidente que a função de Veruska era distraí-lo o máximo possível, para que pudessem aprontar um banquete em sua homenagem, havia um comitê de boas-vindas feita pelos funcionários e poucos amigos de Bartholomeu, os mais chegados provavelmente, todos o aguardavam, todos estavam presentes: o jardineiro, o piscineiro, empregadas, governanta, motoristas, enfim, todos se apresentaram e foram muito educados, todos estavam muito bem vestidos, trouxeram suas famílias e Luther se sentiu abraçado por eles ao ver uma comemoração que transformava todos aqueles que compunham o corpo da casa em uma família e tudo isso em sua homenagem, ele não poderia ter ficado mais feliz.

    Capítulo 2

    A vontade do destino

    Bartholomeu Amstalden, um homem de hábitos rigorosos, determinado, extremamente ambicioso, inteligente e sagaz. Possui uma mente brilhante, quase nunca esquece um rosto. Todos os dias acorda às cinco da manhã e corre quatro quilômetros, às vezes em volta de sua propriedade, às vezes na esteira. Retornando do exercício toma um banho e come um café da manhã reforçado, adora aveia, batata doce e não dispensa ovos com bacon, lê o jornal da bolsa de valores, confere cada empresa que possui ação, confere algumas redes sociais.

    Cumprimenta cada empregado por quem passa pelo seu nome, e de integrantes de suas famílias e filhos, pergunta sobre eles e todo fim de ano realiza uma megafesta para todos seus empregados trazerem seus familiares. É um homem muito refinado, impõe um enorme respeito com seus um metro e oitenta e oito de altura, um corpo atlético mesmo aos cinquenta anos, uma barba muito bem-feita que se une aos cabelos grisalhos, sempre usa um terno preto feito sob medida, muito caro, sempre sai as 06:30 para a empresa, nunca se atrasa e detesta esperar, tem um cronograma montado para a semana inteira e tenta cumpri-lo à risca.

    — Bom dia Nicolas! Como está o trânsito hoje?

    — Bom dia Sr. Bartholomeu! Já verifiquei que vamos fazer uma rota nova e mais rápida que a costumeira. O trânsito parece não muito amigável para pessoas pontuais.

    — Ah! Gostei disso, continua pensando como eu!

    O smartphone de Bartholomeu toca, reconhecendo o número que o chama, sua face muda de expressão de sorridente para apreensivo, ele atende e escuta o que a pessoa do outro lado tem a falar durante quatro minutos sem falar uma palavra, Nicolas observa pelo retrovisor interno do carro a mudança de expressão de Bartholomeu para aparentemente satisfação, então ele responde:

    — Você está me dizendo que encontraram algo verdadeiramente relevante? OK! Você me surpreendeu desta vez, vou desligar agora, me aguarde bem aí, não deixe que ninguém saia de sua posição.

    — Alô! Natashe cancele minha agenda de hoje.

    — Nicolas, código quatorze.

    — Já estava na hora senhor!

    — Espero que seja o que estou pensando.

    — Se for eu prefiro ficar no carro senhor.

    — Sem problema a equipe inteira está no local, não quero que se machuque.

    — Obrigado senhor.

    Bartholomeu além de ser um homem de negócios também é um estudante das artes místicas, historiador e arqueólogo, por ser um homem muito rico não poupa esforços e nem recursos para descobrir algo que o aproxime de seu objetivo, determinado da maneira que é, tornou-se implacável na busca pelo conhecimento de seres despertos como gosta de chamar, ele acredita que não só existem como caminham entre nós.

    Por mais que algo seja secreto, sempre deixa pistas, ou alguém que faz parte do plano, acaba vazando de alguma maneira, comete erros que deixam vestígios para seguir e é o que Bartholomeu tem feito nos últimos vinte e três anos, seguir estas pistas, e agora parece que encontrou mais uma, e por ser um código quatorze, significa que além de ser algo concreto, também é muito perigoso.

              Nicolas desviou a rota que o levaria para o escritório se afastando da cidade, convergindo em uma rodovia quase morta, aquelas onde a paisagem é formada somente por árvores e mato, onde seu carro se torna solitário e o asfalto está em perfeito estado devido ao menor tráfego de automotores.

    Por quilômetros ele seguiu sem dizer absolutamente nada, exatamente por conhecer bem seu patrão. Nicolas diminui a velocidade ao chegar a uma estrada de terra, bem esburacada por conta de chuvas que ocorreram na semana passada, desviando e driblando os obstáculos, ele finalmente chega ao local que Bartholomeu desejava e para o carro.

    Bem empolgado Bartholomeu sai do carro e não espera nem um segundo para olhar o que lhe foi informado pelo telefone. Em um lugar com uma vegetação alta e não desbravada, ele se encontra com Dimitri, um homem que já serviu em várias operações especiais a serviço do governo, foi agente e espião em vários países, hoje trabalha como localizador para Bartholomeu:

    — Onde está?

    — Acalme-se, temos que andar alguns quilômetros mata adentro, já abrimos um caminho para o Senhor, preciso lhe dizer que nunca vi nada parecido com isto, o local está intocado, não permiti que ninguém entrasse antes do senhor.

    Bartholomeu para de andar quando Dimitri profere tais palavras, fica bem em frente a ele encarando-o, passa a mão em cabeça deslizando pelo cabelo e parando em seu rosto em um gesto de carinho, como de um pai para com o filho, assim como tenta tratar todos seus funcionários, mas com um olhar que diz que é melhor que seja mesmo como está me dizendo, um olhar de quem não aceita ser enganado. Dimitri por sua vez demonstra firmeza e passa confiança a ele sobre a informação prestada, então seu patrão lhe dá dois tapinhas em seu rosto dando crédito a informação prestada e seu semblante volta a ficar sorridente, após ler em seus olhos a verdade.

    Os homens que acompanham Dimitri estão fortemente armados e não dão um passo sem que ele ordene. Dimitri mostra armadilhas espalhadas pelo caminho para que Bartholomeu perceba a seriedade do achado. Uma em especial ele ativa para demonstrar o sério risco que estão correndo. Algumas delas estão interligadas, caso acione alguma, desencadearia uma série, que seria quase impossível de escapar de dentro da floresta. Antes de ativar a armadilha, ele se certifica que ela seja única a ser ativada e então a maneja. ele demostra que não é uma bomba o que será acionado e sim um invólucro bem estranho, ela espalha um fogo criado por fosforo branco, mas em uma pequena área, direcionado somente para quem ativasse o objeto. Bartholomeu fica mais ansioso, após a demonstração, fósforo branco não é um material para amadores, mas ainda segue as orientações de onde pisar e por onde passar para não correr nenhum risco desnecessário.

            Depois de caminhar algum tempo ao longe se vê uma cabana feita com troncos ainda na forma roliça, uma madeira de lei que permanece ali como um fóssil, algo feito para durar por muito tempo, a casa possui uma pequena varanda, poucas janelas e uma chaminé.

    A localização da cabana parece ter sido feita por alguém leigo, ou que queria ficar isolado mesmo, pois no inverno a neve deve bloquear todas as passagens impossibilitando qualquer um de entrar ou de sair tendo que esperar pelo menos três meses para desbloquear algumas saídas.

    Construída debaixo de duas árvores que estranhamente se entrelaçam, possuindo muitos galhos e troncos grossos que a escondia, impossibilitando de ser avistada por quem sobrevoasse o local. Dimitri dá o comando para que seus homens cerquem o perímetro enquanto ele acompanha Bartholomeu até a entrada da cabana.

    Nem é necessário mostrar que houve uma batalha no local, o chão esburacado com marcas de garras para todos os lados, inclusive na cabana, matos e árvores destruídos com cortes não feitos por uma lâmina ou uma serra, um corte de garra que começava na janela da cabana e só terminava na parte inferior da porta, faz o coração dos dois palpitar bem mais forte.

    — Senhor, meus homens rastrearam o perímetro e constataram que ninguém deixou a área, seja lá quem tenha lutado aqui, ainda está na área.

    — Agradeço pela informação! Mantenham os olhos abertos, agucem seus sentidos para não serem pegos de surpresa.

    Bartholomeu faz um sinal com a mão para que Dimitri permaneça no local em que se encontra, para não o acompanhar, com um rosto de dúvida ele saca uma Colt semiautomática e entrega a seu contratante, Bartholomeu só estende a mão para trás e sem olhar após escutar o saque da arma e a pega, continuando a caminhar em direção à entrada da cabana.

    Parte da varanda está destruída, caída, mas sem se partir, correndo um grande risco de desabar a qualquer momento. Mesmo sem noção alguma do que encontrará dentro da cabana, continua avançando, observa as marcas de sangue no chão e nas paredes.

    Bem lentamente abre a porta e sente que ela emperra em certa parte do trajeto que deveria fazer para se abrir, mesmo assim ele a empurra até que seja possível que seu corpo passe pela abertura. Antes de entrar observa dentro da cabana, o assoalho todo danificado impede que a porta se abra, a luz que entra pela janela mostra muita poeira pairando lá dentro, alguns móveis revirados, todos feitos em madeira, algumas partes de animais defumadas penduradas, que provavelmente devia servir de alimento para o morador que habita a cabana.

    Apesar de ser dia a pouca luminosidade dentro do recinto o impede de perceber mais detalhes, mesmo assim ele entra. Dimitri vendo que Bartholomeu entrou leva as mãos à cabeça em sinal de preocupação e aciona o rádio:

    — Atenção todos! Ele entrou, a prioridade é ele, qualquer barulho estranho eu entrarei mesmo sem a autorização, seguido do esquadrão 2.

    *****

    Pela manhã o mordomo Simon, acorda Luther para que se inicie suas atividades matinais, ele demora a se levantar devido a ter ido dormir bem tarde, tendo em vista a euforia de estar em uma mansão e ter sido adotado, a noite ficou bem longa o sono não vinha o que contribuiu imensamente para ter iniciado a leitura do livro que Veruska recomendou a ele, passando a noite praticamente toda preso às páginas que lhe causavam uma curiosidade enorme a cada que era lida.

    — Que horas são?

    — Sete

    Está gostando da amostra?
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