Da Consciência à Realidade
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Sobre este e-book
Esta narrativa desenvolveu-se com base na análise que fiz através das experiências de vida, não só as minhas, mas também das pessoas que passaram por mim, trazendo as mais variadas causas e sofrimentos. São várias histórias e observações que mostram um pouco do percurso evolutivo (ou não) da humanidade, numa mostra de comportamentos dos mais estranhos aos mais credíveis.
Nesta viagem, o leitor consegue aprender a focar o seu pensamento na tomada de atitude mais apropriada, trocando o sofrimento pela alegria sem magias nem dores. Inclusive pode até mudar o rumo da sua história se não estiver feliz com a que vive atualmente.
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Da Consciência à Realidade - Conceição Currito
Agradecimentos
Pais, Irmãos, Filhos, Netos, Companheiro e Amigos.
A todas as pessoas que cruzaram o meu caminho.
Ao mundo e os seus Habitantes, pela demonstração do lado bom e mau da nossa existência!
Prefácio
Compor um prefácio é conhecer uma obra em primeira mão, é tomar contacto com as aspirações e desejos de quem a escreveu, antes de ser mostrada ao mundo. Fiquei muito feliz e honrada com a distinção que a minha grande amiga Conceição Currito conferiu-me ao convidar-me para prefaciar o seu livro. Sinto-me grata em poder colaborar deste original momento de produção, que é a realização de um sonho tornado realidade. Escrever é revelar-se aos outros, à sociedade, é deixar uma marca e um caminho sobre o que amamos, pensamos e acreditamos acerca da nossa existência, da história, da humanidade.
Parabenizo a minha amiga Conceição pela sua coragem em escrever e em entregar ao mundo o que redigiu, numa obra sempre reveladora de si e de todos os seus protagonistas, dos seus avanços e retrocessos, dos seus objetivos e desígnios.
Neste livro pode viajar através de infelicidades, reconhecer momentos onde o amor tudo vence, seja o próprio ou o de outros, pode refletir com a autora sobre culturas, religiões, competências próprias que muitas vezes descuramos, entre outras dimensões aqui explanadas de uma forma clara e real.
À medida que fui desbravando capítulo a capítulo a minha curiosidade de chegar ao próximo era imensa e as minhas reflexões acompanhavam as da autora sobre o que nos apresenta em relação a nós, ao mundo, à religião e a todo o sentir que nos invade perante o que lemos. As suas interpretações sobre a vida revelam-se de forma bastante madura e experiente e em muitas situações e excertos contados, as minhas emoções tomaram conta de mim, emocionando-me nuns, ficando deslumbrada noutros e enfurecida com outros. Somos totalmente abrangidos pelo trilho que a Conceição demarcou ao longo deste livro ao demonstrar como o amor e a dedicação a nós e ao próximo podem realizar maravilhas.
Nesta obra vemo-nos obrigados a mergulhar nos nossos sentimentos, emoções e numa autoanálise que nos envolve e domina em tudo o que aqui nos é revelado.
Esta é a conjuração basilar do livro: a descoberta de nós próprios, as influências nefastas para as nossas vidas de tudo o que é exterior a nós, as forças que possuímos, o que devemos ou não considerar em prol da nossa felicidade e crescimento individual e social, como podemos experienciar coisas comuns e por fim como podemos alcançar a nossa autonomia, descobertas, conquistas usando apenas as nossas potencialidades mentais e singularidade que nos assiste.
Este livro é uma mostra repleta de esperanças, reflexões, resiliência, opiniões cuidadas, de conceitos e impressões questionadas pela autora numa orientação quotidiana de si e dos outros, mostrando-nos como as dificuldades nos podem levar num caminho de infinitas realizações se as abraçarmos como desafios. A Conceição expõe as suas ideias, revela as suas interrogações e expressa as suas esperanças.
Por tudo isto recomendo a todas as pessoas que sabem que para uma adversidade poderão existir todas as possibilidades e soluções que lhe queiramos atribuir, desde que identifiquemos em nós as forças interiores que possuímos e que reconheçamos que a nossa condição humana é sempre poderosa, imprevista e ousada. Cada pessoa pode fazer a diferença na sua vida e na de quem se cruzar com ela.
Muitas vezes a vida é muito mais do que percebemos ou cogitamos sobre ela! As nossas conquistas e ações são a manifestação da infinita beleza da diversidade humana! Tudo o que cada um de nós conseguir extrair vida, mesmo que nos custe alguns sacrifícios, descartes e novos reinícios, é toda e a única herança que poderemos deixar!
Assim, ao ler esta narrativa, vai parar algumas vezes para analisar e pensar que a vida real começa quando estamos cara a cara com o nosso eu desconhecido e que quando nos encontramos muitas vezes nos surpreendemos, a descoberta maravilhosa de que se nos amarmos e respeitarmos alcançaremos feitos que jamais imaginaríamos conseguir na nossa vida e nas vidas com as quais nos cruzamos.
Carla Almeida
Psicóloga Clínica e da Saúde
CAPÍTULO I - APRENDEMOS NAS CRISES
Percurso atribulado
Ao longo da minha vida, num mar diria glacial, onde nem o sol aquecia a minha dor, nem esta era um raiar de luz, procurei abrigo e encontrei uma amálgama de vidas estranhas num misto de religião, política e loucura que condicionavam o meu entender naquela idade e época.
Foi um caminho bem longo, um cabo das tormentas, passado. Navegava sem equilíbrio nem rumo, mas, com uma força e desejo de lutar. Queria entender como as ondas fortes rebentavam agressivamente, mas, quanto mais navegava, mais a terra se afastava. O grito era mudo, a mão, ninguém me dava. Cheguei a vários portos, sem que nenhum fosse o tal de um porto-seguro.
Sentia-me uma coisa, cheia de tristeza e ilusão. Assim era o meu dia a dia.
Naquela época não entendia, mas também não tinha a quem recorrer para que me ensinassem ou explicassem o que sentia, pois nada fazia parte do ensino moral, tudo era tabu, abafado e escondido. Era assim e ponto final. Vivíamos numa sociedade cheia de preconceitos bizarros e venenosos, com a marcha do fascismo espalhando terror numa exposição social. Não se podia saber mais que o próprio governador.
Recordo, entre outras passagens da minha vida, que, ser esquerdina era vergonhoso, diria mesmo, diabólico. Vivia atormentada e ao som de tanta chapada e reguada que, forçosamente, rendi-me e estendi a mão, obrigando-me a aprender a escrever com a mão direita, para inserir-me no que consideravam normal
.
Nunca pensei se ser esquerdina era normal ou não, o que sabia era que sê-lo era o meu guião, sempre posto à prova.
No caminho desta questão e de outras, muito aprendi a caminhar, como se os meus olhos não vissem, os meus ouvidos não ouvissem e o meu olfato não cheirasse, assim foi o princípio para uma contagem crescente numa luta pela procura da felicidade, tentando ser aquela pessoa que jamais desistiria.
Foi ao entender o que nunca me explicaram, com a força do meu inconsciente, que encontrei o meu porto-seguro.
Nos anos sessenta ter pensamentos próprios, era o cérebro a dar sinal de loucura. Criei um forte cerco onde só eu podia entrar, o resto era tudo do mesmo. Sofri pela diferença e pelo meu pensamento ser tão veloz que impedia o meu consciente de atuar a tempo. Era tão frontal que ao emitir uma palavra já era tudo insânia. Temiam que eu dissesse o que não devia, porque tudo era com muita veracidade.
Não era a melhor época para uma criança ser esquerdina, ter energia sem fim e um raciocínio rápido. Vivia-se numa cultura católica com Deus na frente, um regime de fascismo com Salazar no comando dos mortais, e ser diferente estava fora de questão.
Nunca me entendiam, era constantemente repreendida e pelo hábito do massacre respondia com muitos palavrões, ao menos com essa minha linguagem, todos me entendiam. Até a vizinhança gozou com a situação e transformando-a em piada, pediam-me para rezar o pai-nosso e eu vá de palavrões e mais alguns. Verdade que era mais uma razão para acreditarem que provinha do Diabo.
Inocente, sem maldade alguma, havia mesmo algo incomum na menina pequena que eu era.
Criatividade e desafios
Todas as perguntas que fazia eram sem respostas, pensei então que o melhor era não perguntar, mas sim ter respostas e soluções. Seria uma forma de não ser repreendida como era habitual, mandando-me assiduamente calar. Como convivia com um raciocínio rápido, habituei-me a viver como se estivesse no dia seguinte, e assim, quando havia um problema, de imediato era resolvido porque vivia no dia a seguir e a solução já lá estava. De facto, era estranho para as outras pessoas, mas, para mim, era natural. Daí, pensarem que tinha uma loucura inimaginável. A incompreensão é sempre algo impactante e mexe com o nosso emocional.
Sempre me olharam no sentido do desvairo, ao invés de entenderem-me, de compreenderem que tinha uma mente sobreposta ao consciente.
Porque não me ensinaram então a ser uma criança mais fácil, quando me mostrava difícil? Decerto teria sentido maior felicidade na época, mas infelizmente não foi assim. A diferença foi e é sempre paga pelo preço do sofrimento e tortura interna.
Por sentir-me excluída e discriminada, fortaleci a força que existia dentro de mim, sem ficar escravizada pelos pensamentos e com a minha lógica rápida, safava-me sempre. Para mim era tudo rápido e sem problema. Recordo que ao ir à missa, tomava a hóstia duas vezes e o sacristão da terra zangava-se muito comigo. Entendia que tomar o corpo de Cristo duas vezes acalmaria o meu tão agitado viver e os meus pensamentos, evitando os castigos.
Sabia que mais tarde haveria confusão e antecipava em contar aos meus pais que tomando a hóstia duas vezes me faria sentir mais calma e assim, com algum sacrifício, comportar-me-ia como um anjinho durante dias, evitando, conflitos maiores.
Tenho ainda na minha memória a confusão que me fazia, ter de manivelar um aparelho preto (o telefone daquela altura) e ouvir a voz dos meus pais que estavam muito longe (em França). Ficava a pensar, se ouvia a voz dos meus pais por eles estarem lá dentro, ou se era a manivela que levava e trazia as vozes porque tinha a força do vento.
Fazia-me grande confusão não conseguir ver os meus pais dentro do aparelho que emitia as suas vozes e perguntava o porquê. Respondiam-me apenas que É assim que se comunica com as pessoas
. Eu, espontaneamente, ria e achava que algo estava incompleto! Cheguei a bater no telefone para ouvir algum som estranho, até mesmo de dor, mas nada de mais acontecia. No entanto, sempre insistia em dizer que um dia iria poder vê-los à distância e dentro dele. Todos riam do disparate! Mas o certo é que, passados cinquenta anos, isso aconteceu com a descoberta da internet.
Quando era confrontada com alguns objetos de difícil entendimento, de imediato simplificava, transformando-os em objetos mais práticos. Varrer o chão com um género de escova que levava um pau de cana que me arrepiava, era para mim algo desnecessário, tal como era a brincadeira na escola quando, enrolava um papel em canudo e usava outro enrodilhado em bolinha para soprar e atingir as minhas colegas. Na hora de sentar-me à mesa para comer, as migalhas caíam para o chão e eu pensava no papel em canudo para as soprar e esconder, e por que não, existir um boneco que comesse as migalhas? Seria ótimo, porque assim já não teria de as varrer! Sempre pensei que um dia havia de ter um boneco que varresse tudo. De facto, hoje, não tenho um boneco, mas tenho um robô.
Na escola o globo que designava o mundo fazia-me confusão porque sendo como uma bola, as pessoas em outros países ficavam de cabeça para baixo. Por muito que explicassem que isso não acontecia, naquele globo, só conseguia imaginá-las assim, mas respondia que, sendo esse o caso, então a terra não era redonda, mas sim terreno em linha reta! Ainda hoje é uma questão não resolvida em mim.
Em quase tudo era assim, simples. Mas, infelizmente, não era levada a sério. Dizia ainda que o amor era apenas uma palavra, um dia