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História da imprensa no Brasil do século XIX
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História da imprensa no Brasil do século XIX
E-book624 páginas8 horas

História da imprensa no Brasil do século XIX

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Sobre este e-book

O livro História da imprensa no Brasil do século XIX, de Marialva Carlos Barbosa, Antonio Carlos Hohlfeldt e Ana Paula Goulart Ribeiro três importantes pesquisadores de História da Imprensa e da Comunicação no Brasil é o primeiro número do selo PUC+, parceria das editoras da PUCRS e da PUC-Rio.
Uma iniciativa que visa conectar os leitores a diversos autores nacionais e internacionais, com trajetórias reconhecidas no universo acadêmico. Os livros do PUC+ abordarão temas de grande relevância científica ou de divulgação científica e de amplo interesse acadêmico e social. Este primeiro número do selo reúne textos de pesquisadores de todo o Brasil que, durante dois anos, realizaram estudos com o objetivo de produzir uma obra de síntese sobre a história da imprensa brasileira no século XIX a partir de uma perspectiva histórico-comunicacional. A criação da Rede de Pesquisa, com dezenas de pesquisadores de todas as regiões, permitiu que se condensasse alguns processos da construção das redes de comunicação dos impressos no século XIX, quando passaram a ser editado, de norte a sul do país. É um pouco deste movimento que explode no contexto da independência e ao longo do Primeiro Reinado que este livro, produto de uma rede integrada de pesquisa, procura mostrar.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de mai. de 2024
ISBN9786556234120
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    História da imprensa no Brasil do século XIX - Ana Paula Goulart Ribeiro

    capa do livrocapa do livrocapa do livro

    © EDIPUCRS 2024

    © EDITORA PUC-RIO 2024

    CAPA BIANCA STEQUES

    EDITORAÇÃO ELETRÔNICA CAMILA BORGES

    REVISÃO DE TEXTO GAIA REVISÃO TEXTUAL

    doi.org/10.15448/1703

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


    H673  História da imprensa no Brasil do século XIX [recurso eletrônico] /      

    Marialva Carlos Barbosa, Ana Paula Goulart Ribeiro, Antonio Carlos Hohlfeldt organizadores. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : ediPUCRS ; Rio de Janeiro : PUC-Rio, 2024. 1 Recurso on-line (551 p.). – (PUC+ ; 01)

    Modo de Acesso:  

    ISBN 978-65-5623-412-0

    1. Jornalismo – Brasil – História. 2. Imprensa – História. I. Barbosa, Marialva Carlos. II. Ribeiro, Ana Paula Goulart. III. Hohlfeldt, Antonio Carlos. IV. Série.

    CDD 23.ed. 070.40981


    Loiva Duarte Novak CRB10/2079

    Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.

    Todos os direitos desta edição estão reservados, inclusive o de reprodução total ou parcial, em qualquer meio, com base na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, Lei de Direitos Autorais.

    Logo-EDIPUCRScapa do livro

    Sumário

    NOTA DOS EDITORES - PUC+

    APRESENTAÇÃO - A imprensa do século XIX: um olhar histórico-comunicacional

    A imprensa em solo amazônico: momentos-chave da configuração dos impressos no Pará do século XIX

    Letras impressas, disputas e acomodações: a expansão da imprensa maranhense no século XIX

    O inimigo do império: O Amigo do Povo

    A imprensa especializada da Bahia no século XIX: para crianças, mulheres e espíritas

    Senhor Redator: imprensa e cultura política em Pernambuco da época da independência

    Diario de Pernambuco: de uma folha de anúncios ao jornal mais antigo em circulação na América Latina

    O Typhis Pernambucano e a Confederação do Equador

    Desejos de modernidade entre burburinhos da urbanização: a imprensa oitocentista em Minas Gerais

    Apontamentos para uma história da imprensa no Rio Grande do Sul do século XIX

    O pioneirismo do áulico O Catharinense e o longo hiato até o surgimento da primeira publicação satírica ilustrada de Santa Catarina

    A evolução do jornalismo em São Paulo no século XIX: reflexo do processo de desenvolvimento urbano, político e cultural

    Por uma história cultural da imprensa no Centro-Oeste brasileiro

    Tempos de independência: circuitos comunicacionais da imprensa no século XIX

    Sobre os autores

    capa do livro

    O selo PUC+ foi criado em parceria pelas editoras das universidades PUCRS e PUC-Rio com o objetivo de ampliar e qualificar a produção e circulação das obras científicas e de divulgação científica. Esse selo publica obras de diversas áreas do conhecimento, de autores nacionais e internacionais de reconhecida trajetória acadêmica, sobre temas e linhas de pesquisa de amplo interesse acadêmico e social.

    Com isso, o nosso propósito é consolidar o reconhecimento da qualidade acadêmica e de mercado das publicações realizadas pelas instituições signatárias desse selo PUC+.

    Luciano Aronne de Abreu

    Editor-Chefe, Editora da PUCRS

    Felipe Gomberg

    Diretor-Editorial, Editora PUC-Rio

    capa do livro

    A imprensa do século XIX: um olhar histórico-comunicacional

    doi.org/10.15448/1703.0

    ANA PAULA GOULART RIBEIRO

    MARIALVA BARBOSA

    Este capítulo tem como intenção apresentar e, ao mesmo tempo, refletir sobre questões centrais que atravessam todo o livro, cujo objetivo é a realização de uma história da imprensa brasileira no século XIX a partir da perspectiva histórico-comunicacional. Mas por que colocar em evidência um olhar que religa e relaciona a comunicação e a história? Não haveria já centenas de trabalhos que se ocuparam do século XIX e sua imprensa? O que estas reflexões aqui contidas diferem ou se aproximam das muitas interpretações já produzidas sobre a imprensa? E, sobretudo, o que estamos denominando um olhar histórico-comunicacional?

    Há muitas pesquisas dedicadas à imprensa no século XIX. Marco Morel (2005a) destaca a ampla e heterogênea produção de estudos ocorrida em cerca de um século e meio sobre história da imprensa brasileira sob diferentes perspectivas: pelo viés historicista, pelo socioeconômico, pela incorporação das abordagens culturalistas ou políticas.[ 1 ]

    Observa-se, inicialmente, uma espécie de febre dos inventários de periódicos. Estudos, ainda no século XIX, se restringiam a relacionar títulos, redatores e datas, tendo sido poucos os que avançaram em parcas contextualizações.[ 2 ] Nesse rol, podem ser alocadas também as pesquisas coordenadas por Alfredo de Carvalho que, em torno das comemorações do primeiro centenário da imprensa no Brasil, em 1908, realizou exaustivos, mas nas palavras de Morel (2005a), ainda incompletos, trabalhos enfocando alguns estados brasileiros.[ 3 ] Segue-se o livro de Barbosa Lima Sobrinho (1923), pioneiro pelo tom analítico e interpretativo e que aborda a modernização dos meios de comunicação impressos ao longo do século XIX.

    Marco Morel (2005a) detecta ainda um relativo abandono do tema da imprensa nos estudos históricos, no bojo de uma renovação que passa a privilegiar abordagens que enfatizam a perspectiva socioeconômica. Algumas análises dos anos 1960/70 se centram, sobretudo, no discurso ideológico dos periódicos, mas a imprensa enquanto objeto de estudo é relegada a uma condição subalterna em determinadas áreas da historiografia, movimento que duraria até os anos 1980.[ 4 ]

    Nesta cronologia, ocupa lugar importante a História da imprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré. Publicado pela primeira vez em 1966, pela Civilização Brasileira, o livro continua sendo texto de referência e consulta obrigatória para o estudo da temática (Ribeiro, 2015: 276). Considerando o seu lugar fundador nos estudos históricos sobre imprensa na área de comunicação, há que se destacar sempre o livro de Nelson Werneck Sodré como referência a tudo que veio a seguir. Mas apesar de sermos devedores do trabalho pioneiro do autor, há que se avançar teórica e metodologicamente os estudos históricos sobre a imprensa no Brasil. E foi esse o caminho adotado por muitos pesquisadores que passaram a inter-relacionar as pesquisas comunicacionais à história e que este livro, também, é um de seus produtos.

    Após o livro de Sodré, não podemos esquecer, surgiram outras obras que objetivam produzir sínteses históricas e diversos estudos que adotaram perspectivas inovadoras, de pesquisadores da comunicação e da história, ao se ocuparam das tramas históricas da imprensa no século XIX.[ 5 ] Mas, no texto em que faz a discussão teórica e metodológica sobre história da imprensa a partir da análise da obra de Nelson Werneck Sodré, Ribeiro (2015) coloca em evidência que, há pouco menos de uma década, ainda havia o predomínio das pesquisas monográficas e poucos trabalhos de síntese.

    Quando pensamos a formação de uma rede para produzir pesquisas sobre a imprensa do século XIX, queríamos, sobretudo, construir uma síntese histórica sob a égide de questões que privilegiassem o contexto comunicacional. Ao mesmo tempo, objetivamos deslocar o olhar interpretativo da capital imperial, o Rio de Janeiro, ainda privilegiado nas abordagens, para outros territórios culturais. Assim, embora haja pesquisas em profusão, sobretudo de caráter monográfico, há carência de obras de síntese, numa perspectiva de análise por vieses teóricos mais contemporâneos. Todos estes aspectos nos motivaram a formar a Rede de Pesquisas de História da Imprensa no século XIX.

    Sabíamos que, para investigar a imprensa do período, avançando análises a partir das especificidades de territórios culturais/políticos, numa perspectiva em que a imprensa fosse o ator principal de muitos cenários históricos, seria necessário o trabalho de muitos pesquisadores. A formação de redes de pesquisa em que os ecos das reflexões de territorialidades múltiplas e diversas fossem ouvidas e colocadas em relação foi, portanto, o caminho escolhido.

    Para isso, elegemos um coordenador por região – considerando a maneira como era geográfica e politicamente o Brasil dividido, isto é, o Oeste Marítimo, os Governos Gerais do Leste e os Governos do Interior. O Oeste Marítimo incluía o Grão-Pará, o Maranhão e as demais províncias do Norte. Já os Governos Gerais do Leste englobavam a Bahia e os governos secundários de Sergipe, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. E, finalmente, os Governos do Interior incluíam Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

    Dificuldades ao longo do caminho impediram que todas as províncias estivessem aqui representadas. Para um trabalho que se iniciou em 2018, muitos foram os esforços no sentido de englobar uma multiplicidade representativa de territórios. Entretanto, houve desistências, a maioria decorrente da falta de recursos para uma pesquisa desta natureza. Todos os pesquisadores, que são autores dos capítulos do livro, se voluntariaram para a sua realização, usando os seus próprios recursos para desenvolver as múltiplas atividades necessárias em pesquisas desta natureza.[ 6 ]

    Olhar histórico-comunicacional

    A história, no nosso entendimento, está permanentemente submetida aos processos de reinterpretação e reanálises, já que é preciso considerar o conhecimento sempre como provisório e dependente de questões que, sem cessar, se antepõem aos olhares dos pesquisadores. Estas novas questões promovem mudanças de rumos ou complementariedades interpretativas. Além disso, o avanço da pesquisa empírica é essencial para que novas fontes possam ser exploradas e para que fontes já conhecidas sejam escrutinadas e analisadas de forma detalhada, lançando novas luzes para processos que se pensava já conhecidos.

    Mesmo em relação a temáticas exaustivamente estudadas, como a imprensa no século XIX, sempre há muitas lacunas a serem preenchidas, como mostra cada capítulo deste livro. Talvez o maior problema seja exatamente os olhares que se lançam à imprensa considerando o que ocorria na corte como válido para todas as territorialidades existentes. Outra questão é a ausência de visadas sobre a dimensão histórico-comunicacional, como perspectiva teórica e metodológica.

    Neste olhar, as questões relativas aos processos e trânsitos comunicacionais são fundamentais para a compreensão de práticas que colocam em relevo a relação com a imprensa. Por outro lado, no contexto comunicacional ganha prevalência circuitos, trânsitos, trocas, sociabilidades que se adensam a partir da explosão da palavra impressa. Há que se perceber os periódicos como mediadores do campo político, mas também com os personagens que participavam ativamente de diversos movimentos culturais, aglutinando, divulgando, promovendo debates de ideias. Assim, a eclosão de brados, que migravam da oralidade em direção aos debates cruciais em torno das múltiplas dimensões políticas que emergem na cena pública e que passam a ser mediados também pelos impressos, faz com que estes ganhem diversos simbolismos.

    Por outro lado, colocando em perspectiva o histórico-comunicacional, pode-se visualizar trânsitos culturais existentes entre as diferentes regiões de um espaço em construção, possibilitado pela expansão de uma ordem impressa sob a forma de periódicos. São eles, portanto, mediadores e atores culturais privilegiados, a partir de novas formas de produção e circulação, permitindo trocas culturais de múltiplas ordens.

    Há, portanto, uma expansão exponencial de jornais, a partir da década de 1820, num movimento hegemônico dos grupos políticos que gravitavam em torno das ideias políticas que tomavam corpo e ganhavam densidade em diferentes momentos: da independência à renúncia do imperador, das revoltas do Período Regencial à antecipação da maioridade, do movimento abolicionista ao republicano. Entretanto, pode-se observar, pelas brechas, formulações variadas da palavra impressa que era, ao mesmo tempo, palavra entoada.

    A explosão dessa palavra em todo o território nacional, após 1822, permite ver aproximações entre os periódicos mais relevantes que circulavam, deixando à mostra estratégias de grupos que ascendiam (ou pretendiam ascender) ao poder, configurando-se mais uma vez a imprensa como dimensão essencial da atuação desses grupos. Há que compreender processos políticos, culturais e identitários a partir da ação desses mediadores privilegiados. Mas, nas brechas fundamentais que foram construídas também durante o século XIX, é possível ver diversos tipos de periódicos emergindo na cena cultural. Assim, grupos a princípio não hegemônicos, por meio de estratégias peculiares, conseguiam fazer circular novas ideias, instaurando trânsitos comunicacionais inesperados.

    A interpretação da imprensa no século XIX aqui proposta também objetiva fugir das reflexões que se fazem sem o cuidado de visualizar detidamente as fontes, os arquivos, os traços de vida que permaneceram durando em cada um desses impressos, impedindo a reprodução de falas cristalizadas em outras épocas. O acesso a acervos específicos permitiu outras interpretações lançadas em direção a um passado sempre complexo. Com um olhar cuidadoso, temos a pretensão de reinterpretar uma história que está sempre aberta a novas análises diante dos desafios teóricos que a pesquisa historiográfica sobre a imprensa, há algumas décadas, vem nos lançando.

    No livro, privilegia-se um olhar sobre os processos comunicacionais e, com ele, o que estamos denominando olhar histórico-comunicacional. Os capítulos mostram a explosão das reflexões que privilegiam dimensões ainda não reveladas. Essas pesquisas são oriundas, sobretudo, das pós-graduações em comunicação, que proliferaram pelo país a partir de 1990 e com mais intensidade na virada do século XX para o XXI. Assim, mais do que abordar a praga de periódicos do XIX, observa-se, aqui, uma salutar praga interpretativa sobre os caminhos históricos da imprensa brasileira.

    História de muitas faces

    Como resultado do trabalho de dezenas de pesquisadores da Rede de História da Imprensa no Brasil do século XIX surgiram, então, os estudos reunidos neste livro. O percurso começa com as análises do território conhecido no século XIX como Grão-Pará, em pesquisas coordenadas por Netília Seixas. O capítulo foi organizado a partir de momentos-chave da história da imprensa no Pará, como a implantação, a difusão para o interior, o surgimento dos diários e a instalação da litografia, e da história local e nacional, como a Independência do Brasil, o movimento da Cabanagem, a Questão Religiosa, a Abolição da Escravatura, a Proclamação da República e a economia da borracha. Para tratar cada momento, foi dividido em dois grandes períodos: a primeira metade do século XIX, das décadas de 1820 a 1850, e a segunda metade do século XIX, das décadas de 1860 a 1890.

    O segundo capítulo, Letras impressas, disputas e acomodações: a expansão da imprensa maranhense no século XIX, de autoria de Roseane Arcanjo Pinheiro e Thays Assunção Reis, realiza uma análise singular da imprensa naquele território a partir da publicação do pioneiro O Conciliador do Maranhão (1821-1823), se valendo também de cuidadosa revisão bibliográfica, para, na sequência, explorar a expansão de impressos nas diversas regiões maranhenses, em que se articulou às dinâmicas históricas, sociais e culturais as especificidades das lutas pelo poder. Apontar produtores, condições de produção, o discurso jornalístico, os leitores e a circulação, usando para isso uma leitura pelas brechas dos próprios impressos – os vestígios significantes, poderíamos dizer na esteira de Agnes Heller (1993) –, faz do texto exemplo das possibilidades que as abordagens de um olhar histórico-comunicacional possibilitam.

    O capítulo seguinte, que analisa os processos históricos da imprensa do que hoje é conhecido como estado do Piauí, de autoria de Ana Regina Rêgo, Ranielle Leal e Vinícius Ferreira, é resultado de um importante trabalho realizado no âmbito do Projeto Memória do Jornalismo Piauiense, do Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação (Nujoc) da Universidade Federal do Piauí.

    No "O inimigo do império: O Amigo do Povo", os autores apresentam não somente um personagem polêmico que atuava na imprensa e na política do Piauhy do Segundo Reinado, David Caldas, mas também potenciais libelos em favor do povo e contra o império de Pedro II, que localizam lendo atentamente os próprios jornais. A intencionalidade presente no texto, como remarcam, é, numa relação dialética com a memória revisitada (a partir, mais uma vez, de rastros e vestígios), destacar uma temporalidade do jornalismo e as dinâmicas de intencionalidade em relação ao público, também presentes nesses impressos.

    O capítulo que anuncia os territórios dos chamados Governos Gerais do Leste se inicia pelos movimentos pouco explorados de jornais de cunho instrutivo e pedagógico, destinados às crianças, aos jovens, às mulheres e aos espíritas, na então província da Bahia. O texto, de autoria de Hérica Lene, é denominado A imprensa ‘especializada’ da Bahia no século XIX: para crianças, mulheres e espíritas. Em que pese a licença poética de mencionar a especialização dos periódicos, um valor do jornalismo do século XX e que pode soar como anacronismo quando em referência ao século XIX, a autora a partir de exaustivo levantamento dos títulos preservados na Hemeroteca Digital Brasileira observa que houve, no período de 1810 a 1870, uma imprensa pungente em Salvador e em localidades importantes do Recôncavo destinada a outros públicos presumidos.

    Os estudos da imprensa pernambucana se desenvolvem em três capítulos. O primeiro, ‘Senhor Redator’: imprensa e cultura política em Pernambuco da época da independência, de Flavio José Gomes Cabral, coloca em relação os periódicos pernambucanos no ambiente do debate político da independência, mostrando como a imprensa exerceu papel fundamental na sedimentação dos valores da liberdade. Com importante embasamento do contexto histórico, em que as transformações de mundo (e daquele mundo) são cuidadosamente contextualizadas, destaca as articulações e, sobretudo, as batalhas verbais desenvolvidas nos periódicos, privilegiando os debates da independência, em Aurora Pernambucana, o Segarrega e o Relator Verdadeiro, e do Fico em O Maribondo e na Gazeta Pernambucana.

    O capítulo seguinte sobre o Diario de Pernambuco e seu percurso, que se inicia em 1825, procura evidenciar as transformações por que passou o jornal ao longo do século XIX. A minuciosa análise histórica, que Tércio de Lima Amaral reconta e remonta, destaca processos e práticas presentes no Diario e que se multiplicam em outros periódicos. As dificuldades de se imprimir jornais, em função também de ações contra a liberdade de expressão e sanções de muitas naturezas e, que no caso do Diario de Pernambuco foram determinantes para que passasse a privilegiar os anúncios em suas páginas, é analisada pelo autor, ao mesmo tempo em que procura destacar a ação do jornal na consolidação da cultura impressa em Pernambuco.

    Os estudos da imprensa da província de Pernambuco, no século XIX, terminam com o texto de Aline Maria Grego Lins sobre "O Typhis Pernambucano e a Confederação do Equador". A análise centra-se no periódico criado por frei Caneca e que teve importante papel na defesa da Confederação do Equador. Ainda que faça das páginas do periódico – a autora teve acesso a toda coleção fechada literalmente a sete chaves no Arquivo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) – a fonte privilegiada da sua análise, vai muito além das textualidades ali tornadas memórias do tempo. A autora busca compreender o surgimento e o fim do Typhis, o papel por ele desempenhado naquele contexto histórico, no qual foi ferramenta política imprescindível à divulgação de ideias. Articulando tempo e memória, observa as especificidades do território, inserindo o periódico como fundamental para a construção de uma arena política. Sem dúvida, a história da independência deve ser contada na confluência com uma história do jornalismo brasileiro, em que as páginas dos periódicos se transformavam em laboratórios da expressão discursiva de uma ordem política complexa, na qual o valor da opinião vai também configurando o próprio formato do jornalismo brasileiro numa longa duração histórica.

    Desejos de modernidade entre burburinhos da urbanização: a imprensa oitocentista em Minas Gerais é resultado da complexa e inovadora pesquisa produzida sob a liderança de sete pesquisadores de universidades de Minas Gerais. Procuram, num duplo gesto, reinterpretar um suposto atraso na produção de jornais locais, no século XIX, e colocar em referência a emergência da circulação de periódicos e os processos de urbanização das diversas regiões da província. Assim, como afirmam os autores, tensionam uma suposta homogeneidade identitária, como se houvesse a imprensa das Minas Gerais, como um todo. Exploram, portanto, outros estratos temporais que emergem desta singular história que situam entre silêncios e burburinhos. Silêncios que certamente devem considerar não o atraso de circulação periódica nas Minas, mas as múltiplas transformações que as variadas Minas produziram e que fizerem emergir, na sequência, os burburinhos colocados em cena pelos periódicos criados. Propondo uma contextualização a partir das realidades locais com suas especificidades, delineiam as imprensas de diversas regiões de Minas Gerais, com destaque para o Triângulo Mineiro, Juiz de Fora e a nova capital, Belo Horizonte, já nos estertores do século XIX. O desafio do capítulo é desconstruir a ideia prefigurada de um jornalismo ou uma imprensa mineira, coesa e delimitada, fazendo o esforço de perceber cada produto/território, com suas especificidades, e a construção de diversidades. Como bem remarcam os autores na conclusão, numa alusão à expressão de Roger Chartier (2007), trata-se de inscrever e apagar, movimento que é perseguido também nos capítulos do livro na desconstrução/construção de uma história da imprensa sob a égide de um olhar histórico-comunicacional.

    Na sequência, São Paulo aparece na cena interpretativa. A partir do estudo de três grandes grupos de impressos, o capítulo produz um panorama da imprensa paulista no século XIX, observando como momento inicial o jornal manuscrito O Paulista – lançado por Antônio Mariano de Azevedo Marques, em 1823 – e como término a mudança de nome d’A Província de São Paulo para O Estado de S. Paulo. Considera ainda a ação jornalística dos dirigentes das publicações, não apenas como eivada de intencionalidades políticas, mas como início de uma expressão empresarial, sintonizada com o espírito de modernidade que marcará o discurso e a ação da elite paulistana a partir dos anos 1920. O capítulo destaca alguns periódicos do século XIX que tiveram existência mais longa e significativa atuação política e ideológica, com sede na capital e no interior e abarcando diferentes períodos políticos, como Farol Paulistano (1827-1831), Correio Paulistano (1831-1832, 1850-1890), A Província de São Paulo (1875-1890) e A Gazeta de Campinas (1869-1870).

    A última fronteira dos chamados Governos Gerais do Leste, que englobavam os governos secundários de então, é a província de São Pedro do Rio Grande do Sul. O primeiro jornal ali a circular, em 1827, o Diário de Porto Alegre, pode ser incluído no processo de explosão da palavra impressa que atinge, com maior ou menor intensidade, todo o território brasileiro. O objetivo do capítulo, que reúne as pesquisas do grupo do Rio Grande do Sul, coordenado por Aline Strelow, é percorrer alguns movimentos dos 70 anos da história da imprensa na província no século XIX. Das primeiras folhas noticiosas aos jornais revolucionários; da expressividade específica dos jornais literários à emergência do gênero crônica e, sobretudo, dos primeiros cronistas; da imprensa das escritoras jornalistas à imprensa negra, representada pelo jornal O Exemplo, criado em 1892; o capítulo se encaminha para o momento final, com o surgimento do Correio do Povo na virada para o século XX. São, portanto, múltiplos os meandros interpretativos, alguns deles desconhecidos da maioria dos pesquisadores da história da imprensa brasileira, oferecidos no capítulo denominado Apontamentos para uma história da imprensa no Rio Grande do Sul do século XIX.

    Da territorialidade proposta como diretriz organizativa do livro emerge a província de Santa Catarina, mostrando os movimentos de lentidão que marcaram naquele território a emergência de periódicos. Do primeiro jornal, O Catharinense, lançado em 1831, na capital Nossa Senhora do Desterro – a atual Florianópolis – à primeira publicação periódica do interior, o Kolonie-Zeitung, em Joinville, que circulou experimentalmente em 20 de dezembro de 1862, transcorreram 31 anos. Mauro César Silveira mostra também o hiato temporal em relação ao aparecimento dos primeiros periódicos satírico ilustrados, na década de 1880. O foco do capítulo é analisar o pioneiro jornal (O Catharinense), considerando o contexto histórico e examinando as relações que esse periódico e seu editor estabeleceram com o poder político e econômico. Ao mesmo tempo, apresenta, ainda que de forma breve, a imprensa ilustrada catarinense, com O Moleque e, logo em seguida, a Matraca.

    A visão histórica sobre a imprensa do século XIX em múltiplos territórios é concluída no penúltimo capítulo do livro, denominado Por uma história cultural da imprensa no Centro-Oeste brasileiro, de Rosana Borges, Mario Luiz Fernandes e Wéber Félix de Oliveira. O título, mais do que mera provocação, tem um fundamento: apontar que, passados quase 200 anos da circulação do primeiro impresso no Centro-Oeste, ainda hoje não foi feita uma análise histórica sobre a imprensa da região, nem uma síntese descritiva e nem, num movimento mais complexo, uma reflexão que avance na direção interpretativa da explicação e/ou análise. Assim, o texto tece considerações iniciais acerca de uma história, que adota a perspectiva teórico-metodológica da história cultural, privilegiando um pedaço do dilatado sertão brasileiro. O estudo foi estruturado pelo Grupo de Pesquisa História da Comunicação em Goiás, do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás e pelo Grupo de Pesquisa Mídia, Identidade e Regionalidade, vinculado ao Programa análogo da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

    Na análise detalhada e com interpretações inovadoras da imprensa do chamado dilatado sertão brasileiro no século XIX, os autores percorrem muitos meandros. Entretanto, uma imagem reproduzida no capítulo mostrando mulheres tipógrafas trabalhando na oficina de composição da Typographia Perseverança talvez sirva para sintetizar o que os autores advogam quando afirmam estar construindo uma história cultural da imprensa.

    A foto, recuperada num acervo da cidade de Goiás, mostra mais do que cinco mulheres que, momentaneamente, se distraem do ofício de composição para olhar para o fotógrafo que faz o click, imortalizando o momento. Saindo por detrás das cortinas, o dono da Typographia faz o gesto de entregar a elas as tiras escritas que deveriam transformar em letras para a impressão. Presume-se que eram jovens. A natureza do trabalho, afinal mexer com tipos e tintas suja invariavelmente as roupas, demanda o uso do avental sobre os vestidos compridos e a manga longa cobrindo inteiramente os corpos. Com elas estão os apetrechos necessários a uma tipografia do interior dos interiores, além das caixas onde as letras seriam adicionadas uma a uma. Tudo está lá na imagem. Mas o revelado do olhar histórico-comunicacional permite ver também mulheres tipógrafas a quem era indispensável possuir o domínio da leitura e da escrita, desmontando interpretações para um grupo que sempre é colocado aprioristicamente no lugar dos não alfabetizados. As imagens das mulheres tipógrafas mostram ainda que nem todas eram brancas: duas das que aparecem no registro, que imortaliza e para o tempo, são nitidamente negras. Mulheres tipógrafas negras lendo, escrevendo, produzindo jornais, são muitas as possibilidades que podem ser completadas pela imaginação histórica dos que produzem interpretações ao lançar olhares improváveis em relação aos tempos idos.

    O livro termina com o capítulo denominado Tempos de independência: circuitos comunicacionais da imprensa no século XIX, de Marialva Barbosa, que também fornece importantes pistas para abordagens que priorizam o que estamos denominando olhar histórico-comunicacional. Seguindo rastros e restos, que, sempre pelas tramas do acaso, vai de encontro ao olhar do pesquisador, com os quais se deparam todos aqueles que voltam sua atenção para um tempo denominado passado, procura-se nesses vestígios as significações que são montadas, tal como um quebra-cabeça, pelos pesquisadores. Assim, o objetivo é revelar complexos circuitos da imprensa que circulavam da corte para as diversas províncias, mas também que das províncias chegavam ao Rio de Janeiro. Havia trânsitos em fluxos e contrafluxos das letras impressas, das opiniões, dos embates, dos insultos, das informações, dos esclarecimentos, numa gama interminável de possibilidade das palavras impressas e tornadas públicas por aqueles dias.

    Mas como significar este tempo e estes circuitos? Seguindo, mais uma vez, pistas, pegadas quase encobertas e que também figuram nos próprios periódicos como marcas duradouras de um tempo que passando, não passa nunca.

    Assim, o tempo que se levava para levar cartas e jornais do Rio de Janeiro para a então mais importante cidade das Minas, Ouro Preto, é remontado a partir dos indícios que figuram nas narrativas dos jornais. O mesmo ocorre com a forma como se informava a chegada dos periódicos àquelas cidades. Sinais sonoros, dos foguetes que anunciavam sempre algo da ordem do extraordinário, eram emitidos todas as vezes em que o correio postal chegava.

    A forma de se perceber a duração, a lenta, mas também a emergente construção de um tempo acelerado, presente nos periódicos, se insurge nas narrativas em brechas. Sobre um passado duradouro há sempre a possibilidade de estabelecer outros nexos interpretativos, ouvir outras vozes, nesta longa e paciente conversa com homens de outrora.

    O livro foi, assim, tecido, lenta e criteriosamente. Um caminho que envolveu inúmeros pesquisadores que compreenderam que olhar o passado desde o presente é estabelecer uma trama temporal do próprio sentido e percepção de que houve um passado, há um presente e sempre haverá futuros possíveis. Uma trama que é comunicacional em essência. São os vínculos, as figurações imaginativas, os diálogos duradouros, o olhar que procura vestígios e indícios em modos operandi comunicacionais que permitem acessar e interpretar movimentos humanos tão distantes. Um olhar histórico-comunicacional nada mais faz do que reconhecer o comunicacional humano como essência da história.

    Referências

    BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica: história da imprensa brasileira. São Paulo: Ática, 1990.

    BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa – Brasil (1800-1900). Rio de Janeiro: MauadX, 2010.

    ______. História cultural da imprensa – Brasil (1900-2000). Rio de Janeiro: MauadX, 2007.

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    Notas


    [ 1 ] Disponível em: https://www.historia.uff.br/ceo-nupehc/arquivos/2015/01/artigo_marco_morel.pdf.

    [ 2 ] Entre os trabalhos que adotam este tipo de abordagem ainda no século XIX, Marco Morel (2005a: 20) cita: PINHEIRO, J. C. Fernandes. A imprensa no Brazil. Revista Popular, Rio de Janeiro, 20 nov. 1859; MORAES, A. J. de Mello. Jornais que se tem publicado no Brasil desde o dia 10 de setembro de 1808 até 20 de outubro de 1862. Corografia Histórica, Cronografia, Genealógica, Nobiliária e Política do Império, Rio de Janeiro: Typographia Brasileira, t. I, 2ª parte, 1863, p. 123; AZEVEDO, Moreira de. Origem e desenvolvimento da imprensa no Rio de Janeiro. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, t. XXVIII, p. II, 4º trimestre, p. 169-224, 1865.

    [ 3 ] CARVALHO, Alfredo de. Primeiro centenário da imprensa periódica no Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. I, 1ª parte, 1908.

    [ 4 ] Como exemplo das abordagens que privilegiam a discursividade, temos os estudos de Arnaldo Contier (1979) sobre o discurso ideológico dos periódicos paulistas nos anos 1820-1840. No período anterior aos anos 1980, há que se apontar entre os importantes trabalhos sobre a imprensa do século XIX o livro de Hélio Vianna (1945); e a obra de Carlos Rizzini (1946), voltada para o início da imprensa no Brasil (periódicos, livros e tipografias). Há que se referir também aos trabalhos de Marcello de Ipanema (1949) e Cybelle de Ipanema, em coautoria com Marcello de Ipanema (1984 e 2007), enfocando legislação, tipografias e censuras com base em importante pesquisa empírica e sistematização de dados.

    [ 5 ] Como obras de síntese sobre a história da imprensa no Brasil, após a publicação do livro de Sodré, podemos citar, o livro de Juarez Bahia, de 1990; os livros de Romancini e Lago (2007); a coletânea organizada por Martins e Luca (2008); os livros de Barbosa (2007 e 2010). Sob pena de esquecer muitos, no que diz respeito às pesquisas mais contemporâneas, especificamente sobre o século XIX, podemos citar os estudos de Marco Morel (2005a e 2005b) e Isabel Lustosa (2000); as reflexões de Marcello Basile (2008); os estudos sob circulação de ideias na América portuguesa, de Luís Carlos Villalta (2005); os de Lucia Neves (1999 e 2003), que analisam o debate político e os folhetos impressos que surgiram no Rio de Janeiro entre 1820-1822, pela ótica da emergência de uma cultura política; e, mais recentemente, de Luís Francisco Munaro (2018), entre outros. Para referências completas, ver final do capítulo.

    [ 6 ] Agradecemos a todos os autores dos capítulos e, sobretudo, aos coordenadores regionais: Netília Seixas, Pará; Roseane Pinheiro, Maranhão; e Ana Regina Rêgo, Piauí (Oeste-Marítimo); Hérica Lene, Bahia; Aline Grego, Pernambuco; Gisely Hime, São Paulo; Mauro César Silveira, Santa Catarina; e Aline Strelow, Rio Grande do Sul (Leste); Phellipy Jacome, Minas Gerais; e Rosane Borges, Goiás e Mato Grosso (Governos do Interior). No que diz respeito especificamente ao Rio de Janeiro, a rede recebeu apoio através do edital APQ3 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), a quem também agradecemos.

    A imprensa em solo amazônico: momentos-chave da configuração dos impressos no Pará do século XIX

    doi.org/10.15448/1703.1

    Netília Silva dos Anjos Seixas

    Leonardo Santana dos Santos Rodrigues

    Jessé Andrade Santa Brígida

    Este capítulo se propõe a abordar a imprensa no Pará no século XIX, enfocando pontos considerados como principais na sua configuração, seja a partir da própria imprensa, seja a partir do contexto político, social e histórico regional. Como se trata de um objeto complexo, com um escopo amplo de investigação, temático e temporal, a proposta é compor um panorama a respeito da imprensa paraense no século XIX, observando como se articulou com o cenário político e intelectual da época.

    Para isso, o estudo se apoia em análise documental, empreendida nos acervos públicos da Biblioteca Pública Arthur Vianna (ligada à Fundação Cultural do Pará), do Museu da Universidade Federal do Pará, da Biblioteca Nacional e da Biblioteca Pública do Amazonas e acervos privados do Grêmio Literário Português de Belém e do Instituto Cultural Boanerges Sena, em Santarém-Pará, além da consulta a catálogos sobre a imprensa, particularmente o Catálogo Jornais Paraoaras, e a obras de autores da época, o que se configura também como pesquisa bibliográfica. Buscamos extrair dois dados principais: um levantamento da produção de periódicos, indicativo a respeito da atividade da imprensa no século XIX, e um levantamento de obras bibliográficas raras e atuais que ajudem a compor informações e análises a respeito da imprensa paraense.

    O capítulo foi organizado a partir de momentos-chave da história da imprensa no Pará, como a implantação inicial, a difusão para o interior, o surgimento dos diários e a instalação da litografia, e também da história local e nacional, como a Independência do Brasil, o movimento da Cabanagem, a Questão Religiosa, a Abolição da Escravatura, a Proclamação da República e a economia da borracha. Para tratar cada momento, o capítulo foi dividido em dois grandes períodos: a primeira metade do século XIX, das décadas de 1820 a 1850, e a segunda metade do século XIX, das décadas de 1860 a 1890.

    A divisão do capítulo leva em conta que os dois períodos apresentam particularidades tanto com relação às atividades da imprensa quanto aos processos históricos. As décadas de 1820 a 1850 compreendem a fase inicial de implantação da imprensa: inicia com a publicação do pioneiro O Paraense e os primeiros periódicos, passando à publicação dos diários, sendo o primeiro deles o Diario do Gram-Pará (1853-1892). O contexto vai da ligação próxima das elites da província com a metrópole portuguesa ao momento turbulento das revoltas cabanas (1835-1840), da reestruturação da localidade e da divisão da província, em meados do século XIX. Já as décadas de 1860 a 1890 compreendem uma fase de consolidação da imprensa, sendo observado um volume maior de publicações – entre as quais o Diário de Belém (1868-1892) e O Liberal do Pará (1869-1889) – e a criação de jornais de feição mais empresarial, como A Província do Pará (1876-2002) e a Folha do Norte (1896-1974).

    A imprensa em quatro décadas dos oitocentos (1820-1850)

    No início do século XIX, a província do Grão-Pará compreendia, em território, ao que corresponde hoje à Amazônia, não incluindo o Acre. Belém era a capital e principal cidade, e Manaus tornou-se sede da capitania de São José do Rio Negro. Mario Barata (1973) destaca que, na época, Belém mantinha ligações com Lisboa por interesses comerciais e de famílias e por facilidades de navegação, havendo dificuldade de contato por mar e por terra com o Maranhão e mais ainda com o Rio de Janeiro. Mas o autor observa também que a elite local já possuía um desenvolvimento cultural que não a isolava do mundo e das correntes de pensamento que se expandiam notavelmente, com as revoluções norte-americana e francesa e jornais e pessoas chegavam de fora com notícias e com ideias (Barata, 1973: 19).

    O movimento de pessoas, ideias e notícias é comentado por Barbosa (2013), a propósito do estabelecimento dos jornais em solo brasileiro. Até onde terá sido similar, o que ocorreu em áreas amazônicas, considerando o imenso espaço geográfico, com pouco povoamento no interior, e uma expressiva parcela da população que não falava a língua portuguesa, usada na maior parte das publicações, além das questões técnicas relativas ao uso de uma tipografia? Mesmo diante desse contexto, o jornal criado em 1822 seria o quinto do Brasil, antes mesmo de outras localidades mais centrais (Figura 1).

    C:\Users\Alacy\Documents\1-Arquivos Léo\Documents\2 - Minhas produções\Em andamento\Artigo Marialva Barbosa\Imagens\Mapa Gram-Pará.jpg

    Figura 1 – Mapa da Província do Grão-Pará, 1850

    Fonte: Villiers de L’ile-Adam (1850), disponível na Biblioteca Nacional.

    Março, mês de mudanças pontuais no cenário da cidade de Belém. É o momento em que as águas da baía do Guajará invadem o centro comercial da capital do Pará. São as águas grandes, como é popularmente conhecido o fenômeno. Talvez esse seja o cenário atual que mais possa remeter a uma Belém sem a urbanização que conhecemos na atualidade, onde as pessoas conviviam mais de perto com as águas dos rios, igarapés e igapós que dominavam o cenário urbano em meados dos séculos XVIII e XIX (Almeida, 2011).

    Almeida (2011) comenta a passagem de Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1784) pela cidade no final do século XVIII, quando descreveu um ambiente dividido em dois: o primeiro era o bairro da Campina, com ruas mais largas e aterradas, onde a água não dominava tanto; a outra parte era a porção que ele denominou de Cidade, com ruas estreitas e planas, ainda não calçadas e onde predominavam pontos de alagamento, o que o viajante afirmou ser semelhante a um pantanal. Os rios e igarapés que formavam a paisagem urbana da cidade foram importantes na virada do século XVIII para o XIX, pois contribuíram de forma significativa para a economia da região, haja vista que Belém era um importante ponto de comércio, tendo em seus portos o espaço de entrada e saída de pessoas e mercadorias (Ponte, 2015; Loureiro, 1989), o que também possibilitou o espraiamento, na segunda metade do XIX, da imprensa pelo território das províncias do Pará e do Amazonas.

    A província paraense possuía uma significativa população de portugueses no comércio local, estava distante do poder central do Rio de Janeiro, com governantes costumeiramente nomeados de fora, alheios à realidade local. O desenvolvimento da imprensa se deu nesse cenário. Segundo pesquisas de Fernanda Martins, Edna Lima e Guilherme Lima (2018), a invenção da primeira tipografia em solo paraense ocorreu em 28 de maio de 1821, por João Francisco Madureira (Figura 2).

    Texto Descrição gerada automaticamente

    Figura 2 – Capa e última página do primeiro impresso da tipografia de João Francisco Madureira

    Fonte: Martins; Lima, E. C.; Lima, G. C. (2018).

    Entretanto, a impressão de jornais só ocorreu com a chegada da tipografia trazida de Portugal por Filippe Alberto Patroni Martins Maciel Parente, Domingos Simões da Cunha, José Baptista da Silva e Garção de Melo (Coelho, 1993), que fundaram o primeiro

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