Dimensões do Político: temas e abordagens para pensar a História Política
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Dimensões do Político - Amanda Chiamenti Both
CONSELHO EDITORIAL DA SÉRIE HISTÓRIA
Antonio de Ruggiero (Editor), Alberto Barausse, Angela de Castro Gomes, António Costa Pinto, Claudia Musa Fay, Daniel Aarão Reis Filho, Fulvia Zega, Maria Izilda Santos de Matos, Roberto Sani, Walter Zidarič.
CONSELHO EDITORIAL EDIPUCRS
Chanceler Dom Jaime Spengler
Reitor Evilázio Teixeira | Vice-Reitor Manuir José Mentges
Luciano Aronne de Abreu (Editor-Chefe e Presidente), Adelar Fochezatto, Antonio Carlos Hohlfeldt, Antonio de Ruggiero, Cláudia Musa Fay, Helder Gordim da Silveira, Lívia Haygert Pithan, Lucia Maria Martins Giraffa, Maria Martha Campos, Norman Roland Madarasz, Walter F. de Azevedo Jr.
MEMBROS INTERNACIONAIS
Fulvia Zega - Universidade de Gênova, Jaime Sánchez - Universidad de Chile, Moisés Martins - Universidade do Minho, Nicole Stefane Edwards - University Queensland, Sebastien Talbot - Universidade de Montréal.
Conforme a Política Editorial vigente, todos os livros publicados pela editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EDIPUCRS) passam por avaliação de pares e aprovação do Conselho Editorial.
Amanda Chiamenti Both
Organizadora
DIMENSÕES DO POLÍTICO:
TEMAS E ABORDAGENS PARA PENSAR A HISTÓRIA POLÍTICA
Série História | 97
logoEdipucrsPorto Alegre, 2023
© EDIPUCRS 2023
CAPA BIANCA STEQUES
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA CAMILA BORGES
REVISÃO DE TEXTO TEXTO CERTO
Edição revisada segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D582 Dimensões do político [recurso eletrônico] : temas e abordagens
para pensar a história política / Amanda Chiamenti Both
organizadora. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre :
ediPUCRS, 2023.
1 Recurso on-line (138 p). – (História ; 97)
Modo de Acesso:
ISBN 978-65-5623-357-4
1. História política. 2. Políticos. 3. História. 4. Política.
I. Both, Amanda Chiamenti. II. Série.
CDD 23. edição 320.9
Ana Paula Magnus CRB-10/2052
Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.
Todos os direitos desta edição estão reservados, inclusive o de reprodução total ou parcial, em qualquer meio, com base na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, Lei de Direitos Autorais.
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Sumário
APRESENTAÇÃO
MAUBERISMO: TEXTO E REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DO CONCEITO DE MAUBERE
Bianca Obetine Magnus
1 INTRODUÇÃO
2 ORIGEM DO MAUBERISMO
3 MAUBERISMO COMO CONCEITO NO TEMPO HISTÓRICO
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O GOVERNO PERUANO NA DÉCADA DE 1990: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA POLÍTICO DE ALBERTO FUJIMORI
Claudia Vargas Machado
1 UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO PAÍS
2 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DO FUJIMORISMO
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O SERTÃO DE WILLY AURELI: CONSONÂNCIAS E INDIVIDUALIDADES
Leonardo Birnfeld Kurtz
1 INTRODUÇÃO
2 WILLY AURELI E A BANDEIRA PIRATININGA
3 UMA BREVE GENEALOGIA DO CONCEITO
4 O SERTÃO DE AURELI E SEUS COMPONENTES
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A MULTIPLICIDADE DE LINGUAGENS EM UM DISCURSO SOBRE A ESCRAVIDÃO: JOSÉ BONIFÁCIO SOB O OLHAR DE JOHN POCOCK
Alan Ricardo Schimidt Pereira
1 INTRODUÇÃO
2 ANDRADA SOB POCOCK: UMA ANÁLISE POSSÍVEL DAS CAMADAS LINGUÍSTICAS PRESENTES NA REPRESENTAÇÃO SOBRE A ESCRAVIDÃO
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
LIBERALISMO: UMA ANÁLISE HISTÓRICA E CONCEITUAL
Daniel Waisman Igor
REFERÊNCIAS
ANGELA MARIA: A CANTORA QUE RECEPCIONA E SE APRESENTA PARA OS PRESIDENTES
Raimundo Cézar Vaz Neto
1 INTRODUÇÃO
2 O RÁDIO BRASILEIRO, SUA FORMAÇÃO E AS ENGRENAGENS POLÍTICAS
3 OS INTERESSES ENTRE O RÁDIO E O SURGIMENTO DA TV BRASILEIRA: A ARTISTA ANGELA MARIA E OS PRESIDENTES GETÚLIO VARGAS E JUSCELINO KUBISTCHECK
4 O DECLÍNIO DA RÁDIO NACIONAL
5 CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
SOBRE OS AUTORES
APRESENTAÇÃO
Os historiadores e as historiadoras estão, constantemente, refletindo sobre o seu ofício. Entre essas reflexões, está a discussão acerca de quais devem ser os objetos e os métodos da História, constante na historiografia. Foi no bojo desses questionamentos que, no início do século XX, o movimento historiográfico francês da Escola dos Annales, vinculado à revista Annales d’histoire économique et sociale, passou a criticar, severamente, as formas de escrever a História empregadas até então.
Alvo principal dessas críticas foi a história rankeana, influenciada por Leopold von Ranke, a qual se dedicava aos grandes personagens e aos fatos políticos, que deveriam ser narrados de forma objetiva e neutra, pois apenas assim a verdade seria alcançada. Para tanto, privilegiava-se o uso de documentos oficiais emanados do governo e preservados em arquivos
(BURKE, 1992, p. 13).
A crítica à história tradicional, como ficou conhecida a história rankeana (BURKE, 1992), não partiu apenas da Escola dos Annales, embora essa tenha sido a de maior projeção (FERTIG; BOTH, 2016). De todo modo, é a partir do início do século XX que a história política passa a ser identificada como tradicional e, no limite, ultrapassada, ficando às margens da produção historiográfica.
A partir de fins da década de 1960, a política voltou a estar na ordem do dia, principalmente em decorrência da eclosão de novos movimentos, como o Maio de 1968, na França. Diante disso, os historiadores voltaram-se, novamente, para a história política, buscando analisá-la sob novos prismas. O ponto central, destacou Jacques Julliard (1976), era não confundir a crítica aos métodos empregados pelos historiadores do político com o objeto da história política.
É, portanto, uma característica da história política renovada a dilatação das fronteiras daquilo que é compreendido como político, bem como a pluralidade de métodos dos quais o historiador do político pode lançar mão ao se debruçar sobre seus objetos. Parte crucial dessa renovação reside na mudança conceitual do que é poder. O poder não se manifesta apenas no Estado e na política institucional (JULLIARD, 1976). António Hespanha (1996) pondera que, apesar de a crise do ideal de Estado proposto pelo liberalismo produzir a sensação de desintegração da organização social, por trás da frustração
com um ideal, a sociedade continua organizada em outros vínculos que não aqueles diretamente ligados ao Estado. Esses vínculos, baseados nos "sentimientos (la moral), el sentido común, las rutinas, la organización del trabajo, la familia, los círculos de amigos, não operam da mesma maneira que a grande política, a política de estado, mas são igualmente políticos, porque permeados por relações de poder (HESPANHA, 1996, p. 12). Ao fim,
se hace política tanto como se respira" (HESPANHA, 1996, p. 12).
O movimento em direção a uma nova história política já está, hoje, bastante maduro e foi amplamente incorporado ao repertório dos historiadores e das historiadoras. Contudo, o fazer-se da pesquisa histórica coloca-nos reiteradamente diante de questões medulares: se o político está presente em tantos aspectos da sociedade, como estudá-lo?
É nessa perspectiva que se situa a contribuição das pesquisas que serão apresentadas neste livro. Ao abranger diferentes dimensões do político, analisadas por diferentes metodologias, esta obra visa encorajar o leitor a refletir sobre a crucial relevância dos estudos sobre história política para a compreensão das sociedades.
No primeiro capítulo, intitulado Mauberismo: texto e reflexões sobre a história do conceito de Maubere, Bianca Megnus, à luz dos preceitos elaborados por Reinhart Koselleck, analisa de que maneira a formulação do conceito de mauberismo foi fundamental na mobilização das lutas pelo processo de independência do Timor-Leste. Dessa forma, a autora demonstra como momentos de tensão política suscitam a construção de conceitos que comportem a elaboração de rompimento com o passado e as expectativas de futuro em jogo.
Em O governo peruano na década de 1990: uma análise do programa político de Alberto Fujimori, Claudia Machado se dedica à compreensão da maneira pela qual os conceitos são capazes de mobilizar a criação de programas políticos e incitar embates entre grupos que se orientam por diferentes conceitos e discursos. Dessa forma, Machado demonstra como as representações do político modificam a ação ao mesmo tempo que são modificadas por ela.
Leonardo Kurtz, no capítulo O sertão de Willy Aureli: consonâncias e individualidades, realiza um estudo do conceito de sertão na produção textual de Willy Aureli, um jornalista, escritor, biólogo autodidata e aventureiro
que realizou expedições pelo Brasil. Por meio da pesquisa em diferentes fontes, Kurtz demonstra os elementos que constituem o conceito de sertão para Aureli, relacionando-os com o contexto no qual o jornalista escreve, a fim de identificar aspectos já presentes no entendimento de sertão corrente na época, bem como originalidades nas formulações de Aureli. Além disso, o autor atenta para a forma como o conceito é mobilizado politicamente, no âmbito institucional e fora dele, uma vez que contribuiu para a construção do entendimento do que é o sertão e como ele se articula ao território e à nação.
Alan Pereira realiza uma análise das linguagens presentes no Brasil recém-emancipado acerca da escravidão a partir de um discurso de José Bonifácio de Andrade e Silva. Assim, no capítulo A multiplicidade de linguagens em um discurso sobre a escravidão: José Bonifácio sob o olhar de John Pocock, o autor esmiuça o discurso de Bonifácio, cotejando-o com outros textos
da época, buscando compreender as camadas que compunham o idioma antiescravista que se constituiu na linguagem política da época.
Em Liberalismo: uma análise histórica e conceitual, Daniel Igor busca compreender a trajetória desse conceito, ao qual são atribuídos significados distintos de acordo com o contexto político e geográfico em que ele é empregado. Dessa forma, o autor elucida como a complexidade do conceito está diretamente relacionada às mudanças nas concepções políticas e sociais, uma vez que os conceitos acerca do político e o contexto político influenciam-se mutuamente.
Raimundo Neto encerra a obra com o capítulo Angela Maria: a cantora que recepciona e se apresenta para os presidentes, no qual investiga a aproximação da artista com importantes líderes políticos, a fim de compreender de que maneira os meios de comunicação, notadamente o rádio e televisão, foram utilizados politicamente, ao mesmo tempo que se beneficiavam dessa aproximação com a política, no período entre 1951 e 1964. Por intermédio do entrelaçamento desses dois ambientes, Neto demonstra que mesmo a política institucional não é feita apenas nos espaços públicos, tampouco encontra-se separada dos demais ambientes sociais.
Amanda Chiamenti Both
Organizadora
REFERÊNCIAS
BURKE, P. A escrita da história. São Paulo: UNESP, 1992.
FERTIG, A. A.; BOTH, A. História política: algumas reflexões teóricas. In: SOARES, F. A. A.; SILVA, R. O. (Org.). Diálogos: estudos sobre teoria da história e historiografia. Curitiba: Prismas, 2016. v. 1. p. 98-130.
HESPANHA, A. M. Uma nueva historia política e institucional. Revista Mexicana de Ciencias Políticas y Sociales, v. 41, n. 166, p. 9-45, 1996.
JULLIARD, J. A política. In: LE GOFF, J.; NORA, P. História: novas abordagens. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. p. 180-196.
MAUBERISMO: TEXTO E REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DO CONCEITO DE MAUBERE
Bianca Obetine Magnus
1 INTRODUÇÃO
Buscando ampliar a discussão sobre o político, não apenas nas suas diferentes dimensões, mas também ampliando fronteiras terrestres, desloco o meu olhar para um território específico no Sudeste Asiático, o Timor-Leste, tendo como objetivo analisar a mobilização de um conceito singular pelo político timorense no contexto de descolonização. Tal conceito é utilizado para fortalecer um movimento político que lutava pela independência do território e, dessa forma, se torna um elemento central para compreensão do político, sendo utilizado como