A Pergunta De Tales

De Carlos Roberto Teixeira Alves

Nietzsche em A Filosofia na Época trágica dos Gregos fala assim: A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas . A certidão de nascimento da Filosofia é a ‘água’ de Tales de Mileto. Sua pergunta, ‘do que matéria dos seres é feita?’, até hoje está sem resposta, o que mais ainda dignifica a proposta de Tales. Esse sábio - uma dos Sete Sábios da Grécia - inaugurou com sua reflexão um modo novo de pensar no mundo ocidental, inaugurou a Filosofia e por isso cabe estudar o que nos restou dos fragmentos de seu trabalho para entender o modo como ele pensou racionalmente o mundo pela primeira vez.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 9 de jun. de 2024

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CARLOS ROBERTO TEIXEIRA ALVES

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A PERGUNTA DE TALES

Carlos Roberto Teixeira Alves

— série ‘Perguntas dos Filósofos’ —

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A PERGUNTA DE

TALES

1ª edição

Rio de Janeiro

Carlos Roberto Teixeira Alves 2024

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CARLOS ROBERTO TEIXEIRA ALVES

copyright: Carlos Roberto Teixeira Alves — 2024

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A PERGUNTA DE TALES

[a alma] está misturada no universo: (...) por essa razão (...) Tales (...) concluiu que tudo está cheio de deuses.

Aristóteles, De anima, A, 5, 411a7

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A PERGUNTA DE TALES

INTRODUÇÃO

Do que a matéria dos seres é feita?

Essa é a pergunta de Tales

Tales de Mileto é creditado ser o primeiro dos pensadores da filosofia; essa tradição vem de Aristóteles, ainda que Diógenes Laércio tenha conferi-do essa honra a Anaximandro, e a Tales apenas a condição legendária de ser um dos ‘Sete Sábios da Grécia’ (DIÓGENES LAÉRCIO, Vidas e Doutrinas dos Filósofos, I, 13). De modo que desde o início se co-locou a questão de quem teria sido o primeiro pensador da filosofia (LONG, A. A.; [1999], pp.8-9), incluindo na possibilidade a obscura figura de Fe-récides (que teria sido professor de Pitágoras) e até mesmo Hesíodo com sua ‘Cosmogonia’ (que, segundo o próprio Aristóteles — Metafísica, A, 4, 984b23 — antecipou a ideia de ‘causa eficiente’ de sua Teoria das Causas). Podemos aceitar que a tradição diz de Tales que foi o mais antigo de que se guardou registro e que sua influência foi muito du-radoura, encontrando eco em todas as outras filosofias que vieram depois (LONG, A. A.; [1999], p.9).

Decerto haviam outros pensadores de quem ele 7

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aprendeu essa novidade da Filosofia; ela — a Filosofia — não deve ter brotado como uma ‘ideia individual’ na mente de um ‘primeiro sábio’. A Filosofia é uma possibilidade universal do espírito humano. De modo que muita filosofia deve ter sido pen-sada e falada antes de Tales, mas não ficaram registros, ou os que ficaram não nos deixam separá-los muito bem das mitologias locais do tempo (CANTOR, LEA; [2022]). Podemos perceber que Tales não foi o primeiro de fato — apenas o primeiro por tradição, segundo o modo como agiu.

Ele viajou muito pelo mundo de seu tempo, conversou e entrevistou muitos, relacionou-se com diversos ofícios, inclusive o ofício da política, aprendeu várias atividades do pensamento e foi cu-rioso de diversos aspectos da natureza e dos fenômenos naturais. Sua busca por uma resposta, por um sistema geral que desse conta de tudo, já mostra a nós 9segundo o que sobrou) que havia o problema do método. Não se tratava só de saber, mas de como saber. Esse ‘como saber’ obrigava um tipo novo de resposta, uma resposta que vinha como consequência lógica do método escolhido para obtê-la. A Filosofia não foi a primeira atividade humana com método. As antigas civilizações já apli-8

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cavam métodos de descoberta em várias atividades, em especial na medicina e nas artes.

A medicina tinha um método baseado na entrevista do doente, uma espécie de mnemósis, de res-gate de eventos e momentos, de atitudes e escolhas, e no fim da entrevista o médico grego conseguia ‘diagnosticar’ a doença. Era um método de descoberta.

As artes tinham o método da experimentação, de variação de seus limites, de misturas de instru-mentação e técnicas, de materiais e modos. Essa mudança de olhar sobre as condições previamente dadas, e a tentativa de forçar os limites, modificavam os objetos e produzia as variações artísticas.

Seria muito gratuito dizer que a Filosofia pegou emprestados variações desses métodos, mas é certo que a Filosofia começou com a fundação de um método inicial que se modificou ao longa da ‘Experiência Filosófica’. Tales viveu em um ambiente de discussão onde a Filosofia já se apoiava sobre uma metodologia, nada muito fixo, uma espécie de en-saia de ‘como perguntar’ e ‘como responder’, mas que convidava a uma sistematização de operação: o que pensar, como pensar, para que pensar.

A se confiar em Heródoto (HERÓDOTO, História, 9

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I, 170) Tales era fenício. Diógenes Laércio (DIÓGENES LAÉRCIO, Vidas