O Meu Primeiro Platão: Vida, Pensamento E Obras Do Grande Filósofo
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Sobre este e-book
A coleção “encontros filosóficos” propõe-se para apresentar-se a um público não especialista a vida, o pensamento e as obras dos maiores pensadores da história. Os temas expostos vêm encarados com uma linguagem simples mas rigoroso, substancialmente adequado a qualquer um. O objetivo é aquele de fornecer ao leitor os instrumentos cognitivos essenciais para compreender os traços fundamentais das obras do autor considerado não só os reflexos produzidos sobre os autores que o sucederam. Neste número iremos aptresentar o pensamento de Platão: a teoria das ideias, as teorias politicas, o conhecimento, a dialética, a arte, a retórica, o amor e alguns mitos entre as mais célebres como o mito da caverna e o mito da biga alada.
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O Meu Primeiro Platão - ENRICO VALENTE
1. INTRODUÇÃO
Introduzir Platão, e sobretudo, conseguir fazê-lo de forma sintética, é uma tarefa na pior das hipóteses difícil, porque nele se reconhece aquilo que provavelmente foi o mais importante e influente filósofo da antiguidade. As suas ideias e as suas teorias serão os temas com as quais deverão fazer as contas praticamente todos os pensadores surgidos depois dele. E o farão para criticá-lo, para superá-lo, para exaltá-lo, para dar valor as próprias ideias ou para criticar aquelas dos outros. Por este motivo, nenhum estudioso que queira empreender o longo percurso, da história da filosofia pode prescindir de achegar-se mesmo ao seu pensamento.
Para compreender filosoficamente Platão de forma adequada devemos partir de duas premissas importantes. A primeira é que o seu pensamento é caracterizado por uma intenção de fundo, uma exigência imperativa, ou seja da vontade de remover todo o traço do relativismo muito prezado aos sofistas que, refutando todo estável ponto de vista das coisas, impedia a certeza do saber e da linguagem e remetia à lei do mais forte a incumbência de estabelecer o que fosse verdadeiro e falso, o que fosse justo e o que, pelo contrário, fosse errado. Platão tem o mérito de ter inaugurado o conceito da alma racional que regulando-se sobre o princípio da não contradição fixa a univocidade dos significados, subtraindo-os àquela oscilação do sentido expressão de uma linguagem simbólica que obsta o desenvolvimento de um pensamento estruturado, um discurso articulado em definições estáveis e universais, uma linguagem que pretende remover toda a ambiguidade, cada risco de equívoco e incompreensão. Por isso digamos ainda hoje que Platão seja o pai da gramática e o fundador da metafisica e do pensamento filosófico ocidental.
A segunda premissa é que não se possa prescindir de considerar o quadro histórico no qual molda-se o seu pensamento. Estamos a falar da profunda crise político-cultural que interessou os anos da sua juventude. A derrota de Atenas na guerra do Peloponeso, a nefasta experiência do ensaio aristocrático dos Trinta Tiranos, o retorno a uma democracia que bem cedo revela-se uma desilusão muito forte até para manchar-se com o sangue de Sócrates. Uma decadência sociopolítico mas não só, para Platão a crise diz respeito também ao homem entendido na sua totalidade: nos seus aspetos culturais, nos seus valores, no seu ser citadino. Adquirido este horripilante conhecimento, o filósofo de Atenas viera a dirigir todo o esforço na tentativa de iscar uma profunda renovação ética do homem em nome da virtude, da justiça e do bem, comum, em suma o que viera a ser uma reforma global da existência humana.
O platonismo tem portanto uma pretensão totalizante. Platão não procura dar uma resposta a invulgares questões, a invulgares campos da vida e do saber, como fizeram todos os filósofos que na filosofia não é considerado. Platão interessa-se seja de questões filosóficas, como de questões religiosas, éticas, políticas, linguísticas e artísticas. A sua filosofia elabora teorias em todos os campos, no campo do conhecimento, no campo da ética, da política, da arte, do cosmo, etc. apesar disso, a política subsiste o principal objetivo, a exigência maior da sua filosofia. A procura do Bem coletivo o fim de todo seu esforço. Para Platão as injustiças jamais terão fim até que não serão os filósofos a guiar o Estado. Este é o fulcro das suas teorias políticas. Por isso irá criticar qualquer outra forma de governo, a tirania, a timocracia e também a democracia que revelaram-se, aos seus olhos, totalmente inadequadas para fundar um Estado Justo.
Um homem novo para uma nova política, uma nova política para um homem novo. Isto poderia ser o seu slogan mas também o fim da sua filosofia. Por isso Plantão colocará por toda a sua vida o seu génio ao serviço da comunidade. A sua maior obra-prima, o diálogo da República, tornou-se a primeira obra da antiguidade a criar um projeto de um Estado ideal, utópico. Mas não obstante os seus louváveis propósitos, não encontrará por acaso nenhum disposto a pôr à prova as suas teorias sobre o estado e o declínio das poleis gregas revelar-se-á dramaticamente irreprimível.
2. A VIDA
Na sua cronologia, Apolodoro de Atenas fixou a data de nascimento de Platão em octogésima oitava Olimpíada, no sétimo dia do mês de Targélion, ou seja no fim de Maio de 428 a.C.
Platão nasceu em Atenas de progenitores aristocráticos: o pai Aríston, lhe impôs o nome do avô Arístocles (embora segundo o mesmo Diógenes Laércio sobre o seu nascimento existe uma lenda segundo a qual o filósofo teria sido na verdade filho de deus Apolo). Foi seu professor de ginástica, a chamá-lo para a engraçada alusão, vista a sua largura dos ombros Platão
(do grego πλατύς, platýs, que significa amplo
ou largo). Platão praticou na verdade o pancrácio, uma espécie de luta e pugilismo ao mesmo tempo. Segundo os outros, ao contrário, o nome era para atribuir a extensão da sua testa.
Platão desde criança soube distinguir-se por um intelecto agudo e pela memória prodigiosa. A sua educação, pelo menos inicialmente, foi sobretudo artística. Estudou música, pintura e literatura, destacando-se particularmente na composição poética e dramática. Já no período da juventude entra em contacto com a filosofia. Como demonstra o facto que teve Crátilo entre os seus mestres (por sua vez discípulo de Heráclito e ao qual viera a dedicar um dialogo).
O encontro com Sócrates foi fundamental que soube influir de forma determinante sobre o seu pensamento. Ao seu mestre Platão manteve-se fiel durante toda a vida, até para tornar-se a única referência do filosofar (a devoção será tal que em muitíssimos seus escritos a figura do mestre viera quase idealizada). Toda a sua produção, longe de compor-se num sistema, quis ser um contínuo aprofundamento interpretativo da especulação filosófica do mestre (podemos portanto dizer que se Sócrates plantou a semente Platão cuidou e fez crescer a planta).
Contudo Sócrates, depois do parêntese do governo, oligárquico e filo-espartano, dos Trinta Tiranos, foi acusado pelo novo governo democrático de blasfémia (foi dito que tinha inventado novas divindades) e de corrupção dos jovens e condenado à morte em 399 a.C. (na apologia de Sócrates o discípulo descreveu o processo do mestre, pronunciou a sua defesa, denunciou a falsidade