Transdisciplinaridade na sociedade de consumo: desafios ambientais e consumo consciente
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Transdisciplinaridade na sociedade de consumo - Roberta Andrade Ferreira
1 CULTURA, CONSUMO E COMPLEXIDADE
A cultura e o consumo estão intrinsecamente ligados por uma dinâmica mútua de influências. Essa peculiaridade é percebida em diferentes contextos históricos, nos quais a cultura foi capaz de moldar preferências, tradições, estilos de vida e intensificar a simbologia dos objetos.
A expansão industrial resultante da globalização e os disruptivos avanços tecnológicos contribuíram com a gama de produtos disponíveis a consumir. O processo de globalização desenvolvido no final do século XX oportunizou a expansão empresarial transfronteiriça e o incremento da produção mercantil.
Esses elementos tornaram-se essenciais na configuração da dinâmica consumerista contemporânea ao estabelecer uma conexão global capaz de romper barreiras e facilitar o acesso a produtos e à diversidade de culturas e mercados.
Por conseguinte, o consumo associa-se a fenômenos culturais que exercem influência sobre os comportamentos, os valores e as crenças individuais. Nesse raciocínio, Lívia Barbosa argumenta "[...] ninguém come, veste, dorme, bebe e compra de forma genérica e abstrata. Toda atividade, das mais triviais e cotidianas às mais excepcionais e específicas ocorre sempre em um determinado esquema simbólico que lhe dá sentido e significado."⁸
Os produtos de consumo não são mero objetos, eles carregam consigo significados culturais intrínsecos, pois são parte integrantes de sistemas e práticas que os tornaram significativos e elementares.⁹
A cultura está relacionada a um conjunto de padrões comportamentais, valores, costumes, práticas e normas que caracterizam uma sociedade. Os consumidores utilizam o significado dos produtos de consumo para expressar categorias, princípios culturais, desenvolver ideias, criar e sustentar estilos de vida, construir identidades e enfrentar as mudanças sociais.¹⁰
Etimologicamente, a palavra cultura, vem do adjetivo cultus, significa o que se cultiva, cuida e fortalece.¹¹ A palavra consumo vem do latim consumere e possui acepções como: gastar, anular ou destruir.¹²
A cultura e o consumo demonstram a dinâmica da cultura material, enraizados em normas sociais, tradições e comportamentos transmitidos e compartilhados na sociedade. Edgar Morin afirma que a cultura desenvolve, orienta e doméstica as virtualidades humanas, conduzida por um complexo abrangente de normas, símbolos e imagens que permeiam o imaginário individual, orienta emoções e estrutura instintos.¹³
A cultura do consumo pode ser comparada à seta do tempo
, conceito definido por Stephen Hawking como uma série de processos irreversíveis e em uma única direção, do passado ao futuro.¹⁴ A seta do tempo
está relacionada a aspectos físicos e termodinâmicos,¹⁵ enquanto a cultura e o consumo são essencialmente elementos comportamentais e sociais.
Embora os conceitos sejam distintos e de naturezas diversas, a comparação visa ilustrar como a conexão entre a cultura e o consumo acontece. A entropia, presente na dinâmica física de componentes naturais, torna-os agregados e unidos a ponto de a condição não propiciar a reversibilidade. A mistura de café e leite é exemplo dessa combinação de elementos inseparáveis e da mesma forma acontece, analogicamente, entre a cultura e o consumo, uma vez compostos, a dissociação é praticamente impossível.
A analogia com a seta do tempo
permite olhar para a cultura do consumo e presenciar suas transformações. Mais adiante, o texto tratará da marca física deixada pela utilização da pátina mobiliar, objeto de consumo inglês entre os séculos XVI e XVII, adquirido e transmitido numa linhagem familiar. Após esse período, já no século XVIII, esse processo foi interrompido pelo fortalecimento da individualidade, alimentada pelo mundo culturalmente constituído a partir da fluidez da moda.
É verdade que a cultura do consumo é um assunto complexo e de relevância, uma vez que o ato de consumir não é intrinsecamente significativo por si só. Ele reflete tendências amplas tanto sob o ponto de vista histórico e como o panorama futuro diante da escalada do empreendimento humano e da exploração do mundo natural como fonte de matéria-prima e destino para o descarte de resíduos.
Ao voltarmos o olhar para a problematização da presente pesquisa, relacionada com indagações relacionadas com o consumo irrefletido do plástico e os danos ambientais complexos gerados desse proceder, tem-se que aspectos de natureza transdisciplinar se evidenciam e merecem a devida reflexão, sendo insuficiente a análise do consumo e descarte irrefletido do plástico meramente à luz das normas do microssistema das relações de consumo, sendo, ainda mais insuficiente, dar enfoque a estas inquietações com base tão somente no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), que em seu artigo 6º (que adiante será mais explorado) prevê como direitos básicos do consumidor a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações, além da efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.
Para entender a complexidade ladeada à cultura do consumo, a compreensão trazida por Edgar Morin assume relevância. Ele incentiva a consideração de variáveis e conexões ao analisar fenômenos culturais e de consumo. O autor ressalta a importância de aplicação da análise holística, pois nenhuma realidade deve ser considerada isoladamente, uma vez que o mundo, a natureza e os fatos estão interconectados em níveis variados. Morin valoriza a complexidade e esclarece o seu significado:
O que é complexidade? A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Num segundo momento, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico. (...) Por isso o conhecimento precisa ordenar, afastar o incerto, isto é, selecionar os elementos da ordem e da certeza, precisar, clarificar, distinguir, hierarquizar.¹⁶
A modalidade de pensamento disjuntivo, reducionista e abstrato, desenvolvida por Descarte e denominada por Edgar Morin como paradigma da simplificação
, foi benéfica para o avanço científico durante o século XVII, ao favorecer a criação de ideias a partir de concepções claras e isoladas.¹⁷
No entanto, no século XX, revelou-se prejudicial ao conhecimento científico devido à separação de conteúdos essenciais como física, biologia e ciências.¹⁸ No sistema educacional vigente, aprende-se a separar ou a ser competente em problemas específicos, ao contrário de promover a interdisciplinaridade, pois os circuitos são interligados. Exemplo disso são os problemas ambientais, sempre ligados a fatores mais amplos e complexos.
Outra característica do pensamento complexo está na flexibilidade e na abertura à construção de novos conhecimentos.¹⁹ O pensamento complexo é multidimensional e articulador com as diferentes dimensões de um problema.²⁰ A teoria do pensamento complexo afasta-se do modelo linear de estruturação da pesquisa, enfatizando a necessidade de analisar as dimensões envolvidas no tema em estudo, sem isolar o objeto a ser pesquisado.
O escritor José Saramago assim asseverou: é necessário sair da ilha para ver a ilha
²¹. A metáfora, frequentemente citada, carrega o ideal se de buscar a compreensão das circunstâncias a partir de uma perspectiva ampla e objetiva. Paralelamente a Saramago, o pensamento complexo se destaca ao considerar a interconexão temática sob diferentes aspectos.²²
O esboço a seguir destaca as diferenças e as semelhanças culturais relacionadas ao consumo na Inglaterra e no Brasil. A primeira influenciada pela nobreza inglesa e a segunda ainda incipiente, orientada pela economia rudimentar e agrícola. Apesar das diferenças, ambas as sociedades compartilharam características comuns como: o modo de consumir, de valorização dos objetos e de garanti-los como status ou identificador de classe social.
Numa dinâmica secular, a relação entre homem e objeto ultrapassou o sentido utilitarista ao alcançar a simbologia, encarregada de trazer interpretações e sentido aos objetos. Jean Baudrillard caracteriza essa vinculação como antropomórfica, correspondente à projeção de experiências e motivações direcionadas pelos seres humanos às coisas.²³
De acordo com Baudrillard, o homem selvagem dos tempos modernos está, cotidianamente, ladeado por objetos em contrapartida à fauna e à flora.²⁴ Por meio da posse e a aquisição de bens, o homem se identifica socialmente em um processo de supervalorização e idolatria às coisas,²⁵ desconsiderando o sentido de ser-humano cujo significado é ser conectado com outros
²⁶.
Grant McCracken afirma que o reconhecimento atribuído aos bens de consumo bem como a criação de significados são elementos importantes à compreensão da realidade atual.²⁷ Para o antropólogo [...] A sociedade de consumo não é uma invenção social artificial e catastrófica. É uma cultura com suas próprias propriedades sistemáticas. Somos criaturas dependentes dos significados contidos no mundo material.
²⁸ Sem os bens de consumo as sociedades desenvolvidas perderiam a conexão com os instrumentos – chave de sua representação.
Da visão utilitarista à percepção sensível de aquisição e acumulação de coisas, houve um processo de transformação desencadeado por ciclos. A maneira de consumir já foi menos efêmera. Ao contrário do consumo estacionário e refletido em pequenos grupos sociais verificado entre os séculos XVI e XVIII, o consumo ganhou força e espalhou-se sob diferentes classes sociais. Diferentemente do perceptível atualmente, em que a rotatividade dos produtos e o fetichismo das mercadorias nas relações humanas tornaram o indivíduo emancipado e, em grande medida, alheio aos reflexos diante de seu comportamento.
Willian Shakespeare, na obra Como Gostais²⁹, asseverou O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres, apenas atores. Eles saem de cena e entram em cena, e cada homem a seu tempo representa muitos papéis.
O excerto da peça shakespeariana retrata o ofício dos atores em cena e faz referência ao ser humano em todas as suas fases: infância, adolescência, fase adulta e velhice.
A metáfora adapta-se à compreensão do consumo, diversificado em estágios ao longo dos séculos. Assim como os atores assumem papéis variados, o modo e os objetos de consumo transformam-se em resposta às tendencias, e às influências culturais periódicas. O consumismo muitas vezes incentiva a adoção de diferentes papéis
por meio da compra de produtos, estilos de vida e identidades associadas a determinadas marcas ou moda.
Assenta-se tal fenômeno, também, no pensamento de Mario Vargas Llosa ao destacar o fenômeno da reificação
ou coisificação
do indivíduo ao substituir a vivência pela representação material a partir do consumo corrente de objetos, muitas vezes sem utilidade ou sobejo.³⁰ A dinâmica consumerista deu-se, portanto, de diferentes maneiras e sob o olhar crítico de inúmeros intelectuais ao longo dos últimos tempos.
No passado, mais especificamente entre os séculos XVI e XIX, os valores estéticos e as mercadorias correspondiam a uma dinâmica estável e duradoura, diferentemente do perceptível a partir do final do século XIX, em que os hábitos de consumo foram estimulados pela essência da novidade. A propósito, na sequência serão abordados dois cenários distintos: a) o consumo na Inglaterra entre os séculos XVI e XIX (a influência de Elizabeth I entre os nobres ingleses e o apego aos objetos como um diferenciador classista); e b) o Brasil com a chegada da família real, no início do século XIX, a abertura portuária e a diferenciação entre as camadas sociais doravante o poderio econômico.
Destacadas tais premissas relacionadas com a simbologia do consumo e sua ressignificação ao longo das décadas, a seguir será oferecido o cotejo das características da cultura consumerista no berço da sociedade industrial e o Brasil, com o propósito de tentar identificar possíveis diagnósticos para o enfrentamento deste fenômeno transfronteiriço.
1.1 Contextualização histórica: Características gerais acerca da cultura consumerista
É verdade que Inglaterra e Brasil apresentam diferentes contextos históricos e culturais na formação de suas sociedades. São também países de níveis de desenvolvimento econômico, padrões de vida e práticas de consumo diversas. Estudá-los sob a perspectiva comparativa permite explorar a transição da Sociedade de Corte para a Sociedade de Consumo, assim como a evolução do consumo caracterizado pela durabilidade para um paradigma voltado à moda (onde o manejo e descarte irrefletido do plástico se
