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What Destroys Us
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E-book526 páginas6 horas

What Destroys Us

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Sobre este e-book

Nos cantos mais escuros da mente humana, onde a sanidade se desfaz como neve ao vento, um jogo cruel é orquestrado nas sombras. Segredos enterrados há anos começam a emergir, entre sussurros e sangue, arrastando todos para um ciclo de desespero e loucura. Quando a verdade parece ao alcance, ela se desfaz, deixando apenas pistas distorcidas e um rastro de corpos no frio implacável. Mas há algo pior do que não saber a verdade. É descobri-la tarde demais.
IdiomaPortuguês
EditoraClube de Autores
Data de lançamento19 de mar. de 2025
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    What Destroys Us - Alice Santos

    L⫻⏁—⊥Lᘰ⊂— ᘰ⨀Ω⏁ :

    WHAT DESTROYS

    US

    Oque nos destrói

    Asombraestavaali,semprepresente,mesmoquandoaluz parecia dominá-la.Nãoeraapenasumtraçoescuronocantodaparede, mas algomaisprofundo,umapresençaqueseesticavaesemoldava com aescuridão,comosetivessevontadeprópria.Elanãoeraquieta; às vezes,pareciasemover,rastejarpelochão,deslizandocomo uma serpente,esperandopacientementeomomentodese revelar.

    Nocomeço,eupensavaquefosseumreflexodaminha própria insegurança.Masquandocomeceiarepararmaisdeperto, percebi queelasemoviaindependentedemim.Nãoimportaonde eu estivesse,ouquãobrilhantealuzfosse,elasempreestavalá, um passoatrás,comoumatestemunhasilenciosa,observando tudo. Eutenteiignorá-la,masnãopodia.Cadavezqueasluzes se apagavam,elaficavamaisnítida,maisdefinida.Elacrescia.E, quanto maiseutemia,maiselaseaproximava.Eupodiaouvirseus passos, suaveseabafados,comosetivessemãos,dedosfriosquetocavam a peledomeupescoço,masquandomevirava,nãohavianinguém lá. Naquelasnoitesmaisprofundas,eusentiaumarrepiona espinha, umasensaçãodequealgoestavaprestesamealcançar.E quando finalmentefechavaosolhos,eraelaquemsurgianosmeus sonhos —nãocomasuavidadedeumalembrança,mascoma intensidade dealgoreal,algoquerespiravajuntocomigo.Elase aproximava, maisperto,maisperto,atéque,nomomentoemqueeu pensava queiriamelivrardela,elametomava,engolindotudoaomeu redor. Equandoaluzsurgianovamente,eusabia,semdúvidaalguma: ela estavalá.Maisperto,maisforte.Porque,talvez,elanãofosse apenas umasombra.Talvezfosseumapartede mim.

    GATILHOS

    Este livro contém assuntos diversos que podem gerar gatilhos.

    Se continuar com esta leitura, vai ser uma

    responsabilidade totalmente SUA .

    Se temas como esses:

    Abuso físico

    Assédio

    Violência extrema Símbolos do ocultismo Violência doméstica Tentativa de suicídio

    TEPT (Transtorno de estresse pós -

    traumático) Transtornos diversos Sexo explícito

    INCOMODAREM VOCÊ, NÃO O LEIA.

    Alertando-o novamente, se for sensívela este tipo de conteúdo, recomendo que não leia este livro.

    Se ler apenas por curiosidade, não posso me responsabilizar.

    Só posso lhe dizer que foi alertado(a).

    •Ↄ:V —

    Se você aprecia uma leitura com música, aqui está a playlist do livro:

    https://open.spotify.com/playlist/2naW1nBKo0 WgSi3Bfe58BN?si=UboKR_5WR Njm2phAOGi wA&pi=zKwgnFIuQ3Cp 9

    RECADO DA AUTORA

    Acham que sabem o que está acontecendo, não é? Que conseguem ver claramente o que está diante de vocês, seguindo cada pista, acreditando que dominam a trama. Mas a verdade é que estão apenas tocando a superfície.

    A escuridão não se revela de imediato. Ela não grita. Ela apenas observa, esperando o momento certo para se infiltrar. Não se enganem. Todos têm um ponto fraco, e só é questão de tempo até que o seu seja encontrado.

    O silêncio entre as palavras? Cuidado. Ele está carregado de verdades que vocês talvez não queiram ouvir. E quando perceberem, já será tarde demais para se arrepender.

    Se você espera uma leitura fácil e rápida, este livro não é para você.

    Com amor (ALICE SANTOS).

    INSTAGRAM DA AUTORA: @a.l.i.santos

    •Ↄ:V —

    ——Ω: V

    Para todos aqueles

    Que sentiram menos do que realmente são

    Eu vejo todos vocês

    VLꇓ •ꇓLΩ •Ↄ: V

    A perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano

    EDGAR ALLAN POE

    Parte I

    B• —ᘰV⏁Ω:⊂• L

    PRÓLOGO

    MADDISSON DAVIS COTTAGE GROVE OREGON 11 DE JUNHO

    A sala estava escura, iluminada apenas pelo brilho frio da televisão.

    Eu me encolhi no sofá, abraçando os joelhos, enquanto trocava de canal sem realmente prestar atenção em nada. As vozes se misturavam, zunindo ao meu redor como ruído branco, até que um noticiário prendeu minha atenção.

    A música de fundo era tensa.

    Algo na postura da âncora me fez apertar mais os braços ao redor do corpo.

    Opaísinteiroestáemalertaapósarecenteonda de assassinatosligadosaumindivíduoconhecidocomo The Reaper.

    Prendi a respiração.

    Na tela, ruas desertas, casas cercadas por fitas amarelas, rostos de famílias angustiados.

    Ocriminosolideraumaseitaetemdeixadoumrastro de símbolosenigmáticosnascenasdoscrimes.Asvítimas são escolhidasadedo.

    O mapa do país apareceu, marcadores vermelhos espalhados como feridas abertas.

    Engoli em seco.

    Asautoridadesconfirmaramdozemortes,maso número podeseraindamaior.

    Imagens granuladas de câmeras de segurança surgiram. Figuras encapuzadas.

    Silhuetas irreconhecíveis.

    O silêncio da sala se tornou insuportável.

    Desliguei a TV.

    Por um segundo, fiquei ali, no escuro, ouvindo apenas minha respiração.

    Mas então, do lado de fora, algo mudou.

    Passos.

    Arrastados. Lentos. Alguém estava lá. Esperando.

    Capítulo 1

    Maddison Davis

    O silêncio naquela sala não era apenas ausência de som. Era algo vivo, pulsante, como se tivesse mãos invisíveis que envolviam meu pescoço, apertando devagar.

    O homem ao meu lado—tão familiar, e ainda assim irreconhecível naquele momento—parecia esculpido em granito.

    Seu rosto estava rígido, a mandíbula travada.

    Os olhos, fixos em um ponto qualquer, perdidos em um pensamento distante.

    Ele sempre foi assim? Ou algo dentro dele tinha mudado, rachado, sem que eu percebesse?

    Havia algo no ar.

    Algo denso, elétrico, como se uma tempestade estivesse prestes a estourar, mas ninguém tinha coragem de falar sobre isso.

    Meu olhar vagou pela sala.

    O sofá gasto, a mesa de centro com marcas de copo, a televisão desligada refletindo o brilho opaco da luz do teto. Tudo parecia igual, mas não estava.

    O corredor escuro à minha frente chamava minha atenção. A ausência dela me incomodava.

    Mônica .

    Ela não apareceu.

    Não saiu do quarto.

    Nenhum ruído, nenhuma presença fantasmagórica ao fundo, como costumava ser.

    Mônica nunca ficava muito tempo no mesmo ambiente que eu. Nem quando papai estava aqui.

    Sempre ausente, sempre fugindo, como se o espaço que eu ocupava fosse um incômodo constante.

    Mas agora… agora era diferente.

    Agora, o silêncio dela era absoluto.

    Engoli em seco, meus dedos apertando o tecido do sofá. O silêncio ao meu redor parecia crescer, engolindo tudo.

    O homem ao meu lado continuava imóvel. Seu peito subia e descia em um ritmo tão lento que, por um segundo, me perguntei se ele ainda estava respirando.

    E então, um calafrio percorreu minha espinha.

    Algo estava errado.

    Algo mais profundo do que a tensão óbvia entre meu pai e eu, mais do que a ausência de Mônica .

    Como se uma presença invisível estivesse rondando aquele lugar, observando, esperando.

    Meu pai, em um movimento brusco, se levantou do sofá. A sua postura rígida era como um reflexo do que estava acontecendo ali dentro de sua mente.

    Ele se dirigiu para a cozinha sem olhar para mim, sem sequer emitir um som.

    Eu não queria incomodá-lo, não queria perguntar o que estava acontecendo, porque não estava pronta para ouvir a resposta.

    Mas ao mesmo tempo, uma necessidade urgente de saber o que estava acontecendo naquele lugar crescia dentro de mim. O silêncio entre nós dois havia se tornado insuportável, um vácuo apertado, carregado de algo que não podia nomear. Algo que parecia se espalhar por toda a casa, entre cada respiração, em cada olhar que ele evitava.

    Fiquei ali, parada, meu corpo imobilizado pela incerteza.

    O medo, um medo insidioso que eu não conseguia explicar, estava começando a se infiltrar na minha mente.

    Franzi a testa quando o vi pegar as chaves do carro da mesa, seus dedos apertando o metal com uma força que quase fazia o som das chaves parecer uma ameaça.

    Ele se virou, indo em direção à porta.

    Não me atrevi a seguir, não me atrevi a perguntar o que ele estava fazendo, mas uma angústia crescente se formou dentro de mim.

    Ele não olhou para trás.

    Não emitiu um som.

    A porta se fechou suavemente, e eu fiquei ali, sozinha, sem saber o que fazer com tudo aquilo.

    A casa ficou em silêncio novamente, mas agora o vazio parecia ainda mais profundo, mais frio.

    E algo na minha mente começava a gritar, me dizendo que algo muito mais sombrio estava se desenrolando bem ali, dentro daquelas paredes.

    — O quê...? — murmurei, confusa.

    Ele não disse nada.

    Apenas abriu a porta e saiu para o jardim.

    Meu coração disparou.

    Alguma coisa estava errada .

    Me levantei rápido, e corri atrás dele.

    — Pai! — chamei, minha voz embargada pela urgência — O que você está fazendo? Para onde você vai?

    Ele parou, mas não olhou para mim.

    Ficou ali, imóvel por um segundo, as suas costas largas sob a luz fraca do poste da rua.

    — Entra, Maddison!— disse ele, enfim, sem se virar.

    — Não! — balançei a cabeça, a frustração e o medo crescendo dentro de mim —Você não pode simplesmente ir embora sem me dizer nada!

    Ele inspirou fundo.

    Parecia lutar contra alguma coisa dentro de si.

    — Me desculpa, me perdoa meu amor. — sussurrou .

    O quê? Por que?

    Mas, no fim, não disse mais nada.

    Apenas continuou andando.

    Senti o chão sumir sob seus pés enquanto o observei entrar no carro e ligar o motor.

    Os faróis iluminaram o gramado, me cegando por um instante. E então ele foi embora.

    Fiquei ali, congelada no frio da noite, os braços cruzados ao redor de meu próprio corpo.

    O silêncio voltou a se instalar.

    E foi nesse instante que eu soube.

    Eu não o veria novamente.

    O som de passos logo atrás de mim surgiram, me fazendo enrijecer.

    — No fim das contas, ele fez um favor para nós duas! — disse uma voz familiar, carregada de ironia.

    Me virei devagar e encontrei minha mãe, parada no jardim com os braços cruzados.

    O olhar dela era tão frio quanto gelo.

    Um nó se formou em meu peito.

    E não respondi .

    Não sabia o que dizer.

    Apenas encarei a mulher que me dera a vida e me questionei , mais uma vez, por que diabos minha própria mãe me odiava tanto .

    Lá fora, o vento soprava com força, a noite se arrastando lentamente, carregada de uma pressão quase tangível. Cada momento que passava parecia se dilatar em uma eternidade. Eu não conseguia afastar a imagem do rosto de meu pai, ainda fresco em minha memória, com seu sorriso tranquilo, e a maneira como ele sempre parecia saber o que fazer, o que dizer, quando tudo ao nosso redor desmoronava. Ele sempre tinha as palavras certas, o abraço certo, o conselho certeiro.

    Mas agora, ele não estava mais ali.

    E, com isso, tudo parecia se partir.

    Me sentei na grama molhada, sem perceber a umidade que me encharcava, os olhos fixos na estrada vazia à frente. Esperava que ele voltasse, como se o simples fato de querer fosse suficiente para trazer algo de volta.

    Elevaivoltar .

    Eu repetia para mim mesma, como uma oração silenciosa, um mantra.

    Mas cada minuto que passava, eu sabia que estava mentindo.

    O pior é que eu já sabia que ele não voltaria.

    Ele nunca voltaria.

    As horas se arrastaram, os vizinhos passavam e me olhavam com olhos pesados de piedade.

    Era como se sentissem minha dor, mas não sabiam como alcançá- la.

    Eles viam o que havia sobrado de mim e passavam.

    Cada passo deles era uma lembrança do quanto eu estava sozinha.

    E quando a noite se fez mais densa e o frio entrou em meus ossos, não pude mais suportar.

    O pensamento de continuar ali, esperando que ele surgisse no horizonte, se fez insuportável.

    Meus dedos estavam gelados, e a sensação de impotência crescia a cada segundo.

    Me levantei lentamente, sentindo os músculos protestarem, e caminhei até a porta da frente.

    Assim que a abri, o maldito telefone começou a tocar.

    Uma tensão instantânea correu pela minha espinha.

    As minhas mãos, trêmulas, se estenderam até o aparelho. Eu estava disposta a gritar, a mandar quem quer que fosse embora, mas, ao atender, uma voz feminina entrou em meus tímpanos.

    A maneira como ela falou fez meu estômago se revirar.

    — Residência dos Davis? —minha voz saiu de maneira mais calma do que eu gostaria.

    — Boa noite, estou falando com Mônica Davis? —A voz da mulher soava profissional, como se estivesse lendo um script, sem pressa, sem emoção.

    — Não, sou a filha dela — disse, de forma impessoal, tentando afastar a sensação de que algo estava prestes a desmoronar.

    — Gostaria de falar com a senhora Davis, por gentileza?

    Não tinha a menor intenção de chamar minha mãe. Sabia que ela não me escutaria.

    Sabia que, qualquer que fosse o motivo da ligação, ela se importaria no mínimo possível.

    — Você pode falar comigo —disse, mais ríspida do que pretendia. Não havia tempo para formalidades.

    — Tudo bem. — A voz hesitou antes de continuar. — Me chamo Penn, sou enfermeira do hospital PeaceHealth. O senhor Carrick Davis deu entrada ao nosso hospital hoje, e este era o único contato de emergência que possuíamos... Meu coração deu um salto. Eu quase não pude respirar, um frio repentino se espalhou por minha pele.

    — O... O quê? — minha voz saiu trêmula, como se fosse impossível que eu tivesse entendido corretamente.

    — Sinto informar, senhorita, mas o paciente não resistiu aos ferimentos. Fizemos tudo o que podíamos. — Aquelas palavras caíram sobre mim como uma pedra, um peso insuportável, esmagando-me de dentro para fora. — Não resistiu... O senhor Davis não resistiu...

    A sensação de que meu estômago havia caído para o chão me fez engasgar, minha garganta seca.

    — Por favor... — a voz me falhou, e uma parte de mim estava em negação. — Me diz que está mentindo, por favor!

    Não pude controlar o grito que escapou, o desespero

    quebrando minha voz em pedaços.

    — Eu sinto muito. O senhor Davis sofreu um acidente, e seu estado era muito delicado. Estamos tentando entrar em contato com alguém para reconhecer o corpo. — A enfermeira tentou soar reconfortante, mas sua voz não fazia sentido. Nada fazia sentido.

    Não conseguia entender.

    Não era possível.

    Ele não podia estar morto .

    A linha se tornou abafada, e, antes que eu pudesse dizer algo mais, a voz da mulher se despediu, mas já não me importava. As palavras dela não faziam mais sentido.

    Tudo estava uma névoa, o mundo ao meu redor girando. Deixei o telefone cair ao meu lado e, em um movimento instintivo, senti minhas pernas fraquejarem.

    Como se meu corpo entendesse o que minha mente ainda não conseguia aceitar.

    Eu desabei no chão.

    O carpete gelado abaixo de mim parecia o único ponto de realidade, a única coisa que ainda se conectava comigo. Eu precisava contar para Mônica.

    Ela tinha que saber.

    Mas, no entanto, não conseguia me levantar.

    Meu corpo se recusava a se mover, como se estivesse me dizendo que não havia mais o que fazer.

    Finalmente, com um esforço desesperado, me ergui, minhas pernas como gelatina, mas me forcei a seguir.

    Cada passo era um pesadelo.

    Quando finalmente cheguei ao quarto de minha mãe, a porta estava entreaberta.

    Eu hesitei por um momento, mas a visão que tive foi de algo que jamais poderia ter esperado.

    Ela estava ali, abaixada sobre o chão, as mãos arrastando uma tábua gasta, como se estivesse distraída.

    Ela não parecia se importar com nada, como se estivesse completamente alheia ao mundo.

    Uma caixa de metal enferrujada estava entre suas coxas, um cadeado visível.

    O que ela estava fazendo? O que diabos ela estava tentando esconder?

    Ela me viu, seus olhos se arregalaram por um segundo. Mas isso durou apenas o tempo de um suspiro.

    O rosto impassível de Mônica rapidamente voltou ao seu lugar de sempre, como uma máscara fria, sem emoção.

    Ela se levantou e avançou até mim, seus passos firmes, decididos. Sem aviso, ela me agarrou pelo braço com uma força surpreendente, me empurrando para fora de seu quarto. —O que você quer, Maddison? —Sua voz era áspera, com um tom de desprezo. — Se continuar chorando como uma menininha idiota, é melhor sair daqui!

    Eu não pude segurar as lágrimas.

    Elas começaram a escorrer, incontroláveis.

    Não conseguia ser forte diante dela, não naquela hora, não depois de tudo o que acontecera.

    Mas mesmo assim, tentei, ou pelo menos, me forcei a falar.

    —Ligaram do hospital PeaceHealth... —minha voz falhou, mas continuei. — Papai sofreu um acidente... e não resistiu...

    O impacto das palavras foi como um golpe, algo que me cortou por dentro.

    Eu mal consegui completar a frase, e meu corpo começou a tremer descontroladamente.

    A dor se alastrava por mim, como se uma lâmina afiada tivesse sido cravada nas minhas entranhas.

    Mônica olhou para mim, sem um pingo de empatia.

    Seus olhos brilharam por um momento, mas então ela falou. As palavras caíram da sua boca, cortantes e cruéis.

    — Foi ele que decidiu ir embora, Maddison. E pagou o preço por isso!

    E ali, naquele instante, eu soube a verdade.

    A verdade amarga que se enraizou dentro de mim como um veneno.

    Ele estava realmente morto.

    Ele se foi .

    Eu tinha perdido a única pessoa que me importava de

    verdade.

    E a única coisa que restava agora era o ódio que crescia dentro de mim.

    O ódio por Mônica, o ódio por tudo o que eu nunca poderia consertar.

    Odiava ela.

    Eu odiava tudo o que ela representava.

    E a dor de perder meu pai se tornou insuportável.

    Eu não sabia o que fazer a seguir. Eu apenas sabia que eu odiava. Ela sempre esteve lá.

    Uma sombra pairando sobre mim, escura, pesada.

    Não se movia, não ameaçava desabar, não fazia nada além de existir.

    Apenas ficava ali, como uma presença constante, um lembrete de algo que eu nunca soube explicar direito.

    Não me assustava.

    Com o tempo, me acostumei com ela.

    Aprendi a ignorá-la, a fingir que não sentia seu peso sobre meus ombros.

    Mas, de vez em quando—só de vez em quando— ela

    desaparecia.

    E nesses momentos raros, tudo parecia certo.

    Como se o universo finalmente estivesse em equilíbrio.

    Como se algo dentro de mim, algo sempre deslocado, sempre fora do lugar, finalmente encaixasse.

    Isso só aconteceu duas vezes.

    A primeira, quando meu pai se foi.

    E a segunda… quando finalmente Mônica morreu.

    Foi nesse instante que eu entendi. Aquela nuvem nunca esteve ali à toa. Ela esperava.

    Silenciosa, paciente.

    Esperava que eu fizesse o que precisava ser feito.

    E quando eu fazia… ela me recompensava com paz . Mas essa paz nunca durava.

    E agora, sentia a sombra crescendo de novo.

    Capítulo 2

    Cinco anos depois

    MADDISSON DAVIS

    Trabalhar no Diner foi, desde o começo, uma forma de escapar. Não apenas uma fuga do silêncio opressor da minha casa, mas também uma tentativa de manter alguma conexão com o que meu pai representava.

    Ele que, com a sua bondade, era o único que iluminava os cantos escuros daquela casa dilapidada, onde o peso da sua ausência parecia se materializar no ar.

    E aqui era o último lugar que ainda refletia uma espécie de normalidade.

    Ao menos, era o que eu dizia para mim mesma.

    A lanchonete era pequena, quase apertada, mas tinha algo de aconchegante, como se as paredes respirassem com o tempo, guardando segredos de quem passava por ali.

    Mas para mim, o verdadeiro aconchego estava em Phill. Ele era o dono, mas também um amigo da família, alguém que ainda via em mim o reflexo do homem que meu pai algum dia foi.

    Ele foi uma das únicas pessoas com quem eu consegui me comunicar minimamente, mesmo que o vazio dentro de mim fosse grande demais para ser preenchido por qualquer palavra.

    A oferta de trabalho foi uma saída, e eu agarrei como uma criança que se afasta do abismo apenas para dar um passo para outro.

    Eu passava meus aniversários ali, sozinha, observando todos aqueles casais e famílias felizes que se reuniam, rindo e conversando como se a vida fosse algo a ser celebrado.

    Eu os observava sem dizer uma palavra, sentindo um peso na garganta que se tornava impossível de engolir.

    O café que bebia, a comida simples e gordurosa, tudo parecia se misturar ao vazio de minha alma.

    Não tinha mais o papai para estar ali, com aquele sorriso acolhedor e aquele olhar cheio de sabedoria.

    Ele, que me fazia sentir que nada mais importava além dele, agora não passava de um fantasma no fundo da minha mente. O enterro ainda era um borrão para mim.

    A memória do caixão lacrado, o cheiro de terra molhada e o vazio que se espalhava por todo o lugar… Foi como se o mundo tivesse parado naquele instante, mas, ao mesmo tempo, o peso do que estava por vir me esmagava a cada segundo.

    O motorista bêbado que causou o acidente não teve o mesmo destino.

    Mas, naqueles dias em que eu sentava na lanchonete com a cabeça pesada e os olhos secos, eu sabia que ele iria pagar. O pensamento me consumia.

    Não imediatamente, não com justiça, mas com algo muito mais sombrio.

    Eu sentia que o destino o cobraria de uma forma ainda mais cruel. A morte de meu pai não era apenas uma perda, era uma promessa não cumprida.

    A vingança que eu não podia realizar, mas que o próprio universo lhe cobraria um dia.

    Mônica, sempre soube como vestir o manto de viúva.

    Ela se transformou em um ser quase impessoal, uma fachada de sofrimento que atraía a simpatia dos outros, mas que, na verdade, estava mais interessada em manter as aparências do que em qualquer outro sentimento.

    Ela se tornou a viúva perfeita aos olhos do mundo, com sua máscara impecável de dor.

    Mas eu sabia a verdade.

    Eu sabia o que ela era:fria e indiferente.

    Ela não chorou no enterro.

    Não com a sinceridade que eu esperava.

    Ao contrário, parecia mais preocupada com o que os outros pensavam.

    As lágrimas que caíam de seus olhos não eram mais do que um truque bem ensaiado.

    Enquanto isso, eu… eu estava despedaçada.

    Sozinha, cercada por rostos vazios, por gestos mecânicos de condolências que me sufocavam.

    O único que eu realmente sentia falta, o único que me importava, agora não passava de um corpo inerte no fundo de um buraco.

    Eu vi as pessoas chorando, se despedindo de meu pai, mas não sentia conexão com nenhuma delas.

    Eles viam nele o que queriam ver, a figura do bom homem, do bom vizinho.

    Mas ninguém sabia o que ele realmente significava para mim. Eu não conseguia parar de chorar no enterro.

    Cada respiração era uma luta, uma tentativa falha de não ser engolida pela dor.

    Mas mesmo assim, minha mãe parecia longe.

    Ela não estava ali, de fato.

    Estava apenas fisicamente presente, como uma sombra que encobria o que realmente acontecia dentro de mim.

    Eu estava desmoronando por dentro, mas ela… ela estava apenas se adequando a uma convenção social, a um papel que sabia muito bem desempenhar.

    Nenhuma lágrima genuína, nenhum lamento verdadeiro. A cada dia que passava, a sensação de que eu estava perdendo tudo ficava mais forte.

    Mas não era só a morte de meu pai que me atormentava. Era o fato de que, no fundo, eu sabia que não tinha mais ninguém. Mônica, que deveria ser minha mãe, se tornou um ser alienado, incapaz de me dar qualquer conforto.

    Eu me vi, por várias noites, desejando estar no lugar dele.

    No caixão.

    Que a morte tivesse me levado, porque o peso da dor que eu carregava era insuportável.

    Mas a morte não se importava com o que eu queria.

    Ela apenas levou ele, sem aviso, sem piedade.

    E eu fiquei, aqui, sozinha.

    Mas com o tempo, tudo mudou.

    Foi quando Mônica conheceu Ron Willians.

    Ele entrou na nossa vida como um veneno, devagar, mas com uma intensidade que eu não soube prever.

    Ele era tudo o que eu temia.

    Um homem arrogante, sedutor, com uma aura de mistério que o tornava perigoso.

    Ele sabia o que fazer, sabia exatamente como manipular as pessoas.

    E, em pouco tempo, ele conquistou Mônica.

    A mesma mulher que, antes, se fechava no silêncio, agora parecia absorver cada palavra dele como se fosse uma verdade absoluta.

    Eu sabia que ele não era bom para ela, mas também sabia que ele não era bom para mim.

    Ele era o espelho de tudo o que era escuro e corrompido na nossa casa, uma sombra que se estendia por cada canto .

    Eu via o efeito dele nela, e algo dentro de mim se partiu ainda mais.

    E que, ao contrário do que ela pensava, Ron não a ajudaria a curar as feridas.

    Ele só as aprofundaria.

    O pior, ele também estava me arrastando para um abismo do qual não havia como escapar.

    A presença dele se tornou um veneno invisível, uma toxina que se infiltrava lentamente, corrompendo tudo o que tocava. Não existia mais paz, não tinha mais lugar seguro.

    Apenas o som abafado do sofrimento e a sensação crescente de que a morte não tinha terminado seu trabalho na minha família.

    Ela ainda estava por vir.

    Ela ainda estava nos espreitando, esperando o momento certo para nos engolir de uma vez por todas.

    E, quando isso acontecesse, não haveria ninguém para nos salvar.

    Capítulo 3

    Mônica

    O caminhão de mudanças estacionou na casa da frente pouco depois das oito da manhã.

    Eu estava na cozinha, tomando meu café, quando ouvi o barulho da traseira se abrindo e o som abafado de caixas sendo arrastadas para fora.

    Curiosa, fui até a janela da sala e afastei a cortina.

    Foi então que o vi.

    O novo vizinho.

    Ele desceu do caminhão sozinho, sem ajuda, e começou a descarregar as caixas.

    Alto, ombros largos, barba bem aparada com fios grisalhos aparecendo nas laterais.

    Havia algo na maneira como ele se movia—firme, preciso, como se não precisasse de ninguém para nada. Interessante.

    Observei por alguns minutos, tomando pequenos goles do meu café, estudando cada movimento dele. Sem anel na mão esquerda.

    Sem ninguém ajudando.

    Apenas ele e algumas caixas pesadas.

    Um homem sozinho.

    Sorri para mim mesma e coloquei a xícara na mesa.

    Uma hora depois, eu estava atravessando a rua com uma cesta grande nas mãos.

    Nada extravagante demais—algumas frutas, um pão caseiro que comprei na padaria da esquina e uma garrafa de vinho. O suficiente para parecer um gesto amigável, mas não despretensioso.

    Subi os degraus da varanda e bati na porta com confiança. Esperei apenas alguns segundos antes que ela se abrisse. Ele estava ali, ainda vestindo jeans escuros e uma camisa simples, com as mangas dobradas até os cotovelos.

    O cabelo um pouco bagunçado, o rosto marcado pelo esforço da mudança.

    E, assim que me viu, seus olhos deslizaram rapidamente por mim antes de se fixarem no meu rosto.

    Bom sinal.

    Sorri.

    —Olá, vizinho —disse, com meu tom mais doce. — Achei que poderia precisar de uma recepção calorosa.

    Ele ergueu uma sobrancelha, surpreso, antes de soltar um pequeno sorriso de canto.

    —Isso é inesperado —respondeu, apoiando o braço no batente da porta. —Mas muito apreciado.

    Ergui a cesta para ele.

    Ele pegou sem pressa, seus dedos roçando levemente os meus no processo.

    —Espero que goste. Nada demais, só uma forma de dizer bem- vindo.

    Ele observou a cesta por um segundo antes de levantar os olhos para mim novamente.

    —Bem pensado. —O sorriso dele se alargou. —E você é...?

    —Mônica. —Inclinei levemente a cabeça, deixando os cabelos loiros caírem sobre o ombro.

    —É bom ter alguém como você por perto —ele disse, me fazendo virar novamente.

    Ele olhou mais uma vez para a cesta, talvez em busca de algo mais para dizer, mas seu olhar se fixou em mim por mais um momento.

    E então, como se eu tivesse me tornado parte do cenário, ele deu um pequeno passo para o lado, permitindo que eu entrasse.

    Mas eu hesitei por um momento. Algo naquele homem, naquela casa, naquela cena... me fazia questionar se realmente sabia o que estava fazendo.

    Mas a curiosidade falou mais alto. Afinal, quem é que resiste a um enigma ?

    E assim, com um sorriso discreto, entrei.

    —Aonde mora? —ele pergunta, com evidente interesse. —Moro bem ali.

    Apontei para minha casa antes que ele finalmente fechasse a porta, e por um breve momento, vi uma sombra de movimento na janela.

    Maddison.

    Capítulo 4

    Maddison Davis

    Eu observava tudo da janela, escondida atrás da cortina. Minha mãe cruzando a rua, o vestido justo demais balançando com o vento, o sorriso ensaiado nos lábios.

    O jeito como entregou a cesta, como inclinou a cabeça daquele jeito que sempre funcionava com papai .

    E Ron.

    O jeito como ele se apoiou na porta, o olhar avaliador, a forma como sorriu para ela.

    Eu já vi essa cena antes, tantas vezes que nem precisava escutar o que diziam para saber o que aconteceria a seguir. O jogo tinha começado.

    E como sempre, eu sabia que não ia gostar do final .

    Me lembrava do primeiro encontro dos dois, na nossa casa é claro .

    Ela estava diferente naquela tarde.

    Passou um perfume forte demais, daqueles que sufocam qualquer um que chegasse perto.

    Vestiu um vestido preto justo, como se quisesse impressionar alguém.

    Eu a observei da cozinha, enquanto ela ajeitava os cabelos na frente do espelho da sala, e senti aquele nó apertado no estômago.

    Algo estava para mudar .

    Ron chegou pouco depois, batendo na porta como se já pertencesse à casa.

    Minha mãe abriu com um sorriso largo—um sorriso que eu não via há muito tempo, mas que não parecia real.

    Ele entrou como se já conhecesse o lugar, como se já tivesse pisado ali antes.

    — Maddison, este é Ron —minha mãe anunciou, a voz carregada de uma animação exagerada.

    Ron olhou para mim e sorriu.

    — Ah, então você é a Maddison. Sua mãe fala muito de você. Eu não respondi.

    Apenas cruzei os braços e fiquei ali, parada.

    Ron era um homem alto, forte, com cabelos escuros

    começando a ficar grisalhos nas laterais.

    Ele vestia uma camisa social bem passada, mas havia algo no jeito dele que me incomodava.

    Talvez fosse o olhar confiante demais, ou a forma como se sentia à vontade tão rápido.

    —Você não vai dizer oi? —minha mãe perguntou,

    impaciente.

    —Oi — murmurei, sem emoção.

    Ela revirou os olhos, mas Ron apenas riu, como se minha falta de entusiasmo não o afetasse.

    Minha mãe o levou para a sala de jantar, onde haviam montado uma mesa bonita, com vinho e um jantar que claramente não era para mim.

    Eu sabia o que estava acontecendo.

    Sabia que ela queria que eu aceitasse aquilo sem questionar, como se Ron pudesse substituir tudo que meu pai foi.

    Mas não podia.

    E eu não queria.

    Fiquei sentada no sofá, olhando pela janela.

    A vizinhança estava quieta, como sempre.

    Eu nunca fui muito próxima das pessoas dali.

    As crianças da minha idade costumavam me evitar porque eu era estranha—quieta demais, distante demais.

    Depois do enterro do meu pai, fiquei ainda mais silenciosa. Como se falar significasse reconhecer que ele realmente tinha ido embora.

    — Maddison, venha se juntar a nós — minha mãe chamou, mas não era um convite. Era uma ordem.

    Eu me levantei devagar, sem vontade, e caminhei até a mesa.

    O cheiro da comida era bom, mas eu não sentia fome. — E então, Maddison, o que gosta de fazer? — Ron perguntou, tentando puxar conversa.

    Olhei para ele, depois para minha mãe.

    Ela me encarava com expectativa, como se esperasse que eu fizesse parte daquele teatro.

    — Nada demais — respondi, e comecei a cortar a comida no prato sem intenção de comê- la.

    Minha mãe soltou um suspiro irritado.

    —Ela é assim — disse para Ron, como se eu nem estivesse ali.

    — Sempre foi quieta. As pessoas da vizinhança nunca

    gostaram muito dela por isso.

    Ela disse isso sem hesitação, como se não fosse algo cruel de se dizer na frente da própria filha.

    Ron apenas assentiu, como se entendesse algo sobre mim que nem eu mesma entendia.

    Eu apertei os talheres com força, sentindo a raiva borbulhar por dentro.

    Mas não disse nada. Porque eu era assim, afinal. Quieta demais.

    E, pelo jeito, sempre seria.

    Desde o início, havia algo em Ron que me incomodava. Enquanto minha mãe parecia encantada por ele e a vizinhança o via como um homem respeitável, eu enxergava algo diferente.

    Ele tentava se encaixar na nossa vida como se fosse natural, como se fosse um substituto para meu pai. Mas eu sabia que ele não era.

    Ele fazia questão de me agradar.

    Sempre aparecia com um presente—joias, perfumes, roupas caras—como se pudesse comprar minha aceitação. Mas eu nunca aceitava.

    Eu apenas deixava tudo na porta do quarto da minha mãe, recusando qualquer tentativa de aproximação.

    Para mim, ele nunca passaria de um intruso.

    Mesmo assim, eles se casaram.

    E foi então que comecei a perceber algo ainda mais

    perturbador.

    No começo, eram apenas olhares.

    Olhares longos demais, demorados, analisando cada

    movimento meu.

    Eu sentia sua presença mesmo quando não o via diretamente. Se eu me virava, lá estava ele, me observando do outro lado do cômodo, fingindo desinteresse.

    Com o tempo, aquilo foi se intensificando.

    As coincidências se tornaram frequentes demais para serem apenas isso.

    Ele aparecia nos lugares onde eu estava, surgia sem aviso, sempre com aquele olhar que me fazia estremecer.

    Eu tentava ignorar, fingir que era algo minha cabeça, mas no fundo, eu sabia que não era.

    E então, a verdade me atingiu como um soco no estômago. Demorei para entender, mas quando finalmente percebi, tudo fez sentido.

    Ron gostava de pessoas indefesas.

    Ele

    Está gostando da amostra?
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