A Última Ceia - Um conto de Terror Natalício
De Ana C. Nunes
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Sobre este e-book
O Natal é uma época para a família, em que os membros que não se vêem há muito tempo, se reúnem à mesa, partilham histórias, sonhos, alegrias e uma refeição tradicional. Mas neste Natal a ceia é tudo menos convencional. Uma delícia que poucos têm oportunidade de provar.
Um jovem aborrecido e descontente, em busca de aventuras nocturnas numa casa perdida à beira-rio, irá encontrar muito mais que prendas debaixo da árvore de Natal.
Uma refeição pode esconder muitos segredos …
Ana C. Nunes
Writing since 1998, only in 2008 did I start to write more seriously and with thoughts of possible publication. It was only when I started NaNoWriMo (National Novel Writing Month) that I actually gained a stable writing habit and, since then, I haven't stopped. I write short-stories and novels in the fantasy and science-fiction genre. Sometimes I delve into general fiction as well. mostly in short-stories. I also write and draw comics and graphic novels. And for one of my comics, "Someone once told me...", I won the 3rd prize at the 4th Odemira Comics Exhibition (in 2010). Published works elsewhere: - "Just my Luck", a graphic novel published in the newspaper Barcelos Popular (2006-2007); - "Electro-dependência" a short-story included in "Lisboa no Ano 2000", an anthology published by Saída de Emergência (2013); - Short-stories published in fanzines such as "NaNoZine" and "Fénix"; - Comics published in Comic albums such as "Odemira-te" and "Zona Nippon"; - "Anormal", a short story published by Editora Draco (2016).
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A Última Ceia - Um conto de Terror Natalício - Ana C. Nunes
Capítulo 1
Nunca fui muito com a cara do meu tio.
Ele parece mais velho do que é na realidade, tem uma barba suja e mal aparada que lhe chega ao meio do peito, e uns modos bem nojentos à mesa.
Não é que alguma vez me tenha feito mal, mas sinceramente preferia mil vezes ter de passar a noite de Natal na casa da tia Petúnia, mais os seus trinta gatos, do que na casa do tio José. Já para não falar que ele mora no fim do mundo, num sítio que mais parece um pantanal. Fico com as sapatilhas cobertas de lama nos dez metros que percorro entre o carro e o alpendre da pequena quintinha que ele habita sozinho desde que a tia Júlia morreu há sete meses. Acho que essa é a razão porque a mãe insistiu que passássemos cá a ceia. Ele recusa-se a deixar a propriedade por umas horas que sejam, e a minha mãe tem um coração de manteiga que só não se derrete quando lhe imploro por mais um jogo.
E eu aposto que este fim do mundo nem recebe televisão por cabo. E antena de satélite … nem vê-la.
Enquanto a mãe ajuda o tio a tratar do jantar e o pai acaba de enfeitar o pinheiro e coloca os presentes no chão, eu sou obrigado a deitar os olhos ao pequeno. O meu irmão atira pela terceira vez o prato ao chão, rindo-se como um macaquinho.
Para lá quieto.
Baixo-me e acabo por levar um pontapé na bochecha enquanto ele se continuava a rir. Dou-lhe uma chapada brincalhona no pé mas ele apenas começa a espernear com mais força enquanto tenta deitar o resto dos utensílios de plástico abaixo da mesa.
Mãe, o Gui quer ir para o chão.
Gui, fofinho, está mas é quietinho que a mãe já vai para aí.
- A mãe sabe que ele odeia estar na cadeirinha, mas como ela está enfiada na cozinha e quem tem de o aturar sou eu, isso parece ser de pouca importância.
Pego-lhe por baixo dos braços e ergo-os da cadeira. Pouso-o no chão e sorrio quando ele perde o equilíbrio e bate com o rabinho no chão. Mesmo quando está constantemente a pontapear-me a cara com aqueles pezinhos, ele é muito fofo.
Afasto-me uns passos e com as palmas das mãos para cima chamo por ele, incentivando-o a andar. – Anda. Gui, vem ter ao mano.
Ele curva-se para apoiar as mãos no chão e treme ao erguer o corpinho no ar, rabo primeiro. Equilibra-se nos dois pés, sem nunca parar de