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Os Candidatos: E Outros Devaneios Cénicos
Os Candidatos: E Outros Devaneios Cénicos
Os Candidatos: E Outros Devaneios Cénicos
E-book96 páginas1 hora

Os Candidatos: E Outros Devaneios Cénicos

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Sobre este e-book

Um homem, enclausurado numa única sala, na companhia de uma prostituta
tailandesa que lhe lê Haikus numa língua por ela inventada, come pregos e vomita
fogo, enquanto espera que um relógio assinale o fim do tempo e possa ser
reconhecido como herói por uma população qualquer.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de out. de 2018
Os Candidatos: E Outros Devaneios Cénicos

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    Os Candidatos - André Consciência

    Morte

    CENA I

        Do cenário fazem parte algumas confortáveis cadeiras, tipo poltrona ou sofá, e uma pequena mesa com revistas em cima ( cenário típico de uma sala de espera ). Duas pessoas, um homem e uma mulher. Ema, uma sensual rapariga, e Nuno, aguardam impacientes pela sua vez de serem chamados para uma entrevista. Chega, entretanto, uma outra mulher, Sibel, que também se candidatou e espera para ser entrevistada. No espaço que circunda o ocupado pelos personagens estão vários relógios, de vários feitios, e um pouco mais afastada está uma porta.

        Ema e Nuno folheiam revistas. Entra Sibel.

    Sibel:

        Bom dia. É aqui que estão a receber os candidatos para as entrevistas?

    Nuno:

        É sim, bom dia. Também estamos à espera.

    Sibel:

        Ainda bem que consegui cá chegar da primeira vez que enviei o meu curriculum, e fui chamada, não encontrei o local onde estavam a fazer as entrevistas e depois, das últimas duas vezes que concorri, não obtive resposta.

    Ema:

        Realmente é complicado encontrar os lugares que eles escolhem para receber os candidatos, mas talvez seja também uma forma de testar a persistência daqueles que poderão vir a ser escolhidos.

    Nuno:

        Foi complicado decifrá-lo no mapa.

    Ema:

        Conseguiste encontrar este lugar no mapa?

    Nuno:

        Foi-me enviado um mapa com esta localidade.

    Ema:

        Estranho. Nunca ouvi falar de alguém que tivesse recebido um mapa. Costuma ser uma descoberta pessoal, em que a pessoa é que escolhe a direcção que julga ser a melhor, e depois, ou tem sorte ou não.

    Sibel:

        É a primeira vez que concorrem?

    Nuno:

        Para mim é, por isso estou tão nervoso. Mas já conheci pessoas que conseguiram.

    Sibel:

        E tu?

    Ema:

        Eu? ( sorri ) Já concorri algumas vezes, mais do que tu, bem mais, e espero que desta seja de vez, aliás, eles já me devem conhecer bem. As minhas qualificações têm vindo a aumentar e a melhorar, por isso, estou confiante que vou finalmente conseguir. ( pausa ) Mas desejo-vos boa sorte.

    Nuno+Sibel:

        Obrigado/a

    Sibel:

        Só cá estão vocês, pensei que ia encontrar uma sala cheia de gente… ou já entrou alguém?

    Ema:

        Para já só estamos nós e ainda não chegou mais alguém. Não me parece que venha muito mais gente, ou, caso contrário, isto já estaria cheio. Ninguém, se for chamado, desperdiça esta oportunidade.

    Sibel:

        Pois, é complicado chegar a esta situação, a este estado.

    Nuno:

    ( com voz melancólica ) Estamos todos para o mesmo, acerca disso não restam dúvidas, e, se já conseguimos ser convocados… ( muda o tom de voz ) ; mas, olhando para vocês, pela vossa aparência, não me parece que estejam tão necessitadas como eu. Têm a certeza de que é isto mesmo que querem?

    Ema:

    ( com postura agressiva ) Tu é que és o novato aqui dentro! E tu? Tens a certeza, ou daqui a pouco vais mudar de ideias e, quem sabe, desperdiçar a oportunidade que seria tão preciosa a outra pessoa? Não te vejo muito convicto! Tens noção daquilo a que te propões?

    Nuno:

        Não te exaltes, senhora sensibilidade.

    Ema:

    É isso mesmo, sensibilidade, senhora sensibilidade, por isso mereço mais esta vaga do que tu.

    Sibel:

        Calma, não vamos discutir. Eles é que vão decidir. Se calhar, nenhum de nós irá ser seleccionado. Nem sei se ainda existirão mais fases de selecção.

    Ema:

        Não existem.

    Sibel:

        Melhor. Quais são os vossos nomes?

    Ema:

        Ema.

    Nuno:

        Chamo-me Nuno.

    Sibel:

        Assim já nos conhecemos melhor.

    Ema:

        Ninguém vem cá para fazer amigos.

    Nuno:

        És muito simpática Sibel, demasiado, talvez, para estares aqui connosco.

    Sibel:

        Faz parte de mim, mas isso nunca mudou nada. Além disso, tenho outros defeitos que superam bastante esta aparente simpatia.

    Ema:

        Pelo menos, aqui, podemos ser sinceros.

    Nuno:

        Mas quem não o é no dia-a-dia também não é junto da sua concorrência que o será. De um modo geral, acho que a sinceridade é uma conveniência.

    Sibel:

        Mas o que é que não é feito por conveniência hoje em dia?

    Ema:

        Lá dentro não terás hipótese de enganar ninguém, mesmo que queiras, e, caso sejas estúpido suficiente para o tentar, és imediatamente desqualificado. Eles sabem mesmo aquilo que tu próprio já esqueceste.

    Nuno:

        O mesmo acontece em outras situações da vida. Por vezes, somos afastados de certas ilusões pela descoberta da mentira que julgávamos ser indecifrável.

    Sibel:

        A não ser que tornes o acto de mentir numa forma de arte. Conheço várias pessoas assim, a quem a mentira se tornou numa espécie de membro que ocupa um lugar especial nos seus cérebros.

    Ema:

        Inabaláveis pela consciência.

    Nuno:

        São esses que se safam melhor.

    Sibel:

        Mas, também, quando as suas mentiras e intrigas são descobertas essas pessoas tornam-se repugnantes aos olhos dos outros; não que eu nunca o tenha feito, somos todos humanos, mas não com as dimensões a que certas pessoas chegam.

        Há um tenebroso silêncio.

    Nuno:

        Não comentas Ema?

    Ema:

        Nada tenho a dizer.

    Sibel:

        Vocês já se conheciam?

    Ema:

        Não. Por isso é que não admito provocações a esse estranho.

    Nuno:

        Ema? Peço desculpa se fui mal interpretado, não tenho nenhuma intenção em te provocar ou ofender. Além disso, estamos numa condição em que esse tipo de coisas não faz muito sentido.

    Ema:

        Sim, tens razão. Desculpa tu também, é que me exalto com muita facilidade.

        Sibel agarra numa

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