Seja Como For
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Seja Como For - Charlotte Willians
Prólogo
A vida adora jogar as coisas na cara da gente! Tudo o que fazemos uma hora ou outra terá seu preço cobrado. Caro ou barato você irá pagar! Eu só nunca quis pagar parcelado. Mas a vida tem das suas artimanhas, ela adora destruir seus planos só para mostrar que quem manda em tudo é ela…
Prefácio
Engraçado como percebemos que o fim está começando. Parece estranho ler as palavras começo e fim numa mesma frase, mas na verdade não é. Quando você deseja que tudo acabe (a dor e o amor) significa que o fim está se aproximando.
Os dias passam a seguir progressivamente, alternando-se entre nublado e chuvoso. Não no sentindo real, mas no sentido literal. O seu íntimo se torna cinza, obscuro e sem vida.
Turbilhões de sentimentos começam a abrir espaço para um nada. Um nada absolutamente grande, que nada preenche e onde não cabem perguntas tão pouco, respostas.
Se me pedissem para resumir, seria algo como: O momento em que você começa a perceber que coisas diferentes estão acontecendo com você, mas no começo elas não parecem muito relevantes. E cada dia que amanhece você sente como se na verdade houvessem duas de você.
Uma espécie de sombra ou irmã gêmeas que poderíamos representar aqui como Euforia e Tristeza.
Sempre que a Tristeza aparece, eu me sinto sozinha, vazia e a vida parece caminhar de forma mais lenta, como em slow-motion de filmes de ação.
A Tristeza é aquela que sempre me surpreende, as vezes ela demora a chegar, mas faz questão de estar ali sempre presente, sem razão ou explicação. Com ela eu me sinto mais velha do que eu realmente sou de fato; e também me pareço assim.
Meus dias se resumem ao único lugar onde eu ainda sentia algum conforto e prazer em estar. Em raras vezes afastava as cortinas do meu quarto e olhava para fora. Entretanto todo o mundo sempre parecia aproveitar a vida, enquanto eu não consigo mais reencontrar as coisas que antes me traziam felicidade. Todo mundo ao meu redor parece ter tantos sentimentos, que eu às vezes me questiono se eles não estavam sentindo tudo aquilo de propósito na minha frente, só para esfregar essa felicidade na minha cara!
A Tristeza passou a ser minha companheira... Minha melhor amiga. Fazer qualquer coisa simples, exigia de mim um esforço imenso para o qual eu não estava disposta. Tomar banho ou escovar os dentes passou a ser opcional!
Minha nova amiga me faz pensar e dizer coisas negativas sobre mim e para os poucos com quem eu ainda mantenho alguma relação.
Com ela eu estou sempre irritada. No fundo eu sei que ela roubou meu amor e sepultou minha vitalidade.
E todas as manhãs eu acordo com um leve beijo da Tristeza me mostrando como tudo durante o dia será sacrificante. Ela também me lembra que para que tudo acabe eu só preciso me decidir, preciso de uma única atitude... e aos poucos, em pequenos detalhes, me mostra em preto e branco soluções fatais.
Mas, sabe o que é pior? É não existir. Eu quero que ela vá embora! E nesses momentos em que as últimas forças são reunidas e a Euforia tenta ocupar o lugar da Tristeza; a primeira perde. Porque no fim era a Tristeza a mais persistente, fiel e companheira!
Com o passar dos meses cair se tornou mais fácil do que se levantar. As cortinas do meu quarto passaram a ficar sempre fechadas, os poucos amigos sumiram e eu passei a me isolar de tudo e de todos!
Quando se perde a felicidade em viver, você começa a se questionar qual é o real motivo da vida.
E este é o meio do fim. Neste momento você percebe que não quer mais estar viva. E se eu fosse capaz de ainda sentir alguma coisa, certamente estaria surpresa agora! Mas... Esse desejo incontrolável de parar de existir te traz em um ponto onde você só tem duas escolhas: ou você faz o caminho inverso ou você chegará ao fim do fim.
Mas decidir continuar vivendo, é muito difícil... Dolorido!
Porque voltar não é fácil como apertar o restart de um vídeo game após o game over. Envolvia tentativas para qual muitas das vezes eu não estava preparada (confesso que muitas dessas vezes eu também não queria estar).
Eu tinha medo que todos soubessem da minha condição. A última coisa de que eu preciso nesses momentos, são de pessoas me julgando, me questionando ou me dando soluções que poderiam milagrosamente mudar aquela situação.
Mas o fato é que fingir me desgasta, me obriga a uma exaustiva tentativa de enganar a mim mesma.
Manter uma mentira emocional nunca é fácil. Trata-se de envolver a todos em um conto magico onde você finge que está feliz para não magoar ninguém além de si mesmo.
Infelizmente a única atitude que eu conseguia tomar era chorar. Mas claro, sempre sozinha. Porque eu sou forte. Mesmo pisando em cacos de vidro consigo suportar o peso desse elefante chamado Tristeza.
Mas prefiro que conheçam esse momento pelo nome de choro
, porque é só isso mesmo. É chorar por chorar. E essa é a coisa mais frustrante da minha vida. Você não identifica sentimentos. Você não sente raiva, nem dor e nem amor. Seu único sentimento é de impotência.
Todas as tentativas de recomeço lhe mostram que não se pode lutar contra esse nada
. Porque ela é um grande e absoluto nada! Um algo tão absurdamente vazio que você é incapaz de descrevê-lo ou preenche-lo.
Esse momento é como ter um cachorro morto no colo e ninguém reconhecer que ele está MORTO. E ao invés disso, cada uma das pessoas que estão ao seu redor se oferecem para tentar encontrá-lo ou tentar descobrir como ele desapareceu, ou se ele adoeceu... E eu tento em vão gritar: Galera ele está aqui ohhhh! Mortinho!
E sendo exatamente assim que eu me sinto também é exatamente assim que eu não gostaria de estar.
A única coisa que eu desejo é sentir a felicidade invadir meu coração e que um sorriso genuinamente verdadeiro se desenhasse em minha face. Sem mais mentir para mim mesma... clique aqui
Capítulo I
- Você não está curiosa Anna? Perguntou-me Lanna animadamente, enquanto caminhávamos pelo campus em direção a nossa sala.
Ela era uma das minhas poucas amigas. Estatura mediana, cabelos longos e negros assim como seus olhos, sempre exibia um sorriso fraterno mesmo em situações que julgaríamos ser impossível.
- Nem um pouco! Respondi. - Vai ser só mais um professor velho e rabugento para dificultar a nossa vida acadêmica. E dei de ombros.
- Você devia ser mais otimista Ana. Às vezes a vida pode surpreender você. Lanna estava especialmente sorridente aquela manhã.
- Lanna, Lanna... Só você para ser tão esperançosa assim. Penso que a vida nem sabe que eu existo. Quanto mais que ela quer me surpreender. No máximo ela me prega peças.
Lanna e eu sempre rimos muito juntas ao ponto em que a barriga chegava a doer. E ela sempre estava bem. Alto astral. Raras às vezes, algo a incomodava a ponto de diluir seu lindo sorriso. Conversávamos enquanto caminhávamos pelo campus. O sol estava brilhando e seus raios amarelos refletiam nos cabelos negros de Lanna.
A Universidade era composta por três prédios com cinco andares cada. Vários cursos eram abrigados ali e aquela universidade era a mais conceituada da região. A estrutura física não era uma das mais modernas, mas tudo o que era necessário para a aprendizagem estava ali.
Ao redor dos prédios IV e V haviam estacionamentos pequenos, uma lanchonete bastante acolhedora próximo ao prédio I, as quadras esportivas próximo ao prédio III e uma área verde próximo ao prédio II.
A vinda do novo professor era uma expectativa na Universidade. Todos sabiam o nome, a profissão, mas ninguém conhecia suas feições. Era o primeiro dia daquele semestre. Havia burburinho em todos os corredores. Aquele era o assunto da vez. Nem o trote de recepção aos novatos abafava aquela novidade.
- Vocês sabiam que ele morava na Irlanda? Pude ouvir o questionamento de uma garota a um grupo delas na entrada do prédio. E seqüencialmente um frenesi tomou conta daquele grupo, entre gritinhos e pulinhos.
Ouvíamos diversas histórias sobre o professor novato. Mas o pessoal adorava contar histórias e eu raramente dava ouvido a