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O Que Me Trouxe Até Aqui
O Que Me Trouxe Até Aqui
O Que Me Trouxe Até Aqui
E-book369 páginas4 horas

O Que Me Trouxe Até Aqui

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Sobre este e-book

Um acidente pode destruir tudo, até mesmo uma história de amor. Você já parou pra pensar no que te trouxe até aqui? Quando você pensa nisso você se assusta com as milhares de possibilidades de coisas que poderia acontecer? Teoria do caos. Um simples “sim” ou “não” que você tivesse dito no passado poderia ter mudado toda a sua vida. Tudo que você conhece poderia estar diferente agora. Adam pensou nisso justamente no momento em que sua vida estava por um fio. Ele se lembrou de Eduardo e de como o conheceu, lembrou que sua vida estava virando de ponta cabeça e que Eduardo se tornou seu porto seguro. Seu amor. Adam tinha saído de um relacionamento com um final inesperado, isso o deixou mal. Seus amigos se tornam seu refúgio, a única coisa que o deixa feliz, mas não dura muito, pois o destino os separa. Adam fica sozinho, mas Eduardo entra na vida dele para mudar tudo. O jovem aprende muito com o novo companheiro, e sua vida depois disso não seria mais a mesma. Eduardo também trazia na bagagem muitas dores e problemas – problemas com os quais Adam talvez não seria capaz de lidar. E, como nem tudo são flores, os espinhos os machucam. A vidraça explode atrás dele. Os estilhaços voam pelo ar, vejo o carro se aproximar, é tão nítida a imagem, nem parece que acontece em milésimos de segundos. Será o meu fim? Eu pensei. Tem coisa mais esquisita que a vida? Em um momento você está vivo, feliz, rindo, ou até mesmo triste e, em questão de segundos, sua existência acaba. Tudo acaba como se não houvesse importância. Eu não sei se esse é o fim, mas eu sei como começou.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de fev. de 2017
O Que Me Trouxe Até Aqui

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    O Que Me Trouxe Até Aqui - Leonardo Libarino

    O QUE ME TROUXE ATÉ AQUI

    1ª Edição

    LEONARDO LIBARINO

    SÃO PAULO – SP

    Edição do autor

    2017

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    Não poderia publicar este livro sem agradecer:

    Vany, por ter me incentivado a continuar.

    Eduardo Henrique Rota Hilário, por ter escrito este poema lindo.

    Agradeço também Cassio, por ter contribuído com sua sincera

    opinião, e por ter me ouvido quando eu estava eufórico e ansioso.

    Adriana por ser sempre a grande amiga que é.

    Para a mesa de cabeceira da minha mãe.

    Nota do autor

    Saudações, caro (a) leitor (a)!

    Para muitos é o título, para outros a capa, eu não sei o que te

    trouxe até aqui, mas agradeço de todo coração a sua leitura. Este livro surgiu de um pensamento, de vários devaneios que tenho quando estou

    com a cabeça no mundo da lua. Acredite: é difícil ter um momento em

    que eu não estou lá. Eu poderia ter deixado esse pensamento se desvair da minha mente, mas não, eu quis eternizá-lo aqui, neste livro que você agora tem nas mãos, tenha estas escritas como uma história que poderia ter sido perdida, mas que por sorte está aqui agora, sendo passada com carinho. Eu sempre gostei de escrever, mas nunca consegui finalizar uma história, seja por perder o interesse pela história, ou por pensamentos como Essa história nunca vai ser publicada, mesmo. Mas esse romance me prendeu de um jeito, que eu só consegui sossegar quando vi a história finalizada, por isso ela é tão especial pra mim. Foi difícil a caminhada até aqui, acredite, não é nada fácil escrever um livro, e quando você consegue ir contra todos os obstáculos e chega ao fim da escrita, você então vê que escrever foi só a metade do caminho. Eu não reclamo da luta que tive, acredito que foi justa, tirando a parte da preguiça, é claro, confesso que esse foi um desleixo meu, mas não foi essa falha, e nem outras falhas que tive, capaz de me impedir de chegar até aqui.

    Boa leitura.

    Volto-me contra o tempo

    Arqueando, arfando,

    Ao reviver tuas últimas palavras.

    Busco relembrar algumas coisas.

    Como descobri teu inebriante calor?

    Como foi sentir teu toque, teu carinho?

    Doce utopia dos anos dourados.

    Por que estou retornando para casa?

    Para que dormir só

    Se tenho teus braços?

    Um passo, uma pausa, meia-volta.

    Retorno ao teu abraço, envolto em pressa e paixão.

    Penso sempre em ti,

    Imaginando o que me trouxe até aqui.

    A vida é um amontoado de consequências, uma coisa está ligada

    a outra. O presente determinando o futuro. Você não tem escapatória, as consequências sempre vêm.

    Tanta coisa poderia ter sido diferente!

    Imagine se eu não tivesse feito minha inscrição no curso, ou se

    tivesse escolhido outro curso.

    Imagine se ele não tivesse partido meu coração, ou se eu não

    tivesse o machucado.

    Ou se Jhon não tivesse feito o que fez, os erros dele também

    influenciaram para eu estar aqui.

    Imagine se eu não tivesse partido, eu teria ficado com ele.

    Indo mais além. Imagine se eu não tivesse nascido, isso

    resolveria muita coisa, dores teriam sido evitadas.

    Mas não gosto de pensar em como as coisas poderiam ter sido

    diferentes, essa incerteza me apavora.

    Há mais ou menos uma hora eu não poderia prever o que estava

    por vir, eu não sabia o que a vida me reservava.

    O céu está com aquele tom alaranjado de fim de tarde que eu

    acho lindo. O sol vai se pôr em questão de minutos. Respiro fundo antes de atravessar a rua, paro em frente à faixa de pedestre, o ar poluído de São Paulo dificulta a respiração. Qualquer pessoa que tenha nascido e crescido em uma cidade da Bahia como Camacan e seu clima tropical, e morado em uma cidade de ar puro como Poções, odiaria morar aqui.

    Mas eu amo, estou adorando São Paulo. Minha vida mudou bastante

    depois que mudei pra aqui.

    O semáforo abre e eu finalmente atravesso a rua. Ando mais um

    quarteirão, até que chego ao ponto de encontro. Brexó Bar e Cozinha, diz a placa de néon estampado na fachada. Ele fica na esquina entre as ruas Tabapuã e Doutor Mário Ferraz. Costumo vir aqui com alguns

    colegas nos finas de semana, o lugar é ótimo e a decoração é cool, gosto do estilo retrô e dos pôsteres antigos que eles têm na parede.

    Ignoro as mesas vazia do lado de fora, a calçada é estreita

    deixando as mesas muito próximas da rua. Entro no bar, devem ter umas 7

    dez pessoas no ambiente. Sento-me à mesa ao lado da porta de vidro. Na mesa do outro lado da vidraça tem um casal, o rapaz é oriental, digo oriental porque não sei distinguir a diferença deles apenas pelos olhos puxados. A moça sentada ao lado dele é loira, um tom de louro lindo, quase ruivo. Eles tomam vinho. Imaginei o sabor daquele vinho bem

    gelado. Está um calor infernal, vinho seria uma boa pedida.

    – Uma taça de vinho, por favor – Eu disse a gentil moça que me

    perguntou qual era meu pedido. Ela é nova aqui, nunca a vi antes. Ela tem um jeito sutil de falar e uma voz suave.

    Através do vidro, do outro lado da rua vejo um rosto conhecido,

    o rosto que eu queria tanto rever. Ele está parado olhando em direção ao bar, talvez me procurando, talvez verificando se é esse mesmo o local.

    Ele usa uma camisa azul de botões. É uma camisa bonita. Seu cabelo está crescido, um pouco ondulado, e a barba por fazer. Ele atravessa a rua.

    Quando entra pela porta logo me vê, ele abre um sorriso lindo. Como eu senti falta desse sorriso! Ele anda rápido em minha direção, como se cada segundo fosse precioso. Eu me levanto para cumprimentá-lo. Ele

    me abraça forte, um abraço tão forte quanto o que ele me deu em nossa despedida.

    – Eu senti tanto sua falta – Disse ele.

    – Eu também senti muito sua falta. Você demorou tanto!

    – Quase um ano – Ele completou.

    – Achei que não viesse mais.

    O longo abraço chega ao fim.

    – Você sabe como foi difícil essa viagem sair do papel – Disse

    ele sentando-se na cadeira oposta a minha.

    – Mas o que importa é que você está aqui. Me diz como você

    está? – Perguntei.

    – Agora eu estou bem. – Ele disse isso olhando pra mim, seus

    olhos castanhos cintilavam. Fiquei envergonhado.

    Estou com aquele frio na barriga, o mesmo que senti no nosso

    primeiro encontro. Prometemos um ao outro que seríamos sempre os

    mesmos. Mas isso de não mudar é algo impossível, estamos a todo

    tempo em constante mudança. Talvez tenha sido todo esse tempo longe

    dele que tenha criado essa sensação estranha, parece que toda aquela intimidade que tivemos não existiu, parece que somos outras pessoas, 8

    estranhas. Nesse momento eu só queria beijá-lo, mas parece que não

    tenho autorização para fazer isso.

    – E você? – Perguntou ele.

    – Eu estou bem. Uma correria maluca – Respondi.

    – Me conte mais sobre essa correria maluca – Disse ele.

    – Ah! Não é interessante, uma vida corrida, cheia de afazeres,

    não é interessante – Respondi com um sorriso sem graça estampado na

    cara.

    – Para mim é. Conte-me como foram esses últimos meses. Eu

    quero saber – Ele insistiu.

    Contei-lhe tudo. Como foram os dias sem ele e tudo que mudou

    depois que cheguei aqui. Ele me falou como foram seus dias, e o quanto sentiu a minha falta.

    Depois de alguns minutos de conversa ele me olhava como se

    me analisasse. Como se estivesse em busca de algo perdido em mim.

    Penso se ele estaria me achando diferente ou estranho. Talvez ele não me reconheça mais. Talvez a promessa de sermos sempre os mesmos já

    tenha sido quebrada. Eu mudei, não teve jeito, não se pode evitar essas coisas. As pessoas mudam e isso não é ruim, desde que seja uma

    mudança boa e construtiva. Ele, porém, parece não ter mudado, posso

    ver isso no rosto dele. Ele está girando a taça de vinho entre os dedos. É

    uma mania que ele tem, até isso ele não mudou.

    Um flash de luz cruza o céu, parece uma estrela cadente, mas o

    céu não está escuro o suficiente para ser possível ver estrelas. O barulho de tiro revela de onde veio o flash.

    Outro tiro, seguido de mais tiro.

    Eduardo lança um olhar de pavor. As outras pessoas parecem

    não perceber o que está acontecendo, bebem e se divertem como se

    estivesse tudo normal. A música no ambiente está baixa. Mas acho que elas, assim como eu, já se acostumaram tanto com a criminalidade daqui, que não se espantam mais, a menos que uma dessas balas as atinja.

    Tudo aconteceu muito rápido. Eu estava sentado em frente a

    ele, falávamos de como tudo era complicado na vida dele e de como as complicações corriam atrás dele. De repente aconteceu.

    Primeiro ouvimos as sirenes, depois os tiros. Quando eu vi, um

    carro desgovernado deslizava no asfalto. Posso ver o rosto do motorista, 9

    tão apavorado quanto o meu. Ele tenta frear. O pneu queima no asfalto, mas já é tarde. Nada podia ser feito, o choque era inevitável, o carro subiu na calçada atingindo as pessoas que estavam nas mesas do lado de fora. Ele se ergue jogando-se por cima da mesa, usando o seu corpo

    como um escudo sobre o meu. A vidraça explode atrás dele. Os

    estilhaços voam pelo ar, vejo o carro se aproximar, é tão nítida a imagem, nem parece que acontece em milésimos de segundos. Será o meu fim?

    Eu pensei.

    Tem coisa mais esquisita que a vida? Em um momento você está

    vivo, feliz, rindo, ou até mesmo triste e, em questão de segundos, sua existência acaba. Tudo acaba como se não houvesse importância.

    Eu não sei se esse é o fim, mas eu sei como começou.

    10

    Olhei no visor do meu celular para verificar as horas, me apressei quando vi que marcava 11h34. O dia estava claro e quente, um típico dia de outono em Poções, o céu estava com um tom de azul puro, e dava para contar nos dedos as nuvens visíveis. Eu temia estar atrasado para a inscrição do curso que eu estava prestes a fazer. Então corri três quarteirões até avistar o portão do local da inscrição, abotoei um botão de minha camisa que estava aberto e sequei gotas de suor que escorriam em minha testa, o portão estava aberto e eu entrei com tudo, avistei logo a minha mãe, que já me aguardava ansiosa. Ela estava em uma fila onde tinha uma placa que indicava Auxiliar na área de saúde, eu segui na direção dela, no local tinham umas vinte pessoas, e todas estavam na mesma

    fila.

    – Adam, porque demorou tanto? – Ela questionou com um

    olhar de julgamento.

    – Não estava encontrando o meu RG – Eu respondi ofegante.

    Minha mãe descobriu esse curso dois dias atrás, e desde então

    não me dá sossego insistindo para que eu faça. No início eu não gostei muito da ideia, não tem nenhuma opção de curso legal, e acho que faria coisas mais legais com os 350 reais que ela vai desembolsar todo mês. Eu queria mesmo era entrar na faculdade, mas não tem nenhuma

    universidade em Poções, as pessoas daqui saem para estudar, e como no momento não estou preparado para sair, eu fico e faço o que resta fazer.

    Luzia, uma amiga da minha mãe, estava logo a sua frente

    acompanhada de sua filha, ela se virou para mim e perguntou:

    – Você já decidiu que curso vai fazer?

    Eu estava em dúvida entre Auxiliar Administrativo e Gestão

    Empresarial . Eu simplesmente não me via em nenhum desses cursos, não é algo que eu queira dedicar quatro horas da minha vida durante

    cinco dias da semana. Mas essas duas opções eram as menos ruins.

    – Auxiliar Administrativo – Eu disse.

    11

    Não sei por que fiz essa escolha. Meu cérebro deve der agido

    sob pressão e feito uma seleção, sei lá, por ordem alfabética talvez. Mas mesmo não sabendo o porquê da minha escolha, estava decidido.

    – Ótima escolha. Eu só acho melhor você ir rápido para a fila,

    para garantir sua vaga.

    – Eu já vou indo – Eu disse antes de me virar e seguir na direção

    oposta. Eu andei em direção a uma placa que indicava Auxiliar

    Administrativo, mas não tinha ninguém na fila. Essa foi uma das poucas vezes em que eu fui o primeiro em alguma coisa. Trinta minutos depois, já tinha dezesseis pessoas formando uma fila indiana atrás de mim. Uma moça baixa e de cabelos longos que era a responsável pelas inscrições veio e deu um anúncio para que todos do local ouvissem.

    – Auxiliar na área de saúde, 40 vagas completas. Auxiliar

    Administrativo, 25 vagas, 8 restantes. Eletromecânica, 40 vagas, 22

    restantes. Gestão Empresarial, 25 vagas, 10 restantes. – Disse ela.

    Logo depois minha mãe e Luzia vieram até mim.

    – Eu e sua mãe estávamos pensando em também fazer o curso,

    pois as aulas são à noite e sempre estamos livres nesse período – disse Luzia.

    Fiquei surpreso. Muito surpreso, pra dizer a verdade. Não

    esperava essa decisão da minha mãe. Talvez tenha sido Luzia que a tenha influenciado, da mesma forma que fez com que ela colocasse na cabeça que eu deveria fazer esse curso. Mas gosto de vê-la se interessando por alguma coisa. Talvez seja produtivo pra ela fazer algo diferente, e

    também vai ser bom tê-la por lá, pelo menos vou ter com quem

    conversar.

    – Nossa, vai ser demais! – Eu disse soando um pouco

    exagerado. – Ainda tem oito vagas para Auxiliar Administrativo –

    Completei.

    – Bem! Então agora só tem seis – Disse Luzia.

    Elas entraram na fila para garantir as vagas. Minha mãe estava

    com um brilho no olhar, ela não estava com esse brilho quando saiu hoje de manhã gritando para eu me levantar da cama. A empolgação estava

    nítida na feição dela. Fico feliz em vê-la assim. Ela estava mesmo

    precisando manter a cabeça ocupada.

    12

    Mais 10 minutos se passaram e agora restavam apenas três vagas.

    Eu coloquei meu fone de ouvido enquanto o tempo passava, deslizei o

    dedo pela playlist até encontrar a música que eu procurava "Love Without Tragedy \ Mother Mary", de Rihanna. A cantora que morro de amores.

    O portão se abre devagar, o que de alguma forma chamou

    minha atenção. Fiquei observando para ver quem entraria em seguida,

    quando o vi. Um rapaz de estatura média, pele branca, cabelo preto com um penteado meio bagunçado, olhos castanhos e barba por fazer, ele

    vestia uma bermuda jeans clara, com tênis Converse All Star e uma

    camiseta preta, ele estava com uma mochila preta, e em suas mãos ele trazia uma pasta de documentos, ele era tão belo e charmoso. Com

    certeza eu nunca o tinha visto antes, eu lembraria se tivesse visto. Não desviei os olhos dele em nenhum momento e observei enquanto ele se

    dirigiu até a mulher baixa de cabelos longos, tirei o fone de ouvido para poder ouvir o que eles falavam, em meio às conversas paralelas eu só pude ouvir um pedaço da conversa.

    – Estou em dúvida entre Auxiliar na área de saúde e Auxiliar Administrativo – Disse ele.

    – Agora só restam três vagas para Auxiliar Administrativo e oito

    vagas para Eletromecânica.

    – Então fico com Auxiliar Administrativo – Disse ele. – Onde

    faço a inscrição?

    – Aguarde na fila – Disse a moça baixa de cabelos longos

    apontando para a fila em que eu estava.

    Eu dei um leve sorriso quando ouvi que ele faria o mesmo curso

    que eu. Continuei observando-o enquanto se dirigia até o final da fila, quando ele passou por mim eu pude ver que em seu pescoço tinha uma

    corrente fina com um pingente com o símbolo das Relíquias da

    Morte. Ele me olhou de relance e abaixou a cabeça e continuou

    andando, em seguida ele começou a conversar com uma garota que

    estava na sua frente. Eu mantive minha atenção nele, mas ele não me olhava em nenhum momento. Fui interrompido por um tapinha no

    ombro, era a mulher baixa de cabelos longos, me chamando para dar

    início às inscrições. Eu segui até uma sala onde havia três balcões, me dirigi até o que tinha uma placa indicando o meu curso.

    – Bom dia! – Eu disse.

    13

    – Boa tarde – Me corrigiu a senhora, de cabelos curtos e

    levemente grisalhos. – Seus documentos. – Continuou ela.

    – Adam Santos Santana? – Perguntou retoricamente.

    – Isso – Assenti antes de darmos início à inscrição.

    – Adam! Nunca conheci ninguém com esse nome. É americano?

    – Ela perguntou.

    – Na verdade é hebraico, apesar de ser bem comum entre os

    americanos. Minha mãe escolheu esse nome por causa de um ator que

    ela gosta.

    – Unhum – Disse ela sem dar atenção ao que eu estava dizendo.

    Claro que ela não estava interessada na história chata do meu

    nome chato. Ainda mais quando a história é mais chata que o nome.

    Minha mãe escolheu esse nome por causa do ator Adam Sandler. Ela

    decidiu meu nome durante um dos filmes dele que estava passando na

    Sessão da Tarde. Apesar de não ser um belo nome, eu até que gosto,

    bem melhor do que Aroldo, o nome que meu pai queria me dar.

    Depois de finalizar a inscrição, saí da sala e procurei uma cadeira

    para sentar e esperar por minha mãe. Sentei-me na única cadeira vaga, e logo me vi de frente para o garoto que tanto chamou minha atenção. Eu abaixei a cabeça e sorri enquanto disfarçava e pulava faixa por faixa, em busca de uma música que nem eu mesmo sabia qual era. Ele continuava

    conversando com a mesma garota. No mesmo instante eu vi o portão ser aberto com a força de um empurrão, eu olhei e logo reconheci quem era.

    Ele se chamava Iran, um garoto da minha antiga escola, e que eu

    detestava, ele era super irritante, daquele tipo de pessoa narcisista que se coloca no centro do universo. Ele se apressou e correu até a sala de inscrição. Eu fiquei pedindo mentalmente para o universo ajudar que ele não fizesse o mesmo curso que eu, mas fiquei frustrado quando ele foi na direção da fila de Auxiliar Administrativo, eu senti um embrulho no estômago, ignorei aquela cena e continuei a mexer no celular. Quando voltei a observar o garoto que chamou minha atenção, percebi que não foi somente a minha atenção que ele tinha chamado, eu vi que Iran

    estava quase babando atrás dele, e fiquei levemente irritado quando o vi se aproximando e puxando assunto com o garoto, mas o garoto não deu

    a mínima pra ele, o que me fez dar risadas sozinho.

    14

    Alguns minutos depois, minha mãe, Luzia e sua filha já haviam

    terminado as inscrições.

    – Já está tudo certinho. Vamos pra casa? – Perguntou minha

    mãe.

    – Vamos então. – Respondi. Olhei direto para o garoto para ver

    se ele estava olhando pra mim, mas ele não estava. Levantei-me e segui até o portão onde minha mãe já estava se despedindo da sua amiga, dei uma última olhada nele e saí.

    – Por que você não se despediu de Luzia? Ela foi tão legal com a

    gente nos avisando do curso – Disse minha mãe.

    – Eu estava distraído, não vi quando ela saiu – Falei um pouco

    constrangido.

    – Eu vi que você estava mesmo distraído – Disse ela me

    olhando com um olhar de acusação.

    Dei de ombros ignorando o comentário dela.

    – Você já sabe onde vai ser o curso e quando começa? –

    Perguntei mudando de assunto.

    – Sim, nessa ficha que você recebeu tem a data e o local onde

    será o curso. Você estava mesmo distraído – Ela disse sorrindo.

    Revirei os olhos para ela e peguei a ficha de dentro da pasta.

    – Dia 13 de maio, tenho 20 dias para me preparar – Falei.

    – Para nós nos prepararmos – Corrigiu ela.

    – Isso é tão estranho. Vamos ser colegas de sala.

    – Você não gostou da ideia? – Ela perguntou com um olha

    confuso. – Não. Não é isso. Eu acho muito legal, gostei muito da ideia.

    Mas eu estava lembrando do meu primeiro dia de aula no jardim de

    infância. Eu fiquei grudado no seu braço e queria que você ficasse

    comigo, e a professora dizia que eu tinha que deixar você ir. Eu só queria que você ficasse comigo, eu estava apavorado achando que se te soltasse não te veria nunca mais.

    – Você se lembra mesmo de tudo isso? Você só tinha cinco

    anos. – Sim. Eu tenho várias lembranças dessa época, e até mesmo

    antes disso – Falei.

    15

    Meu celular tocou. Olhei no visor e logo eu vi o nome "Jhon

    S2" e uma foto de nós dois juntos, que foi tirada no aniversário dele.

    – Oi, Jhon – Eu disse ao atender.

    – Oi, amor – Ele respondeu – Já se inscreveu no curso?

    – Sim, deu tudo certo.

    – Que bom que conseguiu!

    – E adivinha quem vai ser minha colega de classe? – Eu disse

    com empolgação.

    – Quem? – Disse ele.

    – Tente adivinhar.

    – Sei lá. Hum... Naty?

    – Não. Mas também seria legal.

    – Estou sem tempo, amor, fala logo – Disse ele parecendo

    irritado. – Minha mãe – Falei por fim contendo mais a empolgação.

    – Bacana! Olha, amor, vou ter que desligar agora, estou no

    trabalho. – Sim, tudo bem, nos falamos mais tarde.

    – Tchau – Ele desligou.

    À noite quando eu fui até a casa de Jhon, assistimos a um filme

    de terror qualquer, e depois passamos horas conversando sobre nosso

    dia e sobre planos que tínhamos para o futuro. Já era tarde quando ele me levou pra casa.

    – Entregue – Disse ele.

    – Obrigado, senhor, mas daqui a menos de um mês eu faço

    dezoito anos, já sei me cuidar sozinho.

    – Você ainda não fez dezoito. Eu sou o mais velho, tenho que

    cuidar da sua segurança – Disse ele.

    – Desde quando você assumiu o papel do meu pai?

    – Desde quando sua mãe permitiu o nosso namoro, lembra? Ela

    disse assim: Espero que você cuide direito do meu menino Jhon falou imitando a voz da minha mãe.

    – Você a imitou direitinho – Falei rindo.

    – Então, acho melhor você entrar porque ela está nos

    espionando pela janela.

    16

    – Como sempre. Mas é melhor eu entrar mesmo, já está tarde.

    – Boa noite, dorme bem – Ele me beijou.

    Depois do beijo ele se virou e seguiu andando. Eu fechei o

    portão atrás de mim com um empurrão. Antes de entrar em casa, olhei

    na direção dele, mas ele não olhou pra trás.

    Alguns dias depois, eu estava terminando de me arrumar quando

    minha mãe bateu na porta do meu quarto.

    – Adam, Jhon já está aqui – Disse ela.

    – Diga que já vou.

    Terminei de arrumar meu cabelo, deixando-o jogado para trás,

    formando um leve topete. Vesti um casaco, peguei a mala e saí do

    quarto:

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