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Histórias roubadas
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E-book179 páginas2 horas

Histórias roubadas

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Sobre este e-book

O autor é um contador de histórias. Não economiza recursos para manter o interesse do leitor. Acostumado ao jornalismo, prefere sequências rápidas, frases curtas e incisivas. As cenas centrais de seus contos são sempre muito fortes e marcantes.

É assim com o relato de dois jovens adolescentes que juram se encontrar na velhice; da tremenda transformação de uma mãe de família em lésbica; ou do mau-caráter que seduz a irmã do patrão para conquistar a empresa.

São 29 histórias. Todas mostram como mulheres e homens viveram acontecimentos excepcionais em suas vidas. Revelam as motivações secretas de cada um, especialmente as não confessáveis. Elas se explicam, por vezes, pela sedução do proibido e da transgressão. São verdadeiros momentos roubados do cotidiano, que fazem valer a pena estar vivo.

Se você for hipócrita, moralista radical ou fanático religioso, por favor, não leia este livro. Agora, se também quer sentir emoções que fogem do convencional, bingo! Este livro foi escrito para você.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de jan. de 2013
ISBN9788579603686
Histórias roubadas

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    Histórias roubadas - Roberto Araújo

    Sumário

    Sobre este livro

    Sobre o autor

    Citação

    Expediente

    Meu livro de cabeceira

    O exorcismo

    O trem

    Um amor para sempre

    Vida virtual

    A gorda virgem

    Grito na janela

    O jacaré, o licor de jabuticaba e a revolução sexual

    Obsessão

    Eu sei o que ela fez

    Melissa e Vitor

    Uma questão de peito

    O avesso do avesso

    O padre plugado

    O casamento do seu Nelson

    As meninas

    A mulher que falava com os mortos

    Desculpe, foi engano

    Histórias roubadas

    Dama-da-noite

    A irmã do patrão

    A semente e a paixão

    O caçador de boteco

    A incrível história de Rita

    Ave, Freud

    As portas

    Alívio

    Adão e Lilith

    A loja do escritor

    HISTÓRIAS

    ROUBADAS

    Roberto Araújo

    Sobre este livro

    O autor é um contador de histórias. Não economiza recursos para manter o interesse do leitor. Acostumado ao jornalismo, prefere sequências rápidas, frases curtas e incisivas. As cenas centrais de seus contos são sempre muito fortes e marcantes.

    É assim com o relato de dois jovens adolescentes que juram se encontrar na velhice; da tremenda transformação de uma mãe de família em lésbica; ou do mau-caráter que seduz a irmã do patrão para conquistar a empresa.

    São 29 histórias. Todas mostram como mulheres e homens viveram acontecimentos excepcionais em suas vidas. Revelam as motivações secretas de cada um, especialmente as não confessáveis. Elas se explicam, por vezes, pela sedução do proibido e da transgressão. São verdadeiros momentos roubados do cotidiano, que fazem valer a pena estar vivo.

    Se você for hipócrita, moralista radical ou fanático religioso, por favor, não leia este livro. Agora, se também quer sentir emoções que fogem do convencional, bingo! Este livro foi escrito para você.

    Sobre o autor

    Roberto Araújo é jornalista profissional desde 1972 e diretor editorial da Editora Europa. Começou no jornalismo diário no Jornal da Tarde, de O Estado de S. Paulo, no seu período áureo da década de 1970, quando se encantou pelo jornalismo literário. A partir de 1980 se especializou em revistas segmentadas e, mais recentemente, na edição de livros.

    Contato com o autor: araujo@europanet.com.br

    Se todos conhecessem

    a intimidade sexual uns

    dos outros, ninguém

    cumprimentaria ninguém.

    Nelson Rodrigues

    Copyright © Roberto Araújo, 2010, 2012

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS PARA

    Editora Europa

    Rua MMDC, 121

    São Paulo, SP

    www.europanet.com.br

    ISBN 978-85-7960-028-9

    Diretor Executivo Luiz Siqueira

    Projeto Gráfico de Capa Welby Dantas

    Foto de Capa Nelson Alves Jr.

    Modelo Maysa Magalhães/Talent Mix

    Diagramação Ludmila Viani Taranenko

    ePub Adriano Severo

    Revisão de Texto Cátia de Almeida

    Meu livro de cabeceira

    Foi um susto ouvir aquele uivo no meu quarto. Achei que vinha da rua. Botei a cabeça para fora da janela. O som vinha de dentro. Olhei debaixo da cama. Não era ali. Por eliminação, só podia ser ele. Meu livro estava uivando. Isso, é claro, não fazia nenhum sentido. Livros só têm palavras e figuras, pensava na inocência dos meus 8 anos. Encostei a orelha na lombada e escutei claramente o uivo de um lobo.

    Deitei de novo. Se fizesse barulho, minha mãe logo iria aparecer e me mandar dormir. Mas como alguém pode pegar no sono com um lobo uivando na cabeceira?

    Abri o livro. Uma luz intensa invadiu meus olhos. Fechei as pálpebras, assustado. Fui então abrindo meus olhos bem devagarinho. Só via o branco da neve do alto da montanha onde eu estava. Pior, eu era o lobo. Uivei, bem alto. Depois, lembrei que minha mãe poderia escutar e baixei um pouco o volume.

    Corri pela neve. Era estranho ter quatro patas. A neve era gelada e afundava à medida que me deslocava. Vi que não estava sozinho. Enquanto me acostumava com aquele corpo estranho e peludo, senti algo muito doloroso na barriga. Só então entendi tudo: não apenas eu, mas toda a matilha estava com fome e se preparava para atacar um búfalo. Achei o máximo.

    Na verdade fiz pouco, mas a matilha foi bem-sucedida. Algo me impulsionava e me vi rasgando o couro e comendo aquela carne crua e quente, com sangue escorrendo pelo canto da minha boca. Rosnei, arreganhei os dentes. Lobos são malvados, eu podia sentir o gosto bom de matar. Senti nojo da carne quente, mas o instinto não me permitia parar.

    Fechei os olhos bem forte. A luz foi sumindo conforme meu livro fechava. Estava de volta à minha cama. Aquilo era uma descoberta e tanto.

    Toda noite, então, eu vivia uma nova aventura. Era como mágica. Esperava todo mundo dormir e partia. Fui golfinho e baleia em fantásticos passeios pelo fundo do mar. Fui elefante, tigre e leopardo pelas savanas da África. Na Amazônia fui tucano, arara, uirapuru. Falando assim, parece algo romântico e bonito. Mas não era. Em cada um dos casos, a realidade da sobrevivência falava mais alto. A fome, a sede, as dores nas patas ou nas asas... Tudo era sempre um enorme sofrimento.

    Mas eu gostava. Muito. Mal podia esperar a hora de ir para a cama e começar mais uma aventura. Não contava nada para ninguém. Tornei-me um lobo solitário.

    Até então, era sempre como se eu vivesse os programas de vida selvagem que adorava ver na televisão. Escolhia um animal e pronto. Quando abria o livro, lá estava eu, literalmente, na pele do bicho.

    Há cinco anos eu me transformava em todo tipo de bicho, tinha muita prática em lidar com corpos estranhos. Cismei de me transformar em gente. Estava com 13 anos, bem naquela idade em que os meninos começam a mudar seus interesses. Eu tinha uma professora de artes que era a coisa mais linda do mundo. Certa ocasião, ao sair da escola, vi quando ela entrava no carro do marido. Olhei bem para ele, do mesmo jeito que olhava para os meus bichos na televisão.

    À noite, quando abri o livro, mergulhei pela primeira vez em um ser humano. Desta vez, quando abri os olhos, estava na cozinha e minha professora, só de calcinha, preparava o jantar. Eu era o marido. Gostei do que vi, mas fiquei assustado. Senti que aquilo poderia ser muito perigoso. Fechei os olhos, voltei. Melhor ser um gavião, passear pelos céus, mergulhar no ar em alta velocidade e destroçar a pomba distraída em cima de um muro.

    Resolvi fazer minhas experiências com humanos com quem não convivia. Gostava da mocinha da novela. Os beijos que ela dava no galã me deixavam louco. À noite, lá fui eu, livro aberto, beijar como na novela. Quando abri os olhos, ela estava em meus braços. Sentia o calor das dezenas de lâmpadas, as câmeras, um monte de gente segurando microfones, fios por todos os lados. Mas tive de parar após ouvir a bronca do diretor:

    — Mas o que está se passando aqui? Você deve beijar a mocinha, não ficar olhando para o estúdio!

    Melhor voltar. Fechei os olhos. Estava bravo comigo mesmo. Que idiota fui.

    Aquele livro se tornara uma obsessão para mim. Não prestava mais atenção nas aulas. Evitava os colegas. Não queria papo com as meninas. Passava o dia pensando o que poderia ser. Poderia ficar rico se me tornasse um gerente de banco e escondesse dinheiro onde só eu pudesse pegar depois. Ou, então, me vingar de quem não me tratasse bem, provocando brigas entre namorados, sendo o menino ou a menina.

    As possibilidades de praticar maldades ou até crimes eram tantas que virar um gavião para destroçar pombinhas se mostrava apenas uma brincadeira de criança. Comecei a ficar com medo de mim mesmo.

    A menina mais bonita da minha classe se chamava Sofia. Na aula de artes, num trabalho em grupo, ela cruzou as pernas na minha frente e isso me deu uma ideia. À noite, lá fui eu ser a Sofia. Quando abri os olhos, beleza, ela tomava banho. Alisei todo o corpo dela, agora meu, e fiquei olhando longamente no espelho todos os detalhes.

    Mas achei tudo muito esquisito. Ela, com seu jeito de menina, sorridente, bom papo, desaparecia. Eu controlava, era ela e eu ao mesmo tempo. Eu me sentia um invasor, um criminoso sem escrúpulos. Quando voltei para minha cama, chorei muito, arrependido.

    Agora, passava minhas noites insone, com o livro fechado. Eu era uma diversidade de bichos e pessoas. Eu podia ser qualquer um e isso fazia com que fosse ninguém. Tive então uma ideia.

    Mentalizei a mim mesmo e abri o livro. Mais temeroso que em todas as outras vezes, fui abrindo os olhos bem devagarinho, aterrorizado com o que poderia encontrar. Vi que estava na cama, exatamente como antes. A única diferença é que não segurava o livro. Procurei por todos os cantos, mas ele havia desaparecido. Não iria mais conseguir voltar...

    Foi assim que minha infância terminou, e fiquei preso em mim mesmo para todo o sempre.

    O exorcismo

    Fotografar um exorcismo! Era o que me faltava. Também, trabalhar com assessoria de imprensa... Só aparece bobagem. Justo eu. Lúcio Loyola. Cheio de créditos em fotos. Muito bem-feitas. Mais de 30 anos na grande imprensa. Estadão , Folha , O Globo , Correio Braziliense . Fiquei velho, chato, descrente. Exorcismo, bah! De fotos de evangélicos, então, ninguém quer saber. Publicar no jornal, nem pensar. Certeza de aborrecimento. Os fiéis protestam aos milhares. Os editores detestam. Ninguém mais me quer. Só mesmo esta agência de merda. Pelo menos, eles pagam o táxi. Indico:

    — Rua do Lavapés, na igreja ao lado da praça.

    O bispo me recebe. Olho de cima a baixo. Escaneio o cara. Usa botinhas. Que horror. Peruca, argh. Daquelas bem pretas. Tem fios demais. A batina é nova. Implico com seu sorriso. Acho falso. Já na primeira frase, sinto o mau hálito. Fazer o quê? Preciso do dinheiro. Três pensões para pagar. Cheio de filhos. Estamos em uma sala ao lado do altar. O bispo dá as instruções:

    — Sei exatamente a imagem que quero: a foto do momento exato em que o fiel estiver caindo. Vou fazer o exorcismo e você fotografa a queda. Entendeu bem? A foto tem de ser do momento em que ele cai, porque é nesse momento que o demônio sai. Entendeu? Preciso falar mais uma vez? Você deve fotografar na hora em que o fiel for ao chão.

    Porra, bispo idiota. Sou velho, não estúpido. Nem surdo. Apronto o equipamento. Vou para a igreja. Casa lotada. A música é doce. Fico até emocionado. Justo eu. Uma puta velha. A música sobe. Trompetes e clarins. O bispo entra. Já bato uma foto para conferir o equipamento. O bispo começa sua arenga. Fala bem. Só conhecia bispo evangélico de ouvir falar, mas católico ele não é. Evangélico, só pode ser. Deve ser trambique independente. Tem até assessoria de imprensa. E fotógrafo... Vamos, vamos, vai começar.

    — Irmãos, hoje vocês sairão daqui em estado de graça. O Menino Jesus de Praga tem poder. Realiza milagres na Europa desde a época em que o Brasil foi descoberto. E hoje vai operar um milagre em você. O capeta que tem atrasado a sua vida vai ser expulso por mim, em nome do Menino Jesus de Praga, o Carpinteirinho...

    Esse bispo é uma máquina de falar. Não tenho nada para fazer. Por enquanto. Bato mais umas fotos. Só para não ficar parado. Vou escutando. Fico lendo a cara dos fiéis. É gozado. Eles ficam fazendo caretas. As palavras, às vezes, parecem carícias. Eles sorriem. Ou então são como tapas. Eles re­cuam, desviam a cabeça. O bispo também os examina. Escolhe um que estava com os olhos virando. Manda vir para a frente. Deve ser o meu modelo. O bispo fala sem parar.

    — Meus irmãos, esta medalha é sagrada. Veio especialmente de Praga para proteger um de vocês. Esta benção especial do Menino Jesus de Praga vai para a casa de um de vocês. E trará toda a felicidade do mundo. Paz conjugal, saúde para todos, amigos sinceros, dinheiro, muito dinheiro para fazer o que quiser, com a graça de Deus, amém. Vai levar esta medalha abençoada para casa aquele que der a maior contribuição para a igreja. Os obreiros estão ao lado. Eles estão preparados para a sua contribuição. Temos todas as máquinas para débito e crédito — Visa, Mastercard, American Express — todas. Sim, você também pode dar cheques...

    Olho. São quatro postos de recebimento. Dois na frente da igreja.

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