O fenômeno religioso: Como entender
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O fenômeno religioso - Ivo Pedro Oro
Ivo Pedro Oro
O fenômeno religioso
Como entender
www.paulinas.org.br
editora@paulinas.com.br
Agradecimentos
Meu agradecimento sincero e de coração a quem, de uma forma ou de outra, contribuiu para que a elaboração e edição deste livro se tornassem realidade. Destaco e agradeço aqui, especialmente:
ao Ms. e Prof. Rodinei Balbinot, amigo de muitas jornadas, que prontamente aceitou fazer a apresentação;
ao Dr. Prof. Pedro A. Ribeiro de Oliveira, de quem muito aprendi e que, com seu olhar sociológico, fez neste texto algumas oportunas pontualizações;
aos participantes do Curso Teológico-Pastoral de Leigos(as) da Diocese de Chapecó, que, com seus questionamentos, me avivaram o desafio de continuamente me atualizar nas pesquisas de conteúdos e informações na área das religiões;
às pessoas que vivem intensamente sua fé e, no trabalho eclesial, valorizam o conhecimento e a formação.
Sou-lhes muito agradecido, sempre!
Apresentação
Desde os primeiros sinais do ser humano sobre a terra verifica-se a presença de objetos, desenhos e locais sagrados. O fenômeno religioso é parte integrante de toda a história da humanidade. E se o religioso surgiu desde o início talvez seja porque tenha algo a ver com a natureza humana.
Se de médico e de louco todo mundo tem um pouco, também de cientista da religião. As pessoas vivem e emitem suas próprias opiniões sobre o sagrado, as religiões, a religiosidade, os ritos e práticas religiosas. Significa que a dimensão religiosa faz parte do cotidiano das pessoas.
Penso que estas duas justificativas já seriam suficientes para darmos mais importância ao estudo das religiões e do fenômeno religioso. Mas podemos ainda dizer que cerca de 98% da população mundial tem alguma prática religiosa. Diversificam-se as formas e diminuem os fiéis de algumas Igrejas tradicionais, mas o fenômeno religioso é, inegavelmente, um dos sinais mais relevantes do início do século XXI. Já não encontramos quem acredite que a ciência supra a necessidade das religiões. É cada vez maior o número dos que buscam estudar mais profundamente a dimensão religiosa do ser humano.
A última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9.394/96, publicada em 20 de dezembro de 1996, no artigo 33, prevê o Ensino Religioso como disciplina obrigatória dos currículos nos diversos níveis de ensino da Educação Básica. O objeto principal desta disciplina é o fenômeno religioso. Entende-se, portanto, que o estudo do fenômeno religioso é fundamental para a formação humana.
Haveria de ter um material didático próprio e focado no objeto de conhecimento da disciplina. Não é esta a realidade da grande maioria das nossas escolas, que ainda trabalha conteúdos fragmentados, mais apropriados para uma mensagem para dias comemorativos, de cunho moral ou emocional.
O texto que apresento é um exemplo de possibilidade de estudo social e científico do fenômeno religioso. É profundo, escrito em linguagem acessível, baseado em experiência de observação, fundamentado em literatura clássica e atual sobre o tema.
Ivo Pedro Oro tem experiência de mais de quarenta anos com trabalho popular e conhece demasiadamente bem as práticas religiosas. É mestre em Ciências da Religião, professor universitário, assessor de lideranças sociais e conhecedor dos clássicos da sociologia das religiões, bem como dos principais teóricos das Ciências da Religião, dentre os quais destaca-se o seu sobrinho, Ari Pedro Oro. Essas referências dão-lhe autoridade para abordar com sabedoria e precisão conceitual uma temática por demais polêmica e palco de fanatismos e fundamentalismos.
A conciliação entre a seriedade da pesquisa científica com a manifestação viva do fenômeno religioso perpassa as linhas e as entrelinhas deste livro. O autor soube, por experiência e conhecimento, promover o diálogo entre a academia e a militância, entre a ciência e o senso comum. Diálogo esse raro de encontrar e difícil, pois a linguagem da ciência muitas vezes é por demais abstrata, e a do senso comum excessivamente subjetiva.
Você, leitor(a), tem em mãos um material fantástico para ampliar a sua visão acerca do fenômeno religioso e das religiões. Leve este livro às escolas e ofereça-o como subsídio aos professores de Ensino Religioso. A educação será melhor quando fundamentada em bons livros, como este.
Rodinei Balbinot
Diretor-geral da Rede Santa Paulina – Educação
Introdução
Hoje em dia, em assunto de religião, todo mundo dá opinião. Falando em futebol, todos escalam a seleção e o time de seu coração. Falando de saúde, todos têm seu entendimento e costumam dar suas receitas para as doenças mais diversas. Mas, no Brasil, nos últimos tempos, até a respeito das religiões, de questões relativas à fé, quase todos têm seu parecer. Nas últimas décadas, religião virou tema de reportagens. Quantos programas abordaram rituais ou outros aspectos de religiões! Religião virou assunto de novelas e da mídia em geral. Dificilmente uma novela não inclui alguma forma de religiosidade.
Alguns filósofos e cientistas, há dois ou três séculos, previram o fim da religião. Hoje, ao contrário, são muitos os cientistas que se debruçam sobre o fenômeno religioso procurando descobrir, a partir dele, o que acontece com os humanos e com a sociedade. Afinal, não somente não acabaram as religiões como houve mesmo um crescimento em certas práticas e manifestações religiosas. Ou, como preferem muitos, há mais uma volta do sagrado do que da religião propriamente dita.
Em nosso País, ou mesmo próximo da gente, percebe-se que todos opinam sobre aquilo que a mídia vai abordando e sobre o que enxergam na realidade de sua comunidade e da igreja de sua cidade. Aí, são tantos os comentários sobre a prática de tal pastor, sobre o método de tal igreja, sobre as decisões da diocese ou paróquia, sobre a fala do ministro, sobre o padre cantor que aparece em tal canal de TV... Todos se dão o direito de opinar e de entender
de tudo. São contra isto e a favor daquilo. Gostam de tal grupo, detestam tal corrente, ou tal linha.
O fenômeno religioso atual é amplo e complexo. Por fenômeno religioso entendemos tudo o que está acontecendo e aparecendo no cenário das religiões: êxodos, migrações, estilos preferidos, novas práticas, grupos e correntes que crescem ou esvaziam, tendências e outros elementos. Abordamos aqui neste livro alguns aspectos que auxiliam para uma melhor compreensão. Entendemos que, para uma análise científica e mesmo para uma vivência de fé mais assumida e esclarecida, é importante saber ler o contexto religioso e cultural que está à nossa volta. O mesmo vale para quem exerce algum ministério em sua comunidade e Igreja.
Apontamos mais adiante, no segundo capítulo, de maneira rápida, algumas tendências do fenômeno religioso atual, que consideramos principais, sobretudo no Brasil. Por certo, dentro do vastíssimo pluralismo cultural de nosso mundo, são muitas as propostas e tendências religiosas que aparecem. Não há uma tendência única e exclusiva. Há grupos diferentes, com manifestações religiosas e grandes ou pequenos ritos sagrados dos mais diversos perfis e calibres.
Como diz o ditado popular, mundo para ser mundo tem de ter de tudo
. Muitas coisas acontecem no âmbito das religiões no nosso tempo. Há até deuses sem religiões e religiões sem deuses. Há religiões e Igrejas que crescem espantosamente, enquanto outras sofrem perdas relevantes. Há segmentos que abandonam uma e vão para outras, grupos que não têm Deus, e religiões que não têm muitos adeptos, mas clientes. Ter conhecimento de algumas dessas marcas do fenômeno religioso, as que mais sobressaem, é fundamental para entender o atual mundo das religiões.
Veremos no primeiro capítulo alguns pressupostos e posturas fundamentais para uma análise e compreensão mais corretas do fenômeno religioso atual. Nele confrontamos duas atitudes básicas: etnocentrismo e relativização. Trazemos presente o que é uma análise na perspectiva das ciências sociais, bem como o significado de religião, Igreja, seita, sagrado, fé etc. E o mais importante para compreender o fenômeno religioso: como as situações sociais e culturais interferem e contribuem na produção religiosa, e como toda produção religiosa tem implicação política.
No segundo capítulo, apresentamos dados das religiões no Brasil. A partir deles, pontualizamos algumas questões centrais e levantamos tendências desse panorama que mais saltam aos olhos. Aproveitamos para registrar e explicar, mesmo não sendo predominante, um movimento que persiste e resiste em pleno terceiro milênio: o movimento fundamentalista – sua gênese, estrutura e função social.
No terceiro capítulo trazemos presente algumas religiões populares, para entender por que boa parte do povo migra de um lado para outro e para compreender essa produção religiosa coletiva: o Pentecostalismo, as religiões afro-brasileiras, o Catolicismo popular e alguns elementos das religiões indígenas.
Por fim, no quarto capítulo, apontamos algumas atitudes que são assumidas com o objetivo de uma maior vivência ecumênica e da construção de mais paz entre as religiões e Igrejas. Neste ponto, lembramos o que é ecumenismo e umas condições para vivência ecumênica. E propomos, para as religiões e para todos nós, como decorrência da fé, seja ela da cor que seja, um compromisso mais verdadeiro e eficaz com a vida da humanidade, com as próprias práticas das instituições religiosas, com novos valores para a sociedade e a defesa do planeta.
Queremos ressaltar que, mesmo na simplicidade desta elaboração, a construção dos três primeiros capítulos constitui uma análise com perspectiva científica. No último capítulo, ao discorrer sobre possíveis rumos e compromissos das religiões e Igrejas, tão necessários no contexto atual da humanidade e do mundo, nós o fazemos na ótica teológico-pastoral cristã.
Pressupostos e posturas para
entender o fenômeno religioso
Alguns pressupostos são necessários para uma observação e compreensão científica do fenômeno religioso de nosso mundo. Vemos isso num primeiro momento e, em seguida, trazemos alguns conceitos e distinções. Por fim, lembramos diversas posturas que julgamos fundamentais quando se adentra este campo e se defronta com práticas tão diferentes e convicções tão contraditórias.
1. O mundo das religiões sob o olhar das ciências sociais
Quando se estudam cientificamente as religiões, não se faz com intuito de conhecer para atacar ou desprezar nem para afirmar que uma é melhor do que outra. Muito menos para concluir se existe ou não tal ser superior no qual creem esses fiéis. Pesquisa-se e estuda-se o fenômeno religioso com um olhar definido, o das ciências sociais. Deixa-se de lado aquilo de que se tem certeza pela fé.
1.1. O estudo científico do fenômeno religioso
¹
Aqui entram as dúvidas, até como elemento metodológico. As ciências sociais partem de perguntas: Por que as pessoas acreditam que Deus fala para elas? Por que sentem necessidade de uma força que vem do sobrenatural? À ciência não cabe nem negar nem confirmar que Deus fala, ou que forças sobrenaturais protegem. Isso está fora do alcance das ciências sociais. Elas estudam e analisam o fenômeno social, ou seja, as relações entre os seres humanos e este(s) possível(eis) ser(es) superior(es), bem como as relações entre os próprios humanos e seus comportamentos, como decorrência de sua crença, de sua fé e de sua pertença a determinada instituição religiosa. Mesmo porque Deus, por definição, não é ser humano, portanto os sociólogos e filósofos não podem estudá-lo e pesquisá-lo. Deus está fora de seu alcance, e um estudo na perspectiva das ciências sociais não consegue nem ao menos saber se ele existe ou deixou de existir.²
Isso posto, pode-se pensar que uma ciência social, como a sociologia, de cara tem um problema sério: começa o estudo da religião cortando o que tem de mais importante na religião, que é o divino. Estranho, mas é quase isso mesmo. Ela estuda somente o fato social, então não pode estudar nada que não seja do social
. Quer dizer, tudo o que é biológico, psicológico, subjetivo está fora do foco de seu estudo. Um teólogo pode entender ou tentar entender se a fé da pessoa é grande ou fraca. O cientista social não.
Ciência social é estudo do social, portanto da relação entre os seres humanos e as suas instituições. O lado espiritual, as motivações internas, a crença e a fé são dados pessoais, individuais, subjetivos, portanto não objeto do cientista social. Este não faz considerações sobre duas coisas importantes na religião, que são a experiência religiosa subjetiva e a divindade. Sobra o que para ele estudar? Estuda a religião, mas não a fé de quem crê nem o objeto da fé, que é o divino. Estuda a religião como linguagem e como relação entre as pessoas que creem: a linguagem que expressa a experiência religiosa e as relações sociais a ela relacionadas. Assim, o fenômeno religioso dá lugar a um fato social – as religiões, as Igrejas. Estuda as Igrejas como instituições sociais. Portanto, as ciências sociais estudam o fenômeno religioso sem considerar a questão subjetiva nem o enfoque do divino.
Durkheim e outros cientistas tentaram o esforço de fazer da religião um campo que ajuda a entender a sociedade. Nós também, analisando como o povo procura ou não as religiões, podemos trilhar o mesmo caminho: compreender melhor a sociedade. Isso é ver a religião do ponto de vista das ciências sociais. Nele as religiões aparecem como fenômenos e como fatos sociais, e assim são objeto de estudo. Religião enquanto mistério não é objeto das ciências sociais. É objeto da teologia, ou de uma disciplina teológica, teologia das religiões. Para as ciências sociais, a religião é tomada como fato social, sobre o qual é possível dizer algo.
As ciências sociais não se pronunciam sobre o mistério e sobre o transcendente porque eles não são nem fatos nem atores sociais. O cientista social pode até acreditar no transcendente. Mas, enquanto faz ciência, pronuncia-se sobre a representação que tal grupo faz de uma entidade, ou sobre a manifestação sociocultural de sua fé, ou sobre o grupo que a constrói. Jamais, porém, pronuncia-se sobre o representado. Apenas sobre a representação.
Ao olhar das ciências sociais, pode-se dizer que o estudioso, ao se aproximar do e analisar o fenômeno religioso, percebe que as coisas, os elementos e expressões religiosas não são todos iguais. Como cientista, contudo, jamais pode emitir um juízo afirmando que existem religiões mais verdadeiras e menos verdadeiras. Um sociólogo faz sociologia, não uma sociologia católica nem sociologia umbandista, nem sociologia protestante.
O que isso significa na prática? Vamos a um exemplo muito simples e rápido: estudar o Islã. Sua origem está no profeta Maomé, que recebeu uma revelação do arcanjo Gabriel. O anjo ditou o Alcorão ao profeta. E Maomé o retransmitiu ao povo. A análise, sob o olhar da ciência social, começa com o momento em que Maomé retransmite o Alcorão a seus discípulos. A parte da revelação escapa à ciência. Mas o cientista estuda por que essa mensagem religiosa pegou
nessa região e para esse povo, o que significou para suas vidas e sua organização.
Outro exemplo. Moisés desceu da montanha com as tábuas da lei, segundo o Livro do Êxodo da Bíblia. Depois de ele lhes propor os mandamentos do Senhor, as pessoas responderam mais ou menos assim: Essa é a revelação da vontade de Deus, ela deve ser levada a sério. Faremos tudo o que o Senhor disse
. O sociólogo discute por que naquelas condições sociais do povo hebreu a revelação de Moisés foi aceita e deu origem ou profundidade a esse tipo de religião, e início a uma nova organização social.
A sociologia faz uma redução sociológica
. O fenômeno religioso é muito amplo, mas o cientista o reduz à questão social. Aliás, as ciências reduzem um fato complexo a uma questão determinada, a uma perspectiva. Assim, quando a sociologia estuda um objeto e o pesquisa – como, por exemplo, um culto pentecostal –, analisa-o como um fato social, como uma coisa
, sobre a qual se debruça, investiga, comprova, analisa, relaciona com teorias sociológicas e levanta possíveis hipóteses. Sempre o considera como um fato social, como um fenômeno
(o que aparece e o que há por trás do que aparece), reduzindo-o à perspectiva sociológica.
Nossa sociedade e, talvez, nossas casas estão cheias de símbolos religiosos. São símbolos que fazem parte da religiosidade popular. Se estão aí é porque dizem alguma coisa para as pessoas. Fazem sentido. Normalmente, quando se estudam as religiões, prefere-se analisar os outros
. As pessoas têm dificuldade de manter um distanciamento em