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Ontologia do Sagrado Feminino: A Outra História Precisa Ser Contada
Ontologia do Sagrado Feminino: A Outra História Precisa Ser Contada
Ontologia do Sagrado Feminino: A Outra História Precisa Ser Contada
E-book278 páginas5 horas

Ontologia do Sagrado Feminino: A Outra História Precisa Ser Contada

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Sobre este e-book

Frente aos modos de vida insustentáveis da contemporaneidade, o livro Ontologia do sagrado feminino: a outra história precisa ser contada nos coloca em contato com as memórias ancestrais a partir dos registros da cosmovisão de mulheres e homens que habitaram o planeta Terra, durante um período estimado em 30.000 anos, em torno de uma Mãe Primordial considerada a Grande Mãe do toda a criação.

Nossos ancestrais foram capazes de desenvolver uma vida comunitária significativa, uma vez que consideravam a Terra como um grande corpo feminino , e como tal, Sagrada. Entretanto, esta cosmovisão foi deturpada, assim como os valores éticos que nos definem como humanos.

Livro nos mostra, de que modo ostensivo, o rebaixamento infringido à mulher afetou também à humanidade, assim como a todos os seres que coabitam conosco no planeta Terra, inclusive, à própria Terra.

Na atualidade, ainda somos prisioneiras e prisioneiros de histórias mal contadas. Arrastamos, ingenuamente, amarras simbólicas que adoecem o corpo, embotam as emoções e paralisam em nós as forças da vida. Entretanto, não somos vítimas, o ruim só permanece até compreendermos que podemos transformá-lo. É essa a libertação que podemos atingir com esta obra.

A autora nos presenteia com uma renovada compreensão do humano a partir do reposicionamento da mulher como ser-sagrado-no-mundo. As reflexões propostas não se restringem à mulher, senão que nos lançam a todas e todos, tanto ao público leigo quanto a educadoras e educadores, no compromisso de acordar novamente o nosso Ser para a dimensão ontológica do sagrado feminino a fim de revitalizar os sentidos existenciais e encontrar as respostas de que estamos precisando.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de set. de 2018
ISBN9788547319755
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    Ontologia do Sagrado Feminino - Patricia María Ingrasiotano

    PPGEA.

    SUMÁRIO

    1. O DESPERTAR DO SAGRADO FEMININO EM MIM

    1.1 Algo da minha história ... 

    2. O PARADIGMA DA (IN)SUSTENTABILIDADE

    2.1 O saber ambiental e seu solo de debates 

    2.2 A dimensão ambiental na Educação 

    2.3 Fusão de horizontes compreensivos 

    3. O MITO DE DEMÉTER E PERSÉFONE

    4. NASCIMENTO: O GRANDE CORPO FEMININO DA MÃE TERRA

    4.1 A Pré-história da Deusa

    4.1.1 Distorções interpretativas 

    4.2 A Cosmovisão Feminina Genetriz

    4.2.1 Arte e Mitologia

    4.2.2 Rituais Funerários 

    4.3 A Civilização Minoica

    5. TRANSPOSIÇÃO: O PANTEÃO OLÍMPICO

    5.1 A história antes da história: A Mãe Primordial 

    5.2 O Acontecimento: a inversão dos mitos de origem 

    6. MORTE: A RELIGIÃO OFICIAL

    6.1 Os jogos de verdades e as verdades em jogo

    6.2 A Santa Inquisição ou a inquisição das santas? 

    7. RENASCIMENTO: O RESGATE DO FEMININO REJEITADO

    7.1 O Movimento Feminista 

    7.2 O Feminismo radical/cultural 

    7.3 A Ecologia Profunda 

    7.4 O Ecofeminismo 

    7.5 Tealogia: a Teologia Feminista 

    8. UMA ONTOLOGIA DO CUIDADO NA DIMENSÃO 

    AMBIENTAL DA EDUCAÇÃO

    8.1 De que história estamos falando? 

    8.2 Rumo a um novo paradigma civilizatório 

    REFERÊNCIAS

    LISTA DE ABREVIATURAS

    LISTA DE FIGURAS

    1. O DESPERTAR DO SAGRADO FEMININO EM MIM

    1.1 Algo da minha história...

    Na minha busca pelo autoconhecimento, por volta de 1990, já tinha escutado falar de um grupo de mulheres dedicadas aos estudos da espiritualidade feminina, cuja protagonista era a Deusa, a Grande Mãe de toda a criação. Embora, em princípio, saber disso me trouxesse certa incomodação, seja pela excentricidade que eu via na proposta, seja pelo temor que me despertava, minha curiosidade foi maior, e decidi investir na empreitada de saber do que se tratava.

    Com esse propósito, comecei a participar de um grupo de estudos sobre espiritualidade feminina liderado pela escritora Ethel Morgan², uma das pioneiras Argentinas nesse novo campo de saber.

    Lembro que Ethel se ocupava de traduzir todas as publicações, assim como outros materiais de estudo, que chegavam para nós redigidos em língua inglesa. Logo, com base nas traduções e suas reflexões, estudávamos juntas, uma vez por semana, em grupos reduzidos de até 10 mulheres. Naqueles encontros grupais, misturávamos conhecimento com suporte afetivo, deliciosos chás, risos, angústias e descobertas que precisavam de muita coragem, e apoio amoroso, para serem integradas.

    Pois é, o assunto principal que nos ocupava, e nos congregava, era descobrir de que modo poderíamos vivenciar nossa espiritualidade se tivéssemos como prerrogativa a presença feminina de Deus, ou seja, uma Deusa Mãe. E, pelo que me lembro, só o fato de aceitar ponderar essa premissa, mesmo que fosse como uma possibilidade arquetípica³, resultava para nós, Todas, uma vivência transformadora e comovente.³

    Quanto ao que se passou comigo, e para minha própria surpresa, de início nada agradável, fui capturada por uma imagem feminina que considerei controversa. Tratava-se de uma pintura que comportava, como tema central, uma mulher nua em estado meditativo, porém acocorada e parindo uma criança. Deus dando à luz (God giving birth) (Figura 1), como sua autora denominou a obra para salientar, de forma irônica, quem foi mesmo responsável pela parição do mundo: um Deus feminino, ou seja, uma Deusa mãe.

    A Deusa Mãe cria o mundo a partir das suas entranhas

    FIGURA 1 – GOD GIVING BIRTH

    FONTE: Pintura de Monica Sjöö, 1968

    Logo soube que Monica Sjöö⁴, artista plástica norte-americana, foi presa quando, no ano 1968, bem no começo do movimento de espiritualidade feminina, apresentou essa pintura.

    Na sequência, e ainda que eu assistisse piamente a todos os encontros, não foi uma transição fácil. Lembro que, no começo, custava-me assimilar, inclusive, o tema que nos congregava: Espiritualidade feminina? Deusa? O que é isso? Vai que seja uma coisa pagã!, cada vez que uma dessas ideias, ou imagens, passava pela minha mente, eu me arrepiava. Bem que, naquele momento da minha vida, pouco ou nada sabia sobre o paganismo, e menos ainda da raiz profunda da qual derivavam suas práticas. O que posso alegar é o fato de ter nascido em uma família com forte tradição cristã, sendo os dogmas da igreja católica constitutivos da minha identidade, e, com isso, a lente principal através da qual percebia o mundo. Assim, a palavra pagã servia, naquela hora, como o álibi adequado que me eximia de qualquer compromisso de aproximação a esse fenômeno da espiritualidade feminina e da Deusa, uma vez que sinalizava algum tipo de excentricidade perigosa e não cristã.

    Claro está que a identidade que construímos não é um sinônimo para camisa de força, mesmo que, na época, minha conformação identitária pretensamente dogmática aparentasse funcionar assim. Isso porque, de acordo com Ciampa⁵, a identidade é o desenvolvimento do concreto, e para mim o concreto era professar uma religião de base cristã que demarcava os limites do meu território existencial. Território este hierárquico, unilateral, masculino e controlador. E isso mostra até que ponto a identidade se constitui a partir das articulações possíveis com as dimensões da realidade a nós apresentadas, seja política, social, étnica ou religiosa.

    De outro lado, a identidade também é provisória. Assim, com base na transitoriedade dos seus elementos, cabe dizer que é a metamorfose o conceito que melhor define esse movimento permanente de mudança e transformação. Isso porque identidade é movimento, é desenvolvimento do concreto. Identidade é metamorfose. É sermos o um e um outro, para que cheguemos a ser um, numa infindável transformação⁶. Essa qualidade constitutiva nos permite, diante das viradas e mudanças que nos tornam outro de nós mesmos, reconhecer e integrar essa unidade flexível, e dizer: Esta aqui sou eu!

    Aponto o conceito de identidade devido à sua importância na compreensão de como ocorrem as nossas mudanças e transformações, às vezes, a partir da revogação de uma ideia que, até então, considerávamos medular. Assim também pode explicar-se minha própria guinada, ou seja, a passagem de quem eu era, ou considerava ser, para quem eu sou, ou considero ser neste momento em que me encontro escrevendo para você, leitora ou leitor.

    Posto isso, pressuponho melhor compreendido o porquê da imagem dessa parideira primordial, que à primeira vista foi percebida, por mim, com um olhar medroso, desconfiado e de rejeição, ter-me lançado, mais tarde, em uma viagem reflexiva-retrospectiva que sacudiu aquele meu mundo, no momento de apresentar-me outra e ousada perspectiva existencial. Perspectiva essa que fazia com que eu me inquietasse e me questionasse.

    Com isso, reconheço que a imagem me desmontou. Não demorei em perceber até que ponto minha vida estava sujeita a uma cultura de hierarquias, ancorada em uma mecânica percepção do tempo, e na primazia da racionalidade sobre o sentir. Isso ficava claro cada vez que desafiava ou ignorava as mensagens do meu corpo, para dar conta de deveres e exigências que se tornavam prioritários em detrimento do fluxo da vida.

    Essa constatação inicial me instigou a buscar respostas, e, à medida que as encontrava, os fios da minha interioridade começavam a se ligar, uns aos outros, e a tecer a trama dos sentidos, de novos sentidos. Falar de interioridade, neste estudo, requer alguns esclarecimentos, uma vez que não faço alusão a um núcleo intrapsíquico, senão a um deslocamento da consciência que, diante de uma relativa liberdade perceptiva, precedida pela ruptura ou inconsistência da realidade anterior, na qual acreditava, começa a vislumbrar outra possibilidade existencial.

    Desse modo, comecei a perceber a Terra como um grande corpo feminino, e a imaginar como seria percebida por nossas(os) ancestrais há 30.000 anos, data estimada pela arqueóloga lituana Marija Gimbutas⁷ a partir dos seus achados. Os trabalhos de Gimbutas⁸, de Leroi-Gourharn⁹ e Mellaart¹⁰, dentre outros, apresentam uma vasta iconografia sagrada feminina, que coloca em xeque algumas das narrativas consideradas como verdades absolutas no que diz respeito à constituição da pré-história humana.

    Tais manifestações iconográficas exibem os mitos de criação que constituíram as identidades das(os) nossas(os) antepassadas(os), nos quais uma figura feminina, exaltada por seus atributos nutridores, estava colocada no lugar central. Assim como estavam circunscritos os ciclos de nascimento-morte-retorno ao ventre de uma mãe primordial.

    À medida que me apropriava das novas percepções sobre os inícios da civilização e revelava-se ante mim a cosmovisão que, ao que parece, predominava nos povos ancestrais, uma ruptura profunda ameaçava minha própria identidade. Definiria essa instância como a revogação de uma crença medular que, sem eu saber, até aquele momento, subjugara-me. Por isso, ainda que se anunciasse um movimento libertador, a constatação da amarra simbólica retida nas memórias do meu corpo e calcada na minha história de vida foi uma experiência dolorosa.

    Em princípio, e apesar da energia que nos fornece o estado de raiva, senti-me em farrapos, uma vez traída pelo supremo, por aquele que até então considerava meu Deus. Lembro que, nessa época, até escrevi uma carta de protesto endereçada a Deus. Lamentavelmente, não sou dessas pessoas que guardam lembranças em gavetas, mas dessa vez teria sido bom, pois lembro que o xinguei até mais não poder, e também chorei. Chorei de raiva ao perceber-me subserviente de uma crença religiosa sustentada por uma vasta iconografia punitiva e penitencial que constelava¹¹, até esse momento, minhas experiências de vida em um território existencial de culpa e de dor.

    Logo, e apesar de reconhecer que a culpa religiosa replicou-se durante séculos, e chegou até nós de um modo assertivo e mordaz, dei por finalizados os prantos e xingamentos, curei toneladas de culpa, e reatei meu vínculo com a Grande Mãe. Refiro-me aqui a ter começado a desenvolver, a partir daquele momento, uma sensibilidade corpórea, emocional, cognitiva e espiritual mediada pelos mitos e as múltiplas imagens arquetípicas que chegavam a meu conhecimento como representações iconográficas transbordantes de informações sobre o princípio feminino primordial. Estas, assim como ocorreu com a pintura de Sjöö¹², foram as ideias-força que sustentaram meu novo modo de compreender o mundo e de viver nele.

    Esse movimento que envolveu o desencantamento, desconstrução e reencantamento que acabei de relatar, foi um processo longo. E, apesar de, olhando para trás, poder ver claramente um continuum de (sem) sentidos que enriqueceram minha existência, posso afirmar que a escolha de me manter em sintonia com as novas descobertas não foi fácil.

    De início, meus novos interesses conflitaram com o mundo coorporativo empresarial de que fizera parte. Na época de 90, ocupava um cargo de liderança em uma empresa de marketing, e não demorei em perceber que os princípios hierárquicos que regiam aquele conglomerado humano respondiam aos padrões tradicionais do velho mundo, dentre eles o cumprimento de metas exigentes desconexas dos fluxos da vida.

    Em minha condição de mulher divorciada e com dois filhos pequenos, contar com o suporte econômico de uma empresa sólida não era uma questão para se desconsiderar. Por isso, em princípio, procurei humanizar meu campo de influência e resistir, embora não demorei em descobrir a ineficácia das minhas ações, e renunciei.

    A renúncia, como logo percebi, não foi a um trabalho senão à submissão. Submissão da qual eu me libertara enquanto outras e outros ficaram presos. Submissão que não implicava, necessariamente, renunciar a um trabalho e sim às amarras de qualquer opressão.

    Saber disso, e saber que existem pessoas amarradas, como assim eu compreendia, e ainda compreendo, fez-me sentir responsável desde então. Se formos ver o significado do termo responsabilidade no Dicionário Larousse da Língua Portuguesa¹³, encontraremos, dentre outros, o seguinte: 1. Caráter ou estado de responsável; 2. Obrigação geral de responder pelas consequências dos próprios atos, ou pelos de outros. Assim, quando falo em responsabilidade, refiro-me a ter sentido a necessidade constante de buscar ampliar minha capacidade de responder.

    Nesta obra, procuro deixar claro esse posicionamento quando questiono o fato de ainda sermos reféns de histórias mal contadas. Histórias que precisam de revisão e reflexão, em vista de que são essas as histórias que nos constituem, as mesmas que consolidam nossas crenças, nossos padrões de conduta, nossos hábitos, nossa ética.

    Considero que arrastamos, ingenuamente, amarras simbólicas que adoecem o corpo, embotam as emoções e paralisam em nós as forças da vida. Entretanto não somos vítimas, o ruim só permanece até compreendermos que podemos transformá-lo. E esse, a meu ver, é um movimento libertador que só acontece quando outros referenciais podem ser acessados.

    Por isso, já de início, proponho revisitar, a partir de registros arqueológicos dos períodos Paleolíticos e Neolíticos, o modo de vida dos nossos ancestrais, os quais partilhavam de um elo comum, a crença em uma Deusa Mãe geradora de todas as formas de vida. Esse princípio feminino genitor, ou genetriz, como será denominado neste estudo, comportava, dentre outros sentidos que se mostraram nas investigações e que mais adiante serão apresentados, um sentido de unidade com a natureza e as criaturas. Assim, independentemente do reino de procedência, seja ele animal, vegetal ou mineral, os seres vivos compartilhavam uma essência comum: o seio da Mãe Primordial, cuja força criadora dava à luz tudo e todos(as), tal como explica Dittrich¹⁴ ao tratar de culturas pré-socráticas:

    Os povos antigos, com suas organizações tribais e sua visão mitológica da vida, já viam a natureza como um todo dinâmico, dirigido por uma força criadora poderosa originada da Deusa-Mãe de tudo e de todos. Sentiam, percebiam a natureza como um grande corpo (organismo vivo) que se revelava a partir de uma grande dança criadora de tudo e todos.

    Frente a isso, podemos afirmar que a sociedade hodierna segue na contramão, sendo a experiência de separação tão profunda que indica claramente a desconexão da força criadora imanente à Terra, da qual gozavam os antigos. Isso me leva a pensar que, ao seguir o rastro da matriz ontológica do sagrado feminino, podemos acessar referenciais que deflagrem novos sentidos para nossa existência individual e comunitária.

    Com esse propósito, organizei o livro em oito capítulos. No capítulo introdutório, denominado O DESPERTAR DO SAGRADO FEMININO EM MIM, apresento minha própria história, considerando o impacto ocorrido a partir do meu primeiro encontro com a parideira primordial, assim como a profunda mudança identitária que afetou meu modo de ser, sentir e atuar no mundo.

    No segundo capítulo, O PARADIGMA DA (IN)SUSTENTABILIDADE, apresento a problemática que me instigou a escrever esta obra, seja esta a falta de resolutividade diante dos problemas que nos acometem como humanos, que habitamos a Casa Comum, a Terra. Problemas esses que ameaçam a subsistência de todas as formas de vida no planeta.

    Nesse capítulo, apresento os posicionamentos de pesquisa-

    dores(as) de diversas áreas do saber que questionam a validade do paradigma civilizatório dominante, assim como a racionalidade fragmentada que o conforma.

    Na sequência do capítulo, apresento as correntes da Educação Ambiental, assim como os autores(as) que oferecem o marco teórico às reflexões deste livro, e cujo solo de discussões nos endereça para a dimensão ontológica, na qual possibilidades outras de ser-no-mundo podem ser pensadas.

    No capítulo três, que denomino O MITO DE DEMÉTER E PERSÉFONE, apresento o mito agrário das Deusas Gregas Deméter e sua filha Perséfone, cujo enredo me permite reflexionar sobre a relação da mulher com seu corpo, além de situar quatro momentos constitutivos da ontologia sagrada feminina: o nascimento, a transposição, a morte e o renascimento.

    No quarto capítulo, denominado NASCIMENTO: O GRANDE CORPO FEMININO DA MÃE TERRA, apresento informações a respeito da organização social das culturas pré-patriarcais ligadas a um princípio feminino genetriz.

    O quinto capítulo trata da TRANSPOSIÇÃO: O PANTEÃO OLÍMPICO. Situo aqui o acontecimento que incide na transposição da hierarquia do gênero sagrado, tirando a primazia do feminino, como foi manifestado no Panteão Olímpico da Antiga Grécia.

    No sexto capítulo, denominado MORTE: A RELIGIÃO OFICIAL, abordo o período da Idade Média e exploro o acontecimento em que a Igreja Católica torna-se a principal instituição religiosa com poder político e riqueza suficientes para doutrinar a sociedade medieval da Europa Ocidental e se apropriar dos seus mitos ancestrais. Esse doutrinamento alicerça-se na culpa que se alastra a partir da crença em um pecado original que responsabiliza a mulher pela expulsão do paraíso, e tira todo crédito ao feminino, alocando a mulher a um lugar de exclusão.

    No sétimo capítulo denominado RENASCIMENTO: O RESGATE DO FEMININO REJEITADO, traço um caminho para chegar a compreender de que maneira a manifestação simbólica do sagrado feminino se mostra no movimento de espiritualidade feminina. Isso me levou a conhecer as raízes constitutivas desse coletivo. Mostram-se, assim, os esforços reivindicatórios dos movimentos feministas quanto às lutas de gênero, até chegar à compreensão do modo como o princípio feminino genetriz se fortalece e mostra uma face renovada a partir do Ecofeminismo. Sendo esse uma amálgama de saberes ambientais, femininos e sagrados que dão lugar à Tealogia ou Teologia Feminista.

    No oitavo capítulo, denominado UMA ONTOLOGIA DO CUIDADO NA DIMENSÃO AMBIENTAL DA EDUCAÇÃO, retomo o questionamento inicial para mostrar a maneira como a matriz ontológica do sagrado feminino se revela e oferece novos sentidos de cuidado. Dentre esses, vão descortinando-se outros horizontes compreensivos para pensar o ser humano, as relações, a terra em que habita e a educação.

    2. O PARADIGMA DA (IN)SUSTENTABILIDADE

    Os modos de viver na contemporaneidade não contemplam os cuidados de si nem do planeta. Essa falta de cuidado é marca registrada da originalidade do nosso tempo, que parece apegar-se a um paradigma civilizatório que condena a vida. O filósofo Leonardo Boff¹⁵ corrobora esse argumento quando fala que

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