Mãos que Trazem à Luz : Memórias das Parteiras de Oeiras - PI
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Mãos que Trazem à Luz - Sandy Swamy Silva do Nascimento
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Dedicamos este livro exclusivamente às nossas parteiras tradicionais, Maria Aparecida, Elizabete dos Santos, Antônia Segundo, Maria Francisca e Maria Ferreira, que abriram a porta de seus corações, nos fizeram rir e chorar com suas memórias.
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer, primeiro, a Deus, por ter me dado a oportunidade de realizar este trabalho, sabendo de toda as minhas limitações. À minha família, por todo amor e carinho, à minha mãe, Francisca Pereira, aos meus avós, Antônio Pereira e Francisca Ferreira, aos meus irmãos, Henri Arleson e Gabrielly Silva, aos meus tios, Antônio Geano e Alberto Pereira, à minha cunhada, Raylane Freitas, e ao Luiz Nascimento, ao Fellipe Anthony, à Giovana, à Maria Luiza e à Pyetra Victória. Vocês são essenciais para a minha existência.
Agradeço de coração ao Weidson Menesses, que prontamente atendeu ao pedido de me acompanhar na casa das parteiras. Aos meus amigos, que me acompanharam nessa caminhada: Janaina Costa, é meu alicerce em todos os momentos em Picos; Danilo Kelvin, por todos os dias tentando fazer esta obra sair; Márcia Neide, pelos abraços e conversas; Mailson Sousa, que, mesmo com a distância, sempre me incentivou e me ajudou em meio às crises de ansiedade; Fernanda Meneses, tuas conquistas me fazem trasbordar, amiga, obrigada por todos os seus esforços em mais um projeto de vida. Esperança Garcia vive! E Pedro José obrigada por sua existência.
Às jornalistas do apartamento 102, Hellen Barbosa, Lívia Costa e Fabiana Santos, por todas as lágrimas, sorrisos e abraços. E aos meus amigos de turma, em especial ao Marcio, à Bruna e ao Queilan, obrigada por tudo. Que vocês alcancem todos os seus anseios e sejam fortes, a caminhada não foi fácil até aqui e não será nos próximos anos. Resistência, meus amores!
Não posso deixar de citar os agentes comunitários de saúde da zona rural: Marinete, Ducilene, Jucelino e Carmem, vocês foram muito importantes para que chegássemos até as nossas protagonistas.
Meus mestres, Edvan Luiz, Evandro Alberto, Michelly Carvalho, Adriana Magalhães e Thamyris Viana, muito obrigada pela amizade e pelos ensinamentos não somente sobre jornalismo, mas também sobre um novo olhar da vida e do ser humano. Lana Krisna, não tenho palavras para definir tudo o que aprendi contigo durante os últimos anos, e à professora, Clarissa Carvalho, agradecida pelo material cedido sobre parto e parteiras, pela atenção e inspiração para o tema. Gratidão aos que ficaram ao meu lado. Inclusive, o sonho desse livro alçar vôo só foi possível com o apoio do Deputado Assis Carvalho, que assim como eu, quer perpetuar as histórias das parteiras. Grata!
Sandy Swamy Silva do Nascimento
APRESENTAÇÃO
O que vem à sua mente quando escuta a palavra parteira
? Esta obra vai mexer com o seu imaginário, fazê-lo lembrar-se da casa dos seus avós ou conduzi-lo a realidades que, talvez, você só veja em filmes. As histórias foram escritas com muita cautela para que todos os detalhes pudessem transportar o leitor ao mundo das parteiras, para a sala de suas residências humildes e todos os espaços narrados ao longo do texto, apresentando suas características físicas e psicológicas, de forma que o leitor consiga imaginar suas feições e emocionar-se com suas falas.
Você terá a honra de conhecer mulheres corajosas, que deixavam suas casas e famílias para servir às grávidas da região a qualquer momento. Não existia dia ou horário, bastava receber um chamado que largavam tudo que estavam fazendo para trazer novas vidas à luz. Muito além do conhecimento sobre o parto, essas mulheres trazem consigo os legados de humanidade e serviço. Fortalecidos pela manifestação da cultura e das vivências piauienses, da medicina popular e do amor ao próximo, que se revelavam a cada parto.
Além de viajar séculos para compreender a história do parto, você conhecerá vidas que foram salvas com os recursos da paciência, escuta e respeito à fisiologia feminina. É inexplicável a forma como as parteiras relatam suas vivências aqui expressas em leitura simples e calorosa. A cada história contada, o seu lado humano vai aflorar, despertando o desejo de sorrir e chorar. Após esse passeio, sua visão sobre essas mulheres será de admiração diante da coragem e da determinação que carregam.
Sandy Swamy Silva do Nascimento
Lana Krisna de Carvalho Morais
PRÉFACIO
Você já tocou a mão de uma parteira? Se sim, você é uma pessoa privilegiada. Dizem que as parteiras carregam uma magia especial na palma de suas mãos, são capazes de passar segurança e afeto apenas com um toque, é algo que não se pode ver a olho nu, apenas sentir.
Ao longo da leitura, você terá a oportunidade única de conhecer a vida e as memórias de mulheres simples do sertão piauiense, com pouca ou sem nenhuma instrução formal, humildes e sempre dispostas a ajudar. Que carregam o dom de trazer novas vidas à luz. As histórias reais passam-se no interior do Piauí, zona rural do município de Oeiras, também conhecida como capital da fé ou velha capital, denominações que remetem ao fato de ter sido a primeira capital do estado. Em meio às agruras do sertão nordestino, onde o homem, antes de tudo, é um forte, onde nascer e escapar são atos de coragem, como bem disse Euclides da Cunha.
Memórias são voláteis, perdem-se com o tempo. Sentimentos perduram enquanto vivemos. Ao morrer, o ser humano não consegue levar consigo nenhum bem material adquirido em vida, mas leva suas memórias e seus sentimentos, esses possuem valor inestimável, pois conseguem dizer se fomos felizes ou não. Há um dia que separa a vida da morte, é nesse pequeno intervalo de vicissitudes que o ser humano se dá conta das histórias não contadas, dos amores guardados e das dores subestimadas. Em fração de suspiros, tudo se vai, ficam as fotos e as lembranças que, aos poucos, esgarçam-se nessa grande sinfonia de acontecimentos que é a vida dos que ficam.
Imortalizar memórias não é tarefa fácil, mas necessária. Um povo que desconhece suas origens, as lutas dos seus antepassados, desconhece-se. É nesse chão fértil de histórias guardadas no anonimato das memórias que o Jornalismo Literário e a História Cultural encontram-se para trazer à luz as vivências de fontes não oficiais, mulheres pouco reconhecidas, silenciadas.
Michelle Perrot (1989), na obra Práticas da Memória Feminina, destaca que pouco espaço foi destinado às mulheres ao longo da narrativa histórica e ressalta a grave ausência de fontes e de registros primários. Ao tratar sobre o silêncio dos arquivos, acrescenta que, de forma geral, a observação sobre as mulheres no passado se detém pouco sobre as mulheres singulares, desprovidas de existência, e mais sobre ‘a mulher’ entidade coletiva abstrata à qual se atribuem as características habituais
(PERROT, 1989, p. 11). A singularidade e o protagonismo feminino foram excluídos do debate social por séculos, em especial, quando essas mulheres não pertenciam à elite ou a famílias tradicionais. Mas isso não resulta dizer que, nos bastidores da história, as mulheres viviam passivamente, elas faziam a revolução ao seu modo e dentro das suas possibilidades.
O Jornalismo Literário, que tem Gay Talese como um dos principais precursores no mundo, proporciona ao leitor narrativas cuja linguagem aproxima-se da ficção, mas tratam do real. Na obra Mãos que Trazem à Luz: memórias das parteiras de Oeiras-PI, você encontrará um aparato histórico para melhor compreender o surgimento das parteiras, desafios e caminhos revolucionários trilhados em período em que o conhecimento sobre o corpo feminino era proibido, inclusive para as mulheres. Em seguida, acontece um mergulho em águas profundas, adentrando nas memórias