O Professor e a pesquisa
De Menga Lüdke
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Sobre este e-book
Esse livro é fruto de um estudo sobre as relações entre o professor da educação básica e a pesquisa, tema de uma das questões mais discutidas pela comunidade educacional em todo o mundo: a do professor pesquisador. A ideia de pesquisa como componente necessário ao trabalho e à formação dos professores está presente em obras de numerosos estudiosos da educação e já aparece em leis, projetos e planos governamentais.
Sua importância é amplamente reconhecida, mas pouco se sabe sobre sua prática em nossas escolas. Os autores desse livro indagaram a professores de estabelecimentos de ensino médio da rede pública o que pensam sobre a questão e analisaram suas opiniões à luz do debate teórico desenvolvido atualmente sobre o tema. - Papirus Editora
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O Professor e a pesquisa - Menga Lüdke
O PROFESSOR E A PESQUISA
Menga Lüdke (coord.)
Cleonice Puggian
Filipe Ceppas
Rita Laura Cavalcante
Suzana Lanna B. Coelho
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SÉRIE PRÁTICA PEDAGÓGICA
O universo da produção intelectual na área pedagógica, no Brasil, ainda carece de material didático que subsidie o trabalho dos professores de ensino médio e de ensino superior no exercício de sua atividade docente.
A Série Prática Pedagógica tem exatamente o objetivo de oferecer a esse professor textos que sirvam como fontes de referência para o desenvolvimento de sua prática no contexto da sala de aula e dos laboratórios de pesquisa
. Pretende-se atuar na perspectiva da formação pedagógica do professor em suas dimensões de consumidor e construtor do saber na área pedagógica.
A série envolve dois conjuntos básicos de publicações estreitamente relacionados: textos sobre a prática do ensino e textos sobre a prática da pesquisa. Completarão a coleção textos de leitura sobre o ensino e a pesquisa na área pedagógica, envolvendo tradução inédita e reedição de textos literários.
Cada publicação contempla questões relacionadas aos fundamentos e à prática em diferentes áreas do saber pedagógico, no âmbito do ensino, e em diferentes formas de investigação, no âmbito da pesquisa.
Os autores das publicações, além de reconhecidas contribuições na área, apresentam propostas diferenciadas de ensino e de pesquisa e, na medida do possível, representam diferentes regiões do país.
Maria Rita Neto Sales Oliveira
Marli Eliza Dalmazo Afonso de André
Coordenadoras da série
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
O estudo proposto
Pontos de partida teóricos
Campo de estudo
Desenvolvimento da pesquisa
Revelando a pesquisa dos docentes da escola básica
1. O PROFESSOR PESQUISADOR E A RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA
2. PESQUISA, REFLEXÃO E CRÍTICA
Critérios tradicionais
Pesquisa e prática reflexiva
Aspectos da estrutura da prática reflexiva
A pesquisa acadêmica
e as críticas à racionalidade técnica
A centralidade do professor
As tradições podem servir para estabelecer critérios?
3. CONDIÇÕES PARA A PRÁTICA DE PESQUISA NAS ESCOLAS INVESTIGADAS
História das atividades de pesquisa nas instituições investigadas
Contratos de trabalho, salários e planos de carreira
Tempos para a pesquisa
Apoio financeiro à pesquisa
Clima
de pesquisa nas escolas
Espaços para a pesquisa: Infraestrutura física
Relações das escolas com suas instituições-mãe
Algumas conclusões acerca das condições materiais para a pesquisa
4. A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DA ESCOLA BÁSICA PARA A PESQUISA
5. QUE PESQUISA FAZEM OS PROFESSORES DA ESCOLA BÁSICA
CONCLUSÃO
Resumo das principais constatações
Sobre o professor pesquisador
A prática e o conceito de pesquisa na escola básica
BIBLIOGRAFIA
NOTAS
SOBRE OS AUTORES
OUTROS LIVROS DOS AUTORES
REDES SOCIAIS
CRÉDITOS
APRESENTAÇÃO
Este livro é fruto de um estudo sobre as relações entre o professor da educação básica e a pesquisa, hoje no centro de uma das questões mais discutidas pela comunidade educacional em todo o mundo, a do professor pesquisador. A ideia de pesquisa como componente necessário ao trabalho e à formação dos professores está presente em obras de inúmeros estudiosos da educação e já aparece em leis, projetos e planos governamentais. Sua importância é reconhecida de maneira unânime, mas pouco se sabe sobre sua prática efetiva em nossas escolas. Que pesquisa realizam os nossos professores, se é que a realizam? Que preparação receberam para realizá-la? Que condições oferecem nossas escolas para sua realização? Sobretudo, que interesse têm eles para se dedicarem à sua prática, em acréscimo aos árduos trabalhos pelos quais são responsáveis? Como concebem a importância, a necessidade e a possibilidade da atividade de pesquisa; de que tipo; para que finalidades?
Motivados por todas essas questões e com o apoio do CNPq, iniciamos nosso estudo no Departamento de Educação da PUC-Rio, em março de 1998. Ao longo do seu desenrolar pelos dois anos seguintes, fomos deparando com outras questões e vários parceiros teóricos, que foram enriquecendo nosso trabalho, inspirando textos – alguns já publicados, outros no prelo – e apresentações em encontros científicos (como o X Endipe). Compuseram a equipe de pesquisa, além dos autores, as doutorandas Cecília M.F. Borges e Célia M.F. Nunes, a mestranda Lucienne S. Andrade e os bolsistas de iniciação científica Fábio de Barros Pereira, Luiz Carlos Alves e Sílvia Santos da Silva.
Tratando de tema em plena discussão, é natural que nossa pesquisa tenha levantado mais questões do que seria possível responder. Achamos importante trazer a público o que conseguimos alcançar até o presente.
Menga Lüdke
INTRODUÇÃO
O estudo proposto
Há algum tempo o tema do professor pesquisador e de sua formação vem constituindo assunto de interesse para nós, assim como para alguns outros pesquisadores. Podem-se articular pesquisa e prática no trabalho e na formação de professores (Lüdke 1993)? Como se dá a formação do professor pesquisador e a do pesquisador professor (Lüdke 1994)? É viável a integração da pesquisa no dia a dia do professor das escolas da rede básica? Que tipo de pesquisa seria essa e como se prepararia para ela o professor (André 1993, 1994, 1995)? É possível e recomendável ao professor investigar a sua própria prática? Que problemas, que cuidados e que proveito devem ser considerados nessa empreitada (Fazenda 1989, 1992 e 1997)? Que significados perpassam a constituição do professor pesquisador (Geraldi et alii 1996)? Estas e outras questões paralelas vêm sendo formuladas por alguns autores, cujas constatações são, por certo, muito úteis ao nosso próprio trabalho. De modo geral, esses pesquisadores mencionados se inspiram em uma fonte teórica comum, além de outras diversas, próprias a cada um. Essa fonte comum é representada pelo trabalho fundador de D. Schön (1983), sobre o reflective practitioner, com ramificações sobre vários autores cuja importância é marcante entre nós e que serão tratados em detalhe mais adiante.
Há, entretanto, uma outra linha de trabalho sobre o tema pesquisa e docência, representada pelas obras de Pedro Demo, que tratam da pesquisa como princípio científico e educativo (Demo 1991), sobre pesquisa e construção do conhecimento (1994) e sobre como educar pela pesquisa (1996). Empenha-se Demo em denunciar o efeito reprodutivista do ensino que não se funda num trabalho de pesquisa do professor, que se contenta em apenas repassar aos seus alunos ideias tais quais ele as recebeu de seus autores. Contra essa situação, Demo enfatiza o caráter indispensável do componente pesquisa para o trabalho docente, seja ele exercido em qualquer nível de ensino. Essa proposição, de valor inquestionável, encontra, no entanto, muitas dificuldades para se converter em realidade em nossas redes de ensino, dadas as características de formação e as condições de trabalho de nossos professores, mesmo aqueles que lecionam no ensino superior. Em seu livro Pesquisa e construção do conhecimento, de 1994, Demo procura enfrentar algumas das dificuldades levantadas para a efetivação de sua proposta, em especial aquelas decorrentes do emprego indiscriminado do termo pesquisa
, quando aplicado sem maiores cuidados a todo trabalho de professores e de estudantes. Nesse livro ele oferece um esquema composto por cinco níveis de realização de pesquisas, desde um inicial, consistindo em simples Interpretação reprodutiva, mas já implicando necessariamente o trabalho incipiente de interpretação, até o quinto nível, de Criação ou Descoberta, podendo chegar à proposição de novos paradigmas metodológicos, teóricos ou práticos. Embora não consiga responder satisfatoriamente a todas as dificuldades envolvidas no processo de expansão do trabalho de pesquisa entre docentes e estudantes dos vários níveis de ensino, o esquema proposto por Demo tem o mérito de representar uma primeira tentativa de estabelecer nuances no interior do próprio conceito de pesquisa, até agora tratado quase de forma monolítica.
A exigência regulamentar de atividades de pesquisa, dentro da carga horária de professores do quadro efetivo das universidades brasileiras, pode ser considerada também como um fator concorrendo, por uma outra via, para colocar em xeque o conceito de pesquisa. Para atender a essa exigência, pelo menos do ponto de vista burocrático, são propostas atividades tão variadas que demandariam, para abrigá-las, uma elasticidade aparentemente ainda não conferida ao conceito de pesquisa. A ausência de critérios e de controle efetivo em relação a essas atividades, muitas vezes não exigindo a aprovação de projetos e a entrega de relatórios, contribui para manter uma situação bastante fluida com respeito ao trabalho e à própria concepção de pesquisa.
Uma incursão ao fundo da questão em torno do binômio pesquisa e construção de conhecimento, em busca de uma solução imediata ou de um esclarecimento para o estado nebuloso em que se encontra a noção de pesquisa, apesar de indispensável, pode revelar-se prematura. Dentro do quadro atual de transição (e de coexistência) de paradigmas, no qual são discutidos, destituídos e por vezes reconstruídos conceitos como os de objetividade, generalização, certeza, verdade, lei, método científico, entre outros, continua pendente uma resposta satisfatória para a questão.
Pontos de partida teóricos
Já mencionamos que nosso trabalho, assim como o de vários colegas interessados no estudo da relação entre pesquisa e docência, ancora-se em alguns apoios teóricos comuns, dos quais saíram, e estão ainda a sair, ramificações de grande repercussão na comunidade educativa nacional e internacional. Um desses troncos comuns é representado pelo trabalho de D. Schön (1983), que