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O estágio curricular e a docência compartilhada: na perspectiva do realismo crítico
O estágio curricular e a docência compartilhada: na perspectiva do realismo crítico
O estágio curricular e a docência compartilhada: na perspectiva do realismo crítico
E-book367 páginas11 horas

O estágio curricular e a docência compartilhada: na perspectiva do realismo crítico

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Sobre este e-book

O estágio curricular docente tem se constituído tema importante para os que se dedicam à formação de professores, uma vez que os desafios nele encontrados e dele decorrentes revelam os problemas centrais que afetam tanto a formação quanto o trabalho docente. Tais desafios, por sua vez, mediante o nível de esforço analítico empreendido, abrigam luzes a partir das quais se visualizam indícios, possibilidades de superação, identificadas por práticas orgânicas, de novo tipo. As reflexões aqui trazidas emergiram de processos investigativos teóricos e empíricos e advêm de uma prática docente sistemática. A pesquisa de campo envolveu 449 pessoas – 19 professores de uma universidade brasileira, 274 estagiários de 12 cursos de licenciatura desenvolvidos nesta universidade e 156 profissionais da escola básica ocupantes dos cargos de professor, diretor e coordenador pedagógico. Dedicou-se atenção especial aos papeis desenvolvidos pelo professor supervisor de estágio que atua na escola e pelo estagiário. Foram considerados também os problemas, a avaliação, as sugestões apontadas e as experiências relevantes ocorridas nesse âmbito da formação. Tais enfoques foram tratados por todos os participantes da investigação. A partir da abordagem filosófica do Realismo Crítico de Roy Bhaskar, procedeu-se a análise aprofundada das respostas, o que permitiu mapear as práticas de estágio, identificar as concepções que as sustentam e localizar as estruturas e os mecanismos que lhes dão suporte. Além dos aportes dos especialistas na área da formação docente, foram consideradas as contribuições advindas de teses, dissertações e artigos acadêmicos sobre o estágio curricular, publicados no Brasil nos últimos 15 anos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2017
ISBN9788547305871
O estágio curricular e a docência compartilhada: na perspectiva do realismo crítico

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    Pré-visualização do livro

    O estágio curricular e a docência compartilhada - Maria da Assunção Calderano

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    A todos os professores, iniciantes e experientes, e a todos os alunos das licenciaturas. Que as experiências exitosas lhes sirvam de estímulo e as desastrosas ou insípidas sejam uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. Que as vivências acadêmicas e profissionais sejam um mote para a busca da valorização da formação e do trabalho docente.

    […] isto é o que nós nos preocupamos em fazer em ciência social [...] descobrir links inteligíveis.

    Roy Bhaskar¹

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço a meus professores, que me inspiraram, das mais diversas formas, a superar os desafios da profissão docente e a seguir adiante. A meus alunos da escola básica, da graduação e da pós-graduação, que, em modos e frequências distintos, me auxiliaram no exercício da docência, buscando encontrar, em cada um deles, o ponto a partir do qual poderia me conectar com eles, estimulando-os a seguir juntos no trabalho da docência.

    Ao grupo Forpe – Formação de Professores de Políticas Educacionais –, pelas experiências pessoais e acadêmicas decorrentes de estudos e investigações que propiciaram voos individuais e coletivos. Aos professores da Faculdade de Educação e aos da Escola Básica, cuja parceria possível favoreceu diálogos em busca de reflexões mais orgânicas entre a universidade e a escola, entre a formação e o trabalho docente.

    À UFJF, Fapemig, Capes, CNPQ e Fundação Carlos Chagas, que possibilitaram o suporte necessário ao desenvolvimento de diversos estudos que subsidiaram esta publicação.

    À professora doutora Bernardete Angelina Gatti, pela oportunidade ímpar do aprendizado propiciado junto à interlocução densa, constitutiva do estudo pós-doutoral realizado sob sua supervisão – conteúdo central desta obra.

    Ao Lecir, companheiro de todas as estações, e ao Rodrigo e à Gabriela, filhos amados – que nutrem e dão o frescor à minha vida cotidiana, cuja sabedoria, amorosidade e bravura me animam a seguir sempre adiante.

    APRESENTAÇÃO

    Tendo como base central o conceito de docência compartilhada, a presente obra traz elementos da experiência vivenciada junto ao estágio curricular, intercalando ações no campo de ensino, pesquisa, extensão e gestão pedagógica, que culminaram em uma análise concentrada no estágio docente e realizada nos estudos pós-doutorais.

    Reconhecendo a escassez de estudos sobre a temática e a distância que ainda persiste entre a universidade e a escola básica, entre os processos formativos e o trabalho docente, este livro pretende lançar luz sob os hiatos encontrados nessa relação, identificando os mecanismos e estruturas que estimulam a manutenção dessas lacunas e aqueles que favorecem sua superação. Esta publicação traz à tona algumas situações e reflexões que indicam a viabilidade prática e teórica da docência compartilhada como uma concepção, uma postura epistemológica e pedagógica no intuito de auxiliar o alcance de novos patamares formativos e de atividade profissional tanto para os professores e acadêmicos das instituições do ensino superior quanto para os professores e gestores da escola básica.

    Como objetivo geral desta obra, destaco a identificação e problematização das concepções e práticas relacionadas ao estágio curricular, compreendendo-as em sua relação orgânica com os processos de formação e trabalho docente que se desenvolvem em contínua interseção no emaranhado das políticas educacionais.

    O alcance desse propósito é tratado neste livro por meio da pesquisa empírica desenvolvida com os agentes envolvidos no estágio curricular e da pesquisa teórica pautada nos trabalhos acadêmicos – teses, dissertações e artigos acadêmicos – publicados sobre o tema. A análise cruzada dos dados teóricos e empíricos é feita a partir da abordagem filosófica do Realismo Crítico de Roy Bhaskar. As reflexões extraídas e construídas a partir dos textos acadêmicos e dos depoimentos de professores orientadores, dos estagiários de diversas licenciaturas, dos professores supervisores de estágio, coordenadores e diretores da escola básica permitiram uma visão micro e macro do cotidiano da prática formativa na universidade e na escola.

    Convido o(a) leitor(a) a adentrar-se nesta obra, percorrendo alguns caminhos. Primeiramente apresentarei O estágio curricular como temática síntese que reúne elementos nevrálgicos da formação e do trabalho docente. Apresento o contexto acadêmico-profissional que gerou o interesse pela temática, tendo por base reflexões advindas do entrelaçamento de estudos, pesquisas, atividades docentes e administrativas. Desses fundamentos derivaram os objetivos da obra e os procedimentos respectivos.

    No segundo capítulo, dialogo com autores especialistas da área e estudiosos que se dedicaram ao campo da formação de professores e do estágio curricular. As teses, dissertações e publicações encontradas no percurso de 15 anos, serão tratadas, neste contexto.

    O Realismo Crítico constitui-se o centro do capítulo 3. Sua caracterização e seus princípios são apresentados como referência para processos investigativos.

    No capítulo 4 é dedicada uma atenção especial à pesquisa de campo, cujas especificações metodológicas utilizadas serão inicialmente explicitadas. Seguindo a perspectiva de Realismo Crítico, nesse capítulo, o estágio curricular docente é analisado seguindo os três níveis epistemológicos: empírico, actual e real.

    Por último, numa perspectiva de síntese, são tecidas reflexões sobre o estágio curricular, a docência compartilhada e os processos de formação de professores, destacando algumas considerações baseadas no entrecruzamento de olhares e perspectivas

    Ao longo do livro, serão apresentadas informações e reflexões que pretendem favorecer a compreensão de que o estágio reúne e revela grande parte dos problemas encontrados no processo formativo e no trabalho docente, ao mesmo tempo em que nele residem grandes possibilidades de superação dos desafios reconhecidos nesse campo. Assim compreendendo, decifrar alguns de seus problemas e atuar proativamente a partir de bons diagnósticos são passos importantes e decisivos para conceber de outro modo os processos formativos e o campo de trabalho docente, tanto na universidade quanto na escola, estabelecendo relações orgânicas.

    Ao analisar em profundidade o estágio curricular docente, fui guiada pelo propósito central – aqui compartilhado – de compreender melhor seu desenho, sua estrutura e seus mecanismos, identificando fatores que interferem em sua constituição e extraindo desse aprendizado subsídios para formulação de planejamento institucional e políticas educacionais de formação docente. Esse percurso foi tomado tendo por base os fundamentos do Realismo Crítico, que abre espaços para o conhecimento transformacional e aguça suas possibilidades.

    A autora

    PREFÁCIO

    A BUSCA POR TRANSFORMAÇÕES

    O estágio curricular, na licenciatura, tem sido considerado um calcanhar de Aquiles, portanto vulnerável, frágil, na formação inicial de professores para a educação básica. No presente trabalho, a professora e pesquisadora Assunção Calderano enfrenta a questão nos apresentando uma primorosa investigação sobre esse tema, em enfoque teórico muito diferenciado em relação ao que temos encontrado na literatura do campo da educação. À luz da perspectiva do Realismo Crítico de Roy Bhaskar constrói uma tessitura analítica em torno das percepções e concepções acadêmicas encontradas na literatura especializada no entrecruzamento com as observações empíricas de sua pesquisa em terreno.

    As práticas educativas na escola e nas salas de aula são o cerne da educação escolar, portanto, do trabalho do professor. Mas, na maioria das vezes elas não são adequadamente abordadas e experimentadas nas formações iniciais de professores. Nilda Alves², ao discutir o conceito limitado de prática que se prende ao senso comum, lembra que é preciso assumir que a prática é espaço/tempo de surgimento de conhecimentos vitais e de criação, não só de reprodução. É, portanto, necessário dar à prática a dignidade de fato cultural, relevante para o desenvolvimento curricular pretendido. Mudar a concepção de prática, no universo da educação, é elo para pensar transformações em ações educativas dando às práticas a dignidade teórica e metodológica que elas merecem, quando concebidas no âmbito de perspectivas filosófico-sociais e culturais.

    Muitos estudos apontam a falta de relação entre o espaço das formações nas licenciaturas no ensino superior e as práticas educacionais no e para o trabalho docente nas escolas de educação básica. Esse tem sido um problema recorrentemente apontado quando se discute a formação inicial de professores no ensino superior. Não é de hoje que se discute que os saberes profissionais dos professores são situados, ou seja, são construídos e ganham sentido em função dos contextos de trabalho nos quais são exercidos. Assim, a inserção orientada, problematizada e planejada do licenciando na escola e a vivência das situações cotidianas da vida escolar é fator essencial na sua formação.

    Essa constatação tem sensibilizado alguns docentes que atuam com estágio para essa formação, e encontramos relatos interessantes de iniciativas para alterar o quadro vigente e oferecer uma formação em práticas educativas de modo mais integrado aos currículos da educação básica e aos requisitos do trabalho com crianças e jovens adolescentes nesse nível educacional, nos diferenciados contextos em que vivem. Observamos que essas iniciativas demandam apoio institucional e que as instituições formadoras também precisam desenvolver essa sensibilidade ao problema apontado. A percepção do problema relativo à importância da aproximação das instituições formadoras de professores em relação às escolas, onde o trabalho dos professores se realiza, levou em anos recentes a que o governo federal desenvolvesse uma iniciativa com vistas a sensibilizar instituições e docentes para as questões teórico-metodológicas envolvidas nas práticas de ensino, e, para a importância dessa prática, bem como aproximar as instituições de ensino superior da escola básica e propiciar ações/intervenções em práticas pedagógicas com base nas conexões entre docentes de universidades, estudantes de licenciatura, escolas e professores da educação básica. Isso se consubstanciou no Pibid (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), que alcançou algum êxito, embora sua abrangência seja limitada.

    Então, é mais que necessário que a percepção do problema existente na realização dos estágios curriculares nas licenciaturas leve a que o conjunto de todas as instituições formadoras possam se estruturar institucionalmente, com consciência e compromissos claros, para criar experiências que adotem como eixo a busca de parcerias entre universidade e escola, no sentido de aproximar o conhecimento acadêmico do conhecimento produzido pelos professores no campo de atuação. O distanciamento entre os espaços da formação e do trabalho é um dado especialmente preocupante na formação dos professores, formação que não pode estar dissociada da compreensão da escola como espaço estruturante da atividade docente.

    Este livro nos oferece um verdadeiro arsenal de informações sobre a formação de professores, os desafios que enfrentam os professores iniciantes com a formação que vêm recebendo, e sobre seu preparo/despreparo nos estágios curriculares. Oferece um aprofundamento nas perspectivas do realismo crítico nos brindando com a força teórica que com essa abordagem se pode atingir na compreensão de realidades complexas, como é a das relações em práticas formativas, no caso a prática em estágios curriculares para formação de docentes para a educação básica.

    Este texto nos provoca a olhar para as práticas relativas aos estágios e nos oferece parâmetros para situá-las melhor em uma concepção ousada: a da docência compartilhada. Seu olhar para as realidades que examina é orientado pela perspectiva ontológica que privilegia a ideia de que a realidade não se nos apresenta tão diretamente; ela tem estratos, e nem sempre esses estratos são sincronizados, o que leva a pensar em desencontros e contrapontos, ocultamentos, desconstruções e desencaixes, e naquilo que subjaz aos eventos experimentados, cuja percepção pelo pensamento, em geral, não desvela as relações profundas que os geram. As análises nos convidam a um aprofundamento diferenciado em relação à construção de uma concepção de estágio formativo que transcende aos protocolos usuais. No redemoinho gerado pelas inferências trazidas pela autora, a figura do professor supervisor de estágio se destaca com seu potencial – realizado ou não – de criação de experiências valiosas pelo compartilhamento experimentado no bojo de uma consciência ampliada em relação a vivências cotidianas das situações escolares e as de ensino – as relações criativas. Sem dúvida, uma leitura instigante, visando provocar transformações em práticas, conscientes e com finalidades compromissadas com o desenvolvimento de pessoas em sua humanidade em contexto de cidadania digna.

    Bernardete A. Gatti

    Fundação Carlos Chagas

    SUMÁRIO

    CAPÍTULO 1

    O estágio curricular como temática síntese – formação e trabalho docente

    1.1 Estudos e pesquisas que antecederam à ideia do estágio como tema síntese

    1.2 Estabelecendo elos e evidenciando questionamentos

    CAPÍTULO 2

    A formação de professores e o estágio curricular

    2.1 Formação de professores

    2.1.1 Formação inicial

    2.1.2 Novos desafios do professor

    2.1.3 Algumas experiências bem-sucedidas no campo da formação

    2.1.4 Formação de formadores

    2.2 Estágio curricular docente

    2.2.1 Um olhar micro e macro sobre o estágio

    2.2.2 Considerações sobre o estágio – teses, dissertações e artigos acadêmicos

    2.2.2.1 Sobre as teses que focalizaram o estágio curricular docente

    2.2.2.2 Sobre as dissertações que focalizaram o estágio curricular docente

    2.2.2.3 Sobre os artigos que focalizaram o estágio curricular docente

    2.2.3. Estabelecendo outros elos e visualizando novos questionamentos

    2.3 Professor iniciante

    2.3.1 O professor iniciante - alguns desafios

    2.3.2 Professor iniciante, estágio curricular, formação de formadores e formação dos professores

    capítulo 3

    O Realismo Crítico de Bhaskar como referência para processos investigativos

    3.1 Apresentação inicial da abordagem

    3.1.1 Breve histórico

    3.1.2 Os diferentes estágios do Realismo Crítico

    3.2 Questões de ontologia e epistemologia

    3.3 O conceito de realidade e sua estratificação

    3.4 Críticas, limites e controvérsias

    3.5 Síntese sobre o realismo crítico

    3.6 Possíveis relações entre filosofia e teoria social

    3.6.1 Bourdieu, Giddens e Gramsci: suas aproximações com o realismo crítico

    3.7 Implicações do realismo crítico para a pesquisa

    3.8 Da filosofia ao método de investigação

    CAPÍTULO 4

    O estágio curricular docente na perspectiva do Realismo Crítico de Bhaskar

    4.1 Considerações metodológicas

    4.1.1 Foco de investigação: o estágio curricular docente

    4.1.2 Os objetivos que orientaram o estudo sobre o estágio curricular docente

    4.1.3 Questões decorrentes dos objetivos

    4.1.4 Participantes do estudo

    4.1.5 Processo de coleta das informações

    4.1.6 Tratamento inicial dos dados e alguns procedimentos básicos

    4.2 O campo do estágio e seus níveis de análise

    4.2.1 O perfil e a visão dos participantes sobre o estágio curricular

    4.2.1.1 O perfil dos participantes da pesquisa

    4.2.1.2 O que declaram os agentes que atuam no estágio curricular

    4.2.1.2.1 Papel desenvolvido pelo professor supervisor

    4.2.1.2.2 Papel desenvolvido pelo estagiário

    4.2.1.2.3 Avaliação do estágio

    4.2.1.2.4 Problemas principais encontrados no estágio

    4.2.1.2.5 Soluções apresentadas a partir dos problemas indicados

    4.2.1.2.6 Experiências relevantes

    4.2.2 Entrecruzando as múltiplas visões apresentadas sobre o estágio curricular

    4.2.2.1 Postura acadêmica profissional

    4.2.2.2 Entrelaçando ações desenvolvidas no campo do estágio

    4.2.2.3 Buscando conexões entre a avaliação do estágio e sua justificativa

    4.2.2.4 Sobre os problemas centrais encontrados

    4.2.2.5 Entrecruzando papéis e experiências relevantes no estágio

    4.2.3 Dimensões subjacentes ao estágio curricular

    4.2.3.1 Questões de fundo que materializam o estágio curricular

    capítulo 5

    O estágio curricular, a docência compartilhada e os processos de formação de professores

    5.1 O que podemos declarar sobre o estágio

    5.2 Implicações do estudo e possíveis repercussões

    5.3 Agenda de pesquisa – indicativos para novas investigações

    REFERÊNCIAS

    capítulo 1

    O estágio curricular como temática síntese – formação

    e trabalho docente³

    Certamente, o processo de exposição deve diferenciar-se, pela forma, do processo de pesquisa. A pesquisa deve captar com todas as minúcias o material, analisar as suas diversas formas de desenvolvimento e descobrir a sua ligação interna. Só depois de cumprida essa tarefa pode-se expor adequadamente o movimento geral. Se se consegue com isso reproduzir idealmente a vida do material investigado, pode parecer que o que se expõe é uma construção apriorística.

    Karl Marx

    No dia a dia profissional como docente do ensino superior, atividades de ensino, pesquisa e extensão se entrecruzam, mas os processos e resultados parciais dessa conjugação nem sempre são suficientemente compreendidos, explorados e/ou incorporados como uma possibilidade de avaliar e realinhar as próprias metas do trabalho.

    A intensificação do trabalho docente é um dos fatores responsáveis pelas parcas possibilidades de se fazer um estudo mais aprofundado das construções teórico-empíricas que fazemos neste campo, do ponto de vista profissional e institucional. Muitas vezes, a sistematização das ações e concepções a elas subjacentes e delas decorrentes se esvai por não conseguirmos as condições adequadas para o necessário exercício de aproximação e distanciamento em face da formação e do trabalho docente – na universidade e na escola.

    Na rotina diária do trabalho, por vezes, não damos conta da potencialidade contida nos documentos e informações acessados, nas práticas desenvolvidas e iniciativas tomadas, subutilizando as possibilidades de interpretação dos processos de formação, seus sentidos e núcleos de significação⁵ e, conseguintemente, subutilizamos a capacidade criativa dos participantes do processo. Atuando como docente do ensino superior durante duas décadas na área de formação de professores, fui identificando, nos diversos estudos e práticas investigativas e de sala de aula, algumas dimensões que se fazem presentes de forma intensa e contínua demarcadas pelas relações, na maioria das vezes, conflitiva, entre: teoria e prática, formação e trabalho docente, universidade e escola, objetividade e subjetividade.

    Os aprendizados entrecruzados, vivenciados em sala de aula e nas pesquisas realizadas, com acadêmicos – iniciantes e concluintes – e profissionais da escola básica – professores, coordenadores e gestores-professores, me permitiram entender a importância de se compreender melhor o funcionamento, a prática desenvolvida e as concepções que sustentam o estágio curricular, reconhecendo-o como uma variável síntese do processo formativo e do trabalho docente. Para melhor contextualizar tal afirmação, apresento, a seguir, algumas descobertas advindas de 11 trabalhos por mim desenvolvidos junto ao grupo Forpe⁶ – Formação de professores e Políticas educacionais, contanto com o apoio dos Programas BIC/UFJF⁷ e Pibic/UFJF⁸, Fapemig⁹ e CNPQ¹⁰.

    1.1 Estudos e pesquisas que antecederam à ideia do estágio como tema síntese

    Ao me referir aos 11 estudos antes mencionados, vou me deter às considerações e aos questionamentos que, de modo especial, ajudaram-me a identificar a centralidade do estágio nos processos formativos e a sua relação com o trabalho docente.

    No primeiro trabalho, Em busca do Perfil do Aluno de Pedagogia (1993-1995)¹¹, ao fazer contato direto com 294 alunos do curso de Pedagogia de duas instituições, por meio de um questionário, identifiquei que não havia diferença significativa de perfil, do ponto de vista teórico e quantitativo, entre os acadêmicos do segundo e do sétimo períodos do curso. Refiro-me, particularmente, a seu habitus¹² acadêmico¹³ – gosto pela leitura, tipo e frequência das atividades de lazer e de trabalho desenvolvidas; tempo gasto nas tarefas relacionadas à universidade; compreensão e domínio de conceitos fundamentais no campo educacional. Saliento que esse aluno, em sua maioria já possuía o curso de Magistério - Ensino Médio e também, em sua maioria, já atuava como docente no que hoje é denominado de anos iniciais do Ensino Fundamental¹⁴.

    Com a segunda investigação, O Aluno do Curso de Pedagogia: dez anos mais tarde (2003-2005)¹⁵, por meio do contato com 181 alunos do curso de Pedagogia, escolhidos aleatoriamente, e 22 professores da mesma instituição, foi possível perceber uma mudança considerável de perfil discente. A maioria dos graduandos em 2003 não possuía o curso de Magistério, Ensino Médio e, portanto, poucos trabalhavam em escola. Notei uma diferença significativa entre o perfil apresentado pelo aluno de segundo e sétimo período – as atividades das quais participavam denotavam maior proximidade com o habitus acadêmico universitário esperado.

    Entre os concluintes, foram identificados: um maior tempo dedicado a leituras acadêmicas; uma busca mais acentuada por atividades não obrigatórias, ligadas ao processo de formação e uma melhor apropriação de conceitos fundamentais – em relação a uma visão de senso comum apresentada pelos alunos concluintes do mesmo curso em 1993.

    O estudo mostrou também um perfil diferente entre os docentes universitários, considerando a década anterior. Em sua maioria com doutorado, os professores promoviam, com mais frequência, atividades investigativas, inserindo maior parte dos alunos em seus grupos de pesquisa e projetos acadêmicos. As entrevistas realizadas com 22 professores da Faculdade de Educação apontaram também uma preocupação mais nítida, por parte deles, com os processos de formação e com o currículo do curso.

    O terceiro trabalho, Ouvir, Experimentar, Propor em Pedagogia (2004-2005)¹⁶, visitou 17 escolas da rede pública de ensino. Foram entrevistados 25 profissionais da educação – professores, supervisores e diretores escolares – que elucidaram os desafios enfrentados pela escola, considerando a formação dos professores que lá chegam. Os profissionais entrevistados – gestores, coordenadores e professores mais experientes, de modo geral, criticaram a formação daqueles que chegam à escola para atuar como professores. Reforçaram a avaliação, segundo a qual a universidade tem dificuldade de preparar devidamente o futuro profissional docente para atuar na realidade escolar. Ressaltaram a fragilidade da preparação profissional, particularmente no que diz respeito ao trato humano e à preparação para a atividade prática profissional. Tais afirmações e reflexões nos ajudaram a olhar de outro modo os cursos de Pedagogia – presencial e a distância.

    O quarto estudo, Impactos do Veredas enquanto projeto de formação de professores em serviço (2004-2006)¹⁷, focalizou o público-alvo do curso de graduação em Pedagogia criado, como parte da política educacional do Estado de Minas Gerais¹⁸, para formar em serviço os professores da rede pública de ensino básico. Ao todo, participaram

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