Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Contos e Reflexões
Contos e Reflexões
Contos e Reflexões
E-book49 páginas47 minutos

Contos e Reflexões

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

A nossa vida é plena de dúvidas e as certezas tardam sempre em iluminar o nosso caminho, nada sabemos. Os valores que nos guiam são incertos, relativos e tantas vezes deturpados pelas condições em que vivemos, nada é seguro.
Mas as experiências de vida, com o correr dos anos, lançam alguma luz sobre as nossas mentes, tardiamente, sem dúvida, porém tranquilizadora. Essa luz poderá ser útil para os que têm ainda muito caminho a percorrer, os jovens cuja imaturidade se confunde com coragem e pensam dominar o mundo.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de abr. de 2019
ISBN9780463586440
Contos e Reflexões

Leia mais títulos de Manuel Antonio Goncalves

Relacionado a Contos e Reflexões

Ebooks relacionados

Ficção Literária para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Contos e Reflexões

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Contos e Reflexões - Manuel Antonio Goncalves

    Contos e Reflexões

    CONTO Nº 1

    Acordou tarde, por volta das dez da manhã. Era habitual, agora que, engenheiro reformado com 65 anos e depois de 49 anos a trabalhar, nada o obrigava a cumprir horários rígidos das 9 às 18. Noutras alturas, teria de se levantar por volta das 7 e 30 e estaria de volta a casa por volta das 20, na Cinclus havia como que a obrigação moral de fazer horas extraordinárias, obviamente não pagas, parecia mal sair a horas, quando os chefes ficavam até mais tarde.

    Mas agora tudo isso tinha acabado, pesasse a estranheza de, dia após dia, acordar tarde com aquela sensação de inutilidade. Seria sempre assim? Havia, de facto, um vazio que teria de preencher, mas com quê? Bem, teria de pensar nisso a sério.

    Olhou para o relógio de pulso, um Tissot automático, para ver as horas. Parado! Parado nas zero horas certinhas, os ponteiros das horas, dos minutos e dos segundos, todos, rigorosamente em cima das doze horas. Que coincidência!, pensou ele. Nunca este relógio avariou, não podiam ser zero horas e o ponteiro dos segundos nem se mexia. Parado! Estaria avariado? Abanou-o, em movimentos de vaivém para lhe dar corda, mas nada, rodou a coroa várias vezes e nada também, o ponteiro dos segundos não se movia, estava mesmo avariado, um relógio que ainda tinha sido um tanto carote, o dia começava mal. Vestiu-se e dirigiu-se à cozinha para preparar o pequeno almoço, flocos de cereais como habitualmente, sempre, com leite sem lactose. Nos últimos meses sentira, por vezes, acidez no estômago, principalmente à noite, depois de se deitar, virado sobre os lados, convencera-se que podia ser causado pela lactose, a internet leva-nos a conclusões engraçadas, convencidos que podemos determinar as causas e a cura dos nossos males. Mas também podia ser do café excessivo que bebia, vários cafés por dia, era demais, tinha de reduzir. Após o pequeno almoço iria ao Charlot tomar o primeiro café do dia e depois logo veria o que iria fazer, obrigações não tinha.

    Comeu os flocos calmamente, a olhar a zona oriental da cidade, calma como dormitório que era, os prédios de várias cores projectados pelo arquitecto Tomás Taveira a marcar a paisagem e, mesmo em frente, e campo de râguebi do Técnico e o clube das Olaias, cujo projecto de estruturas era de sua autoria, bem como depois a direcção de obra. Tinha sido o seu primeiro trabalho importante de engenharia civil, o cálculo da estrutura e depois os trabalhos de construção. Não tinha sido nada fácil o cálculo estrutural, pórticos de inércia variável com 23 metros de vão, tudo calculado manualmente com uma pequena máquina de calcular da Texas Instruments, Iembrava-se muito bem, em 1980, nos escritórios da Fernando Martins S.A., na rua Alves Redol, inicialmente assustado porque lhe parecia que não era capaz de calcular um edifício com aquela complexidade. Andou assim, assustado, durante uma semana, pensativo no caminho para casa a imaginar soluções, mas depois lá decidiu que o melhor seria uma estrutura de inércia variável, isso resolveria o problema dos grandes vãos e acontece que até se sentia à vontade para pôr essa solução em prática pois tinha um manual específico sobre o assunto.

    Saiu dessa Iucubração com a última colherada de flocos, dirigiu-se à casa de banho, escovou os dentes, lavou as mãos e a cara e, calmamente, pegou na toalha de rosto para se limpar. Voltou-lhe à memória o Clube das Olaias, o Raúl Martins tinha feito um grande negócio com ele, pois o cálculo da estrutura, feito num qualquer gabinete ter-lhe-ia custado centenas de contos, enfim, quando não temos alternativas a que nos agarrar agarramo-nos ao que temos.

    Saiu de casa e dirigiu-se ao hall de elevadores. Enquanto esperava reparou que a porta do apartamento D tinha a chave na fechadura. Como é possível, esqueceram-se? Completamente doidos os do décimo D, principalmente ela, meio maluca,

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1