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A Revolta Das Mulheres Robóticas
A Revolta Das Mulheres Robóticas
A Revolta Das Mulheres Robóticas
E-book140 páginas1 hora

A Revolta Das Mulheres Robóticas

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Sobre este e-book

“Faltam alguns anos para 2100, e, mais do que nunca na história, buscamos a satisfação. A comida tem de ser a mais saborosa, o ambiente tem de ser o mais refrescante, o carro tem de ser o mais limpo e rápido, temos de estar sempre na sombra, e várias outras coisas. Excessos? Bem, é o que pode ser exigido quando se tem polegares opositores – assim nós pensamos.” Mesclando elementos reais e fictícios da história das mulheres, a obra narra um dia ímpar numa empresa que fabrica produtos eróticos, que vão desde simples brinquedos até bonecas realistas. As bonecas, apesar de serem o investimento que mais promete retorno financeiro, é também o mais recente, carregando consigo, portanto, parcelas de imprevisibilidade. Essas mulheres robóticas são – ao menos até certa distância – iguais às mulheres reais, e são fabricadas com o único propósito de entreter homens. Por fora, belas, cada uma de seu jeito. O grande erro – por parte das mãos que as fizeram – foi abençoá-las com inteligência suficiente para se darem conta de sua situação e, como o título do livro diz, se revoltarem. A narrativa acontece num futuro não muito distante, nada que nos impeça de visualizá-la no contexto de nossos dias atuais, onde a presença das mulheres está cada vez maior, e suas vozes, cada vez mais fortes.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de abr. de 2017
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    Pré-visualização do livro

    A Revolta Das Mulheres Robóticas - Rafael C. Nemer

    Robert Baroque

    1.1 Robert Baroque é um homem comum

    Homem comum que é, Robert Baroque acorda todas as

    manhãs, dolorosamente se livra dos cobertores e travesseiros,

    levanta-se e mira-se no espelho do banheiro. Pode se considerar

    que tenha, mesmo com suas feições plácidas que rimam com seu

    espírito bondoso, suas pitadas de indignação, como toda boa

    pessoa deve ter, mas as guarda para si na maior parte das vezes.

    É dotado de uma sensibilidade ímpar que o faz pender para a

    criação (ou para as misturas, a julgar-se que praticamente toda

    criação parte da mescla de elementos já inventados).

    A Revolta das Mulheres Robóticas – Rafael C. Nemer

    Robert prefere chá e computador à cerveja e algazarra.

    De conhecidos, restam-lhe os parceiros e parceiras do trabalho e

    os pais residentes noutra cidade, como é tão comum atualmente.

    De um modo geral, a vida que leva é satisfatória, mantendo-se

    estavelmente trabalhando em sua área.

    Em nenhum aspecto Robert Baroque se difere dos

    demais homens no que diz respeito aos padrões da espécie, mas

    provavelmente seja diferente em questão de costumes.

    1.2 Robert Baroque não é um homem comum

    Robert Baroque, exteriormente um bípede masculino

    casual,

    carrega

    traços

    ligeiramente

    avessos

    em

    sua

    personalidade. Avessos de acordo com os padrões errôneos da

    sociedade tão já caducos, mas completamente normais quando

    vislumbrados por um olhar são.

    [ 2 ]

    A Revolta das Mulheres Robóticas – Rafael C. Nemer

    Robert não gosta de esportes, e isso pode soar

    absurdamente estranho para certos ouvidos.

    2

    Um dia qualquer

    Robert Baroque, crente de que este é só mais um dia

    comum, sai de sua casa e parte em direção ao trabalho. No

    caminho, os objetos e as pessoas fazem seus barulhos normais e

    o céu parece indiferente. Ele repara nas roupas das pessoas e, ao

    percorrer o vestido de uma mulher, seus olhos se voltam para o

    chão, incertos.

    Ele veste uma camisa xadrez azul-bebê, com riscos

    lilases. Usa óculos com aros pretos e espessos, cujas lentes não

    são muito grandes. Seu cabelo, ligeiramente calvo e liso, está

    [ 3 ]

    A Revolta das Mulheres Robóticas – Rafael C. Nemer

    penteado formando uma espécie de onda para o lado. Em seus

    fones de ouvido brancos ressoa qualquer canção desconhecida,

    distanciando-o, de certo modo, das outras pessoas (porque nem

    todos ouvem as mesmas canções que ele e porque ele não escuta

    as outras pessoas, por conta dos fones).

    Ao dobrar uma esquina, o celular começa a tocar e

    Robert cessa o passo para encontra-lo. Ele abre sua bolsa

    marrom de alça que pende do ombro à cintura e começa a fuçar.

    Vê, de relance, em meio a seus objetos, um olho castanho. Um

    globo ocular com a íris castanha. Porém ele não se apavora,

    finalmente atende o telefone, cuida de seus negócios e

    prossegue.

    Ao chegar a seu trabalho – um prédio não com muitos

    andares, mas com andares compridos, bordado com vidros

    reflexivos –, ele atravessa a porta e chega no salão de entrada.

    Um bonito e extenso aposento com uma decoração onerosa. Os

    [ 4 ]

    A Revolta das Mulheres Robóticas – Rafael C. Nemer

    pilares que sustentam o edifício não são arredondados, mas

    triangulares; e neles há, como que lutando para sair do cimento,

    corpos de mulheres esculpidos por algum artista plástico

    famoso. Elas não têm cabeça; é como se ela ainda não tivesse

    saído dos pilares. Elas também não têm pernas; suas canelas

    ainda estão dentro do pilar.

    Este primeiro andar é o comércio onde é vendido o

    produto para seu usuário final; produto que é fabricado no

    mesmo prédio, porém, principalmente, no subsolo. Não que seja

    alguma atividade ilícita, mas, devido a toda maquinaria pesada,

    foi calculado ser mais seguro do que nos andares superiores.

    No centro do saguão de entrada, há um balcão circular de

    aproximadamente dez metros de diâmetro, onde atendentes

    atendem telefone, ajudam e direcionam clientes. O incomum é

    que, nesse dia, não há ninguém ali. As únicas pessoas que

    caminham no espaço são alguns poucos clientes que ainda não

    [ 5 ]

    A Revolta das Mulheres Robóticas – Rafael C. Nemer

    desistiram de serem atendidos. Eles (são todos homens)

    conversam e riem alto, abusando das máquinas de café.

    Robert acha muito esquisito, mas segue seu caminho

    pela porta no canto direito do saguão. "Entrada restrita para

    funcionários".

    Ele entra.

    Robert Baroque olha para os dois elevadores que levam

    para o andar inferior e para os superiores, e eles estão

    estranhamente quietos. Ele adentra o elevador para os andares

    superiores e aperta o botão com o número 2, o departamento no

    qual trabalha.

    Durante a boa subida até seu destino, não vê ninguém

    através das paredes de vidro que surgem periodicamente,

    entrelaçadas por feixes largos de cimento. "Será que hoje é

    feriado?, pensa consigo. Será que é domingo?", questiona sua

    sanidade. É que, num ambiente de trabalho, é mais provável que

    [ 6 ]

    A Revolta das Mulheres Robóticas – Rafael C. Nemer

    estejamos loucos, do que as pessoas, de fato, terem decidido

    descansar.

    Inquieto, Robert vira-se para a porta de aço, pois sua

    rotina diária lhe fez decorar mais ou menos o tempo que se leva

    para chegar ao segundo andar.

    Assim que dá as costas para o vidro do elevador, outro

    feixe de cimento passa e, no instante também breve em que

    outro andar aberto é revelado, uma mulher passa correndo de

    modo aturdido. Com um correr hesitante, como se tivesse

    acabado de aprender a fazê-lo, ela cruza o pavimento, e outra

    faixa de cimento esconde a cena.

    Robert guarda os fones de ouvido sem fio no bolso da

    calça segundos antes da porta se abrir. Assim que as abas de aço

    se distanciam, revelando seu departamento, outra cena inusitada:

    há um tamanco vermelho caído de lado bem na frente do

    elevador.

    [ 7 ]

    A Revolta das Mulheres Robóticas – Rafael C. Nemer

    O rapaz o observa por um instante e a iminência de ser

    trancado o faz sair. Ele pula o calçado e segue para sua sala,

    espiando o calçado mais duas vezes, por cima do ombro.

    Agora, sem música nos ouvidos, Robert escutou o que

    pareceram ser gritos ao longe e levemente abafados. Por ter

    ouvido um ou dois desses sons, ficou em dúvida.

    Ele vai até a sala de reuniões, a fim de ver se todos os

    funcionários estão lá ou se acontece um evento importante. A

    grande porta de madeira está entreaberta. No centro dela, o

    desenho de um triângulo de cabeça para baixo pintado de preto

    – a marca da empresa. Ele a empurra cautelosamente e entra

    parcialmente o aposento.

    É aí que ele se apercebe do ocorrido e a cena que

    presencia contribui ainda mais com sua perplexidade: o dono da

    empresa Triângulo, o senhor Penha, está ajoelhado no chão,

    próximo a sua grande cadeira negra de couro, vestindo sua calça

    [ 8 ]

    A Revolta das Mulheres Robóticas – Rafael C. Nemer

    social e, no lugar da camisa, um sutiã vermelho deixando à

    mostra sua barriga; um pano branco amarra sua boca, ele arfa e

    suas sobrancelhas estão franzidas como se tudo isso o

    machucasse muito (de fato, o machucou, porque

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