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Fragmentos De Uma Vida
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E-book176 páginas2 horas

Fragmentos De Uma Vida

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Sobre este e-book

Cada minuto, cada segundo, tudo acontecia e se repetia na mesma rotina, como em um eterno loop. Contudo aquilo estaria para acabar, quando os fragmentos de seu passado perdido começam a voltar, lançando-o em um novo mundo, estranho e muito perigoso.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de set. de 2020
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    Pré-visualização do livro

    Fragmentos De Uma Vida - Rafael Lyra

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Ficção : Literatura brasileira B869.3

    Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

    Índice

    Dança Das Cordas

    Ação e reação

    O Renascimento

    A Porta

    A loucura de cada um

    Prisioneiro

    Na Floresta

    O Ninho

    Epílogo

    Dança Das Cordas

    Cada minuto, cada segundo, tudo acontecia e se repetia na mesma rotina, sempre naquela mesma maldita e inalterada rotina. As longas viagens ao trabalho, o rítmico som mecânico e sem vida das máquinas na sua empresa, o silêncio noturno em seu apartamento, como se o mundo tivesse acabado e só ele e seu pequeno apartamento restassem, nada mudava, tudo permanecia, como em um eterno loop. Mas sempre com algo faltando, algo incompleto, quebrado, algo essencial que lhe havia sido retirado, mas que não conseguia recuperar.

    Hoje o dia começara normal, não era nenhum dia exceção, só um igual a tantos outros naqueles dois últimos anos, mas mal sabia ele que aquele seria o dia da mudança, quando as cordas manipuladoras do loop seriam cortadas para nunca se unirem novamente, quando sua mente fosse atirada em direção a um futuro imprevisível e libertador.

    Porém como nenhuma narrativa pode iniciar pelo meio, então passemos as seis da manhã em um minúsculo apartamento em Lierce, um centro, ou como se era chamado há mais de dois séculos, uma cidade, onde tudo começou.

                     O despertador começou seus bip-bips matinais as seis da manhã, mas como sempre, já estava bem acordado deitado, mirando para o desgastado gesso branco do teto, imerso em seus pensamentos esperando aqueles bip-bips pararem após mais um minuto, esse extremamente longo em sua mente, e recomeçarem sua segunda leva dez minutos mais tarde.

    Essa era a que lhe alertava o inevitável, então, sem muita vontade ou determinação, sendo influenciado como uma marionete por um canto obscuro de sua mente, ainda meio dormente e preguiçoso, levantou-se.

    Como um sonâmbulo perambulou até a pia não muito longe do colchão onde dormia, e jogou um punhado de água gelada no rosto, despertando-se um pouco. Secou o rosto com um gesto brando do antebraço, deixando a maior parte do rosto ainda molhada, e foi até uma montanha de roupas jogadas de qualquer jeito no chão ao lado de seu colchão.

    Aleatoriamente pegou e vestiu-se com um conjunto de roupa qualquer, sem pensar em qualquer combinação de roupa ou estilo, somente algo para poder sair dali. E ainda focado naquela montanha, vasculhou-a a procura de seu celular, o qual provavelmente estaria ali, e encontrando-o alguns poucos minutos depois, escondido no bolso traseiro de uma calça na base daquela.

    Sem mais a fazer, saiu então do apartamento, sem ter acordado muito mais do que antes, seguindo até seu trabalho.

    Passou pelos corredores esculpidos em gelo daquela caverna gelada que era seu prédio, andando até o elevador, tremendo por estar vestido com apenas uma camiseta vermelha e cinza estampada com o emblema do Iceert, um time de hóquei daquela região, uma bermuda jeans azul desbotada, e um sapato social preto.

    Pensou rapidamente na possibilidade de voltar e vestir-se com uma roupa mais adequada, enquanto parado em frente aos elevadores, mas essa não durou muito tempo em sua mente, perdendo-se em um dos vários cantos obscuros de sua mente, impedindo a terrível e impensável mudança de sua rotina.

    Não demorou muito até um dos elevadores parar em seu andar.

    Suas portas se abriram e uma frente de ar quente preencheu o ambiente ao seu redor, derretendo as finíssimas camadas de gelo ali próximas. Sentiu o calor percorrer seu corpo, destruindo momentaneamente aquela muralha natural erguida contra o frio, e relaxando um pouco, mas não entrou e esperou ali desolado, olhando para o elevador lotado a sua frente.

    Ainda com uma leve esperança, esperou. Esperava que um senhorzinho meio corcunda e com uns óculos tipo fundo de garrafa saísse empurrando levemente as outras pessoas, carregando um terno sujo com uma mancha de seu jantar e com uma cara cansada de quem acabara de chegar do trabalho, ou talvez um jovem com cabelo pintado na parte superior de um roxo escuro, meio cambaleante e cabisbaixo, vindo de alguma noitada em algum beco, ou até quem sabe uma jovem mulher que esquecera sua bolsa e voltara para buscar. Qualquer coisa bastava, mas nada aconteceu.

    A porta começou a fechar, sem ninguém ali dentro nem virar o rosto a ponto de percebê-lo, todos muito focados nas conversas em seus próprios celulares ou nas séries transmitidas em seus Lensis, uma marca de óculos de realidade aumentada amplamente utilizados nos centros.

    Estavam vivendo em seus próprios mundinhos sem os interromperem por causa dos problemas de outros, mesmo esses sendo separados por apenas algumas finas paredes, encontrando nos corredores e dividindo o elevador, continuavam totais estranhos uns aos outros, e, principalmente, totais estranhos a si.

    A porta fechou depois de mais alguns instantes, levando consigo todo aquele calor reconfortante, e o ambiente sendo preenchido novamente com o ar parado congelante dos corredores, presente do sistema de temperatura a muito danificado e ignorado pela central de controle de seu prédio.

    Ficaria pelo menos mais cinco minutos naquela geladeira, se fosse otimista, ou ainda seria forçado a algo pior, sabia disso, por isso em meio ao frio, que amortecia sua pele e eriçava os pelos de suas pernas e braços nus, sentia angustia.

                    Dois minutos se passaram e suas pernas e braços começaram a tremer fortemente, abraçara a si mesmo em uma tentativa fútil e muito pouco eficiente de se aquecer, ou pelo, menos reter o seu calor, o esforço ajudando a suportar em meio aquele frio apenas por uns poucos segundos, menos do que estava disposto a acreditar, e logo se tornara inútil.

    Algumas pessoas se acumularam ali em frente, aquecendo o ambiente um pouco, mas essas, como as outras do elevador, estavam imersas em seu próprio mundo, e o ignoraram em seu sofrimento, então também quase não faziam muita diferença.

    Mais um minuto se passou, e olhou nervosamente para o indicador dos elevadores, esses que estavam em suas oscilações entre descidas, paradas e subidas, e percebeu triste seu erro de previsão, aqueles demorariam mais do que pensara.

    Naquele momento, um dos elevadores, esquecido por ele na maior parte do tempo, abriu suas portas e um calor reconfortante igual ao primeiro percorreu o ambiente, renovando o pouco da esperança que se dissipara com o fechamento das portas do primeiro, mas isso foi só por um instante, um simples momento inocente antes de se lembrar de que aquilo era o algo pior.

    - Alguém vai entrar? – perguntou uma voz idosa, muito fina e estridente – O elevador está vazio, você decide o lugar para ir. – Falou uma voz do interior daquele elevador para o vazio a sua frente – Dole uma, dole duas, dole três, ninguém!? Se isso fosse um leilão de carne, já teriam perdido. Mas está bem, o andar deve estar vazio ainda, é bem cedo, seis e meia ainda. Tenho certeza de que as sete já vai ter gente, é só esperar. – E a voz continuou seu monologo, mas apenas para si mesmo, sendo ignorado por todos fora do elevador.

    O senhor Jurião, o homem no elevador, e também considerado por si o espírito desse, era o morador do elevador. Tinha suas teorias baseadas em nada de que ele havia morrido dentro daquele e permanecera para assombrar os outros moradores, porque permanecia ali todos os horários possíveis, sem paradas, ou, pelo menos, isso é o que passava e era considerada a verdade em sua mente. Mas verdade exterior a sua existência, era bem diferente.

    Aquele senhor não era um morto-vivo condenado a eternidade no elevador, mas, segundo o que alguém havia postado online em uma reportagem, somente um velho desocupado e sozinho que permanecia desde antes das seis até após as dez da noite, parando ocasionalmente quando tinha vontade de fazer nada em outro lugar, para fazer o que outros buscavam evitar, por mais estranho que parecesse naqueles dias nos centros, ele queria conversar pessoalmente com outras pessoas.

    A perspectiva de ir até aquele elevador e ficar escutando vários minutos de conversa fiada sobre trivialidades e aleatoriedades, como o que achava sobre o início da guerra civil no arquipélago Ji Oles, um lugar que nem sabia onde era, ou o fato do sétimo centro lunar sendo fundada, o que já havia acontecido há mais de cinco anos, não lhe atraia, porém o que o atraia menos ainda era aquele frio que estava sentindo, fazendo seu corpo todo tremer como um boneco de mola agitado. Mesmo assim, não custava considerar a sua outra opção.

    Estava frio ali, ou para ser mais preciso congelante, devia estar perto ou até abaixo do zero grau, mas, ainda assim, por causa de suas tentativas de se aquecer e do conglomerado de pessoas, apostava sentir algo perto dos cinco graus. Mas caramba, ele estava de bermuda e camisa, não vestia uma camisa comprida, uma jaqueta ou sequer uma calça, estava com uma bermuda e uma camisa em um frio de cinco graus para menos!

    Pensando sobre aquele dia no futuro, sentado pensativamente no banco traseiro de um carro indo para um destino desconhecido ao sul e após passar por uma grande provação, veio a concluir com uma assustadora certeza, aquilo como tendo sido um dos fatores influenciadores do início de tudo que lhe ocorreria, tanto as coisas boas como as péssimas.

    Ainda que na hora apenas pensara sobre o personagem Nevasca, um super-humano de uma série de TV chamada Geração Gama, com poderes de controle sobre o gelo, e Violtor Pulskin, um explorador mundialmente reconhecido como doutor dos polos, em sua gravação de uma de suas diversas expedições aos congelantes extremos do mundo, dois dos programas que assistia em alguns dias em sua televisão depois de voltar de um longo dia de trabalho.

    Pensara simplesmente no fato de eles sempre estarem equipados e preparados para o frio, vestidos com grossos casacos de lã sintética, calças com três camadas de forração, segundas peles de microfibras sintéticas, grandes botas de borracha e gorros cobrindo quase inteiramente suas faces, e não enfrentavam o frio a pele nua, como estava fazendo. Um pensamento ingênuo e inocente quando pensou futuramente em todo o efeito causado por aquele, mas muito válido àquele momento.

     Com aquelas duas ideias presas em seu consciente, com todos os prós e contras imagináveis naqueles poucos instantes em que se deixara levar pela infinidade de sua mente e esquecera do mundo ao seu redor, e por pior que fosse, fez sua escolha.

    Ainda meio relutante começou a andar em direção aquele elevador e rompendo a última barreira da indecisão, em frente a porta do elevador, entrou.

    - Ohh – falou o espírito do elevador com um sorriso de orelha a orelha, ele sabia que alguém entraria no elevador naquele andar e naquela hora, como sempre ocorria, mas ainda assim não deixava de se surpreender – bem-vindo novamente ao elevador, sempre na hora, não? – Disse rindo de leve- Vai para qual andar, é só pedir, o elevador é todo seu.

    Ainda estava levemente atordoado pelo calor do elevador, quando ouviu aquela voz estridente quebrando o silêncio e fazendo-o voltar a realidade, após aquele curto e prazeroso momento de êxtase.

    Olhou brevemente para aquele senhor encurvado sob seu próprio peso, com uma grande cabeleira branca presa em coque e dois grandes olhos atentos e astutos, enquanto esse também o observava.

    - É o térreo. – Falou rápida e secamente e virou-se tentando eliminar qualquer possibilidade de continuação, mas o espírito, que já havia apertado todos os botões muito antes da resposta sair de sua boca, não desistia tão facilmente, senão suas atribuições não existiriam, e continuou.

    - Vamos para o térreo a trabalho ou a lazer? – perguntou o espírito rindo novamente, já sabendo aquela resposta também – Os lazeres são melhores eu digo, e ainda melhores se fora de casa. Uma vez eu fui jogar Golf com um amigo, tinha quarenta na época, a uns trinta e cinco anos atrás, quando as pesquisas das moradias no manto do planeta ainda estavam começando, sabe o que é isso, não? – E sem deixar tempo para ele responder, coisa que nem cogitara em fazer, continuou – Eu te explico, sabe eu pesquisei porque não sabia, daí eu encontrei, demorei quase uma hora tentando entender porque minha chave não entrava, até perceber que estava na porta errada, as vezes isso acontece...

    E continuou falando coisas desconexas, nunca terminando o que havia começado e como um narrador esportivo falando rapidamente e incansavelmente, exigindo o máximo de sua paciência e tolerância, até a abertura das portas no térreo, depois de vários longos segundos, onde ele saiu rapidamente deixando o espírito conversando com seu elevador.

    Passou pelo saguão andando rapidamente quase sem perceber o frio novamente dominante ou qualquer outra coisa ao seu redor. A porta de vidro da frente do prédio abriu automaticamente a sua aproximação e ele saiu para rua.

    Um vento abafado e quente em um mundo gelado o atingiu logo ao sair, preenchendo suas narinas com seu cheiro artificial, de asfalto e borracha, criado pelo confinamento do ar ali e pelo movimento dos carros, e

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