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O Banheiro Do Presidente
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O Banheiro Do Presidente
E-book163 páginas2 horas

O Banheiro Do Presidente

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Sobre este e-book

A minha vida profissional foi toda em empresas estatais que serviram de inspiração para esse livro. As histórias são muitas e dariam até outro livro. Por exemplo, eu tive um gerente que trabalhava com uma tesoura grande em cima da sua mesa e quando ficava nervoso começava a cortar o próprio cabelo. Às vezes, ele conversava com importantes empresários e não conseguia conter o estranho hábito de cortar o próprio cabelo, mesmo sem nenhum espelho por perto. Vocês podem imaginar quantos caminhos de rato tinha na cabeça do meu gerente?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de abr. de 2023
O Banheiro Do Presidente

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    O Banheiro Do Presidente - Emerson Rios

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    Emerson Rios

    O Banheiro do Presidente

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    Niterói 2023

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    Política é a atividade que se destina a procurar sem descanso algum problema, achar o problema, fazer o diagnóstico errado para ele e receitar remédios que deixam as coisas ainda pior do que estavam.

    Groucho Marx (1890-1977)

    Todo governo é composto por vagabundos que, por um acidente jurídico, adquiriram o duvidoso direito de embolsar uma parte do ganho dos seus semelhantes.

    H.L.Mencken (1880-1958)

    Não é tanto do indivíduo que a sociedade deve defender-se, mas, sim, do Estado.

    Alber Camus (1913-1960)

    Nota do autor

    Durante a minha vida profissional eu trabalhei em duas empresas estatais e convivi muito com a burocracia. A forma como as pessoas se relacionam muitas vezes são diferentes das que estamos acostumados em outros ambientes, como academias de ginásticas, por exemplo. Existe nas empresas uma disputa pelo poder, que muitas vezes afeta até os relacionamentos entre os empregados, o que não ocorre em alguns outros ambientes.

    Eu vou citar alguns casos que guardei na memória, que são apenas alguns entre dezenas, pois a lista completa daria um outro livro, que, quem sabe, um dia eu resolva também publicar.

    Eu sempre trabalhei na área de informática ou tecnologia da informação (TI) que foi o palco dos casos descritos adiante. Uma vez, um colega recebeu de um diretor um material para que desse um parecer técnico. Era a compra de um software de gestão de redes de telecomunicação (na época não existia ainda internet). Esse colega, cujo nome vou declinar de especificar, era um técnico extremamente competente e com muita experiência profissional, inclusive, com Mestrado em Engenharia de Sistemas. Ele analisou o material e em outras palavras, claro, explicou que o software, além de caro, era uma porcaria. Disse isso em cinco páginas de um parecer extremamente detalhado. A diretoria da empresa ficava em Brasília e o meu amigo, assim como eu, estávamos lotados no Rio de Janeiro. O relatório foi para Brasília e, claro causou um certo alvoroço, pois para que a compra milionária fosse feita era preciso um respaldo técnico, mas escolheram o sujeito errado para avaliar o software. Os acordos de compra e de corrupção já estavam firmados e empacaram no parecer de um técnico. Alguns dias depois veio de Brasília um assessor do diretor para convencer ao meu colega de mudar o parecer. Não conseguiu, pois o técnico era muito teimoso e, claro, estava muito bem embasado. A resposta para o assessor foi simples: Vocês vão comprar essa porcaria, mas quem vai trabalhar com ele sou eu. A diretoria arrumou um outro parecer e acabaram comprando o software que nunca foi usado, mas os bolsos deles saíram cheios.

    Uma vez, a gerência da área de TI no Rio de Janeiro foi ocupada por um apaniguado do partido político que estava no poder, que não tinha conhecimento nenhum da área que iria gerenciar. Durante a sua gestão, um sistema importante estava sendo todo refeito. Foi feito um estudo técnico e foi constado que a nova versão do sistema não poderia ser instalada nos discos existentes no parque tecnológico, ou seja, novos discos precisaram ser comprados. O tal gerente olhou o relatório e, claro, não entendeu nada, mas resolveu dar uma de gerente e afirmou que o pessoal da área de TI que se virasse. Ele não iria comprar nenhum disco. O sistema ficou pronto, e, claro, não conseguiu ser instalado pois não tinha espaço em disco, o tal relatório foi parar na mão da auditoria e o dirigente metido a inteligente rodou, pois nem o seu partido político conseguiu suportar tanta burrice.

    Uma vez, um colega cruzou com um gerente pelo corredor.

    — Deixei um bilhete na sua mesa — falou o gerente e seguiu em frente.

    Quando o colega chegou na sua sala lá estava o bilhete em cima da mesa.

    — Preciso falar com você.

    Aliás, eu tive um gerente que trabalhava com uma tesoura grande em cima da sua mesa e quando ficava nervoso começava a cortar o próprio cabelo. Às vezes, ele conversava com importantes empresários e não conseguia conter o estranho hábito de cortar o próprio cabelo, mesmo sem nenhum espelho por perto. Vocês podem imaginar quantos caminhos de rato tinha na cabeça do meu gerente?

    Aliás, esse mesmo gerente, gostava de mexer o seu café com uma caneta esferográfica de plástico. Aos poucos o plástico ia derretendo dentro nos inúmeros cafés que tomava durante o dia, que segundo os cálculos eram mais de dez.

    — O chefe está bebendo a sua caneta — nós costumávamos dizer.

    As histórias são muitas e certamente dariam um outro livro.

    No momento, acho importante lembrar ao paciente leitor, que a história adiante narrada neste livro ocorreu no período compreendido no final de década de 1980 e início de 1990, logo não estranhem a falta de internet ou de celulares, pois esses não existiam ou não eram ainda usados na época.

    Informação importante

    Eu gostaria de dar uma explicação adicional antes que o leitor comece a ler este livro. Você vai notar que aqui são as mulheres que acediam os homens, e não, como é comum, os homens que acediam as mulheres. Ou seja, eu quis dar apenas uma abordagem feminista e não como seria normal usar como referência o machismo. Se não consegui ser bastante claro com essa mudança, desde já peço muitas desculpas as queridas leitoras.

    Capítulo 1

    Alberto estava desempregado há cerca de três meses. Neste tempo já havia feito diversas entrevistas numa dezena de empresas, e enviado o seu curriculum para um número maior de organizações, mas até então não tinha recebido nenhuma resposta positiva. Era a primeira vez em dez anos de vida profissional que ficava desempregado tanto tempo, e, apesar de procurar levar uma vida sem muitos gastos, as suas reservas financeiras já começavam a se esgotar. O seu diploma de engenharia e o seu curso de pós-graduação de pouco adiantavam, e ele já estava pensando seriamente em entrar no ramo de venda domiciliar de roupas, que era a profissão da sua mulher. Aliás, Helena, sua esposa, possuía um diploma de engenharia florestal, e, como moravam na cidade do Rio de Janeiro, nunca havia conseguido trabalhar na sua real profissão, razão pela qual se dedicava à atividade mais lucrativa de vender roupas. Utilizava os seus conhecimentos técnicos cuidando dos quarenta e cinco vasos de plantas que mantinha no apartamento de dois quartos, no décimo andar de um edifício em Copacabana.

    Por tudo isso, quando Alberto leu o telegrama que tinha recebido havia alguns minutos, sentiu um imenso alívio, pois finalmente aparecia alguma oferta de emprego concreta. No entanto, o teor do telegrama o intrigou, pois, o seu texto dizia o seguinte:

    9303.png

    O problema era que ele não conhecia nenhuma empresa chamada ECEE e muito menos se lembrava de ter feito alguma entrevista numa empresa com tal nome, ou com essas siglas. O que seria ECEE? Examinou novamente o telegrama e descobriu que embaixo do texto havia o endereço onde supostamente deveria se apresentar. Lembrem-se que na época não havia internet e claro nem google.

    Olhou o relógio e viu que eram dez horas da manhã. Decidiu então se apresentar imediatamente na ECEE, pois era assim que exigia o Sr. Armando Mello, chefe da Divisão de Recursos Humanos. Tomou um banho rápido, vestiu o melhor terno, o que por sinal não era difícil de escolher, pois só tinha dois, e saiu de casa, não esquecendo de deixar um bilhete para a sua mulher. Helena havia saído poucos minutos antes com os seus conhecimentos técnicos de engenharia florestal, e duas sacolas cheias de roupas da confecção de um português de Duque de Caxias, cuja especialidade era fazer roupas imitando a grife de confecções famosas, porém por um preço muito mais baixo.

    Alberto conferiu o endereço no telegrama, e olhou o imponente prédio a sua frente. Não havia possibilidade de erro, a ECEE funcionava ali mesmo. Era um imponente edifício de fachada de mármore, todo envidraçado em vidro fumê, o que indicava que os seus ocupantes deveriam ter, ao seu dispor, uma temperatura de primavera europeia em pleno verão tropical. As iniciais ECEE se projetavam imponentemente sobre o portal de entrada em aço escovado. Logo no saguão uma placa indicava que era necessário identificar-se para ter acesso ao prédio. Alberto havia trabalhado cinco anos numa empresa de engenharia que prestava serviços para o governo, e essa experiência foi o suficiente para descobrir que a ECEE certamente era uma empresa estatal. Na parte direita do saguão de entrada, havia um balcão com cinco louras lindíssimas, com uma placa que dizia: Identifique-se aqui.

    O que chamou a atenção de Alberto não foi apenas a beleza das louras, mas a certeza de que, quem as tinha ali colocado, certamente teve a intenção de dar ao prédio um toque escandinavo. Isso o impressionou muito, porém o contraste com a realidade estava a poucos metros, na figura espinhenta, mal barbeada e atarracada do guarda de segurança do balcão. O pobre coitado procurava dar um ar de imponência à sua postura, o que aumentava ainda mais o contraste com as bem nutridas louras do balcão. Certamente quem colocou as moças para trabalhar no saguão, não foi o responsável pela indicação do malnutrido segurança. A impressão que dava era que as louras eram as responsáveis por tomar conta do prédio, e não aquela figura esquálida.

    Olhando essa cena tão brasileira, onde o belo se confunde com o feio, a riqueza com a miséria, Alberto se lembrou do seu Tio Tonico, aliás, Antônio Castro e Silva, que era um político em horário integral. Alberto não se lembrava de vê-lo metido em outra coisa que não em política. Ele imaginava que Tio Tonico era político desde a mais tenra idade, e costumava dizer que certamente ao nascer, ainda no berçário, já havia feito um discurso político. Quando o governo do presidente Jango dava os seus últimos suspiros em 1964, Tio Tonico estava engajado no movimento sindical e discursava pelas reformas de base tão anunciadas pelo então presidente. Alguns dias depois, houve a revolução e o governo de Jango foi derrubado, toda a família ficou temerosa que o tio fosse ser preso, porém, quando o governo militar empossava o seu primeiro presidente, no caso do general Castelo Branco, e a televisão transmitia à apavorada nação a cerimônia de posse, a cena mostrada na tela causou o maior rebuliço na família. Em primeiro plano o general lia o seu discurso prometendo um Brasil democrático, porém, no segundo plano, Tio Tonico conversava animadamente com um carrancudo general. A família ficou sem entender nada. Quando o Castelo Branco terminou a leitura do texto e recebia os aplausos dos presentes, Alberto viu pasmo, o seu tio dar dois tapinhas nas costas do novo presidente. Mas, para encurtar a história, porque

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