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Ensinando as Próximas Gerações: O Guia Definitivo para o Professor de Jovens.
Ensinando as Próximas Gerações: O Guia Definitivo para o Professor de Jovens.
Ensinando as Próximas Gerações: O Guia Definitivo para o Professor de Jovens.
E-book622 páginas8 horas

Ensinando as Próximas Gerações: O Guia Definitivo para o Professor de Jovens.

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Sobre este e-book

Este livro defende a importância do ensino cristão aos jovens como uma ferramenta definitiva para evitar um grande problema dos dias atuais: a apostasia de jovens adultos. Editado pelo especialista no ministério com jovens Terry Linhart, esta obra traz um abrangente estudo que tem por finalidade capacitar professores na comunicação da Palavra de Deus. Com subsídios que ajudarão a juventude cristã a crescer em maturidade espiritual, sabedoria e fé, além de repleto de conceitos bíblicos e exemplos práticos, Ensine as próximas Gerações é a ferramenta definitiva para quem quer ter sucesso na transmissão da Fé.
IdiomaPortuguês
EditoraCPAD
Data de lançamento21 de fev. de 2019
ISBN9788526319103
Ensinando as Próximas Gerações: O Guia Definitivo para o Professor de Jovens.

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    Ensinando as Próximas Gerações - Terry Linhart

    assistido.

    SEÇÃO

    1

    Conceitos Básicos

    Sempre que ensinamos, há um entendimento implícito em ação a respeito da função e do propósito do ensino. Esta primeira seção destaca os propósitos teológicos, bíblicos e filosóficos que sustentam o ensino cristão.

    O professor cristão eficaz está ciente dos objetivos e estratégias de ensino, bem como das razões para eles. Em uma era orientada à informação, descrita regularmente como período pós-moderno ou pluralista, a importância da clareza dos temas é tão crítica como sempre foi. Caso contrário, o ensino cristão pode perder o foco, interpretar erroneamente o propósito e deixar de atuar no crescimento espiritual da próxima geração.

    Os seis capítulos a seguir são pontos de partida para uma filosofia clara da educação cristã, para uma base bíblica do nosso trabalho como professores cristãos e para a participação fiel na missão que Cristo deu à Igreja. Cada capítulo serve de introdução ao tema proposto, com recursos adicionais fornecidos ao final de cada capítulo para quem deseja aprofundar-se na matéria.

    A seção conclui com um capítulo único sobre como descobrir uma posição intermediária entre as tensões culturais e filosóficas existentes que moldam nosso ensino. A história contida neste capítulo — destinada a ser lida na íntegra — usa dois exemplos extremos para estimular o pensamento crítico e gerar maior clareza sobre o papel e o objetivo dos professores cristãos.

    A Contribuição do Ensino para o Discipulado

    ALLEN JACKSON

    As pessoas chegam à fé em Cristo por ampla gama de meios. Uma pessoa chega à fé porque, quando era criança, um irmão da igreja buscou-a em casa, e outra pessoa, quando ouviu alguém falar em uma praça. Muitas chegam à fé por causa da conversa intencional de um amigo ou membro da família, ao passo que outras o fazem ao participar de um grupo na igreja, acampamento ou conferência. O momento da salvação inicia uma nova jornada de crescimento espiritual, um caminho em direção à maturidade espiritual que, ao longo do trajeto, precisa de professores para ajudar, informar e orientar.

    O caminho (ou processo) chama-se discipulado, uma jornada vitalícia de obediência a Cristo, que transforma os valores e o comportamento da pessoa e resulta em ministério para a casa, igreja e no mundo dessa pessoa.⁸ Dallas Willard diz que discipulado é um modelo de formação espiritual, o processo de moldar o nosso espírito e dar-lhe um caráter definitivo. Significa que a formação do nosso espírito está em conformidade com o Espírito de Cristo.⁹ É no transcurso desse caminho e processo que o ensino cristão desempenha seu papel, um processo de formação e moldagem focado na natureza e direção da jornada de transformação da pessoa com o Deus triúno.

    É bem provável que nossas melhores lições de discipulado ocorram nas interações informais, e não por meio de um programa formal. Lembro-me de ter aprendido a instalar placas de drywall em uma viagem missionária que fiz com um grupo de jovens. O irmão que supervisionava a turma possuía uma empresa de drywall, e ele concordara em transformar um grupo de adolescentes em instaladores profissionais. Ainda me viro bem com drywall, mas lembro-me distintamente de ter formado minha teologia de adoração nessa viagem. Lembro-me do que ele disse sobre a razão pela qual ele vestia-se para ir à igreja e que, antes de entrar no espaço de adoração na igreja, ele parava um instante para preparar-se para a adoração, limpando a mente e confessando os pecados. Também me lembro quando ele disse para eu pensar cuidadosamente na letra do hino ou canção que eu cantasse para que minhas palavras de adoração não fossem vazias.

    Ensinar faz parte de um processo de discipulado coletivo, uma combinação de relacionamentos, eventos formais, conversas intencionais e disciplinas pessoais (ou seja, oração, estudo bíblico e reflexão). Perry Downs diz que a educação cristã começa onde o evangelismo termina, ajudando os crentes a crescer na fé.¹⁰ O crescimento espiritual, no entanto, requer mais do que a transferência de informações. Ele é medido em desenvolvimento à semelhança de Cristo, processo em que as lições formais e informais entrecruzam-se e estimulam os crentes a continuar em direção à maturidade.¹¹

    O bom ensino raramente está desconectado da forte relação entre professor e ouvinte. O apoio ao crescimento é um foco educacional diferente do que apenas ensinar coisas. O objetivo é o amadurecimento dos alunos — algo que requer diversas abordagens aos métodos e objetivos de ensino. A maioria pode lembrar-se de algumas lições específicas que ouviram em grupos de jovens, na igreja ou atividades similares. Foram lições importantes na época. Ocasionalmente, recordamos de certa história-chave ou ponto de ensino, mas a maioria dos ensinos que contribui para a maturidade está ligada às relações que a cercam.

    Antes de analisarmos o ensino, as teorias e as técnicas de aprendizagem, temos de estabelecer as raízes do discipulado para o método e a prática do ensino cristão. Não devemos desvalorizar o papel do ensino no discipulado, como se o crescimento espiritual não exigisse estímulo ou orientação externa, tampouco devemos supervalorizar o ensino, equiparando a maturidade espiritual com o conhecimento ou algo que criamos em contraste com a obra de Deus interna. Quando fazemos uma abordagem equilibrada ao papel do ensino em comum acordo com a obra do Espírito Santo, então vemos adequadamente como o ensino desempenha uma função no processo de amadurecimento.

    Ao ler este capítulo, reflita sobre estas questões:

    1. Que parte o ensino tem desempenhado em seu crescimento espiritual nos últimos dez anos?

    2. Se perguntassem a você como o discipulado e o ensino trabalham juntos, qual seria a sua resposta?

    3. Que parte o ensino desempenhou no ministério discipulador de Jesus?

    4. No contexto do ensino e discipulado, qual é o mais importante: o bom conteúdo ou o bom processo? Quais são os prós e os contras dessa posição?

    Embora seja falsa distinção tentar identificar quais atividades relacionais estão ensinando e quais estão discipulando, o discipulador é professor, e o professor cristão é discipulador. O ministério de Jesus mostrou como o ensino e o discipulado são indistinguíveis um do outro. Jesus era chamado de Mestre (Jo 13.13, ou professor), ou algo parecido.¹² Mesmo as autoridades judaicas viam que o ministério de Jesus era de mestre (Mt 8.19). Embora o ensino fosse parte significativa de seu ministério, as relações que Ele teve com seus seguidores forneceram o modelo vivo para sua mensagem. Os momentos formais de ensino, combinados com a vida informal juntos, produziram um grupo de discípulos, cada um bem preparado (Lc 6.40, NVI; perfeito, ARC) para levar avante a comissão de Cristo.

    Não é incomum termos a impressão de que o ensino que ocorre em nossa sala é semelhante ao que ocorre em sala de aula, o que nos lembra a escola. Imagine como seria esta cena extraída da Bíblia se levássemos a ideia ao extremo:

    Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido por seus discípulos, os quais se reuniram ao redor dEle. Assim, ensinava-os, dizendo:

    — Bem-aventurados os mansos. Bem-aventurados os que choram. Bem-aventurados os misericordiosos. Bem-aventurados os que têm sede de justiça. Bem-aventurados os que são perseguidos. Bem-aventurados os que sofrem. Exultem e alegrem-se, porque é grande a sua recompensa nos céus!

    Então, Simão Pedro interrompeu-o:

    — Mestre, isso é pra copiar?

    André perguntou:

    — Vamos ter de saber isso de cor?

    Tiago quis saber:

    — Vai cair na prova?

    Filipe lamentou-se:

    — Esqueci meu papiro!

    Bartolomeu indagou:

    — Vai valer nota?

    João reclamou:

    — Os outros discípulos não tiveram de aprender isso!

    Mateus gritou nervoso:

    — Eu não entendi nada; ninguém entendeu nada!

    Judas Iscariotes resmungou:

    — Afinal, o que é que a gente vai ganhar com isso?

    Então, um dos fariseus presentes pediu que Jesus mostrasse a ele o plano de curso e, então, perguntou-lhe:

    — Onde estão os seus objetivos terminais no domínio cognitivo?

    E Jesus chorou.¹³

    Preparar, por sua natureza, não é apenas ensinar habilidades, mas também fazer as pessoas crescer holisticamente conforme o modo de viver e amar de Cristo, de forma que todo o corpo acabe crescendo em maturidade nele.

    Julie A. Gorman, Community That Is Christian, 2ª ed. (Grand Rapids: Baker Books, 2002), p. 17.

    O humor da história é claro para nós hoje. Jesus fazia discípulos ensinando a verdade que muda a eternidade.

    Os discípulos na história fracassaram, porque tinham estabelecido padrões para fazer o mínimo esforço necessário para dar as respostas certas ou, então, ter medo da prova, ao passo que Jesus ensinava para forjar suas vidas e equipá-los para uma missão.

    Um Discipulado Holístico

    É fácil ler superficialmente os cinco princípios de Stewart e presumir que os entendemos. Se você examiná-los novamente e pensar nos professores que tiveram dificuldade com eles, fica claro que não são princípios automáticos. Na verdade, se formos honestos, um ou dois deles podem ser princípios sobre os quais precisamos trabalhar intensamente.

    O autor James Stewart identifica cinco princípios do ministério de Jesus que podem orientar nosso ensino.

    1. O ensino de Jesus era autorizado (Mc 1.27). Seu ensino foi autenticado por sua vida e palavras. Seu exemplo e conteúdo não eram suspeitos ou superficiais, mas davam credibilidade à sua mensagem.

    2. O ensino de Jesus não era autoritário (Jo 6.60-69). Ele não impôs ou forçou sua mensagem nos ouvintes; antes, apresentou claramente os custos do discipulado, incentivou aqueles que ouviram a responder e permitiu que os indivíduos enfrentassem a verdade.

    3. O ensino de Jesus encorajava as pessoas a pensar (Mt 16.13-15). O uso de parábolas e perguntas não fornecia respostas fáceis nem requeria respostas decoradas. Jesus motivou seus seguidores a pensar por si mesmos e a responder após refletir cuidadosamente sobre a verdade.

    4. Jesus viveu o que ensinou (Jo 8.46). Jesus mostrou como Ele queria que os discípulos vivessem, servissem (Jo 13) e amassem (Jo 17) os outros. O método de exemplificação do ensino feito por Jesus apoiou seu conteúdo de tal maneira que os discípulos viram o que Ele queria dizer e, assim, poderiam seguir o exemplo em seu ministério próprio.

    5. Jesus tinha amor por aqueles a quem Ele ensinava (Jo 15.12). É o que ficou claro em sua presença com os discípulos e seu relacionamento com eles.¹⁴

    Quando um jovem culto (um advogado ou mestre da lei) aproximou-se de Jesus e perguntou-lhe sobre a vida eterna, Jesus referiu-se à lei.

    E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento [mente] e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás. (Lc 10.25-28)

    A resposta de Jesus reflete um entendimento holístico da aprendizagem. Você deve amar a Deus no domínio cognitivo (mente), no domínio afetivo (coração e alma) e no domínio psicomotor (forças). O discipulador está interessado em aprender de cabeça, de coração e de mãos, ilustrando os três domínios de aprendizagem. Assim, por exemplo, quando memorizamos a Bíblia (domínio cognitivo), isso nos leva a ganhar uma apreciação maior da riqueza do texto (domínio afetivo), o que nos leva a ter uma vontade mais confiante de obedecer (domínio psicomotor) ao que a Bíblia ensina. Quer esses objetivos de aprendizagem sejam intencionais ou incidentais, eles, ainda assim, levam a uma fé madura.¹⁵

    Se o objetivo de ensinar para o discipulado é apresentar alguns perfeitos em Jesus Cristo (Cl 1.28,29), então nosso ensino deve moldar uma maturidade que se reflete no que os alunos pensam, sentem e fazem. Queremos que os alunos não apenas pensem, mas que também saibam. Ao ensinar, queremos que não fiquem apenas com as palavras, mas que também avancem para descobrir o significado que há por trás delas. Queremos que eles tenham mais do que uma teologia de adesivo de para-choque de carro, onde podem dizer frases de efeito, mas não conseguem explicar qual o significado delas do ponto de vista estrutural ou relacional à fé cristã.

    Para esse fim, o Dr. Rick Yount diz que os professores precisam fazer o seguinte:

    • Enfatize conceitos mais do que palavras. Usamos palavras ou frases e presumimos que os alunos sabem o que elas significam, e há muitas palavras na Bíblia que têm mais de um significado. Ensinar o significado ajuda os alunos a pensar e estudar por conta própria, que é uma habilidade importante no discipulado.

    • Faça mais perguntas e dê menos respostas. Alunos sentem-se desafiados quando precisam responder perguntas e, muitas vezes, desenvolvem perguntas próprias.

    • Apresente problemas no ensino em lugar de dar explicações. A apresentação de problemas gera tensão que leva à força de pensamento e convicção, além de também imunizar contra a dependência.

    • Dê exemplos em vez de fatos. Não há maneira melhor de relacionar verdades profundas às realidades contemporâneas do que usar exemplos, histórias e ilustrações.¹⁶

    Talvez, uma palavra útil no lugar de ensinar seja preparar. É comum ouvirmos a palavra equipar, só que ensinar para equipar os outros não é diferente de métodos de ensino que lidam somente com o conteúdo. E, no fim do processo, os alunos estão prontos para fazer quase nada. Estar preparado significa que estamos seguros de si, prontos, capacitados e aptos. Portanto, o que é necessário para que os alunos estejam preparados como discípulos? O que isso exige de como ensinamos?

    Por que Ensinamos?

    Por que ensinamos as próximas gerações? Em situações ideais, um pai ou mãe responderia de várias maneiras.¹⁷ Os pais ensinam os filhos para prepará-los para o futuro, quando os filhos e filhas tomarão suas próprias decisões. Os pais ensinam, porque são constrangidos pelo amor por seus filhos e filhas e porque sentem a sensação de urgência em dizer o que sabem acerca da tarefa ou desafio que os filhos e filhas enfrentam. Os pais querem ver os filhos crescerem, passando de crianças para adultos maduros, uma transformação que leva tempo, persistência e intencionalidade.

    Com valores semelhantes, ensinamos a próxima geração. Se vivemos uma vida autêntica como discípulos de Jesus, então temos algo que temos de compartilhar. E compartilhamos, porque amamos os outros. Compartilhamos conteúdo (ou seja, princípios do Reino) mediante processo (relacionamentos combinados com conversas intencionais) de maneira (esperançosamente) natural. O ensino é tão natural no processo de fazer discípulos que a intencionalidade das interações de Jesus com os discípulos (os Doze e os outros) é esmagadora. Para compor o currículo, ele utilizou cenário (você pesca?), acessórios de palco (como, por exemplo, a figueira), conhecimento local (poderia me dar um copo d’água?) e tradições (vocês ouviram o que foi dito). Para Jesus como professor, o discipulado, ou seja, a vida em relacionamento com os Doze e os outros era o currículo do Reino.

    O apóstolo Paulo era um professor que entendia a importância da presença, do relacionamento e do exemplo. Paulo convida repetidamente os crentes a seguir seu exemplo enquanto ele segue Cristo (1 Co 4.16; Fp 3.17; 4.9; 2 Ts 3.7-9; Tt 2.7). Ele lembrou aos cristãos tessalonicenses do comportamento e exemplo que demonstrou, não sendo lisonjeiro ou enganador, mas assumindo uma postura branda e paciente (1 Ts 2). Talvez, o encorajamento de Paulo para Timóteo — Você me ouviu ensinar verdades confirmadas por muitas testemunhas confiáveis. Agora, ensine-as a pessoas de confiança que possam transmiti-las a outros (2 Tm 2.2, Nova Versão Transformadora) — sirva de forte exemplo de como o relacionamento e o discipulado estão entrelaçados. Há quatro grupos de discípulos nesse versículo: Paulo, Timóteo, pessoas¹⁸ de confiança e outros. Paulo ensinou Timóteo, que é convidado a repetir e ensinar pessoas de confiança que, por sua vez, farão o mesmo com outros. Os discípulos são replicados por meio do ensino e da influência.

    É aconselhável darmos um aviso quando consideramos o relacionamento discipulador e o ensino intencional. De acordo com o teólogo Andrew Root, se estamos em relacionamento discipulador com alunos para que os ensinemos ou influenciemos, corremos o risco de sermos falsos. Ao comentar o ministério que teve com adolescentes de bairros em Los Angeles, ele diz:

    Eu tinha de ser sincero comigo mesmo: eu estava tentando influenciá-los. Eu estava tentando fazê-los aceitar, saber, confiar, acreditar ou participar de alguma coisa, acreditando que era o melhor para eles, acreditando que isso os corrigiria. Mas meu desejo de influenciá-los impedia-me de estar realmente com eles de modo verdadeiramente relacional. Como me lembrara minha esposa, os verdadeiros relacionamentos estabelecem seus próprios termos de interação (em vez de serem definidos pelos interesses de outra pessoa).¹⁹

    Como discipulador, Jesus estava principalmente em relacionamento com os Doze. Ele derramou a vida por eles, andou com eles e, sem dúvida, influenciou-os. Um dos Doze, no entanto, não concordava com a visão do Reino proposta por Jesus. Durante a última refeição que os discípulos participaram antes da crucificação, Jesus lavou os pés de Judas. Tanto o relacionamento quanto o ministério não dependiam de entender o que queria dizer o ensino de Jesus ou de obedecer-lhe, embora quase todos acabassem agindo assim. O relacionamento era parte integrante do ensino e discipulado, e o que quer que tenha acontecido no relacionamento era importante para o ensino.

    Modelos Discipuladores

    Não há falta de materiais e recursos sobre o tema do discipulado. Contudo, não há clareza ou consenso sobre o que é discipulado. Cada igreja ou ministério opera com seu próprio entendimento do texto bíblico. O escritor Michael Wilkins identifica cinco modelos proeminentes que determinam como o discipulado é entendido hoje.²⁰

    1. Os discípulos são aprendizes. A palavra grega para referir-se a discípulo é mathetes, que vem do verbo aprender e foi usada para descrever aquele que se coloca sob a autoridade de ensino de um grande mestre, embora não tenha nenhuma referência se a pessoa é ou não cristã.²¹ O uso do termo nas Escrituras significa mais do que aprendiz e inclui a postura de seguimento e devoção pessoal (por exemplo, At 11.26).

    2. Os discípulos são crentes comprometidos. Este ponto de vista vê o discipulado como passo tomado após a salvação. O modelo analisa o desafio de Jesus relacionado a contar o custo e concentra-se nos indivíduos que deixaram tudo para seguir Jesus em comparação com as multidões e crentes comuns.²² Trata-se do modelo comumente usado hoje, mas também tem alguns problemas. Primeiro, quando Jesus convida os outros a contar o custo, é uma chamada à salvação ou uma chamada a um compromisso mais sério (veja Mt 19.16-22; Lc 14.25-33)? Segundo, presumindo que o modelo implica que há cristãos menos maduros e cristãos mais comprometidos, é difícil dar apoio bíblico a um sistema de duas classes de cristãos.²³

    3. Os discípulos são ministros. Este modelo considera que os discípulos são aqueles a quem Jesus chamou para o ministério e, portanto, são os chamados para servir os outros no ministério e missões. O modelo é notável nas tradições da igreja que fazem forte distinção entre o clero (pastores) e o laicato, além de ter rigorosa estrutura hierárquica. Wilkins declara que este modelo tem problemas na medida em que também cria uma estrutura de duas camadas e é difícil de apoiar com o uso de discípulos e outras palavras no Novo Testamento.

    4. Os discípulos são convertidos; o discipulado vem depois. Este modelo separa a salvação do discipulado. Fazer discípulos significa fazer convertidos; portanto, o discipulado é algo que começa mais tarde. O problema é que a comissão de fazer discípulos também inclui a ordem de batizar e ensinar. Wilkins questiona se é mesmo possível ser discípulo sem estar envolvido no discipulado.

    Qual modelo melhor caracteriza o que você vê na igreja? Qual deles você gosta mais quando você entende o discipulado?

    Por que você mantém essa opinião?

    5. Os discípulos são convertidos que estão em processo de discipulado. Este modelo preconiza que o discipulado não é um segundo passo opcional, mas, sim, o que significa ser cristão. Quando Jesus chamou outros para si, Ele também os enviou para fazer outros discípulos, o que significa: O crescimento no discipulado era o resultado natural da vida do novo discípulo.²⁴ Este ponto de vista do discipulado goza de amplo apoio, embora a ênfase varie entre coisas como o compromisso pessoal, o impacto do discípulo na sociedade, o crescimento dentro da comunidade de crentes ou o foco no ministério mitssionário.

    A melhor maneira de destrinchar o que pensamos sobre o discipulado é, talvez, completar esta frase: Se alguém é verdadeiro discípulo de Jesus, então ele... A resposta que damos a esse indicador é reveladora acerca do que pensamos sobre o discipulado e como apresentamos sua essência aos outros. É o que ocorre especialmente quando ensinamos os recém-convertidos. Rapidamente, reduzimos as complexidades em frases curtas para que sejam entendidas. Quando agimos assim, podemos inadvertidamente apresentar uma forma de discipulado que não é fiel às Escrituras ou que oferece apenas um ponto de vista parcial.

    Na opinião de Wilkins, discípulo é aquele que foi a Jesus em busca de vida eterna, proclamou Jesus como Salvador e Deus e dedicou a vida para seguir Jesus.²⁵ No livro de Atos, a palavra discípulo é sinônima daqueles que são crentes (At 4.32; 6.7; 9.26; 11.26). Wilkins acrescenta que a forma está geralmente no plural, mostrando que as pessoas consideram que cada crente está ligado a uma comunidade de discípulos.

    Portanto, quando falamos sobre o discipulado cristão, estamos falando sobre o que significa crescer como cristão em todas as áreas da vida: Discipulado e discipular significam viver uma vida plenamente humana neste mundo em união com Jesus Cristo e em crescimento conforme a sua imagem.²⁶

    Há, pelo menos, duas maneiras pelas quais o ensino interage com o discipulado. Em primeiro lugar, o ensino informa o discipulado. Durante um tempo de ensino invulgarmente intenso, Jesus sentiu a urgência de ensinar o discipulado enquanto contemplava o difícil caminho à frente. Lucas 9.51 fala que Jesus focou Jerusalém, lugar onde a crucificação, o sepultamento e a ascensão ocorreriam. Lucas narra três histórias consecutivas nas quais Jesus ensinou os requisitos do discipulado. Em cada história, o verbo seguir é usado para convidar indivíduos para tornarem-se discípulos de Jesus. Na primeira história, um homem prometeu seguir a Jesus para onde quer que Ele fosse (Lc 9.57). Na segunda, um homem prometeu tornar-se discípulo assim que se despedisse de sua família (Lc 9.59). Na terceira, um homem disse a Jesus: Estou pronto para seguir o senhor, Mestre, mas antes preciso acertar as coisas lá em casa (MSG). Jesus introduziu esta seção com uma lição de discipulado e compromisso: E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará (Lc 9.23,24).

    As três histórias mostram algumas respostas típicas ao ensino sobre o discipulado. Jesus deu instruções sobre o compromisso necessário para ser discípulo. O ensino informa o discipulado.

    O ensino também organiza o discipulado. O apóstolo Paulo esperava que o discipulado fosse replicado de geração em geração. O processo está descrito em 2 Timóteo 3.14-17:

    Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido. E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra.

    Quando o discípulo é ensinado no contexto de um relacionamento, que não é o cumprimento de um programa de curso, mas é motivado pelo amor, como um pai ou mãe para um filho ou filha, as lições descem da cabeça para o coração, do instruído para o convencido de. O discípulo sabe quem são os seus professores — no caso de Timóteo, Paulo referiu-se à mãe, à avó de Timóteo e a ele mesmo. Ensinar as verdades da Bíblia dá ao discípulo a sabedoria que aponta para a fé, e o texto é digno de confiança para o desenvolvimento do discípulo.

    Perguntas e Atividades

    1. Que equívoco comum sobre o ensino e a educação cristã o autor está abordando?

    2. Faça uma busca de como um grupo ou denominação que você conhece define ou descreve o discipulado. Como a definição que esse grupo ou denominação dá afeta o método de ensino?

    3. Quando você ensina, você enfatiza o pensar, o sentir ou o fazer? Como você pode tornar-se mais holístico no seu ensino e apoiar as outras áreas?

    4. Qual foi o conteúdo do ensino de Jesus? Que papel o conteúdo teológico desempenhou em seu discipulado e ensino?

    5. Escreva três exemplos (da sua vida ou de outras pessoas que você conheça) que mostram por que os professores precisam equilibrar o conteúdo e os relacionamentos no que diz respeito ao discipulado.

    Leitura Recomendada

    MULHOLLAND, Robert M. Invitation to a Journey: A Roadmap for Spiritual Formation. Downers Grove, IL: InterVarsity, 1993.

    PACKER, J. I. Knowing God. Downers Grove, IL: InterVarsity, 1993. [Edição brasileira: O Conhecimento de Deus (São Paulo: Cultura Cristã, 2014)].

    WILKINS, Michael. Following the Master: A Biblical Theology of Discipleship. Grand Rapids: Zondervan, 1992.

    WILLARD, Dallas. The Great Omission: Reclaiming Jesus’ Essential Teachings on Discipleship. Nova York: Harper Collins, 2006. [Edição brasileira: A Grande Omissão: As Dramáticas Consequências de Ser Cristão sem se Tornar Discípulo (São Paulo: Mundo Cristão, 2007)].


    ⁸ Barry Sneed e Roy Edgemon, Transformational Discipleship (Nashville: LifeWay, 1999), p. 3.

    ⁹ Dallas Willard, The Great Omission: Reclaiming Jesus’ Essential Teachings on Discipleship (Nova York: HarperCollins, 2006), p. 53. [Edição brasileira: A Grande Omissão: As Dramáticas Consequências de Ser Cristão sem se Tornar Discípulo (São Paulo: Mundo Cristão, 2007)].

    ¹⁰ Perry G. Downs, Teaching for Spiritual Growth: An Introduction to Christian Education (Grand Rapids: Zondervan, 1994), p. 16. [Edição brasileira: Ensino e Crescimento: Introdução à Educação Cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2001), p. 17.]

    ¹¹ Nick Taylor, Spiritual Formation: Nurturing Spiritual Vitality, em Christian Education: Foundations for the Twenty-First Century, ed. Michael J. Anthony (Grand Rapids: Baker Academic, 2001), p. 91.

    ¹² Veja, por exemplo, João Batista em Mc 9.38,39, Simão Pedro em Lc 7.40,41 e Nicodemos em Jo 3.2.

    ¹³ Extraído de "The Other Sermon on the Mount" no site: http://webserv.jcu.edu/bible/Humor/MountSermon.htm. A primeira vez que li este texto foi no livro de Peter L. Stenke, intitulado How Your Church Family Works: Understanding Congregations as Emotional Systems (Guilford, CT: Rowman & Littlefield, 2006). A maioria dos professores de adolescentes reconhecerá alguns de seus alunos em algum lugar da parábola!

    ¹⁴ James Stewart, The Life and Teaching of Jesus Christ (Nashville: Abingdon, 2000), p. 64–71.

    ¹⁵ Há outros exemplos de discipulado e ensino cristão. Este é apenas um. Há crentes que têm certas limitações que dificultam a memorização da Bíblia.

    ¹⁶ Adaptado de William R. Yount, The Teaching Ministry of the Church (Nashville: Broadman & Holman, 2008), p. 197–199.

    ¹⁷ Nem todos têm pais amorosos que estão presentes, e nem todos os pais têm filhos que dão importância à instrução ou ao exemplo dos pais.

    ¹⁸ As traduções variam aqui (homens, ARC), mas sabemos que a palavra grega anthropoi refere-se a homens e mulheres.

    ¹⁹ Andrew Root, Relationships Unfiltered (Grand Rapids: Zondervan/Youth Specialties, 2009), p. 17.

    ²⁰ Michael Wilkins, Following the Master: A Biblical Theology of Discipleship (Grand Rapids: Zondervan, 1992), p. 26–33.

    ²¹ Ibid., p. 26.

    ²² Ibid., p. 28.

    ²³ Ibid., p. 29.

    ²⁴ Ibid., p. 32.

    ²⁵ Ibid., p. 40.

    ²⁶ Ibid., p. 42.

    Desenvolvendo uma Teologia da Educação

    JEFF KEUSS

    Para a fé cristã, uma das declarações mais antigas do que significa educar encontra-se no Antigo Testamento, logo depois que Moisés recebeu os mandamentos de Deus. São declarações que forneceram orientação e cuidado aos israelitas, enquanto viajavam a terra e à promessa de que o Senhor tinha-lhes reservado. Estabelecendo os elementos essenciais pelos quais eles devem viver sob os cuidados e provisão sustentadora de Deus, Deuteronômio 6.4-7 diz que Israel tem de ouvir atenciosamente, focar intensamente em quem o Senhor é e ensinar isso repetidamente para a próxima geração. Nestes versículos, somos chamados para educar em prol da fé, o que nos exige que desenvolvamos uma teologia da educação para podermos responder à chamada:

    Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te.

    Já no século XIV, William Langland refletiu: A teologia sempre me causou muitos problemas. Quanto mais pondero e aprofundo-me nela, mais sombria e nebulosa ela me parece. Certamente, não é ciência para invenções sutis; e sem amor, não faria nenhum bem. Mas gosto dela, porque valoriza o amor acima de tudo; e a graça nunca falta quando o amor vem primeiro.²⁷

    Claro que a teologia causa muitos problemas para as pessoas, pois fica um tanto quanto sombria e nebulosa quanto mais mergulhamos nas questões clássicas da soberania de Deus, do problema do mal, da natureza da salvação e da natureza do Reino de Deus. Como educadores de jovens, no entanto, não devemos ter medo ou evitar as questões ou temas teológicos difíceis. Com sensibilidade às nossas tradições denominacionais e com métodos adequados por faixa etária, ajudamos efetivamente a desenvolver o pensamento teológico dos jovens de hoje.

    Como observado por Walter Brueggemann,²⁸ estudioso do Antigo Testamento, a formação dos fiéis seguidores de Deus está estruturada pelo cânone sagrado das Escrituras por meio de um povo que compartilha e envolve-se com um Deus santo, que é profundamente misterioso, mas, mesmo assim, é-nos acessível. A reunião do Antigo Testamento na Torá, Profetas e Escritos foi a estrutura em torno da qual as pessoas de fé foram centralizadas em seu entendimento coletivo do que significa crescer mais em sua jornada de vida com Deus (Jr 18.18a).

    Uma teologia da educação começa, em parte, reconhecendo que passamos por ciclos em nossa jornada de fé. Temos momentos de clareza cristalina de quem somos diante de Deus e do que Deus deseja para nós. Também passamos por períodos de dificuldade com pontos de tensão concernentes a discernimentos novos e pontos de vista diferentes que precisam ser conciliados com o que entendemos por fé. Em certas ocasiões, descansamos no mistério de Deus, que está sempre presente, sempre curando, sempre nos atraindo para mais perto dEle em abraços cheios de amor. Em outras, esse abraço parece-nos elusivos. Brueggemann resume a nossa chamada à educação em prol da fé extraída das Escrituras como uma chamada para ensinar certeza, perturbação e mistério para a próxima geração. Outra maneira de pensar a respeito encontra-se nos títulos de três hinos tradicionais: Que Firme Alicerce (segurança), Sou Feliz (perturbação) e O profundo e profundo amor de Jesus (mistério). Esses três são partes iguais da vida cristã.

    Criando um Espaço onde a Teologia Está Incorporada na Comunidade

    Há muitas maneiras de definir o que se quer dizer por teologia. Etimologicamente, teologia significa conversa com Deus (theos [grego] = Deus; logos [grego] = Palavra, conversa, fala, discurso argumentado), destacando a importância do diálogo entre as pessoas. Engajar-se em conversa com Deus é abrir espaço no qual a procura por Deus chega à plenitude em termos de sabedoria e verdade. Na definição proposta por Stephen Pattison e James Woodward, teologia é um lugar em que a crença, a tradição e a prática religiosa encontram as experiências, questões e ações contemporâneas e conduzem um diálogo que é mutuamente enriquecedor, intelectualmente crítico e praticamente transformador.²⁹ Dessa forma, a disciplina acadêmica da teologia ampliou seu alcance indo além do que Edward Farley chamou de paradigma clerical, que via que a teologia da educação era o mero treinamento ocupacional do clero. Ao entrar no século XXI, a igreja passou a ver a teologia da educação como um paradigma mais abrangente que, ainda que mantenha primordial sua tarefa de treinar e preparar as pessoas em prol do ministério, agora também chama todas as pessoas de fé para uma forma clara de ver e envolver-se com Deus em todos os modos de vida.

    No livro To Know as We Are Known [Conhecer como Somos Conhecidos], Parker Palmer entende que a educação é uma jornada espiritual no sentido mais verdadeiro da fé cristã profunda. Servindo-se de sua tradição de fé como quaker, Palmer acredita que a educação que é verdadeiramente significativa será moldada pela fé criando espaço no qual o entendimento corporalizado é praticado pela comunidade.³⁰ Vamos examinar cada aspecto dessa frase.

    Criando Espaço

    Ver que a primeira tarefa da teologia da educação é criar espaço significa permitir que novas ideias surjam e que as antigas recebam nova voz. Os alunos entrarão no espaço educacional com a aglomeração de experiências e vozes do passado que distraem ou mesmo silenciam a capacidade de ouvir algo novo ou revolucionário. Voltar à chamada em Deuteronômio 6 para amar a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todo o nosso poder (ou força) exigirá que o educador abra espaço no coração, na alma e na força do aluno, com vistas a receber o que Deus deseja dizer, desafiar, redimir e provocar à ação.

    Se nós, como líderes cristãos, não abrirmos espaço para novas vozes e novas formas de pensar e crer, então a educação irá tornar-se mera transferência de informações não analisadas ou, pior ainda, o silenciamento de novas descobertas dos alunos, pelas quais o professor e outros alunos podem ser beneficiados. Neste sentido, a teologia fecha-se ao surgimento de novas ideias. Henri Nouwen observa, ensinar pode degenerar-se no consumismo frenético de apenas obter os fatos como, por exemplo, memorizar dogmas, elaborar sermões de três pontos e fazer outras coisas semelhantes sem o envolvimento intelectual, sendo os professores os vendedores, e os alunos os consumidores. Ele afirma:

    Quando o ensino ocorre em um contexto [fechado], está condenado a ser um processo violento e evocar um ciclo vicioso de ação e reação. [...] O professor que entra nesta arena é forçado a entrar em um processo que, por sua natureza, é competitivo, unilateral e alienante. Em suma: violento.³¹

    Em contraste com essa noção, criar espaço como o primeiro passo em direção a uma teologia da educação é deixar de lado a necessidade de forçar o processo da educação voltado para a conclusão. Criar espaço mostra que a necessidade de completar o estudo de um tema (percorrer apressadamente a lição, dar aos alunos a resposta sem ter tempo para aprender profundamente) é a necessidade potencial de ter controle e domínio, bem como a indisposição de ser transformado em novas formas de pensar e estar no mundo.

    Criar espaço no ministério envolve um processo inerentemente redentor, o que implica que muitas vozes encontram novas conexões, em vez de ser uma competição na qual uma pessoa tem razão e as outras não. Ao criar espaço, temos de ser reflexivos sobre os problemas da vida prática, a fim de unir o chamado de Deus para o indivíduo e a igreja com as necessidades profundas do mundo pelo qual Jesus viveu e morreu. Portanto, o objetivo do professor cristão teologicamente inteligente é desenvolver um espaço convidativo que seja acolhedor e transformador para o professor e para o aluno.

    Entendimento Corporalizado

    À medida que entramos no espaço hospitaleiro e convidativo, a teologia da educação tem de refletir o chamado de Cristo, um evento encarnacional que vive não somente no cérebro, mas também no corpo, em uma vida ativa e móvel no mundo. Voltando aos fundamentos da teoria da educação encontrados nos escritos de Aristóteles, vemos que ser seres humanos totalmente corporalizados com propósito é viver eticamente no mundo como pessoas de caráter. Aristóteles expôs esse argumento ao fazer distinção entre teoria (pensamento contemplativo) e frônese (raciocínio prático). A respeito da frônese, Aristóteles sustentava que o meio de discernir o certo e o errado na experiência vivida depende sempre da identidade, papéis sociais, crenças e tradições dos indivíduos numa sociedade, que os desafia a viver como agentes morais, antes de ser um princípio moral teórico e objetivamente certo para a ação humana.

    Decisões éticas têm de ser fundamentadas em e mediante um modo de vida que está corporalizado, em vez de ser uma mera ideia no meu cérebro. A teologia cristã precisa ser comunidades móveis cada vez mais voltadas a modelos de transformação para a verdade,³² onde a ação como pessoa de caráter ético é o objetivo, e não a concordância e memorização de boas ideias que não requerem viver o chamado do evangelho de Cristo no mundo. Certo teólogo colocou a ideia desta forma:

    Um sistema teológico deve atender duas necessidades básicas: a declaração da verdade da mensagem cristã e a interpretação dessa verdade para cada nova geração. A teologia move-se para frente e para trás entre dois polos, a saber, a verdade eterna do seu fundamento e a situação temporal, na qual a verdade eterna tem de ser recebida.³³

    O desafio aqui para nós é bastante sério: a verdade do evangelho sempre tem de ser interpretada como ação vivida no (e com o) nosso mundo. Não basta acreditar no evangelho de Jesus.

    Temos de tornar-nos as mãos e os pés de Cristo, se é que nossa crença é verdadeira. Dessa forma, nossa teologia da educação tem de desafiar os alunos a uma participação viva e ativa em seu mundo.

    É praticado

    Isso nos leva à terceira maneira de envolver-nos na teologia da educação: ela não apenas está corporalizada, mas também é praticada. Podemos ler a declaração frequentemente citada do teólogo Emil Brunner sobre a igreja à luz da educação em prol da igreja: A igreja existe para a missão, assim como o fogo existe para a combustão. Onde não existe missão, não existe igreja; e onde não existe igreja nem missão, não existe fé.³⁴ Assim como Brunner evocou a missão como evidência da fé, Dietrich Bonhoeffer declarou que a evidência da reflexão teológica era viver no mundo e

    lidar com a vida calmamente, com todos os seus deveres e problemas, os seus sucessos e fracassos, as suas experiências e incapacidades. É numa vida assim que nos entregamos totalmente nos braços de Deus e participamos de seus sofrimentos no mundo e vigiamos com Cristo no Getsêmani.³⁵

    Essa participação ativa nos sofrimentos no mundo é semelhante à declaração que o escritor Frederick Buechner fez sobre nossa chamada para a missão: ela localiza-se no lugar onde se encontram [a nossa] maior alegria e a fome do mundo.³⁶ Promover esta teologia da educação é primordial para a participação no mundo por meio da identificação de áreas de fome mais extrema no mundo e relacioná-las com os respectivos dons e talentos dos alunos.

    Por meio da aprendizagem do serviço, viagens missionárias, estágios, liderança entre colegas e outras formas de vivenciar a fé para os outros, os alunos entram na área dedicada aos experimentos na verdade,³⁷ que mostrarão que a teologia da educação tem de levar a sério o desafio e a oportunidade encontrada na chamada à reconciliação em meio ao caos do mundo.

    O desafio diante dos alunos e professores para participar de uma teologia da educação reflete o comissionamento de Nouwen

    para ajudar pessoas em situações muito concretas — pessoas com doenças ou em luto, pessoas com deficiências físicas ou mentais, pessoas presas nas complexas redes de instituições seculares ou religiosas — para verem e experimentarem suas histórias como parte da contínua obra de redenção feita por Deus no mundo.

    Essas ideias e experiências curam, exatamente porque restauram a conexão interrompida entre o mundo e Deus, e criam nova unidade em que memórias que anteriormente eram apenas destrutivas são agora recuperadas como parte do evento redentor.³⁸

    Em última análise, essas preocupações encontram-se trabalhadas no espaço formado pela comunidade, que é o quarto pilar sobre o qual desenvolvemos uma teologia da educação.

    Pela Comunidade

    A teologia em seu cerne fala em termos de comunidade como

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