Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

As crônicas de Al Anbar.
As crônicas de Al Anbar.
As crônicas de Al Anbar.
E-book703 páginas9 horas

As crônicas de Al Anbar.

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Descrição do livro.

Militar; Ficção

O Iraque implodiu em 2006 depois do bombardeio da Mesquita Dourada em Samarra. A província de Al Anbar, em particular, se tornou incubadora de ataques às forças da Coalizão e de violência sectária. A Primeira Força Expedicionária do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA (I FEM) estava encarregada de derrotar a al Qaeda estrangeira no Iraque e os combatentes locais.

A I FEM não era apenas de Fuzileiros, no entanto. Unidades do Exército, da Marinha, da Força Aérea e da Guarda Costeira e unidades dos parceiros da Coalizão tais como o Reino Unido também fizeram parte da guerra.

As crônicas de Al Anbar é uma compilação de três volumes separados que seguem dois fuzileiros e um paramédico da Marinha quando são convocados para Fallujah e Ramadi. Seus caminhos se cruzam, cada história é distinta uma das outras, cada uma um volume em separado.

Ficção: As narrativas dos três livros se passam na província de Al Anbar e Bagdá no ano de 2006, e o cenário é preciso assim como a disposição das unidades e os eventos principais. Os personagens nos livros, entretanto, são fictícios. Porém muito do que acontece com eles, principalmente nos dois últimos livros, é baseado em eventos reais observados pelo ou contado ao autor, mas uma boa dose de licença literária foi usada ao escrever as histórias.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de mar. de 2020
ISBN9781071529263
As crônicas de Al Anbar.

Leia mais títulos de Jonathan P. Brazee

Relacionado a As crônicas de Al Anbar.

Ebooks relacionados

Ficção militar e de guerra para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de As crônicas de Al Anbar.

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    As crônicas de Al Anbar. - Jonathan P. Brazee

    As crônicas de Al Anbar.

    A Primeira Força Expedicionária do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA - Iraque

    Livro 1: Prisioneiro de Fallujah

    Livro 2: Paramédico combatente

    Livro 3: Sniper

    Coronel Jonathan P. Brazee, Corpo de Fuzileiros Navais dos Estado Unidos da América (Aposentado)

    Semper Fi Press

    Um livro da Semper Fi Press

    Novembro de 2013

    Copyright © 2013 por Jonathan P. Brazee

    Impresso nos Estados Unidos da América

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida por nenhum meio eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro sistema de armazenamento e de recuperação de informação, sem a permissão escrita expressa do autor ou do editor, a não ser em citações breves dentro de artigos críticos e avaliações.

    Esta é uma obra de ficção. Todos os personagens, nomes e diálogos neste romance são ou produtos da imaginação do autor ou são usados de forma fictícia. Alguns dos acontecimentos usados neste livro não baseados em eventos reais; entretanto, os detalhes, a cronologia e as unidades envolvidas foram modificadas. Em particular, enquanto os eventos do capítulo 27 do livro são fictícios; são apenas inspirados na batalha verdadeira vivenciada pelo então sargento Timothy La Sage do Segundo Batalhão, Quinto Regimento do Corpo de Fuzileiros Navais e seu pelotão de sniper caçador em 2004, na cidade de Ramadi. As unidades descritas no livro foram unidades reais empregadas no Iraque durante o período, mas as pessoas e os eventos narrados são fictícios.

    Agradecimentos:

    Eu quero agradecer a todos que fizeram a pré-leitura deste livro, apontaram meus erros tanto de conteúdo quanto de digitação. Do escritório 9951 do Veteranos de Guerras Estrangeiras (Veterans of Foreiner Wars) em Bangkok, eu preciso agradecer a MacAlan Thompson pela revisão e verificação dos fatos. Agradeço ao meu editor, Jenn Scrantion, pelo seu excelente trabalho. Do site military.com, eu preciso agradecer a um paramédico de combate real, Chefe do Hospital de Paramédicos de Combate, Ron Martin. E do fórum sniperforums.com, eu quero agradecer a Mikinajeep por dirigir as ações de tiro. O auxílio deles foi inestimável para fazer este livro o mais preciso possível. Qualquer erro e imprecisão que ainda existam é de minha inteira responsabilidade.

    Dedicado aos 4.487 militares americanos (homens e mulheres) e aos militares da 318º Coalizão que fizeram o sacrífico extremo no Iraque.

    Introdução

    ––––––––

    O Iraque em 2006 era um lugar de instabilidade e violência. Grande número de ataques que eram lançados não apenas contra as forças de coalizão, mas a violência sectária entre os sunitas e os xiitas aumentara dramaticamente.

    As forças de coalizão também eram alvos por todo o país, mas os ataques eram concentrados contra as tropas britânicas em Barsa, onde havia suposta participação iraniana; em Bagdá, enquanto Muqtada al-Sadr liderava seu Exército Mahid contra o Exército Americano; e em Ramadi, onde combatentes sunitas, tendo sido expulsos de Fallujah, combatiam unidades dos fuzileiros americanos, de Exércitos aliados e da Guarda Nacional.

    O que segue abaixo é uma breve linha do tempo anual, que serve como pano de fundo para os três volumes de As Crônicas de Al Anbar:

    ––––––––

    Dia 20 de janeiro de 2006: Os resultados das eleições de dezembro foram anunciados. A Aliança Unida Iraquiana Xiita, uma aliança dos partidos religiosos Xiitas, conseguiu 128 dos 275 assentos no parlamento, o que não era suficiente para governar sem coligações.

    Dia 20 de fevereiro de 2006: A Primeira Força Expedicionária do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da América assumiu o comando das Forças dos Estados Unidos no Ocidente.

    Dia 22 de fevereiro de 2006: Insurgentes bombardeiam a Mesquita Dourada em Samarra. Isto desencadeou uma enxurrada de violência sectária na qual mais de mil pessoas foram mortas em poucos dias. Esse bombardeio foi o catalisador para o estado de guerra civil que eclodiu entre os xiitas e os sunitas.

    Dia 8 de março de 2006: Os insurgentes vestidos com uniformes da polícia sequestraram cinquenta empregados de uma empresa de seguros que pertencia a um sunita em Bagdá.

    Dia 12 de março de 2006: Seis carros-bomba mataram mais de cinquenta pessoas e feriram mais de duzentas num setor xiita de Bagdá.

    Dia 16 de março de 2006: A Operação Swarmer é lançada próximo a Samarra. Foi o maior ataque aéreo na guerra.

    Dia 21 de março de 2006: Pouco menos que duzentos corpos foram encontrados em Bagdá.

    A maioria dos corpos apresentava marcas de tortura.

    Dia 4 de abril de 2006: A corte iraquiana acusou Saddam Hussein e seis outros réus de genocídio.

    Dia 7 de abril de 2006: Homens bomba mataram pelo menos cinquenta pessoas numa mesquita em Bagdá.

    Dia 22 de abril de 2006: Nuri al-Maliki foi reconhecido como primeiro-ministro, quatro meses depois do anúncio dos resultados das eleições.

    Dia 10 de maio de 2006: O presidente Jalal Talabani anunciou que mais de mil pessoas foram mortas em Bagdá durante o mês anterior.

    Dia 15 de maio de 2006: A Primeira Brigada de Combate assumiu o comando em Ramadi.

    Dia 25 de maio de 2006: A Operação Dragon's Breath começou em Ramadi. O objetivo era encontrar armas e insurgentes.

    Dia 2 de junho de 2006: Um homem bomba matou 33 em Basra.

    Dia 4 de junho de 2006: Terroristas mataram 21 em Baquba.

    Dia 7 de junho de 2006: Abu Musab al-Zarqawi, o líder da al-Qaeda no Iraque, foi morto pelas forças de coalizão num ataque aéreo.

    Dia 14 de junho de 2006: O cabo fuzileiro Michael A. Estrella, 20 anos, de Hemet, Califórnia, morreu em 14 de junho enquanto conduzia operações de combate na província de Al Anbar. O cabo Estrella foi o 2.500º americano morto na guerra.

    Dia 17 de junho de 2006: Esta é a data oficial do começo da Batalha de Ramadi.

    Dia 10 de julho de 2006: A ONU anunciou que durante o mês de junho, uma média de mais de cem civis foram mortos por dia no Iraque.

    Dia 4 de agosto de 2006: A Operação Floodlight começou em Fallujah com objetivo de capturar depósito de armas e insurgentes.

    Dia 15 de agosto de 2006: Foi anunciado que apenas em Bagdá, um total de 3.438 civis foram mortos em julho, um aumento de nove por cento em relação a junho.

    Setembro de 2006: O xeique Abdul-Sattar Abu Risha procurou o coronel Sean McFarland, comandante da Brigada Ready First, para discutir uma aliança contra a Al Qaeda no Iraque. Este é um passo importante para o Despertar Sunita.

    Dia 20 de outubro de 2006: Milícias xiitas lutavam pelo controle da cidade de Samarra.

    Dia 6 de novembro de 2006: Saddam Hussein foi sentenciado à morte por enforcamento.

    Dia 22 de novembro de 2006: Segundo um relatório da ONU, o números de civis mortos no Iraque atingiu 3.700 durante o mês de outubro.

    Dia 23 de novembro de 2006: Mais de duzentas pessoas morreram quando cinco carros-bomba e uma carga de morteiro explodiram em Sadr City, distrito de Bagdá.

    Dia 18 de dezembro de 2006: Um relatório do Pentágono divulgou que foram 960 ataques aos americanos e iraquianos em média por semana, o número mais alto desde o início dos relatórios em 2005.

    Dia 30 de dezembro de 2006: Saddam Hussein foi enforcado.

    Dia 31 de dezembro de 2006: O soldado do Exército Dustin R. Donica, 22 anos, de Spring, Texas, morreu em Bagdá devido aos ferimentos recebidos de fogo inimigo. Ele foi o 3.000º americano morto na guerra.

    PRISONEIRO DE FALLUJAH

    LIVRO 1

    Índice

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Epílogo

    Capítulo 1

    ––––––––

    Dia 28 de fevereiro de 2006

    Fallujah, Iraque

    ––––––––

    Empurrei a minha cobertura um pouco para trás na tentativa de fazer o ar circular. Ainda era fevereiro, mas Fallujah já estava quente como um forno. Uniformizado, de luvas, colete balístico, cobertura, todos os equipamentos de guerra e os óculos de proteção, não ajudava, e o pequeno ar condicionado do Humvee não dava conta do recado.

    Estávamos num comboio de orientação, nosso primeiro no Iraque, nos preparando para quando o grosso dos foróas começasse a chegar em uma semana. Eu realmente não estava muito preocupado. Esta era a minha terceira convocação. Minhas duas primeiras foram como soldado, então esse serviço no glorioso comboio seria uma brisa. Esta era apenas uma rota fácil fora dos portões, ao redor do descampado no entorno do acampamento e um passeio rápido nos arredores da cidade. Tínhamos realizado milhares de comboios lá em Pendleton durante os exercícios de fim de semana e de novo após sermos mobilizados, mas os poderosos decidiram que ainda tínhamos que ser habilitados no país de deslocamento antes de podermos executar uma missão real.

    Dei uma olhada no relógio, tentando fazer os cálculos. Toquei na perna do cabo Deke Miller, que estava na torre de tiro, para chamar sua atenção. Olhou para baixo.

    — Ei, Miller, que horas são lá na Califórnia?

    Olhou para o relógio e sem pestanejar respondeu, 21h30 antes de virar a cara para fora, procurando algum sinal do inimigo.

    Eu senti uma pontada de culpa. Aqui não era Pendleton. Havia sujeitos maus lá fora, e eu não deveria estar tirando a atenção do artilheiro da sua missão.

    Vinte uma e trinta. Sig deveria ter saído do trabalho há trinta minutos. Fico pensando se ela estaria em casa. Não sei nada dela desde que os ônibus deixaram Pendleton para a base da Força Aérea em March, e o longo voo para o Kuwait. Nenhum e-mail. Tinha tentado ligar para ela de dentro da OSR (Organizações de Serviços Reunidos) no Acampamento Liberty enquanto aguardava a designação de seguir para o Iraque, mas ela nunca atendeu. Sabia que estava aborrecida com esta convocação, mas estava indo longe demais. Essa era a maneira de me punir, bem como sua recusa em transar uma última vez antes de eu sair, e tinha acabado de deixar que descansasse.

    Tentei tirá-la do pensamento e olhei pela janela. Estava sentado no banco traseiro direito do Humvee, basicamente um passageiro sem outra missão que não fosse observar. Do lado de fora, o deserto majoritariamente inexpressivo se estendia para o sul, e os prédios de Fallujah aumentavam como miragem a oeste. Estava apertado com todos os equipamentos de combate e não gostava de viajar com os joelhos tão elevados, mais alto até que os quadris. Na verdade, nunca gostei desse aspecto da configuração do Hummer, com assento baixo e assoalho alto. Não parecia particularmente seguro para mim se fossemos atingidos ou sofrêssemos um acidente.

    Este Hummer era a versão blindada, levando cerca de quinhentos quilos de proteção extra, então pelo menos era uma melhoria em relação ao que tínhamos nas duas convocações anteriores. Havia rumores sobre a vinda de uma nova viatura com a traseira em V, mas só chegariam ao teatro de operações muito depois de estarmos de volta aos Estados Unidos e desmobilizados.

    À frente, conseguia ver a viatura líder virar à direita em direção a Fallujah. Havia seis Hummers e um caminhão M939 de cinco toneladas no comboio. Andei num M939 do Kuawit até Bagdá em 2003 quando era recruta no 3º do 4º Batalhão de Infantaria do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, o Thundering Third, e honestamente, estava feliz por ter pelo menos o assento macio do Hummer para me sentar. Um M939 era cruel com o corpo, mesmo havendo muito aço entre você e qualquer IED. Uma bomba caseira.

    Uma poeira diabólica dançava pela areia quando fizemos a curva e rumamos para Fallujah. Não iríamos entrar muito na cidade, mas apenas até próximo do complexo do governo, então virar à direita e retornar à base. Este comboio era simplesmente de iniciação antes de recebermos uma missão real. Conduzir um comboio em Pendleton era uma coisa. Conduzir onde o inimigo era uma ameaça real, era outra.

    A maioria dos fuzileiros na bateria estava muito aborrecida com a nossa missão. Não atiraríamos em nenhum homem de turbante durante a nossa convocação. Fomos designados como uma companhia provisória de Polícia do Exército, assumindo tarefas de polícia. Isso não me aborreceu em nada. Ainda era um 0311. Só me juntei à bateria em novembro, quando eles já estavam em suas atividades, e eu ainda sequer havia treinado como artilheiro. Uma bateria de serviço ativo proveria todo o suporte de fogo de artilharia, mas como reservistas, a maioria de nós estava em serviço de comboio, o que fazia sentido devido a todos os computadores que uma bateria possui. São necessários muitos caminhões para deslocar as armas e munições de uma bateria de artilharia.

    Vieram instruções pelo rádio para manter o controle e observar nosso distanciamento. O sargento Rios era nosso chefe de viatura, e apenas balançou a cabeça demonstrando surpresa exagerada. Não sei como poderíamos manter o controle e dispersar ao mesmo tempo, e era evidente que ele pensava o mesmo.

    Olhei por cima do duto do diferencial no centro do Hummer para o passageiro sentado no banco traseiro esquerdo. O capelão havia insistido para vir. Parecia bem nervoso, mas eu tinha que dar crédito por ter vindo conosco. Você não pode liderar um grupo estando na base. Talvez a presença dele nos desse uma proteção extra do Grande Homem lá em cima.

    Quando entramos na zona urbana, prestei mais atenção ao que estava ao nosso redor. Não era como se eu pudesse atirar em alguém se tivéssemos que fazê-lo. Os para-brisas não baixavam, e não tínhamos nenhuma espécie de janela de tiro. Não, isso seria trabalho para o Miller que estava na ponto 50. Mas esta foi a minha primeira visão de Fallujah, e pelos relatórios, a batalha tinha sido muito violenta em 2004. Já me encontrava no país na época da Batalha de Fallujah, mas não aqui.

    Estava um pouco desapontado com o fato de ela se parecer com todas as outras cidades poeirentas do Iraque que já tinha visto. Havia danos evidentes, mas não como nas fotos da destruição na Alemanha e no Japão da Segunda Guerra Mundial. Não tenho certeza do que esperava, mas certamente algo mais dramático que isso.

    Enquanto olhava pela janela, começamos a desviar um pouco para o meu lado da estrada. Em nossos treinamentos, tínhamos sido instruídos a manter nossa viatura no mesmo caminho das viaturas à frente. Há menos de três horas, no briefing sobre o comboio, a Seção de Operações do batalhão enfatizou a mesma coisa. E aqui estávamos nós começando a fazer nosso próprio caminho. Olhei para o sargento Rios, pensando se ele iria dizer ao cabo Morrisey, nosso motorista, para manter o caminho do Hummer à nossa frente. Hesitei por um momento, pois era novato na bateria, e Rios era o chefe de viatura. Eu era apenas cabo.

    Desviamos mais alguns centímetros, e sabia que tinha que falar algo. Soltei o cinto de segurança e me inclinei para frente, cabeça sobre os joelhos, no mesmo momento em que o sargento Rios pareceu perceber que havíamos desviado. Virou-se para Morrisey, então retornei ao meu lugar.

    No instante que minhas costas tocaram o encosto do assento, o mundo eclodiu com um estrondo. Parecia que um gigante tinha batido no meu assento, jogando o Hummer, comigo dentro, para o alto. Senti uma onda de calor, quase irresistível. Atônito, fiquei sem saber o que realmente tinha acontecido por um momento, mas então entendi. Fomos atingidos por uma IED.

    O Hummer foi suspenso no ar, mas inclinado com o lado direito acima do esquerdo, e eu estava pendurado meio dentro, meio fora da viatura suspensa acima da estrada empoeirada. Fomos alertados que as portas do Hummer frequentemente permanecem presas quando a viatura atinge uma IED, mas a minha porta tinha sido arrancada.

    Olhei de relance para ver o capelão se segurando para viver, enquanto as pernas de Miller se debatiam no ar dentro do Hummer, seu tronco ainda fora da abertura superior da torre de tiro.

    Tudo isso não teria levado mais que dois segundos, mas o tempo parecia parado para mim. A vida passava no modo super câmera lenta. Subimos, então o Hummer começou seu mergulho sem parada de volta à terra. Eu me segurei, mas pouco adiantou. A viatura atingiu o solo com força pelo lado esquerdo. Parou de vez, mas eu não. Caí fora da viatura e bati no chão; perdi a respiração. Olhei para cima, vendo a fumaça preta remanescente da explosão se dissipar no céu azul acima de mim, então o cambaleante Humvee parecia que estava tentando decidir para que lado tombar. Podia ver isso e percebi que se caísse sobre mim, estaria morto. Mas esta foi quase uma constatação impassível. Sabia que poderia me esmagar, mas não entrei em pânico. Se me esmagasse, esmagou. Com certeza não conseguiria escapar a tempo.

    Após uma eternidade, o Hummer caiu para a esquerda. Estava salvo. Ainda atordoado, ouvi o som de armas leves, o ruído característico dos AK-47, mas como se houvesse algodão nos ouvidos. Percebi isso, mas sem sentido de urgência. As .50 nas outras viaturas abriram fogo em resposta, e eu conseguia ver a munição traçante pintando linhas pela rua em direção a um dos prédios adjacentes.

    Com muito esforço consegui me sentar. Olhava de forma fixa e como um idiota para os destroços de um Hummer capotado perto de mim. A porta traseira esquerda estava aberta, e o capelão estava caído do lado de fora, mas voltou para ajudar Miller a sair. O cabo Miller tinha reclinado para ajudar Morrisey a sair quando alguém pegou uma marreta e bateu no meu peito. Caí de costas e lutei para respirar. Sabia que havia sido atingido, e a complacência estranha que estava sentindo sumiu. Iria morrer aqui, a milhares de quilômetros longe de casa, numa rua empoeirada e quente de Fallujah. Duas missões como soldado sem um arranhão, e sou morto numa unidade de artilharia usada como Polícia do Exército?

    Consegui tocar no peito com a mão esquerda, depois a levei para a frente dos olhos, esperando ver mancha de sangue. A luva parecia chamuscada, mas não estava vermelha. Pensei o que significaria isso, mas a visão em túnel irrompeu, e tudo ficou escuro.

    Capítulo 2

    Mesmo dia

    Hospital da Base Fallujah.

    ––––––––

    Estava todo machucado.

    A bunda e as costas doíam. Os lábios também. Doía ao respirar, e cada respiração parecia uma facada no peito.

    — Como está se sentindo, filho? — perguntou uma voz calma.

    Abri os olhos e vi o capelão sentado numa cadeira ao meu lado. Estava imundo, coberto com fuligem e poeira. No entanto, parecia bem. Percebi que sequer sabia o nome dele, ou que tipo de capelão ele era.

    — Estou bem? — perguntei.

    Olhei ao redor. Como pode não haver médicos cuidando de mim? Fui atingido!

    — Vai ficar bem, cabo Xenakis, não é? — Posso te chamar de Nicholas? Creio que ainda não nos apresentamos oficialmente. Sou o padre Trent.

    — Apenas Nick está bom —, respondi.

    Estendeu a mão como se estivéssemos nos conhecendo descontraidamente em Seal Beach. Por instinto, peguei a mão dele, mas isso me causou outra facada de dor no peito. Alguém tinha tirado meu uniforme e me limpado um pouco, então era fácil levantar o lençol e olhar para o meu tórax. Uma marca vermelha e feia adornava meu peitoral direito agora.

    — Sim, o médico disse que você vai ficar com um hematoma grave aí, mas seu colete balístico funcionou. Vai precisar de um raio-X, mas ele acha que você não quebrou nenhuma costela ou qualquer outra coisa.

    — Mas, por que eu, quero dizer por que eu...

    — Desmaiou? Bem, você tem que perguntar ao médico, mas creio que ele disse que você teve uma concussão. A IED estava bem debaixo do seu assento quando explodiu.

    Olhei ao redor, mas as outras camas estavam vazias.

    — Estão todos bem?

    Os olhos do padre Trent ficaram sombrios pouco antes de responder. — O cabo Miller foi ferido no braço, e está em cirurgia agora. Estava tirando você da linha de tiro quando foi atingido. Ele vai sobreviver, disseram, mas pode perder o braço.

    Senti uma pontada de culpa. Miller era um dos fuzileiros na bateria que eu conhecia bem. Ambos morávamos em Westminster (mais conhecida por sua Little Saigon), e era um ex-soldado também. Ele estava usando a lei sobre ajuda a militares americanos e o seu treinamento para se sustentar enquanto estudava na Faculdade Coastline Community.

    — Vejo que está acordado. Está se sentindo melhor agora? — Um médico entrou enquanto eu estava conversando com o capelão.

    — Não muito bem, para ser honesto.

    — Sim, imaginei que sim. Você vai ficar bem dolorido por alguns dias. Nada muito grave, mas teve uma concussão, e o manteremos aqui esta noite para observação. Se você estiver disposto, vamos limpá-lo, e o doutor Whipple mandou fazer um raio-X do tórax, apenas por precaução. — falou o médico, com uma risada pesarosa.

    Virou-se para o padre Trent. — Você também deve se limpar, senhor. Cuidarei do Xenakis agora.

    Padre Trent olhou para mim, obviamente dividido.

    — Pode ir senhor. Limpe-se. Quando a cirurgia do cabo Miller terminar, ele deve precisar do senhor —, disse-lhe.

    Isso parece que o sensibilizou porque se levantou, desejou melhoras e saiu, mas não sem antes prometer voltar para me ver.

    — Mantivemos o seu primeiro-sargento e os demais do lado de fora, mas o capelão, ele insistiu em ficar até que você acordasse. Bem, vamos indo —, falou, enquanto trazia uma cadeira de rodas para perto da cama.

    Protestei, mas isso não me fez nada bem.

    — Sinto muito, cabo. Mas você levou uma pancada na cabeça, e regras são regras. Terá este seu criado como chofer. E pegue, você deve querer mais disso aqui —, disse-me, entregando um tubo branco de pomada.

    Peguei, então olhei para ele curioso.

    — Para os lábios. Estão queimados, onde você não estava coberto. Seus equipamentos evitaram queimaduras em outras partes. Nós os guardamos depois de tirá-los. A maioria deles não pode mais ser usada, mas dará uma boa lembrança.

    Saí da cama devagar e me sentei na cadeira. Estava mais dolorido do que depois de qualquer partida de futebol americano na escola. Sentia-me um pouco conspícuo tendo um homem me empurrando na cadeira de rodas, mas provavelmente era melhor do que tentar caminhar para o chuveiro. Odiaria fazer isso, cair de bunda e precisar de alguém para me ajudar a levantar.

    Capítulo 3

    Dia 21 de março de 2006

    Acampamento Fallujah, Iraque.

    — Olá Xenakis, volte para a bateria. Temos uma missão.

    Olhei para o sargento Jones por sobre o hambúrguer. Tinha acabado de me sentar para comer, e os hambúrgueres estavam realmente muito bons. Toda a comida era boa, para ser honesto, e eu estava comendo melhor que em casa. Tínhamos até mesmo costela todo domingo. Acredita nisso? O Iraque em 2006 estava muito diferente das minhas convocações anteriores, e a mudança da comida para melhor era bem-vinda.

    — Agora, Xenakis, e reúna todos —, disse Jones enquanto eu hesitava.

    — OK, OK, estou indo.

    Levantei-me, e quando ele se virou, dei duas mordidas tão grandes no hambúrguer que o catchup e a maionese escorreram pelo queixo. Limpei o queixo com a manga da gandola e saí apressado do rancho. Fiquei pensando o que seria tão importante. Não tínhamos comboio agendado para hoje. Outra equipe da Polícia do Exército tem cumprido a tarefa de EPT, e isso era uma atribuição de 24 horas por dia, sete dias por semana, mas com a lealdade questionável da polícia iraquiana, estava feliz que fazíamos comboios de escolta, que era preferível a estar na EPT. A tarefa passou para a companhia de serviço ativo da Polícia do Exército.

    Senti o calor assim que saí do ar condicionado a caminho da sala da bateria. Erámos uma companhia de Polícia do Exército agora, mas todos ainda se referiam a nós como bateria, então quem sou eu para discutir? Passei pela porta, os olhos demoraram um pouco para se ajustar à diferença de luminosidade.

    — Entre na sala de briefing, Xenakis —, disse o sargento artilheiro Pancoast.

    Balancei a cabeça, entrei na pequena sala e me sentei. A maioria dos outros graduados do pelotão já estava lá. A sala era bem rústica. Nenhuma das paredes de compensado ou as bancadas de trabalho estavam terminadas, e cabos serpenteavam por toda parte conectando computadores, lâmpadas e tudo o mais. Perguntei ao cabo Kim o que estava acontecendo, mas ele não tinha a menor ideia, então me sentei para esperar o tenente.

    Recostei e me espreguicei, e uma pontada no peito me lembrou do hematoma que agora já tinha desvanecido para uma leve mancha amarela. Por um tempo, os outros fuzileiros da unidade tinham me apelidado de Coração Roxo, apelido que a tropa não podia tirar. Tinha que admitir que a despeito de ele estar no lado direito e não no esquerdo, o hematoma meio que parecia um coração roxo escuro. Minha bunda também tinha ficado bem machucada, mas estava feliz que não surgiu nenhum apelido para ela. Fiquei pensando no que eles poderiam ter inventado.

    Pensei no hambúrguer que não comi. Típico dos Fuzileiros, correr e esperar. Teria dado tempo de comer o hambúrguer e até mesmo passar na sorveteria.

    Finalmente, o tenente Richmond e o sargento artilheiro Templeton entraram. Ficamos na posição de sentido, depois nos sentamos. O tenente era um dos poucos tenentes na bateria.

    Outros postos de comando do pelotão, que constavam da Tabela de Organização para tenentes, estavam preenchidos por capitães que já tinham cumprido serviço ativo. O primeiro-tenente Richmond já tinha três anos de serviço, todos na Baía de Kaneohe, como oficial de aprovisionamento. Agora, como reservista, ele finalmente conseguiu vir para o Iraque. Parece bem capacitado para tudo isso.

    — Sentem-se cavalheiros —, falou. Era muito fã do termo cavalheiros. No entanto, éramos fuzileiros, não cavalheiros. Talvez ele fosse, pelo menos por uma lei do Congresso Americano, mas nós com certeza não.

    — Temos uma pequena missão extra. Nada demais, mas é o que temos para hoje. Como sabem, a violência aumentou como resultado do bombardeio da Mesquita Dourada. A maioria é xiita/sunita. Ainda não fomos afetados, mas o Exército conduziu muitas operações como a Swarmer na semana passada.

    A Operação Swarmer foi uma grande operação aérea, devidamente coberta pela CNN e pela FOX, que a chamaram de a maior operação aérea desde o Vietnã. Dizem por aí que foi muito mais um grande espetáculo teatral.

    — Bem, eles também tiveram êxito na Operação Swamp Fox, capturando mais de cem insurgentes, e algumas Equipes de Tradutores Interrogadores (ETI) das Forças Multinacionais do Oriente (FMN-O) e Policiais do Exército também foram para dar apoio. Com a ida deles, ficamos com pouco efetivo, e os soldados na cidade capturaram alguns insurgentes. Nossa missão é realizar o fichamento dos prisioneiros de guerra inimigos (PGI) até que a ETI possa fazer o trabalho deles. Eu quero duas esquadras prontas para partir assim que trouxerem os PGI do complexo do governo. O sargento Cordero estará no comando, mas quero todas em alerta caso sejam solicitadas.

    Nossa tarefa primária era escoltar comboio, mas recebemos treinamento para lidar com PGI, majoritariamente nos pontos de agrupamento e nas áreas de espera. No entanto, tivemos que passar o dia num centro de processamento fajuto. Esperava que estivéssemos fazendo a primeira opção em vez da última. Todas aquelas coisas como tirar impressão digital, vestuário, corte de cabelo, fotos e tal aconteciam ao mesmo tempo na minha cabeça. Não tinha certeza de que algum de nós realmente sabia como fazer uma daquelas tarefas. Uma coisa era nos designar como uma companhia de Polícia do Exército, mas era outra para nós realmente sabermos como fazer tudo que um verdadeiro 5811 fazia.

    O tenente saiu para obter mais informações, e o sargento artilheiro disse ao sargento Cordero quem estava com ele. Fui um dos escolhidos. Como ex-soldado, suponho que eles pensaram que eu seria de alguma forma mais bem qualificado para tarefas que exigissem ficar circulando com o M16. Estava acostumado a isso, no entanto. Krispen Craig também foi escolhido. O cabo Craig estava no serviço ativo de 5811, um policial do Exército de verdade, antes de se tornar reservista e juntar-se à bateria. Verdade seja dita, no entanto, achava que a maioria de nós sabia mais sobre nossas novas tarefas que Krispy Kreme, pois não era o melhor cérebro do grupo.

    Como a maioria das unidades de reserva, tínhamos muitos sargentos e cabos, mas poucos soldados. Tínhamos alguns de fato, e o sargento Cordero nos enviou para pegar os designados para a missão. Peguei o soldado Fowler assim que saiu do rancho, o catchup manchando a gola da gandola do uniforme. Pelo menos ele conseguiu comer antes. Disse-lhe para se aprontar e nos encontrarmos na frente da sala da companhia.

    Quando estávamos todos reunidos lá, o sargento artilheiro Pancoast tinha mais informações, e ele foi conosco para a área de espera dos prisioneiros, graças a Deus. Iríamos apenas vigiá-los, não os fichar. Esperamos por mais ou menos trinta minutos quando um caminhão chegou, escoltado por dois Hummers armados. Um sargento da EPT desceu do Hummer líder e se aproximou. O sargento artilheiro Pancoast ainda estava conosco, e o sargento foi direto falar com ele. Para mim, ele parecia um pouco arrogante. Achava que os policiais do Exército no serviço ativo às vezes nos tratavam de uma maneira condescendente, e ainda que estivesse no serviço ativo há apenas alguns meses, já estava ficando um pouco chateado com o rótulo guerreiro de fim de semana. Na realidade, colocaria qualquer um dos meus companheiros fuzileiros da bateria contra qualquer outro fuzileiro, do serviço ativo ou não.

    O policial do Exército da EPT pediu ao sargento artilheiro para assinar alguns papéis, e então dois prisioneiros foram retirados do caminhão, vendados e com as mãos algemadas nas costas. Tudo certo. Dois insurgentes violentos, um parecendo não ter mais que 16 anos. Todo esse esforço por dois iraquianos.

    Sabíamos que ambos já haviam sido revistados, mas o manual dizia que tínhamos que fazê-lo de novo. O soldado Fowler me passou o seu M16, então revistou os dois enquanto os outros sete de nós ficamos de prontidão, observando todo e qualquer movimento. Estavam limpos, e os escoltamos para o campo de prisioneiros. Nós os colocamos sentados, e o sargento Cordero disse para remover as vendas. Piscaram muito devido à luz do sol e olharam ao redor temerosos. Um dos sujeitos tinha perto de 20 anos. Era um cara bem grande e tinha uma barba de alguns dias por fazer. Havia um hematoma se formando no lado do rosto. Pensei se ele ficou assim antes ou depois da captura. Parecia que estava tentando se fazer de forte, mas eu podia ver seu medo. Quase conseguia cheirar o medo.

    O outro insurgente era uma criança magra; não pesava mais que 58 quilos. Não estava sequer tentando parecer forte, estava se borrando de medo. Justin Hansen pisou forte no pé do garoto, e ele saltou quase um metro.

    — Basta, Hansen —, advertiu-lhe o sargento Cordero. — Verifique as algemas plásticas para ver se estão apertadas demais ou não.

    — Estava apenas brincando com eles —, resmungou o soldado enquanto baixava a arma e checava as algemas de PVC. Com o garoto, ele apenas o empurrou de lado antes de dar um puxão. Tentou o mesmo com o sujeito maior, mas o iraquiano estava firme e não deixou que ele o empurrasse.

    O tenente chegou para nos verificar, e mais tarde um intérprete veio para se juntar a nós. Mas essencialmente, ficamos ali de pé no sol quente, olhando para os dois iraquianos. O intérprete sequer falou com eles. Suponho que ele estivesse ali apenas para escutar no caso de eles começarem a soltar segredos supersecretos da al Qaeda.

    Como era o mais alto do grupo, o sargento Cordero mandou que eu ficasse mais perto deles. Acho que estavam assustados o suficiente para que dois centímetros e meio que tenho a mais que Hansen não fizessem qualquer diferença.

    Antes de ir para o Iraque, estava assistindo a um programa na Discovery sobre um lugar na Inglaterra onde resgatam gorilas, chimpanzés e macacos. Um pequeno chimpanzé havia sido abandonado, e a equipe estava tentando apresentá-lo ao grupo. O rapazinho estava muito assustado. Não queria nada com os outros chimpanzés. O prisioneiro mais jovem me lembrava aquele pequeno chimpanzé. Esse cara estava se borrando de medo. Tenho certeza de que pensou que seria morto. Estou certo de que estaria com medo também se a al Qaeda me capturasse, e ele era apenas um garoto.

    Por instinto, baixei minha arma e peguei uma garrafa d'água. Quando me aproximei do garoto, ele se moveu para trás, mas eu meramente segurei a garrafa perto da sua boca para que bebesse. Hesitou, mas finalmente abriu a boca e bebeu, muita água correu pelo seu rosto caindo na camiseta suja. Fiz o mesmo com o outro prisioneiro.

    — Por que você se incomoda com os cabeças de turbante? — perguntou Krispy Kreme.

    — Você conhece as regras. Temos que provê-los com comida adequada, água e abrigo. — Depois de Abu Ghraib, o trato apropriado dos prisioneiros estava sendo reforçado.

    — Xenakis está certo —, disse o sargento Cordero. — De agora em diante, a cada trinta minutos, serviremos água para eles.

    Ficamos de serviço por mais quatro horas. Muitos oficiais e pessoal do estado-maior vieram ver os prisioneiros, mas ninguém permaneceu após satisfazer sua curiosidade. Para alguns dos fobbits, isso era sem dúvida o primeiro inimigo que tinham visto, pois nunca saiam do acampamento. Isto é, se eram realmente inimigos. O sujeito mais jovem não parecia ser capaz de juntar coragem para lutar com ninguém.

    Oito novos fuzileiros vieram nos substituir. Estava grato por sair do sol, e meu estômago estava rugindo de fome. Enquanto saía, olhei para trás de relance e vi o garoto com o olhar fixo em mim. Fiquei imaginando o que estaria se passando em seus pensamentos.

    Na manhã seguinte, os dois PGI tinham sido levados, e os tirei da cabeça.

    Capítulo 4

    ––––––––

    Acampamento Fallujah

    Dia 5 de abril de 2006

    ––––––––

    Sem notícias de Sig. Esperei quase trinta minutos para conseguir um computador, e nada. Tinha um e-mail da minha mãe e outro da minha irmãzinha, mas nada da minha esposa. Já estava no Iraque há três meses, tinha sobrevivido a uma IED, mas havia recebido apenas três e-mails dela.

    Tinha ligado várias vezes. Recebemos cartões telefônicos doados, então não era muito difícil conseguir um e ligar. Ela não havia atendido a maioria das minhas ligações, e uma que atendeu, parecia distraída e disse que tinha que sair depois de cinco minutos.

    Conheci Sig no ensino médio, mas não éramos da mesma escola. Eu estudava na La Quinta High, e ela na Westminster. Na realidade, nos encontramos um dia na praça de alimentação do South Coast Plaza, e pensei que a ideia de namorar o inimigo seria fascinante para nós dois. Era uma loirinha graciosa de uma família luterana devota e rica. Minha família era de classe trabalhadora, e eu era este moreno alto, grego-americano de família ortodoxa igualmente devotada. Não fiquei surpreso que a sua família me achasse inferior a ela.

    A família dela esperava que ela fosse para a Universidade do Sul da Califórnia, mas suas notas não eram boas o suficiente, então se matriculou na Fullerton. Eu tinha algumas ofertas de bolsas de estudo para jogar futebol americano universitário, mas havia terminado o ensino médio, então resolvi me alistar, e quando me formei soldado na EInf, Sig já tinha saído da escola. Numa fantasia, fomos de carro até Vegas e nos casamos.

    Sig realmente tentou ser uma boa esposa de fuzileiro. No entanto, o dinheiro era pouco, e antes de realmente sabermos como era morar juntos, eu estava no Iraque. Ela começou a trabalhar no WhatABurger e fazia o seu melhor, enquanto eu vivia a aventura da minha vida. Quando retornei, ela começou a se acostumar com a vida de casada, mas então voltei para a guerra.

    Quando meu alistamento terminou, queria renovar, mas ela não aceitou. Era ela ou os Fuzileiros. Disse-lhe que fui chamado para servir o restante do meu tempo de serviço como reservista. Não lhe contei que poderia ter feito isso no RIP, a Reserva Individual Pronta, onde poderia basicamente apenas manter o Corpo de Fuzileiros Navais ciente de como poderiam entrar em contato comigo. Descobri que a bateria da RSCFNEUA, que é a bateria de reserva em treinamento em Seal Beach seria convocada, e me incorporei.

    Creio que fui menos que honesto com ela. Estava aborrecido com o tratamento dela agora mas também me sentia culpado por ter mentido. Apenas esperava que pudéssemos consertar as coisas quando voltasse.

    Brent Cooperage viu o meu olhar quando eu saía da barraca de computadores. Balancei a cabeça. Brent era um dos meus amigos mais próximo. Trabalhou na bateria do quartel general e havia ficado parado aqui no Acampamento Fallujah o tempo inteiro até agora. Descontava suas frustrações na academia, e como amigo de academia, não poderia pedir mais. Era uma das poucas pessoas que sabia sobre os meus problemas em casa.

    — Ela vai aparecer. Apenas dê tempo a ela —, disse ele. Então sinalizou com a cabeça na direção da academia e simulou uma ordem militar. — Pronto para malhar ferro? — perguntou.

    — Estou pronto o suficiente para jogar você no chão! — disse, batendo no ombro dele.

    Ainda estava depressivo, mas levantar barras de ferro com Brent contribuiria muito para transpirar um pouco da minha ansiedade.

    Capítulo 5

    ––––––––

    Acampamento Fallujah

    Dia 12 de abril de 2006

    ––––––––

    — Fiquem apostos —, murmurou o sargento Cordero.

    Já estávamos no campo de pouso há mais de uma hora, esperando pelos VIPs. De Fallujah, iríamos levá-los para a sede do governo em Ramadi para reunião com o governador. Nosso VIP era diretora da USAID, uma civil, mas acho que era o equivalente a um general de três estrelas ou algo assim. Ela iria viajar com o general Haskins, um dos fuzileiros uma estrela em Fallujah. Já o tínhamos escoltado uma vez, era gente boa para um general.

    Estava quente demais, e a despeito de já estar aqui há dois meses, ainda não estava totalmente acostumado com o calor. Bebia litros d’água: o bom era que tínhamos bastantes garrafas de água mineral guardadas em todos os recantos do acampamento.

    Estava pegando outra garrafa d'água quando dois Hummers se aproximaram de nós saindo dos prédios ao sul do campo de pouso.

    — Está bem, parece que é hora do jogo —, disse o sargento. — Vamos nos aprontar.

    O Hummer parou e o tenente desceu primeiro, seguido quase que imediatamente pelo capitão. Pouco tempo depois, o general saiu e se esticou. Era alto, forte, mas o capacete se empoleirava sobre a cabeça parecendo ser muitas vezes menor. A gente pensava que os Fuzileiros teriam um capacete grande o suficiente para um general, assim ele não pareceria uma criança especial.

    Alguns oficiais do estado-maior saíram do segundo Hummer, mas ficaram perto da viatura. Não se aproximariam a menos que os helicópteros estivessem chegando, mas parecia que ainda tínhamos algum tempo. O ajudante do general já estava conosco, e correu até ele. Era um trabalho que nunca iria querer. Tinha visto esse tenente antes, assim como os outros ajudantes, e pareciam ser apenas empregados particulares. Sabia que era um bom passo na carreira, mas estou feliz que cabos não concorriam ao trabalho.

    O general se aproximou do sargento Cordero e apertou a mão dele, então foi até o soldado Harris, o atirador na viatura armada, para apertar sua mão também. Parecia que falaria com todos nós. O general Haskins costumava fazer isso, mas enquanto alguns oficiais pareciam ser falsos, senti que ele era sincero.

    No entanto, foi interrompido quando um dos oficiais do estado-maior apontou para o sul. Olhei para cima, e com certeza, dois Black Hawks estavam chegando, surgindo do lado este do acampamento para então curvar à esquerda e pousar no aeródromo. Enquanto o general interrompia o contato conosco para se aprontar, o tenente Richmond pôs-se na posição de sentido como se prestasse continência, velhos hábitos sendo o que são (não prestávamos continência aqui em Fallujah), mas então simplesmente balançou a cabeça para o general antes de assumir seu assento na primeira viatura armada. Este era o seu lugar preferido em qualquer comboio.

    Os Black Hawks pousaram, um após o outro. Sou fuzileiro e tal, mas achei os Black Hawks do Exército com aparência de pássaros bem malvados. Nunca havia estado em um, mas pareciam como os valentões da escola quando comparados aos nossos Hueys. Antes de sair do Iraque, esperava conseguir dar uma volta num deles.

    O chefe da tripulação do helicóptero líder saiu primeiro, preso ao pássaro pelo fone de ouvido. Ajudou alguém uniformizado, depois alguém baixo em trajes civis, provavelmente uma mulher, mas era difícil de dizer a esta distância com o colete balístico preto e o capacete que estava usando. No segundo pássaro, entretanto, não havia nenhum engano, pois era visível o cabelo loiro e longo esvoaçando de sob o capacete da mulher.

    — Droga! — Resmungou Krispy Kreme, e desta vez, concordei com ele.

    Todos os passageiros correram para sair de sob os rotores, então se aglomeraram, enquanto o general caminhava a passos largos para cumprimentá-los. Podia vê-lo apontando para nós, e pensei que poderíamos embarcar de acordo com o briefing do nosso comboio, mas a senhora baixa foi para a barraca de compensado que servia como um terminal. Demorei um pouco para entender por quê. Os banheiros lá atrás eram um pouco rústicos, mas bexigas cheias têm poder próprio que não toleram nenhum argumento.

    O capitão e o sargento artilheiro Pancoast estavam orientando o resto dos passageiros para os Hummers que aguardavam. Estava numa viatura de escolta, então o plano era que não teria passageiros comigo, mas as pessoas no comando fazem o que querem, e o sargento artilheiro trouxe um major do Exército até mim, dizendo que iria conosco.

    — Major Standuski, cabo —, disse ele, apertando a minha mão.

    — Cabo Xenakis —, respondi. — Nosso motorista é o cabo Meyers.

    — Senhor —, piou Tony, não saia da viatura.

    — Onde você quer que eu fique?

    — Bem aqui, senhor —, disse-lhe, mantendo a porta direita aberta.

    Entramos e esperamos o resto do comboio carregar. A mulher loira passou por nós para entrar no Hummer à nossa frente. Parecia bem melhor de perto, a despeito do colete balístico preto. Ambos, Tony e eu devíamos ter sido óbvios porque o major deu uma risada atrás de nós.

    — Ah sim, Brenda. Ela trata dos contratos relacionados a Al Anbar para a USAID, e é um dos benefícios de trabalhar aqui. Não que tenha percebido, sendo casado como sou.

    Olhei para o major, sem saber como lidar com isso. Ele era um major, afinal de contas, e do Exército. Deve ter visto a minha expressão facial porque riu de novo, e isso fez Tony e eu rirmos muito. Quem imaginaria uma coisa dessas? Um major comediante?

    — Se não fosse bem casado, mencionaria como ela se parece no simulador de escada na academia, especialmente se você estiver em uma das bicicletas atrás dela, mas como sou bem casado, não farei isso.

    Tony estendeu o punho no ar para bater, e eu bati. Este major era legal.

    A mulher baixa finalmente saiu do terminal, e enquanto o general a esperava, ficou óbvio para mim que era ela a VIP. Foi escoltada até o quarto Hummer e, finalmente, recebemos o comando para partir. O capitão e o sargento artilheiro observaram a nossa partida. Ambos pareciam querer embarcar também, mas nenhum dos dois saíam do acampamento com frequência, e isso era mais para reuniões na sede do governo em Fallujah. Assim como Brent, devem estar indo à loucura.

    Saímos do acampamento e começamos nossa jornada de quarenta minutos até Ramadi. A estrada de terra e a rodovia pavimentada para Ramadi estavam livres, mas quanto mais nos aproximávamos da cidade, mais alto o nível de perigo. Ramadi era uma cidade maior que Fallujah, e a guerra era mais constante lá. Bombas caseiras eram um problema contínuo. A bateria ainda não havia sido atingida lá, felizmente, mas muitos outros fuzileiros já. O Exército também. Havia uma brigada do Exército cuidando da metade da cidade, mesmo ela estando sob comando dos Fuzileiros.

    Dois dias antes, um soldado artilheiro num Hummer recebeu um morteiro direto no peito enquanto dirigia para o complexo do governo de Al Anbar. Não o conhecia, mas passei pelo seu funeral na Chapel of Hope para prestar homenagem. Poderia facilmente ter acontecido com alguém da bateria.

    Na minha segunda ida a Ramadi, em março passado, levamos tiros de AK vindo de um palhaço perto de um pequeno mercado. Ele estava a cerca de 18 metros quando abriu fogo, mas não conseguiu nos atingir. O soldado Dye era nosso atirador, e começou a revidar os tiros, mas o tenente estava conosco naquela viagem e ordenou que Dye suspendesse o fogo. O atirador tinha disparado apenas uma rajada antes de se virar e correr para dentro do mercado onde outros iraquianos estavam buscando abrigo desesperadamente. O tenente tomou a decisão correta. Uma .50 abrindo fogo teria levado destruição, matado transeuntes e o atirador não era mais uma ameaça. O que me impressionou no incidente, no entanto, foi que qualquer um em qualquer lugar desta cidade fétida poderia estar mirando na gente. Qualquer um poderia nos fazer de alvo de oportunidade.

    Quando entramos na periferia da cidade, as conversas pelo rádio pegaram um furo. Normalmente, primeiro iríamos para o Acampamento Blue Diamond, mas desta vez, era direto para a sede do governo. As estradas se estreitaram, e todos nós mantivemos os olhos abertos para qualquer coisa fora do comum: um bode morto, um saco de lixo, uma caixa, qualquer coisa ao lado da estrada que pudesse abrigar uma IED. Rodeamos várias crateras que ainda não haviam sido fechadas, lembretes do que poderia acontecer.

    Fiquei esperando alguma coisa acontecer, qualquer coisa. Foi só quando vi as paredes do complexo do governo à nossa frente que pensei estarmos salvos. Esse pensamento deve ter aborrecido os deuses dos comboios porque, logo em seguida, os rádios irromperam. Não tinha ouvido nenhuma explosão ou tiroteio, mas podia ouvir claramente o sargento Blount gritando para voltar. Ele era o comandante de viatura do Hummer que estava levando a VIP. Tentei ver ao redor dos Hummers na minha frente, mas enquanto via dois Hummers curvarem à direita para o complexo, não conseguia ver o do Blount.

    O Hummer à nossa frente balançou para a esquerda, o atirador focado, olhando para frente. Então ficou claro. De alguma forma, o cagalhão do Craig passou direto, enquanto as outras viaturas estavam virando à direita para o complexo, ele estava indo para território inimigo com a VIP a bordo.

    Blount o fez parar, mas não havia espaço suficiente para manobrar e voltar.

    — Tony, avance pela direita —, disse ao motorista.

    Não tínhamos atirador, mas se ficássemos mais à frente, lado a lado do próximo Hummer, talvez pudéssemos estar em posição se a merda atingisse o ventilador. Na nossa frente, distante uns 30 ou 40 metros, o Hummer do Blount começou a dar ré, ziguezagueando um pouco. Chamadas de rádio pedindo informações, mas estávamos focados em qualquer possível ameaça. Após uma eternidade, Craig finalmente tinha voltado o suficiente para engatar a primeira e curvar na direção do complexo. Deu uma guinada para frente, então acelerou, e nós o seguimos imediatamente. Entramos no complexo a tempo de ver Craig arrancar a porta de um dos Hummers já estacionados lá dentro. Nós nos afastamos para a esquerda e à frente. No agora Hummer sem porta, o general Haskins olhava para fora. Não sei como descrever o olhar na sua cara, mas com certeza não era bom.

    Encostamos e estacionamos. Não sabia o que esperar, mas certamente não era nossa VIP, do alto do um metro e meio dela, rindo quando o general correu.

    — Bem, aquilo foi interessante. Não estou certo de que aquela teria sido a reunião que supostamente participaria, mas quem sabe o que poderia ter conseguido lá fora?

    O general Haskins começou a pedir desculpas, mas a mulher não ligou.

    — Merdas acontecem, general. Estou certa de que o senhor sabe disso. Vamos entrar para ver o governador. Vou ficar feliz ao me livrar de toda essa parafernália.

    A essa altura, o tenente Richmond estava correndo, mas desta vez foi o general que o dispensou, mas com um olhar de converso com você depois na cara. O tenente parou, então olhou ao redor procurando Krispy Kreme. O sargento artilheiro e o sargento Cordero chegaram antes, todavia, com Cordero puxando o idiota do assento do motorista. Eu realmente não gostava muito do cara, mas estremeci quando pensei no destino dele. Decidi ficar o mais longe possível de tudo aquilo.

    Saí do Hummer e me espreguicei. A área ao redor do complexo da sede do governo era mais parecida com o que imaginei que Fallujah teria sido um dia. A estrada de Blue Diamond não era tão ruim, mesmo sendo chamada de Rua das Bombas Caseiras. Mas a maioria das edificações ao redor do complexo estava caída, ou derrubada ou bombardeada, não tenho certeza. Dentro do complexo, os sinais de violência eram evidentes. Destroços estavam por toda parte, e remendos temporários podiam ser vistos em todas as paredes dos três prédios que formavam o complexo. Ao lado da

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1