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Um mundo só
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E-book197 páginas2 horas

Um mundo só

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Sobre este e-book

Este não é somente um diário de viagem do ilustre internacionalista Wendell Wilkie: através deste manifesto ele expõe suas ideias acerca do colonialismo, do federalismo e dos direitos civis, antecipando a onda de cooperação internacional do pós-guerra. Esse livro continua sendo uma fonte de inspiração para os defensores das instituições supranacionais e da união entre seres humanos além das fronteiras nacionais, políticas e culturais.-
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de jun. de 2021
ISBN9788726873153
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    Um mundo só - Wendell Wilkie

    Um mundo só

    Translated by Monteiro Lobato

    Original title: One world

    Original language: English

    Os personagens e a linguagem usados nesta obra não refletem a opinião da editora. A obra é publicada enquanto documento histórico que descreve as percepções humanas vigentes no momento de sua escrita.

    Cover image: Shutterstock

    Copyright © 1943, 2021 SAGA Egmont

    All rights reserved

    ISBN: 9788726873153

    1st ebook edition

    Format: EPUB 3.0

    No part of this publication may be reproduced, stored in a retrievial system, or transmitted, in any form or by any means without the prior written permission of the publisher, nor, be otherwise circulated in any form of binding or cover other than in which it is published and without a similar condition being imposed on the subsequent purchaser.

    This work is republished as a historical document. It contains contemporary use of language.

    www.sagaegmont.com

    Saga Egmont - a part of Egmont, www.egmont.com

    Wendell L. Willkie

    Essas convicções não são meras esperanças humanitarias; não são apenas idealisticas e vagas. Baseiam-se em coisas que vi e aprendi de primeira mão e sobre ideias e opiniões de homens e mulheres, importantes ou anônimos cujo heroismo e cujos sacrifícios dão sentido e vida aos seus pensamentos.

    AO

    MAJOR RICHARD T. KIGHT, D. F. C.

    que pilotou The Gulliver, o avião em que voamos ao redor do mundo e ao qual, a 24 de novembro de 1942, o Departamento da Guerra concedeu o Oak Leaf Cluster, em honra da extraordinaria realização dessa dificil e arriscada missão, em tempo excelente e sem deslise, a despeito das condições do tempo e da presença de aviões inimigos em parte da zona do itinerario,

    E AOS

    membros da incansavel e habilissima tripulação do The Gulliver,

    CAPITÃO ALEXIS KLOTZ, CO-PILOTO

    CAPITÃO JOHN C. WAGNER

    SARGENTO MÓR JAMES M. COOPER

    SARGENTO TECNICO RICHARD J. BARRETT

    SARGENTO VICTOR P. MINKOFF

    CAPORAL CHARLES H. REYNOLDS

    Introdução

    P or causa da censura militar e outras, os Estados Unidos estão hoje como uma cidade sitiada, a viver dentro de altas muralhas só transpostas de vez em quando por um correio que conta o que lá fora acontece. O autor deste livro esteve fora das muralhas – e viu que nada é exatamente como nos parece aqui dentro.

    Tive oportunidade de voar em redor do mundo em meio da guerra, de ver e falar com centenas de pessoas de mais duma duzia de nações, e de tratar intimamente com muitos lideres mundiais. Foi uma experiencia que pouquissimos cidadãos tiveram – e não a teve nenhum daqueles lideres. A corrida deu-me novas convicções e fortaleceu-me algumas antigas. Essas convicções não são meras esperanças humanitarias; não são apenas idealisticas e vagas. Baseiam-se em coisas que vi e aprendi de primeira mão, e sobre ideias e opiniões de homens e mulheres, importantes ou anonimos, cujo heroismo e cujos sacrificios dão sentido e vida aos seus pensamentos.

    Neste livro procurei vasar o mais desapaixonadamente possivel algumas das minhas observações e – talvez um pouco apaixonadamente – as conclusões que delas tirei.

    Fui acompanhado na viagem por Gardner (Mike) Cowles Jr., editor de nome, e por Joseph Barnes, experimentado correspondente estrangeiro e jornalista – ambos perfeitos companheiros de viagem, ambos meus amigos, ambos muito prestantes e generosos no preparo do material deste livro. E conquanto eu creia que concordarão com quasi todas as minhas conclusões, não lhes cabe nenhuma responsabilidade do afirmado.

    O Capitão Paul Pihl, da Marinha Americana, e o Major Grant Mason, do Exercito, acompanharam-me como representantes dessas instituições e muito me favoreceram com informes de suas especialidades. Todos no grupo e na tripulação mostraram-se igualmente amistosos e interessados, mas sei que estive interpretando os desejos de todos ao render especial homenagem ao Major Richard (Dick) Kight, nosso equanimo e encantador piloto, pela maravilhosa tecnica demonstrada no bombardeiro em que voamos.

    New York,

    2, março, 1943.

    W. L. W.

    Um Mundo Só

    1

    El Alamein

    N um bombardeiro Consolidated de quatro motores, convertido em transporte comum e operado por oficiais do exercito americano, deixei o Mitchel Field de New York a 26 de agosto, para ver o que pudesse do mundo e da guerra, de suas frentes de batalha, seus lideres, seus povos. E exatamente 49 dias mais tarde, a 14 de outubro, eu saltava em Minneapolis, no Minnesota. Havia dado volta ao mundo, não em latitudes norte, onde a circunferencia é menor, mas por uma rota que cruzou duas vezes a linha equatorial.

    Viajei um total de 31,000 milhas, o que, como numero, ainda me impressiona e quasi me tonteia. Porque a impressão liquida dessa viagem não foi uma impressão de distancia a separar os povos, sim da proximidade em que se acham. Se em mim ainda subsistisse alguma duvida de que o mundo se tornou pequeno e por completo interdependente, essa viagem a varreria.

    O fato extraordinario foi que para cobrirmos essa enorme distancia estivemos no ar apenas 160 horas. Usualmente voavamos de oito a dez horas por dia, quando em marcha, o que vale dizer que dos 49 dias da nossa viagem passamos cerca de 30 em terra, fazendo o que tínhamos de fazer. O trabalho fisico de locomover-nos dum continente a outro, ou dum país a outro, não era mais arduo que as voltas que um homem de negocios da America dá normalmente para atender ao giro. Na realidade, o dar volta ao mundo se tornou coisa tão facil, que prometi ao presidente duma grande republica siberiana voltar num fim de semana de 1945 para um dia de caçada.

    Já não ha distancias no mundo. A viagem me ensinou que os milhões de seres humanos do Extremo Oriente acham-se tão proximos de nós como Los Angeles o está de New York pelos trens mais rapidos. E não posso fugir á conclusão de que no futuro o que interessar a esses povos nos interessará tambem, como os problemas da California interessam hoje á gente de New York.

    Daqui por diante temos de pensar em escala mundial.

    De caminho para o Cairo, em fins de agosto, recebemos más noticias. Em Kano, na Nigeria, especulava-se abertamente sobre o numero de dias que o general Rommel precisava para vencer os poucos quilometros intercalados entre a sua vanguarda e a cidade de Alexandria. Ao tempo em que alcançamos Khartum essas especulações se tornaram o que no Egito tem o nome de flap – uma moderada forma de panico. No Cairo muitos europeus metiam a bagagem nos autos para a fuga rumo léste ou sul. Lembrei-me da advertencia do Presidente quando dele me despedi em Washington – que antes que chegasse ao Cairo essa cidade poderia já estar na posse dos alemães. Ouvimos historias de paraquedistas germanicos lançados no Vale do Nilo para desorganizar-lhe as ultimas defesas. A crença geral era de que o Oitavo Exercito Britanico se preparava para evacuar o Egito, retirando-se para a Palestina e ao sul para Kenya e o Sudan.

    Muito naturalmente tratei de conferir esses rumores – mas o Cairo era o peor lugar no mundo para conferir qualquer coisa. Havia lá homens de peso. Alexander Kirk, ministro americano no Egito, estava aparentemente com poucas esperanças, mas nossas longas conversas me convenceram de que o seu cruel e cinico pessimismo não passava de mascara para esconder o seu conhecimento do que de fato se passava, e fortalecer a sua grande habilidade no sustento de uma situação dificil. Outros homens bem informados havia no Cairo, como o redondo e risonho Primeiro Ministro Nahas Pachá, homem de tão bom humor que – disse-lhe eu – se viesse á America e se apresentasse candidato á Presidencia, tornar-se-ia um formidavel perigo.

    Mas a cidade refervia de boatos e alarmas. As ruas regorgitavam de soldados e oficiais em continuo vai-e-vem. Uma rigorosa censura fazia os reporters americanos do Cairo sentirem-se cepticos quanto a todos os comunicados ingleses do front. Em meia hora no Shepheard’s Hotel podiamos apanhar uma duzia de versões diferentes sobre o que se passava no deserto, a não mais de cem milhas dali.

    Foi, pois, com vivacidade que aceitei o convite do general Sir Bernard L. Montgomery para em El Alamein ver com meus olhos o front. E com Mike Cowles e o general Russell L. Maxwell, comandante das forças americanas no Egito, lá fomos nós, deserto a dentro, rumo ao front. Adquiri numa loja francesa do Cairo um terno, blusa e calças cáqui alguns pontos acima do meu numero mas o melhor que lá havia, e tomei de emprestimo a singela tralha de dormir que todos os combatentes no deserto trazem consigo.

    O general Montgomery recebeu-me em seu quartel-general, oculto entre as dunas de areia da costa mediterranea, tão proximo da praia que na manhã seguinte ele, o general Alexander e eu tomamos banho de mar naquelas maravilhosas aguas azues-verdes. O quartel-general consistia de quatro auto-trailers americanos intervalados de uns dez metros e encostados ás dunas para melhor ocultação. Num deles tinha o general os seus mapas e planos de batalha; outro me foi dado para dormitorio. O terceiro era ocupado pelo seu ajudante e no quarto vivia o general quando vinha do front.

    E isso era raro. A personalidade quasi fanatica daquele homem magro, culto, intenso, causou-me profunda impressão, mas nada me impressionou tanto como um vicio seu – o apaixonamento pelo trabalho. Quasi nunca aparecia no Cairo. Estava sempre no front com os seus homens. Espantou-me saber que nem sequer conhecia o general Maxwell, já de semanas á frente das forças americanas no Egito. Quando invadimos o seu quartel-general, chamou-me de lado e perguntou: Quem é esse oficial que o acompanha?

    O general Maxwell, respondi. E ele, Quem é esse general Maxwell? Eu estava acabando de explicar-lhe quem era Maxwell, quando este se aproximou – e então apresentei-os.

    Quasi antes de sairmos dos nossos carros já o general Montgomery se metera na minuciosa descrição duma batalha quasi no fim e que pela primeira vez, em meses, havia barrado Rommel. Nenhuma noticia disso circulava no Cairo, nem fôra dada pela imprensa. O general nos repetia os detalhes todos, passo a passo, explicando por que considerava aquilo uma grande vitoria, conquanto suas forças não houvessem avançado muito. Ele estivera pondo á prova os seus homens em pesada escala. Se os ingleses perdessem, Rommel entraria no Cairo em poucos dias.

    Foi a minha primeira lição de estrategia e tatiea da guerra do deserto, na qual a distancia nada quer dizer e a mobilidade e o poder de fogo são tudo. A principio custou-me a compreender o que o general repetia no seu tom sempre tão calmo, O Egito está salvo. O inimigo ainda estava dentro do Egito – era o que eu via. Recordei-me do cepticismo que observara no Cairo, baseado em alegações como aquela anteriormente feita pelos ingleses. Mas antes de deixar o trailer que o general Montgomery transformara na sala dos mapas, aprendi muito sobre a guerra no deserto e me convenci de que algo mais do que a auto-confiança daquele oficial e gentleman britanico dava alicerces á sua certeza de que a ameaça alemã ao Egito já cessara.

    O general Montgomery falou com muito entusiasmo dos tanques americanos batisados de General Sherman, os quais justamente estavam chegando em quantidade ás docas de Alexandria e Port-Said. Tambem muito elogiou o canhão antitanque automovel de 105 milimetros, de fabrico americano; esse canhão começava a provar que um tanque pode ser detido.

    Sua tese central era que os reveses britanicos na Africa decorriam da inadequada coordenação dos tanques com a artilharia e a força aerea. Montgomery fizera que o chefe da força aerea morasse ali com ele, e a perfeita coordenação de aviões, tanques e artilharia fôra a principal causa do tranco dado em Rommel. Seu calculo era que os alemães haviam perdido 140 tanques – quasi metade dos de alta classe – contra uma perda inglesa de apenas 37; e predisse que iria estabelecer em terra a mesma superioridade que estabelecera no ar.

    Naquela tarde jantamos na tenda do general Montgomery com o seu oficial superior, o general Sir Harold R. L. G. Alexander, comandante de todas as forças inglesas do Oriente Medio, o general Maxwell, o major-general Lewis H. Brereton, então no comando das forças aereas americanas no Oriente Medio e o seu companheiro inglês, o marechal do ar Sir Arthur Tedder. Este homem, que eu conhecera no Cairo, era um soldado curiosamente impressionante, de voz suave, rosto sereno e que não largava da caixa de aquarela para onde quer que fosse. Um heroi do ar e um homem contemplativo.

    Brereton e Tedder falaram naquela noite sobre o futuro da campanha – e nada do que depois ocorreu os desautorizou como jactanciosos. Estavam convencidos da possibilidade da reabertura do Mediterraneo ás Nações Unidas, mas só quando Rommel fosse lançado para lá de Bengasi. E então, diziam eles, podemos de novo abastecer e restaurar nossas forças no Egito e do Oriente Proximo, ao longo das rotas de navegação, cingindo a costa africana com a aviação de bases em Gibraltar, Malta, Bengasi e os grandes aerodromos americanos da Palestina. Tambem falaram de intenso bombardeio da Italia, se conseguissemos tomar a região de Bengasi.

    A conversa foi sobre variados assuntos, e um dos oficiais chegou a explicar-me que no exercito inglês uma latrina era irreverentemente chamada A Casa dos Lords. Mas o general Montgomery não saia do seu tema, o front. Atendia com polidez a qualquer assunto, mas logo desviava a conversa para a luta no front. Depois me acompanhou até ao meu trailer, a ver se tudo estava em ordem, e nos sentamos num rebordo, com os olhos na alva arrebentação das ondas a distancia. Lua no ceu. Chegava até nós o trom da artilharia inglesa a malhar nas forças de Rommel em recuo. O general sentia-se saudoso, e falou da sua mocidade em Donegal, de seus longos anos no exercito inglês, com serviços em muitas partes do mundo, na sua constante luta desde o começo da guerra para infundir nas autoridades e nos oficiais o espirito de afirmativa, em vez da atitude defensiva.

    – Eu repito, Willkie: é o unico meio de derrotar os boches – ele só trata os alemães de boches. Temos de não dar-lhes descanso, não dar-lhes descanso. Os boches são bons soldados. São profissionais.

    Quando lhe pedi a opinião sobre Rommel, respondeu: General muito experiente, muito habil. Mas com uma fraqueza: repete amiude as suas taticas – e é por aí que o vamos pegar.

    Levantou-se para recolher, fazendo-me votos de bom sono. Eu sempre leio um pouco antes de apagar a luz, e com uma ponta de tristeza falou dos poucos livros que tinha consigo. E quasi tudo quanto possuia no mundo estava ali. Pouco antes de deixar a Inglaterra havia guardado num deposito em Dover todos os seus objetos e livros – uma coleção da vida inteira. Num dos seus raids aereos os boches destruiram o deposito.

    No dia seguinte demos

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