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Vivenda: o jardim das ilusões
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Vivenda: o jardim das ilusões
E-book231 páginas2 horas

Vivenda: o jardim das ilusões

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Sobre este e-book

No decorrer dos tempos, núcleos de seres humanos buscam adequar suas necessidades de sobrevivência através da assimilação constante de suas falibilidades, com o objetivo de novos e seguros caminhos. Criam normas de comportamento, culturas de seus medos e crenças em bênçãos da além-matéria, até que descobrem a força e o poder e se organizam para perpetuar-se ao bem comum, momentâneo. A isto se dará o nome de civilização contemporânea ou jardim de ilusões. Aqui nestas crônicas, poderá você, caríssimo leitor, rever através de suas histórias, ficcionistas, alguns conflitos dos sentimentos individuais, feministas ou gêneros humanos nos bastidores sociais, muito comuns ao senso geral, ora originadas das necessidades e dependências da má formação
dos núcleos humanos. A um novo tempo e novas descobertas das interações.E estas são as crônicas de Durães — o sapo! Um policial por vocação, engenheiro e sociólogo, herdeiro de grande
fortuna e que, abdicando da direção das fábricas de sua família, passa a dedicar-se à justiça social. Do príncipe ao sapo... Às vezes! Divirta-se e, se preciso, libere seu sapo no Jardim das Ilusões do cotidiano ficcional de leitor.

Sérgio Soares Dutra
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de abr. de 2020
ISBN9786586118094
Vivenda: o jardim das ilusões

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    Vivenda - Sérgio Soares Dutra

    APRESENTAÇÃO

    No decorrer dos tempos, núcleos de seres humanos buscam adequar suas necessidades de sobrevivência através da assimilação constante de suas falibilidades, com o objetivo de novos e seguros caminhos.

    Criam normas de comportamento, culturas de seus medos e crenças em bênçãos da além-matéria, até que descobrem a força e o poder e se organizam para perpetuar-se ao bem comum, momentâneo.

    A isto se dará o nome de civilização contemporânea ou jardim de ilusões.

    Aqui nestas crônicas, poderá você, caríssimo leitor, rever através de suas histórias, ficcionistas, alguns conflitos dos sentimentos individuais, feministas ou gêneros humanos nos bastidores sociais, muito comuns ao senso geral, ora originadas das necessidades e dependências da má formação dos núcleos humanos. A um novo tempo e novas descobertas das interações.

    E estas são as crônicas de Durães — o sapo! Um policial por vocação, engenheiro e sociólogo, herdeiro de grande fortuna e que, abdicando da direção das fábricas de sua família, passa a dedicar-se à justiça social.

    Do príncipe ao sapo… Às vezes!

    Divirta-se e, se preciso, libere seu sapo no Jardim das Ilusões do cotidiano ficcional de leitor.

    Sérgio Soares Dutra

    CAPÍTULO I

    O JARDIM

    — À Flégias! — gritei.

    — Abaixe essa arma! Eu sou apenas um fruto… Por quem acha que devo ser julgado? — afirmou o suspeito.

    — Senti que minha arma, até então fixada no alvo, já não preenchia os espaços de minha mão, o suor frio escorria em minha fronte, enquanto minha mente ganhava tempo perante aquele homem que havia caçado nos últimos dias.

    O homem somente oferecia seu olhar, o olhar de quem não acredita na sentença por seu ato insano. Sua alma perante a morte não era a mesma que outrora foi capaz de um crime dito por ‘passional’. Em sua defesa, alegou fazer uma execução em nome de algo que entendia por um ‘amar falecido’, quando era nada mais do que a perda do seu controle de senhor do poder… Uma realidade somente sua, um universo somente seu e dentro de seu egoísmo pessoal. Quando tudo girava em torno de sua verdade com limites estabelecidos por sua única razão.

    Pensava: e o meu julgamento?

    Do tempo que se seguiu, não pude determinar sua extensão, sentia como se de pedra fosse meu corpo, ali inerte diante da decisão de um julgamento. O que pensar de uma alma que diz amar e comete a loucura de se julgar algoz, quando envolvida pelo calor de sua emoção dominadora em desafio?

    Na maioria destes atos, as decisões levam o protagonista ao suicídio como consequência de sua fragilidade na afirmativa de autopunição, mas aquele homem se via além dos limites da loucura e indiferente ao seu pecado… Precisava ser punido.

    Contudo, diante de minha indecisão, evadiu-se entre as vielas que acessavam o manguezal. Guardei minha arma e sentei em uma mureta para reflexão sobre as relações sociais, amorosas e conjugais de nosso dia a dia.

    Era um produto do meio, com complexos resultados de uma ou outra cultura nos relacionamentos entre macho e fêmea, mal desenvolvidos para as responsabilidades de suas paixões originadas no ego individualista das criaturas. Os seres humanos interagem sempre movidos por interesses pessoais, seja pela necessidade de sobrevivência, seja pelo domínio ou passividade. Na maioria das vezes, sem o papel da reciprocidade.

    A noite estava fria e o sereno congelava meu corpo, assim resolvi voltar à viatura e de lá intuitivamente aguardar por uma nova oportunidade que certamente traria o indivíduo ao meu alcance, pois sabia alguns de seus hábitos e seria fácil reencontrá-lo.

    O homem era um atleta do futebol em destaque e a jovem assassinada foi sua namorada por algum tempo, envolvendo-o em seus fascínios de predadora dotada de uma beleza incomum que o levou a colocar sua carreira em segundo plano. Diz a sabedoria popular que ‘quando a pobreza bate à porta o amor salta pela janela’, e foi mais ou menos por este sentido que nosso atleta perdeu sua credibilidade de jogador, caindo no ranque esportivo e perdendo contratos.

    Desta feita, o jogo do amor desmoronou... Trocas, traições e abandono... Está me ouvindo, padre?

    — Desculpe-me, Durães… Continue!

    — Depois eu volto! — meio que aborrecido, Durães saiu.

    Durães sempre me procura para aliviar suas dores profissionais, e por isso apelidou-me de padre por ser sua espécie de confessor. Com sua retirada, me levantei e fui atender um novo cliente que chegava…

    Trabalho em um pequeno quiosque, ao que chamo de mini-cafeteria, e foi assim que passei a ocupar um recanto próximo à lanchonete de minha família, logo depois que os filhos assumiram o negócio da família. É claro, não poderia deixar de vigiar nosso comércio e daqui produzir o melhor café do shopping.

    Com o passar do tempo, descobri que não só servia um café tradicional, coado de uma produção própria onde, do plantio à moagem, eu mesmo faço e sirvo ao modo doméstico, como também atendia uma freguesia fiel e especial — clientes que aqui encontram, em minha pessoa, tempo para reencontro de seus equilíbrios emocionais. Acho que deveria ser um psicólogo, e não um balconista!

    E como afirma Durães… pareço-me com um padre a ouvir confissões de meus clientes. Talvez por não criticar, dar conselhos ou penitências.

    … O delegado voltava, e parecia mais tranquilo, mas com grande necessidade de algum desabafo…

    — Desculpe-me, amigo! Já que sempre me ouve…

    — Fale! Ouço e esqueço… — Durães precisava de um ombro amigo e alguém para ouvi-lo.

    — Lembrei-me da ordem especial de meu chefe, capitão Facche, que disse:

    — Delegado, este homem… — apontava para a foto do investigado — merece a oportunidade do arrependimento… Se é que me entende!

    — Farei o possível! — afirmei-lhe. E, ao deixar a sala, parei por um instante para analisar a ordem e aquele senhor, responsável pelo DIESP (Departamento de Investigações Especiais da PF), mas que no fundo escondia uma personalidade, talvez doentia, formalizada no âmbito de uma família patriarcal das ‘antigas’.

    Diria que meu chefe preza por uma sociedade nos moldes da família tradicional cristã, tendo três lindas jovens como filhas de seu único casamento. As jovens foram criadas para um futuro nos mesmos ideais da tradição ocidental, tendo estudado em um colégio dirigido por entidade religiosa e cursado as mais diversas artes de tradição feminina com direcionamento a um lar perfeito.

    Ocorre que o tempo urge para as meninas, já mulheres, cujos pretendentes são rigorosamente selecionados pelo comandante e por seu ajudante Tenente Sefroim, que secretamente nutre grande paixão pela mais velha. Pena que o jovem oficial é oriundo de uma família desestruturada e que jamais será admitido como genro pelo chefe. Pois a mãe de Tenente Sefroim, tida como ‘mãe solteira’, hoje vive com um amásio viúvo e sob a proteção do filho em um bairro da periferia.

    Capitão Facche manteve durante anos um grande segredo de sua origem, mas a certa tarde seu passado ressurgiu pela visita inesperada de um membro de sua antiga família: ‘Zé Rosa’, jagunço do terrível Coronel Da Silva, seu pai… O patriarca foi um dos grandes fazendeiros no norte do país e tinha diversas paixões: o poder político; os limites de sua fazenda ampliados pelo desmate ou desmando; o gado e as ‘copeiras’ — donzelas contratadas ou compradas para servirem à copa da Casa Grande.

    A sede da fazenda tinha duas dúzias de quartos, e a metade ficava no lado leste, onde eram ocupados pelas ‘copeiras’, de onde o Coronel vadiava durante as noites. Uma das mais jovens, conhecida por Morena, mais inteligente, encantou o velho Coronel, até que tomou o lugar da senhora e passou a administrar o coração do leão dominador, transformando-o em seu cordeiro. Ficado grávida deu-lhe um filho varão, logo adotado pelo Coronel e pai — Manoel Da Silva.

    Até que certo dia o Coronel efetuou a venda de uma propriedade, no Sul, recebendo o valor em moeda corrente e guardando no cofre da fazenda, cujo segredo era de conhecimento da jovem. Morena, não perdendo tempo, durante uma viagem de seu senhor a um sítio ao norte, apossando-se do conteúdo do cofre, pegou o filho e, com ajuda de Zé Rosa, partiu.

    O jagunço, encantado dos prazeres de Morena, deu-lhe proteção durante grande parte da viagem, mas, preocupado com a caça do Coronel, ficou de tocaia em uma cidade à espera do seu antigo patrão, esquecendo-se de que Morena desapareceria no mundo.

    Coronel Da Silva realmente saiu à procura da mulher e seu filho, mas jamais voltou, e sua fazenda ruiu do mesmo modo que cresceu…

    Este segredo ficou guardado até a visita de Zé Rosa, que coincidentemente veio a falecer, por atropelamento, em uma rodovia pública e o autor não foi identificado. — Contou-me, Durães, com grande mágoa dos grandes segredos sociais.

    — Uma história e tanto! — afirmei. O amigo tem um chefe com passado bastante negro!, pensei.

    O delegado sorveu seu café, e logo voltou ao desabafo de sua rotina, dizendo:

    — Ao entardecer, passei pelo escritório e logo fui abordado por ele, que, me chamando à sua sala, questionou da minha campana na noite anterior:

    — Tenente, achou nosso homem?

    — Sim, capitão, mas o suspeito evadiu-se pelas palafitas antes do corretivo e não consegui detê-lo. — Vamos achar o homem a qualquer momento! — afirmou.

    — … Mas hoje tenho uma missão especial para você, e suas ordens estão em um envelope sobre sua mesa. Não me decepcione, moço! — dizendo isso, me apontou a porta de saída.

    — Lamento, mas o sapo nada pode fazer no interior do presídio… — resmunguei.

    ***

    — Virgílio, minhas ordens eram para interrogar um preso do presídio estadual acusado de pedofilia digital, um assunto que me enojava, mas era minha obrigação.

    Analisando o conteúdo da investigação, eu tinha ali um criminoso detido, em flagrante, com farto material aprisionado em um dos quartos de seu apartamento, mantido fechado e isolado de sua família. Aquele homem era tido como excelente pai de família e, no entanto, aquele recinto representava uma personalidade doentia e perigosa para o jardim.

    O prisioneiro da cela 11 estava calado, não interagia com qualquer advogado ou delegado, como se perdido em uma parte do inferno, e somente afirmava ser inocente, não explicando o porquê de suas alegações.

    No material apreendido, havia uma imensa coleção de roupas e fotos infantis. Seu computador, um arquivo extenso de veneno visual com idades variando do recém- nascido aos 12 anos, meticulosamente organizados. Vi que estava com um grande problema: buscar da verdade criminal, sem nunca ter desejado estudar psiquiatria. Confesso ficar com receio de uma investigação quando capitão Facche demonstra interesse pessoal, principalmente quando me diz: ‘leve o sapo’!

    No dia seguinte, com Bill, fui ao presídio. Na sala de interrogatório, me sentei defronte àquele homem franzino e de olhar perdido em uma parede. Ao lado de fora, Bill, com uma assistente prisional e um defensor público, nos assistia.

    Olhamo-nos por algum tempo em silêncio, então lhe perguntei:

    — Quem é você e onde está a verdade?

    De repente, ele apontou para o espelho e disse:

    — Nós dois somente…

    Sinalizei para eles que saíssem e que acendessem a luz para que tivéssemos certeza de estarmos sós.

    — … Nunca toquei em criança alguma e nunca fui tocado…

    — Nem quando criança?

    — Fiz várias regressões atrás dessa verdade. — afirmou.

    — Posso gravar nossa entrevista, somente para análise posterior?

    — Se é sua palavra… pode!

    Aquele homem me descreveu seu inferno, se dizendo rico e de família tradicional, era químico de uma grande empresa farmacêutica da família, cresceu cercado de cuidados, principalmente de um casal de serviçais focados em seu pequeno corpo, que passava horas aos seus cuidados, sem qualquer desconfiança de suas reais intenções. O casal usava-o para assistir às suas relações sexuais, como estímulo, utilizando de sua curiosidade infantil, despertando-lhe a libido durante os banhos e seus cultos aos próprios corpos.

    Por volta dos 5 anos de idade, o casal se separou e o homem partiu, deixando-o à mercê da serviçal que dele fazia ampliar seu senso libidinoso ao observar outras crianças durante o banho e o sono.

    Aos 12 anos de idade, foram flagrados pelo pai, que demitiu a serviçal, e a partir daí foi obrigado a conviver com seu passado e o demônio que o aterrorizava na solidão e vigilância dos pais. Os estudos foram sua libertação mental até o casamento. Porém, durante sua relação de marido, reabriu o inferno, passando a pensar em futuros filhos.

    Com a insegurança de seus demônios mentais, resolveu por uma operação de vasectomia que o tornou infértil. Seu segredo foi descoberto tempos depois e ocasionou seu divórcio.

    Perguntei-lhe como viveu durante seu casamento, ao que respondeu:

    — Por conta de minha profissão, ficava fora de casa por longo período e assim passei a utilizar-me de um apartamento que possuía em segredo, e lá descobri o vício e a facilidade da internet. Afirmou que somente comprava o vício, jamais compartilhou ou produziu pornografia.

    O prisioneiro relatava sua história sob forte emoção.

    Eu havia estudado as evidências recolhidas em seu apartamento e verifiquei que, do vestuário apreendido, oitenta por cento compreendia de peças íntimas e mantas de dormir, então lhe questionei se detinha algum desejo oculto para cobrir e vestir crianças, e foi quando baixou a cabeça olhando para o chão com o olhar perdido, tornando-se mudo e alheio às evidências de seu crime.

    Depois de três horas ouvindo aquele ser humano, cheguei à conclusão de que se tratava de um fruto podre no jardim. Só pensava em sair daquele lugar e vomitar na primeira esquina distante.

    No dia seguinte, em meu relatório, reconheci como um simples consumidor e recomendei-lhe tratamento psiquiátrico por sentir que aquela fera era somente um produto de uma sociedade doente, a enfermidade do jardim.

    ***

    — Pode falar um pouco de sua profissão? — questionei Durães com certa dúvida.

    — Há quatro anos fui convidado a integrar a equipe do capitão Facche, chefe de um grupo especial de polícia ligada diretamente à secretaria de segurança. A unidade foi criada para promover investigações tidas como especiais, indo além das fronteiras da normalidade, mas o acúmulo de serviços nas delegacias especializadas agora sobrecarregava nosso departamento. — afirmou, e continuou a relatar um novo caso que lhe oprimia:

    Certa manhã, capitão Facche convocou uma reunião para algumas tarefas, ficando para mim e meu parceiro, sargento Bill, um ‘pepino’ dos grandes: Uma ex-vereadora estava sob medida protetiva, situação que deveria ser eficaz, mas nem sempre solução para alguns homens que se colocam acima da lei.

    Aquela senhora foi casada com um empresário, atualmente aposentado e no exercício de cargo legislativo. Pesava sobre ele a suspeita de ser o chefe de uma milícia que domina a região pobre da comunidade de Montes Verdes. A esposa, durante anos, por seu carisma e saber, serviu aos propósitos do marido político. Contudo, após descobrir algo sobre atividades ocultas do marido, pediu o divórcio, afastando-se

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