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Quatro e Vinte
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E-book120 páginas1 hora

Quatro e Vinte

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Sobre este e-book

"Por que escrevo?

Porque aconteceu alguma coisa, porque não acontece nada, porque pensei n’algo inteligente, porque me divirto sendo idiota, porque me encontrei com alguém, porque me encontro, me perco, porque acordei, porque não queria dormir, porque há quem goste (...) porque alivia, conforta, esclarece, organiza, porque vem, porque sim."

Depois do sucesso do seu primeiro livro, publicado há 4 anos, Eduardo de Souza Caxa brinda-nos em 2020 com um conjunto de novas histórias, contos, crónicas e poemas, que nos divertem, emocionam, ensinam e, quase sempre, nos obrigam a pensar.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de jun. de 2020
ISBN9789898575982
Quatro e Vinte

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    Quatro e Vinte - Eduardo de Souza Caxa

    Por que escrevo?

    Porque aconteceu alguma coisa, porque não acontece nada, porque pensei n’algo inteligente, porque me divirto sendo idiota, porque me encontrei com alguém, porque me encontro, me perco, porque acordei, porque não queria dormir, porque há quem goste (…conheci poucas pessoas – poucos escritores – tão criativos a usar a língua e o mais difícil: brincar com a língua sem a ferir),[1] porque me faço entender, porque não me entendem, porque ninguém lê, porque gosto do palco, porque gosto da coxia, porque me distrai, porque me foca, pra fingir que estou trabalhando, porque é lazer, porque faço amigos, porque não sei conversar, porque combina com a canção, é bom para o moral, porque baixa a musa, porque precisa hábito e o Srinivas mandou, porque quem manda aqui sou eu, pois é bonito, também pode ser feio, por não ter nada melhor pra fazer, porque há pouca coisa melhor de se fazer, porque hoje é sexta-feira, porque hoje é segunda, terça, quarta, quinta – e às vezes sábado ou domingo –, por fama e fortuna, porque não custa nada, porque alivia, conforta, esclarece, organiza, porque vem, porque sim.

    4 e 20

    A mãe do cônjuge

    Quando a gente ganha uma sogra, a gente se preocupa em cortar o cabelo.

    Quando a gente descola um namorado, a gente deixa o cabelo grande pro cafuné e as puxadas.

    Quando a gente ganha uma sogra, a gente se preocupa em lavar o carro.

    Quando a gente descola um namorado, a gente suja bancos e capô.

    Quando a gente ganha uma sogra, a gente se preocupa em estar cheiroso.

    Quando a gente descola um namorado, torce pra ele gostar de lamber sovaco.

    Quando a gente ganha uma sogra, a gente se preocupa em dirigir devagar.

    Quando a gente descola um namorado, também. Com automóvel (em movimento) não se brinca.

    Quando a gente ganha uma sogra, a gente se preocupa em não dizer nada que a choque.

    Quando a gente descola um namorado, a gente chama pra conversar no banheiro. Número 2.

    Quando a gente ganha uma sogra, a gente se preocupa em se alimentar bem.

    Quando a gente descola um namorado, a gente se preocupa em alimentá-lo bem. Pra aguentar o tranco, sabe como é… (mas pizza também serve!)

    Quando a gente ganha uma sogra, a gente se preocupa em sorrir.

    Quando a gente descola um namorado, a gente se esmera em gemer.

    Quando a gente ganha uma sogra, a gente se preocupa em não deixar comida entre os ferros do aparelho dentário.

    Quando a gente descola um namorado, são os pentelhos que atrapalham um pouquinho… Nada demais – a gente se diverte!

    Quando a gente ganha uma sogra, a gente se preocupa em ela gostar da gente.

    Quando a gente descola um namorado, é porque ele já gostou!

    Abrace o diferente

    Nasci num país onde, se estamos – e estamos – longe de uma igualdade social, convivemos com os mais diferentes tipos de pessoas (raças, etnias, origens). Nem tanto nos meio de comunicação, mas houve melhorias. E nas ruas nos misturamos todos. É bastante diferente morar na Escandinávia, no Japão, em Angola ou numa festa de ursos. Por diferente não entendam como melhor ou pior – apenas diferente, a ponto de nos chamar a atenção, a nós, acostumados com a pluraridade.

    (E God only knows que não há nada mais bonito que um bando de ursos… Talvez o bufê do meu restaurante predileto se aproxime dessa perfeição – e falo da beleza daquele monte de comida posta! – mas nem sempre consegue.)

    Mas isso é pra quem atenta ao fato – viver num país pardo não nos educa, de forma automática, menos racistas. De minha parte, procuro incentivar um ambiente menos homogêneo. Por isso gosto de, à noite, separar as roupas que usarei na manhã seguinte! Porque, vejam bem… todas as cuecas branquinhas passam o dia juntas em sua gaveta. Em outra gaveta, as pretinhas e de cor, e nunca se misturam com as meias. Daí que é durante a madrugada que as diferentes peças de roupa têm a oportunidade de trocar ideias!

    – Oi, gente! Beleza? Quer dizer que hoje ele botou a calça risca-de-giz pra ver o sol? pergunta a camisa amarela.

    – Pois é, todo mafioso! E máfia gay, porque ele se sente um verdadeiro ativista quando me tira do armário!, responde o pulôver rosa.

    – Falando nisso, será que vocês poderiam conversar com minhas irmãs? Desde que ele me lavou com a prima vermelha e eu fiquei rosácea, tenho sentido uma discriminação das demais cuecas brancas…, lamenta-se a, er… cueca, er… brosa?

    – Que triste, amiga! As caucasianas são mesmo as bolachas (!) mais duras de roer, ainda mais por estarem na gaveta de cima!, acrescenta a meia preta.

    – E a gente, que ele vive colocando do avesso?, reclama a Zorba, também preta, sempre à escuta, na segunda gaveta, lá longe…

    – Pelo menos a gente não fica marcada de cocozinho, néam? Quer dizer, fica mas ninguém vê! Só cheirando de perto, kkkk!, riem-se as irmãs.

    – Comigo,

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