Vem cá: vamos conversar sobre a saúde sexual de lésbicas e bissexuais
De Larissa Darc
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Sobre este e-book
Larissa Darc nos convida a uma conversa sobre os porquês da invisibilidade do tema. Ao escrever este livro, ela supera o desafio duplo de se colocar como parte do "problema", enquanto mulher bissexual, e de abordar um assunto que é um grande tabu: o sexo entre vaginas (sim, é sexo mesmo!). Vem cá: vamos conversar sobre a saúde sexual de lésbicas e bissexuais é o resultado de uma investigação apaixonada feita por uma mulher que ama mulheres. A visibilidade é o fio condutor.
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Vem cá - Larissa Darc
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If history could set you free from who you were supposed to be
If sex in our society didn’t tell a girl who she would be
Se a história pudesse libertar você de quem você deveria ser
Se o sexo em nossa sociedade não dissesse a uma garota quem ela deveria ser
Sex Yeah - Marina and the diamonds
HETERONORMATIVIDADE
Antes mesmo de nascer, nosso destino já está traçado. No momento que a ultrassonografia revela o formato do nosso órgão genital recebemos uma carga de expectativas comportamentais que nos acompanhará por toda a vida.
Nome, roupas, cobertores e brinquedos são escolhidos pela família de acordo com a classificação de gênero que recebemos. Meninas vestem rosa e ganham bonecas. Meninos, vestidos de macacão azul, são presenteados com bolas e carrinhos. Como se só existissem dois gêneros fixos, binários e determinados pela genitália.
Em O segundo sexo, seu mais famoso livro, a filósofa Simone de Beauvoir (1908-1986), um ícone do feminismo, explica essa distinção:
Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro. Enquanto existe para si, a criança não pode apreender-se como sexualmente diferenciada. Entre meninas e meninos, o corpo é, primeiramente, a irradiação de uma subjetividade, o instrumento que efetua a compreensão do mundo: é através dos olhos, das mãos e não das partes sexuais que apreendem o universo.
BEAUVOIR, Simone de.
O segundo sexo.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
O segundo sexo
Publicada pela primeira vez em 1949, a obra O segundo sexo está completando 70 anos. Com sua célebre frase ninguém nasce mulher, torna-se mulher
, Simone de Beauvoir inaugurou uma perspectiva na qual a opressão feminina passou a ser vista muito mais como uma questão de aprendizagem e de socialização do que como uma condição atávica ou uma fatalidade incontornável da natureza. Em um contexto pós-guerra e pró-natalista, ela ousou ir contra o determinismo biológico que reservava às mulheres um destino social de mães, passando a compreender a mulher como uma construção social, constituída histórica e culturalmente no pensamento ocidental como o Outro, isto é, como diferente do humano, representado pelo homem. Com isso, deu os primeiros contornos do que mais tarde, nos anos 1960, viria a ser conceituado como gênero pelas mãos das feministas da segunda onda. Provavelmente vem daí uma definição muito conhecida do feminismo, cunhada pela estudiosa americana Cheris Kramarae, popularizada em camisetas, muros e posts nas redes sociais: Feminismo é a ideia radical de que as mulheres são gente
.
Conforme crescem, as crianças moldam seus gostos e sua personalidade de acordo com a carga cultural oferecida pela escola, família e sociedade. Enquanto as garotas são ensinadas a serem afetuosas, cuidadosas e retraídas, os garotos recebem incentivos opostos. Os papéis de gênero são, então, adotados pelos pequenos, que passam a performar feminilidade ou masculinidade ainda nos primeiros anos de vida. Essa série de expectativas, demandas e restrições comportamentais relacionadas à adequação entre sexo e gênero estruturam todos os campos da vida de uma