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Ética, Economia e Trabalho na Modernidade Líquida
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E-book218 páginas2 horas

Ética, Economia e Trabalho na Modernidade Líquida

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Sobre este e-book

Para compreender a razão de ser e as consequências da nova economia, é indispensável a organização do pensamento baseado na complexidade. Assuntos complexos exigem um pensamento complexo. A globalização, o processo de reestruturação econômica e o trabalho não podem ser simplesmente compreendidos e, em razão disso, um pensamento ético reducionista sobre tais questões e suas respectivas implicações vai necessariamente produzir resultados negativos. As histórias sobre CEOs e financistas, como se fossem heróis ou vilões, por mais satisfatórias que sejam, devem se curvar à realidade. As transformações são estruturais, não pessoais. Por isso, este livro sustenta que não houve uma mudança na natureza humana, mas sim na estrutura do mercado de capitais, o que possibilitou o aumento da competição e das oportunidades de se alcançarem retornos financeiros cada vez mais altos e em curto prazo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de out. de 2020
ISBN9786555235395
Ética, Economia e Trabalho na Modernidade Líquida

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    Ética, Economia e Trabalho na Modernidade Líquida - Tiago Martinez

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO DIREITO E DEMOCRACIA

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (Capes) – Código de Financiamento 001.

    Ao meu pai, José Augusto Martinez.

    Procurei investigar e apresentar respostas para os seus anseios e dúvidas, bem como àqueles que enfrentam os mesmos dilemas e que também foram colocados à deriva pela nova economia.

    AGRADECIMENTOS

    A elaboração desta obra não teria sido possível sem a colaboração, o apoio e a dedicação de algumas pessoas. Acredito que somos dependentes uns dos outros. Tal fato faz parte da condição humana.

    Em razão disso, gostaria de expressar toda a minha gratidão aos meus pais. É inegável que, sem a presença de minha mãe, Sonia Cristina de Medeiros Martinez, e de meu pai, José Augusto Martinez, não teria conseguido dar os primeiros passos e avançar em meus estudos, assim como ambos foram indispensáveis na minha formação moral e na construção de uma visão de mundo pautada pela alteridade.

    Agradeço aos meus avós, José Martinez, Marly dos Santos Martinez, João Ribeiro de Medeiros e Albertina Barbosa de Medeiros, por todo o carinho e afeto. O carinho dos avós merece ser destacado.

    Agradeço ao meu irmão, Artur Martinez, pela amizade que se estenderá para além de nossas vidas. Uma pessoa com a qual eu sempre poderei contar e para a qual estarei sempre presente para ajudar.

    Não poderia deixar de falar da minha prima Angélica Martinez, a quem considero minha irmã, o que não poderia ser diferente. Uma amizade e um companheirismo que não são de hoje.

    Agradeço, ainda, à minha namorada, Marcella Toledo, por todo o seu amor, carinho, admiração e apoio, não só ao longo do período de elaboração desta pesquisa, mas desde o primeiro dia em que nos conhecemos. São esses sentimentos que fazem a vida valer a pena.

    De igual forma, agradeço ao meu querido professor Marcello Raposo Ciotola, por suas cativantes aulas, que estimulam a busca pelo conhecimento, bem como pelas suas orientações e pelos seus conselhos. Ouvir as suas palavras conforta a alma de quem acredita no valor da ética e da filosofia.

    Agradeço ao professor Nilton Cesar Flores, por todo o suporte, e aos grandes amigos que fiz no mestrado, em especial Robson Braga, um ser humano diferenciado e atento às necessidades do próximo. Além disso, esta obra não teria sido produzida sem o apoio de Dennis Acetti B. Ferreira, Marcelo Daltro Leite e de toda a equipe da Assessoria do Conselho Superior do Ministério Público do Rio de Janeiro. Jamais me esquecerei dessas pessoas.

    Por fim, gostaria de expressar toda a minha gratidão e todo o meu apreço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, sejam familiares ou amigos, contribuíram para que esta obra se tornasse realidade.

    No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade.

    Albert Einstein

    PREFÁCIO

    Em A Morte de um Caixeiro-Viajante, dirigindo-se a Howard Wagner, Willy Loman, após lembrar que trabalha na empresa desde a época em que o velho Wagner carregava o pequeno Howard no colo, argumenta:

    Estou falando de seu pai! Foram feitas promessas em cima desta mesa! Você não pode dizer para mim que tem de [sair e] encontrar uma pessoa... Eu dediquei trinta e quatro anos a esta empresa, Howard, e agora não consigo pagar meu seguro! Você não pode chupar a laranja e jogar a casca fora... Um homem não é uma fruta!¹

    No oportuno e valioso livro que o leitor tem nas mãos, Tiago Martinez aborda questões relativas à moralidade do capitalismo e, mais especificamente, à ética da empresa ou ética dos negócios. Apoiado em rica bibliografia (que inclui, entre muitos outros, Zygmunt Bauman, Ulrich Beck, Victoria Camps, Adela Cortina, Hans Küng, Robert Reich, Amartya Sen e Richard Sennett), Martinez conduz-nos a um importante debate inserido no campo da denominada ética aplicada.

    Hans Küng ensina-nos que a ética econômica envolve três níveis: o macroplano, relativo à moralidade do sistema econômico em si; o mesoplano, concernente às questões da política e da estratégia das organizações ou empresas; e, por fim, o microplano, relacionado à moralidade das pessoas e, sobretudo, das lideranças no plano interno das empresas. Para o teólogo suíço, em outras palavras, a economia exige um ethos mundial aplicável ao macrouniverso da economia nacional e internacional, ao mesouniverso das empresas, e ao microuniverso das pessoas.²

    Na década de 1990, escreve Hans Küng, os economistas defrontaram-se com uma inesperada reabilitação da moral na discussão pública, com ênfase na economia nacional e nas lideranças empresariais (responsabilidade social da liderança empresarial). Em decorrência dessa nova importância do ethos na economia, é possível afirmar que as empresas, ao invés de visarem unicamente ao lucro, atuando exclusivamente em prol dos acionistas, possuem também obrigações em relação aos seus empregados, clientes, fornecedores, financiadores, assim como em relação à própria comunidade em seu conjunto.³

    Adela Cortina define a ética da empresa como uma forma de saber que auxilia aos que trabalham na empresa a tomarem decisões prudentes e justas. Para a professora da Universidad de Valencia, a criação de uma tal ética requer: primeiramente, complementar a ética individual com uma ética das organizações; em segundo lugar, complementar a ética kantiana da convicção com a ética weberiana da responsabilidade, que se preocupa com as consequências da ação; por fim, atentar para a complementariedade entre ética do desinteresse e ética de um interesse legítimo.⁴ Para Cortina, embora possa ser utilizada como mera cosmética, a ética da empresa traduz uma autêntica necessidade de nosso tempo.⁵

    De acordo com Adela Cortina, existem dois extremos que negam a responsabilidade moral da empresa. Ambos, é claro, precisam ser evitados. Em primeiro lugar, o ponto de vista conservador. Para este, somente as pessoas, e não as empresas, podem ser morais ou imorais. Com base nessa lógica, nada impede que os mal-intencionados concluam que, por não ser sujeito moral, a empresa é terreno no qual impera o vale-tudo de um mundo amoral. Em segundo lugar, o ponto de vista progre (corruptela de progressista). Para este, a empresa é sempre imoral, não havendo possibilidade de salvação. Como as empresas extraem mais-valia dos trabalhadores, jamais poderão ser éticas. O capitalismo não tem remédio, ou seja, resta apenas a revolução.

    A partir do exposto, pode-se deduzir que a ética da empresa vai ao encontro da ideia de capitalismo (economia de mercado) com moralidade.

    Para finalizar, reproduzindo as palavras de Adela Cortina, acrescentemos que a empresa pode e deve ser uma comunidade, capaz de oferecer aos seus membros uma identidade, um sentido de pertencimento, alguns valores compartilhados, e objetivos comuns.

    Capitalismo com moralidade, transição do capitalismo democrático para o supercapitalismo, ética das empresas, enxugamento (downsizing), empresa e vínculos comunitários: o livro de Tiago Martinez examina esse rol de questões cruciais. Na feliz expressão de seu autor, Ética, Economia e Trabalho na Modernidade Líquida é uma obra que trata, em última instância, de vidas afetadas e de narrativas alteradas.

    Marcello Ciotola

    Professor de Ética no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Estácio de Sá. Professor de Filosofia do Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

    LISTA DE SIGLAS

    Sumário

    INTRODUÇÃO 21

    CAPÍTULO I

    AS PROMESSAS DO PROJETO MODERNO E A INSEGURANÇA DO MUNDO LÍQUIDO: REFLEXÕES SOBRE A MODERNIDADE 33

    1.1 A CONFIGURAÇÃO DO PROJETO MODERNO 34

    1.1.1 O pensamento moderno: o raciocínio cartesiano e a razão instrumental 37

    1.2 O FRACASSO DO PROJETO MODERNO 45

    1.2.1 Um panorama sobre a crise do projeto moderno 47

    1.3 O ESPAÇO-TEMPO DA INSEGURANÇA 50

    1.3.1 Uma modernidade líquida 53

    CAPÍTULO II

    O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE EM ANÁLISE 61

    2.1 A IDENTIDADE EM QUESTÃO 63

    2.1.1 Entre a burguesia e a cidadania 66

    2.2 UMA SOCIEDADE DE CONSUMO: QUANDO A COMPULSÃO

    SE TORNA VÍCIO 70

    2.3 UMA SOCIEDADE DE RISCO: A PRODUÇÃO DE RIQUEZAS E

    A MIOPIA ECONÔMICA 73

    2.4 UMA SOCIEDADE EM REDE: O NOVO PARADIGMA INFORMACIONAL

    DA ECONOMIA, DAS EMPRESAS E DO PROCESSO DE TRABALHO 78

    CAPÍTULO III

    A TRANSIÇÃO DO CAPITALISMO, OS DESAFIOS DA ÉTICA EMPRESARIAL E A FORÇA DE TRABALHO 89

    3.1 O CAPITALISMO DE LONGO PRAZO OU DEMOCRÁTICO 91

    3.2 O CAPITALISMO DE CURTO PRAZO OU SUPERCAPITALISMO 105

    3.3 OS DESAFIOS DA ÉTICA EMPRESARIAL 122

    3.4 TRABALHADORES À DERIVA: A NARRATIVA DE VIDA E O ENFRAQUECIMENTO DOS LAÇOS DE CONFIANÇA E LEALDADE 129

    CONSIDERAÇÕES FINAIS 143

    REFERÊNCIAS 147

    INTRODUÇÃO

    Narrativas de vida não podem ser simplesmente compreendidas, pois cada indivíduo tem uma vida repleta de nuances, cada ser possui uma multiplicidade de identidades e personalidades em si mesmo. A globalização, o processo de reestruturação econômica e o trabalho não são inteligíveis. Um pensamento ético reducionista sobre tais questões e suas respectivas implicações vai necessariamente produzir resultados negativos. A modernidade líquida é, sem dúvidas, um contexto marcado pela complexidade.

    Diante desse cenário, apontar heróis e vilões é um equívoco. Os líderes empresariais de hoje não são mais gananciosos que seus antecessores, bem como os políticos não são mais brilhantes ou corruptos atualmente. Não houve uma mudança na natureza humana, mas sim na estrutura do mercado de capitais, o que possibilitou um aumento da competição e das oportunidades de se alcançarem retornos financeiros cada vez mais altos e em curto prazo.

    Os relatos sobre CEOs e financistas, heroicos ou vilões, por mais satisfatórias que sejam, devem se curvar à realidade. Segundo Reich (2008), as transformações são estruturais, não pessoais. A ideia de que as empresas dotadas de grande poder econômico são desprovidas de qualquer moralidade e estão agindo constantemente contra o interesse público deve ser rejeitada, visto que possui caráter simplista.

    As grandes empresas e seus executivos não devem ser vistos apenas como insensíveis e gananciosos. Ambos estão atuando de acordo com o que se espera deles, ou seja, conforme as atuais regras do jogo (oferecer bons negócios aos clientes e maximizar o retorno para os investidores), e, como os jogadores de qualquer jogo, estão fazendo o necessário para se saírem vencedores. Porém, do mesmo modo como todos os esportes precisam de critérios que definam o jogo limpo, a economia também necessita de leis e regulamentos determinados pelo Estado.

    Nesse sentido, percebe-se que atribuir méritos e culpas de modo indevido pode prejudicar a construção de uma visão clara sobre a questão e, assim, postergar ou impossibilitar reformas no capitalismo e na democracia.

    A organização de um pensamento baseado na complexidade é o ponto de partida para se compreender a razão de ser e as consequências desse novo capitalismo: um capitalismo flexível, baseado no lucro em curto prazo, marcado pelo abandono da rigidez das organizações hierárquicas e pela eclosão da reengenharia das corporações, com risco e flexibilidade, no qual o que é essencial é se reinventar a todo instante. Essa mudança estrutural está atingindo a narrativa de vida de pessoas em todo o planeta, afetando as características mais íntimas e pessoais da existência cotidiana, e deixando as pessoas com a constante sensação de insegurança e de estar à deriva.

    Mas o que seria o pensamento complexo? Como a sua ausência prejudicou a ciência econômica e fortaleceu uma visão mutiladora e unidimensional da realidade? Qual deve ser a sua relação com a nova economia e com a ética? Antes de destacar o que será tratado nos capítulos que virão a seguir e os objetivos da pesquisa, é primordial fazer essas breves considerações sobre o alicerce de toda a obra. Esse sustentáculo, como deve ser em qualquer outra investigação, é o pensamento.

    Segundo Morin (2015, p. 5), é complexo o que não pode se resumir numa palavra-chave, o que não pode ser reduzido a uma lei nem a uma ideia simples. Portanto, quando se está diante de situações complexas, as carências e insuficiências do pensamento simplificador se tornam evidentes. Diferente do pensamento simples, que visa controlar e dominar o real, o pensamento complexo busca dialogar e negociar

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