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Surdos e ouvintes juntos no espaço escolar: o processo de construção do número
Surdos e ouvintes juntos no espaço escolar: o processo de construção do número
Surdos e ouvintes juntos no espaço escolar: o processo de construção do número
E-book229 páginas2 horas

Surdos e ouvintes juntos no espaço escolar: o processo de construção do número

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Sobre este e-book

Esta obra é resultante de uma pesquisa que objetivou investigar quais as praxeologias disponíveis e evocadas para o ensino dos números a crianças ouvintes e surdas, filhas de pais ouvintes, a fim de criar situações que possibilitassem a construção do número por estas crianças numa sala de aula de Matemática inclusiva. O estudo foi realizado através de observações de classe em duas escolas localizadas em Salvador: uma escola de surdos, vinculada ao Estado da Bahia, e uma escola inclusiva do Município. Sete crianças surdas estudavam na escola específica, com aulas ministradas em Língua Brasileira de Sinais, e uma criança surda frequentava a escola inclusiva, cujas aulas ocorriam em Língua Portuguesa, todas cursavam o primeiro ano do ensino fundamental, formando um grupo de oito alunos participantes. Para atingir este objetivo final, utilizou a lente da Teoria Antropológica do Didático (TAD), adotou a perspectiva socioantropológica da surdez, ressaltando a diferença linguística dos surdos e a ausência de intérpretes no primeiro ano do ensino fundamental, percorrendo os aspectos epistemológicos e históricos da construção do número e modelizando as atividades humanas observadas em termos de praxeologias. Recorrendo à dialética ostensivo/não ostensivo, analisou a evolução dos objetos ostensivos utilizados na escola de surdos, as praxeologias dos professores e dos estudantes, traçando como hipótese de pesquisa o fato de a bagagem praxeológica utilizada para a apresentação dos números não possuir ostensivos sensíveis que possibilitem a construção do número pelos estudantes surdos da escola inclusiva. Tomando as referências didáticas desta dialética, cunhou a expressão "ostensivos sensíveis", referindo-se àqueles que favorecem e contribuem para a atividade matemática em questão, sendo esta a nossa contribuição teórica. Os resultados apontaram que, numa sala de aula inclusiva, alguns objetos possuem um maior grau de sensibilidade e outros, um menor grau. Grau de sensibilidade que precisa ser considerado na prática dos professores.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de out. de 2020
ISBN9786587402024
Surdos e ouvintes juntos no espaço escolar: o processo de construção do número

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    Surdos e ouvintes juntos no espaço escolar - Bartira Fernandes Teixeira

    Bibliografia

    1. INTRODUÇÃO

    Tendo previsto a marcha para a frente de nossos genes egoístas, muitos de nós não estamos preparados para filhos que apresentam necessidades desconhecidas. A paternidade nos joga abruptamente em uma relação permanente com um estranho, e quanto mais alheio o estranho, mais forte a sensação de negatividade. Contamos com a garantia de ver no rosto de nossos filhos que não vamos morrer. Filhos cuja característica definidora aniquila a fantasia da imortalidade são um insulto em particular: devemos amá-los por si mesmos, e não pelo melhor de nós mesmos neles, e isso é muito mais difícil de fazer. Amar nossos próprios filhos é um exercício para a imaginação.

    Andrew Solomon¹

    O ditado popular segundo o qual quem sai aos seus não degenera (a maçã nunca cai longe da árvore) é utilizado com frequência para afirmar a continuidade das características familiares, ou seja, os filhos são imagem e semelhança dos pais. Algumas crianças, entretanto, são frutos que caíram longe da árvore e, na nossa sociedade, amar os diferentes não parece tão intuitivo.

    No livro intitulado Longe da Árvore, o escritor americano Andrew Solomon, doutor em Psicologia pela Universidade de Cambridge, após extensa pesquisa realizada sobre as diferenças, distinguiu as identidades verticais das chamadas identidades horizontais. As primeiras são atributos e valores transmitidos de pai para filho através de gerações, não apenas pelo DNA, mas também através de normas culturais compartilhadas. A etnia, a religião e a nacionalidade são exemplos de identidades verticais, assim como a língua, pois, como cita o autor, a maioria das pessoas que fala grego educa os filhos para falar grego também ².

    Outras vezes, porém, os filhos possuem características inatas estranhas a seus pais, e precisam adquirir identidade através do contato com seus semelhantes, com os pares ou com o grupo. As identidades horizontais podem refletir genes recessivos, mutações aleatórias, influências pré-natais ou valores e preferências que uma criança não compartilha com seus genitores. A deficiência física, a genialidade, a psicopatia e o autismo tendem a ser identidades horizontais.

    Crianças que nascem com surdez, por exemplo, se filhas de pais ouvintes, podem ser consideradas frutos que caíram longe da árvore, sujeitos cuja identidade horizontal é distinta da identidade de seus genitores. As identidades verticais em geral são respeitadas como identidades, as horizontais são, muitas vezes, tratadas como defeitos ³.

    Um dos focos desta investigação foram esses sujeitos que, distintos de seus pais, caíram longe da árvore. Surdos, não compartilhando da língua materna, são submetidos a longas e desgastantes sessões de fonoaudiologia, gastando tempo e energia tentando oralizar e realizar leitura labial, ao tempo em que poderiam estar estudando História, Ciências e

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