Beethoven: através de um prisma e outros ensaios

De Carlos Siffert

"A maior parte dos ensaios reunidos neste livro é dedicada às peças de Beethoven escritas nos últimos anos de sua vida, período em que surgiram suas obras mais desconcertantes e complexas, ou, segundo especialistas, as obras mais complexas já escritas por qualquer outro compositor na história da música ocidental. " Gioconda Bordon

• Idioma: Português
• Editora: Dash Editora
• Data de lançamento: 17 de jun. de 2019
• ISBN: 9788594840073

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barroca

primeira parte

Beethoven através de um prisma

1Introdução I — 1770 a 1811

Você vai realizar coisas que ninguém jamais realizou. Vai pensar coisas que ninguém pensou. Nunca vai sacrificar uma bela ideia a uma regra tirânica, e isto é certo. Mas vai sacrificar suas regras a seus humores, porque você me parece ser um homem de muitas cabeças e muitos corações. Sempre vai haver alguma coisa irregular em suas composições, coisas belas, mas algo estranhas e sombrias. Em minhas obras há quase sempre um tom jovial porque é assim que eu sou.

Nada me tira o bom humor, nem mesmo minha mulher.

Haydn ao jovem Beethoven¹

Beethoven, considerado por muitos o maior compositor de todos os tempos, foi um inovador, ampliando o escopo das formas musicais existentes. Suas composições mais conhecidas incluem nove sinfonias, cinco concertos para piano, um concerto para violino, 16 quartetos e 32 sonatas para piano. Entre suas obras corais, destacam-se a Missa Solene e a Nona Sinfonia.

Ludwig van Beethoven nasceu em Bonn, então capital do Principado de Colônia, parte do Sacro Império Romano, em 16 de dezembro de 1770, e morreu em Viena em 26 de março de 1827.

Seu pai, Johann van Beethoven, era músico (tenor) da corte e, muito cedo, começou a lhe ensinar música, mas com rigor e brutalidade. O menino tinha de ficar em pé em um banquinho para alcançar o teclado. Muitas vezes Johann, alcoólatra irresponsável, chegava em casa tarde, embriagado, e tirava o menino da cama para praticar. Johann o chicoteava a cada erro ou hesitação e o trancava no sótão como castigo.

Haydn e Beethoven.

Beethoven aos 13 anos, 1783.

Reconhecendo o talento do filho, quis fazer dele um menino prodígio, como Mozart, mas não tinha a capacitação, a determinação nem o status de Leopold Mozart, pai de Amadeus, e sua tentativa não teve sucesso.

Sobre sua mãe, Maria Magdalena, sabe-se pouco. Os relatos da época falam de sua piedade, bondade e seriedade. Ludwig tinha dois irmãos mais moços, Caspar Anton Carl e Nikolaus Johann.

Aos nove anos, Beethoven começou a estudar com Christian Gottlob Neefe, organista da corte. Pouco depois, aos 11 anos, começou a trabalhar com ele. Em 1784, aos 14, passou a receber um salário, como organista assistente.

A saúde de Johann se deteriorou. Seu alcoolismo lhe custou o emprego. Em 1787 morreu sua esposa, Maria Magdalena, e então Beethoven, aos 17 anos, se tornou responsável pelo sustento e educação de seus irmãos.

Ainda menino, em Bonn, Beethoven ficou amigo da família Von Breuning. Com a morte de sua mãe, Magdalena, a senhora Von Breuning se tornou uma espécie de segunda mãe para ele.

Beethoven foi muito amigo de um dos filhos de Helene von Breuning, Stephan e, no fim da vida, do filho deste, Gerhard, que conheceu quando criança.

Em 1792, aos 22 anos, Beethoven mudou para Viena, onde morou até o fim da vida. Viena era a capital do Império Austro-Húngaro, conhecida como a cidade da música. Lá residiam alguns dos principais compositores da época, com destaque para os dois maiores do classicismo, Haydn e Mozart.

A população de Viena era de 232 mil pessoas em 1800, das quais 6 mil eram estudantes de piano.

Viena, 1800.

Beethoven estudou com Haydn (ele não se entendia bem com o mestre – tive algumas aulas com ele, mas nada aprendi) e outros professores. Antonio Salieri lhe deu aulas de composição vocal.

Em pouco tempo se torna conhecido como virtuose do piano e, mais lentamente, como compositor.

Na época, a aristocracia Vienense era extremamente musical. Alguns nobres tinham suas próprias orquestras; outros, pelo menos um quarteto de cordas.

Beethoven, 24 anos.

Em vez de trabalhar para a igreja ou para a corte de um nobre, como a maior parte dos compositores tinha feito antes dele, Beethoven estabeleceu-se como freelancer, ganhando a vida com apresentações públicas, vendas de suas obras, aulas de piano e estipêndios de nobres que reconheciam seu