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#Jovem na Igreja: Conectando a história do jovem êutico ao trabalho com jovens
#Jovem na Igreja: Conectando a história do jovem êutico ao trabalho com jovens
#Jovem na Igreja: Conectando a história do jovem êutico ao trabalho com jovens
E-book420 páginas7 horas

#Jovem na Igreja: Conectando a história do jovem êutico ao trabalho com jovens

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Sobre este e-book

Êutico é o jovem no centro de um evento ao mesmo tempo trágico e milagroso, registrado em Atos 20, e também é a imagem do desenvolvimento do adolescente no século 21.
O trabalho com jovens é uma atividade tão genérica que realmente não faz diferença o que creio sobre as Escrituras, a justificação ou os sacramentos? É tudo a mesma coisa? E se há algumas qualidades distintas trazidas ao trabalho com jovens pela teologia luterana, quais são elas? Como posso observá-las? Como seriam na prática?
Este não é um estudo de teologia aplicada à psicologia adolescente, mas, antes, a contribuição da teologia luterana a todo o campo do trabalho com jovens, que não é encontrada em nenhum outro lugar.
Se você é um líder voluntário, pastor ou seminarista e não se sente confortável em liderar o trabalho com os jovens na igreja, mas gosta de teologia e está curioso em saber como alguém poderia escrever sobre a "teologia aplicada ao trabalho com jovens", então este livro foi escrito para você.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de jan. de 2021
ISBN9786555910179
#Jovem na Igreja: Conectando a história do jovem êutico ao trabalho com jovens

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    #Jovem na Igreja - John Oberdeck

    2006.

    Por que você deveria se dar ao trabalho de ler este livro? Se você estiver procurando por alguma ajuda para o trabalho com jovens, na área de jogos ou dinâmicas, viagens missionárias ou finanças, planejamento ou responsabilidade, então sinta-se à vontade para colocar este livro de volta na estante, porque ficará desapontado logo. Esses assuntos são importantes, mas não são abordados neste livro. Há uma infinidade de recursos muito úteis à disposição para o trabalho com jovens, que guiam de forma bastante adequada até as pessoas que recentemente chegaram à idade adulta e estão pensando em ser voluntários com os jovens da igreja. Francamente, o mundo não precisa de mais livros sobre grandes jogos ou aplicativos de filmes para devocionais com jovens. O mercado está bastante saturado neste momento.

    Por outro lado, se você começou a se perguntar se a teologia, e a teologia luterana em particular, tem alguma relevância para o trabalho com jovens, então meu conselho é que você leia um pouco mais, porque é isso que estou interessado em explorar. O trabalho com jovens é uma atividade tão genérica que realmente não faz diferença o que creio sobre as Escrituras, a justificação ou os sacramentos? É tudo praticamente a mesma coisa?

    E se a teologia luterana tem algumas qualidades distintas a contribuir para o trabalho com jovens, quais são elas? Como eu as perceberia? Como elas seriam na prática? Essas perguntas não são feitas porque estou procurando entrar em disputa com o trabalho com jovens católicos, presbiterianos ou batistas. Este não é um estudo de polêmicas teológicas aplicadas à psicologia para adolescentes. Em vez disso, quero examinar o que a teologia luterana acrescenta a todo o campo do trabalho com jovens que não se encontra em nenhum outro lugar.

    Na minha opinião, isso levanta uma segunda questão. Escrevi este livro para você ou para outra pessoa? Se você é um voluntário que assumiu as responsabilidades pelo trabalho com jovens em uma pequena congregação, e seu cônjuge concordou em acompanhá-lo (apesar de ter hesitado), e você realmente não teve muito treinamento teológico além da confirmação e da escola dominical, estou escrevendo para você. Ou se você está matriculado em um curso no qual espera desenvolver alguma competência no trabalho com jovens como diretor de educação cristã ou diácono, porque você realmente gosta de crianças, mas está preocupado porque não consegue fazer a conexão entre suas aulas de teologia e suas aulas de trabalho com jovens, estou escrevendo para você. Ou se você é pastor ou seminarista e nunca se sentiu confortável com a ideia do trabalho com jovens, ou jovem para lidar com esta questão, mas realmente gosta de teologia e está curioso em saber como alguém poderia falar sobre Teologia aplicada ao trabalho com jovens, estou escrevendo para você.

    Nossa exploração começa com uma introdução a Êutico: quem você descobrirá é um paradigma de desenvolvimento de um adolescente. A partir daí, os capítulos são divididos em três seções; os capítulos dois a quatro apresentam uma visão geral do jovem, do trabalho com jovens e da espiritualidade; os capítulos cinco a oito identificam a contribuição única da teologia luterana para o trabalho com jovens; e os capítulos nove a doze colocam essas forças teológicas em ação.

    O que espero que você descubra nestas páginas é o que eu aprendi: que a contribuição da teologia luterana para nossa compreensão do trabalho com jovens, da espiritualidade dos adolescentes e da formação da fé é profunda, mas prática, útil sem ser… utilitária e, como a Palavra na qual está fundamentada, mais afiada que qualquer espada de dois gumes.

    Dr. John W. Oberdeck

    #

    Francamente, o

    mundo não precisa

    de mais livros

    sobre grandes jogos

    ou aplicativos

    de filmes para

    devocionais com

    jovens. O mercado

    está bastante

    saturado neste

    momento.

    O acidente acontece sem ninguém esperar, como os acidentes sempre acontecem. A partida de Paulo está marcada para o dia seguinte. Ele passou uma semana em Trôade, na costa ocidental da Ásia Menor. Muitos de seus seguidores, os discípulos que reuniu durante suas viagens missionárias, estavam com ele – Sópatro, de Bereia; Aristarco e Secundo, de Tessalônica; Gaio, de Derbe; Tíquico e Trófimo, da Ásia; juntamente com Timóteo e Lucas, o médico. Eles, juntamente com muitos bons amigos e irmãos crentes no Senhor Jesus Cristo ressuscitado, estavam reunidos em um cenáculo, um salão de reuniões, no terceiro andar. A maior parte das pessoas nunca veria Paulo novamente. Ele não retornaria a Trôade. Assim, as pessoas escutavam atentamente, jamais suspeitando do espetáculo que estavam prestes a testemunhar.

    A reunião começa com saudações entre as pessoas, seguida por um momento de ensino. Paulo tem a oportunidade de falar, algo que ele não apenas ama, mas se sente compelido a fazer. Ele fala sobre Jesus. Fala sobre a fé. Fala sobre o vínculo do amor entre eles e do seu chamado para serem testemunhas da esperança que existe neles. Ele continua falando e falando e falando. O tempo passa; a hora fica tarde. Paulo continua falando.

    Visto que a escuridão cobre a cidade, as lamparinas são acesas, muitas lamparinas projetando sombras bruxuleantes ao redor da sala. Há várias janelas, mas a brisa do mar não faz diferença alguma em uma sala tão cheia. O ar é quente e abafado, tingido com o cheiro de tantas pessoas num espaço tão pequeno. A noite avança, mas os ouvintes estão atentos – e por que não? É Paulo que está falando com eles. Não querendo perder uma palavra, lutam contra a fadiga – todos, exceto um.

    Um jovem, na verdade, um adolescente, com o nome de Êutico, está lutando. Está tentanto de todas as formas permanecer acordado. Aos poucos, aproxima-se de uma das janelas, esperando que o ar fresco possa reanimá-lo. Ele se senta na moldura da janela; agora com sua atenção dividida entre a rua abaixo e o pregador do outro lado da sala, esperando manter-se acordado. Lentamente, ele perde a batalha; ou entediado enquanto Paulo fala em tom monótono ou cansado pelo adiantado da hora, suas pálpebras pesam e se fecham. Por apenas um momento está equilibrado, mas apenas por um momento. Ele relaxa, dorme e cai.

    Enquanto examina a sala para enfatizar um ponto, os olhos de Paulo acabam de passar pelas janelas, onde viu o adolescente sentado. Paulo está no meio da frase quando gritos vêm do fundo da sala. Ele vira sua cabeça para a fonte dos gritos e vê uma mulher apontando para uma janela vazia. No mesmo instante, toda a ordem na sala desaparece. Outras pessoas começam a gritar. As pessoas perto da porta já estão saindo, descendo as escadas do terceiro andar. Como um funil, a porta canaliza a multidão aflita para a rua lá embaixo.

    Paulo é o último a descer as escadas. Quando ele chega ao nível da rua, a multidão está parada em círculo ao redor do corpo. As pessoas estão em choque; algumas choram. Outras seguram tochas. Elas veem Paulo se aproximando e abrem o caminho para ele. Ele olha através do corredor humano e lá está Lucas, ajoelhado sobre o garoto. Lucas olha para cima, balançando a cabeça. Paulo se aproxima, e a multidão se afasta. Ele se deita ao lado de Êutico e coloca seus braços ao redor dele. Paulo ora.

    Os segundos passam. Soluços abafados podem ser ouvidos na multidão. Então Paulo diz: Não fiquem alvoroçados, pois ele está vivo. Alegria, surpresa, incredulidade e alívio se espalham pela massa de pessoas que agora está reunida na rua. Lucas não é o menos surpreso entre eles, pois sabe que a queda foi fatal. Mas Êutico está vivo! A magnitude do milagre atinge as pessoas, e o assombro de todos dá lugar à ação de graças. Paulo sugere que todos voltem para o andar de cima, e eles voltam.

    Com Paulo, elas partem o pão em conjunto e recebem os dons prometidos por Jesus quando a comunidade cristã se lembra dele nesta comunhão única, íntima e pessoal. Depois do culto, todos ainda estão tão animados com o que testemunharam que não podem descansar; assim, aproveitando outra oportunidade, Paulo começa a falar e fala até o amanhecer. E Êutico é levado para casa vivo e bem, para grande alívio de sua família e dos amigos.

    JOVENS NA BÍBLIA

    Nas Escrituras, há um número limitado de candidatos se quisermos encontrar um modelo para a vida cristã dos adolescentes.

    Ao fazer essa observação, não estou sugerindo que o propósito das Escrituras seja fornecer modelos para vivermos em cada uma das diferentes épocas da vida[1] e que, por alguma razão, o Espírito Santo nos privou ao nos dar tão poucos exemplos de adolescentes agradáveis a Deus. Mas preciso explicar por que vou gastar tanto tempo analisando Êutico (At 20.7-12), um adolescente relativamente desconhecido do Novo Testamento, apesar de gastar pouco tempo com os outros adolescentes bíblicos com muito mais notoriedade, como Samuel, Davi, João Marcos ou Timóteo.

    Afinal, Samuel não é um excelente modelo de adolescente prematuro (muito prematuro) que ouve a Palavra de Deus e a obedece (Lc 11.28)? Aqui temos um pré-adolescente que o próprio Deus chama para ser servo dele e que humildemente aceita a função. Ele ouve a mensagem de Deus e transmite fielmente a mensagem (1Sm 3). Palmas para Samuel. Mas a menos que nosso objetivo no trabalho com jovens seja incutir uma expectativa em nossos adolescentes de que Deus falará com eles diretamente tarde da noite, como fez com Samuel, com uma mensagem para seus pais, pastor ou líder dos jovens, acho que a história de Samuel está dizendo algo muito mais do que Alô, crianças – ouçam!. Desconfio que a mensagem mais profunda no chamado de Samuel não é o que Samuel ouviu, mas que Deus chamou e continua a chamar servos hoje – até mesmo adolescentes – para compartilhar a Palavra dele.

    Ou pense quantas vezes os jovens são encorajados a serem como o jovem Davi, especialmente os jovens de certas igrejas evangélicas. Há muito a aprender com o jovem Davi: coragem diante de probabilidades intransponíveis, confiança na providência divina, fidelidade aos amigos e respeito pela autoridade, mesmo quando a autoridade não merece. Todos esses são valores e características admiráveis que formam um modelo que qualquer pastor que atua com jovens adoraria instilar nos membros mais indisciplinados sob seu cuidado. Mas o problema com Davi é que a história não termina na sua juventude. O perigo é que o adolescente leia o resto da história – em detalhes. Ela não fica bonita.

    Passando para o Novo Testamento – e pulando alguns outros jovens notáveis nas Escrituras, como Josias (2Rs 22), Jeremias (Jr 1.6-7) e Daniel (Dn 1) – talvez o mais útil que encontremos é João Marcos. Ele é útil da seguinte maneira: João Marcos demonstra o amadurecimento de um jovem na fé. A mãe de João Marcos é a dona da casa para a qual Pedro foge quando é milagrosamente libertado da prisão (At 12.12). Ele é parente de Barnabé (Cl 4.10) e parte com Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária deles. Mas ele fica ansioso, amarela e abandona a viagem missionária na Panfília. Mais tarde, depois do concílio em Jerusalém, quando Paulo se prepara para a próxima viagem missionária, Barnabé quer levar João Marcos. Paulo não concorda com a sugestão e, na discussão que se segue, eles se separam; Barnabé e João Marcos vão para Chipre, enquanto Paulo leva Silas consigo e vai para a Síria e a Cilícia (At 15.36-41). Acho que uma lição a ser aprendida com João Marcos é que o trabalho com jovens, e jovens que atuam no ministério, pode causar divisão dentro da igreja; uma lição que ainda não foi compreendida por muitos diretores de educação cristã e diretores de jovens. Claro, não posso concluir a história de João Marcos sem mencionar que João Marcos amadurece e se torna um fiel ajudante de Paulo (2Tm 4.11) e, de acordo com a tradição, o companheiro e secretário de Pedro, que é inspirado a escrever o evangelho de Marcos.

    Timóteo é um exemplo de alguém descrito nas Escrituras como jovem (1Tm 4.12), mas que obviamente estava além do estágio da adolescência no momento em que Paulo lhe escreve. Aprendemos sobre sua mãe e avó fiéis, que criaram Timóteo (2Tm 1.5), de forma que podemos especular sobre seu treinamento inicial. Pelo teor das cartas de Paulo a Timóteo, captamos que ele teria alguns problemas de saúde (1Tm 5.23) e que seria um pouco tímido em seu ministério (2Tm 1.6-7). No entanto, o que sabemos sobre Timóteo nos fornece mais informações sobre as circunstâncias da vida de um jovem pastor, ou de um pastor que atua com jovens, do que nos fala sobre jovens.

    PROCURANDO AUTENTICIDADE

    Por que destacar Êutico? Êutico é impressionante porque sua história se relaciona de forma rápida, simples e fácil à situação atual de muitos jovens, tanto dentro como fora da igreja. Alguma coisa em Êutico é tão autêntica, tão genuína, que implora comparação com a nossa situação contemporânea. Crescer sob a direção de um sacerdote do tabernáculo ou passar os primeiros anos protegendo ovelhas de predadores ou amadurecendo em um lar comprometido em apoiar as viagens missionárias de Paulo ou ser ensinado em casa pela mãe e pela avó, é um padrão que corresponde a muito poucos adolescentes de hoje. Mas ser jovem, estar entediado e em risco, sem ninguém notar, corresponde a uma multidão. Vamos dar uma olhada mais de perto na história para ver como cada um desses elementos se confirma naquilo que foi o evento mais incrível da vida desse jovem.

    Primeiro, percebemos que Êutico é um jovem. Quão jovem? O que se entende por jovem neste contexto? Êutico está na idade em que um adulto poderia se dirigir a ele dizendo: "Ouça aqui, rapaz, nunca mais se sente numa janela. Você está me ouvindo?". Neste caso, ele é um jovem apenas de nome, pois na realidade é muito mais um menor que está sob a autoridade dos pais. Ou Êutico está naquela idade em que a maturação física atinge o seu apogeu; um jovem de músculos definidos e a cabeça cheia de longos cabelos? Nesse caso, a ênfase recai no homem e não no jovem.

    Felizmente, o grego nos dá alguma ajuda. Na primeira vez em que Êutico é mencionado, é descrito como neania, termo usado geralmente para significar um jovem após a puberdade, mas ainda não casado. No entanto, mais adiante no relato, quando é levado para casa, é chamado de pais, menino. O dicionário nos ajuda a explicar: "A pessoa em questão poderia ter sido de tal idade que tanto ‘jovem’ como ‘menino’ seria uma possível denotação. Em outras palavras, a idade referida por neania e por pais se sobrepõe em grego".[2] Se menino e jovem estão sobrepostos, isso só pode significar uma coisa. Êutico é um adolescente.

    Em segundo lugar, Êutico está entediado. Quão entediado está? Está tão entediado a ponto de adormecer! Agora, com certeza, pode haver outras explicações para o seu cochilo inoportuno. Podemos especular as possibilidades. Uma pista útil que não temos é o motivo da sua participação. Por que ele está ali? Veio sozinho ou seus pais o trouxeram? Tem amigos ou está sozinho? Ele já ouviu Paulo antes ou é a primeira vez? Se foi trazido pelos seus pais para a noitada de pregação, temos um bom palpite do motivo de ele estar entediado.

    Mas seguindo outra abordagem, talvez como muitos adolescentes de hoje, Êutico tenha um emprego. Talvez seja aprendiz de comerciante ou de artesão. De acordo com este cenário, Êutico chega ao evento depois de um longo dia de trabalho. É claro que está cansado – quem sabe que tipo de esforço precisou fazer? No entanto, está motivado o suficiente para vir, e ele ouve e ouve e ouve até que simplesmente não consegue ouvir mais. As muitas velas estão consumindo o oxigênio da sala tão rápido quanto as pessoas. Movendo-se para a janela, espera que se reanime, mas não funciona.

    Temos que admitir que, a partir do relato de Lucas, realmente não podemos dizer se Êutico está presente voluntariamente ou por compulsão. Não sabemos o que o motiva, se está realmente interessado. No entanto, sua situação, por mais ambígua que seja, não acrescenta autenticidade ao relato e à sua relevância? Suspeito que não estamos lidando com uma situação de e/ou; como se ele estivesse ou entediado ou cansado. Dada a minha experiência no trabalho com jovens, a mistura de motivações é mais que provável. Se veio por sua própria vontade depois de um dia duro no trabalho ou por compulsão, quando chega a meia-noite, ele está entediado e cansado.

    A terceira característica de Êutico, que aumenta sua posição como um autêntico representante adolescente, é que ele está em risco. Ele se sentou em uma janela aberta no terceiro andar de um prédio – não é um lugar seguro para se estar. Eu usaria a maneira pela qual Êutico se posiciona como uma metáfora para adolescentes em risco, se não fosse por minha própria experiência com janelas e adolescentes.

    Como pastor de uma grande congregação no sul de Illinois, em meados da década de 1980, compreendi que eu não ficara muito tempo com a juventude nos últimos dois anos. Precisava me reconectar com os jovens que havia confirmado há pouco tempo. Por isso me ofereci para acompanhar nosso líder voluntário da juventude e três outros adultos quando nos unimos a outra congregação e levamos nossa juventude para um fim de semana de atividades jovens em um subúrbio de Chicago. Reconectei-me.

    O que aprendi foi nunca subestimar, nunca ignorar e nunca planejar quando trabalhar com jovens. Espere o inesperado, digo agora, talvez até o inacreditável. Como aprendi isso? Ficamos alojados no sexto andar do hotel. Os jovens da congregação que se uniu a nós estavam no quinto andar. Por volta das três da manhã, as meninas de nossa congregação que estavam no mesmo quarto colocaram os lençóis pela janela e sobre um parapeito que se afastava por pelo menos sessenta centímetros da parede do hotel. Os lençóis foram agarrados por dois garotos da outra congregação no quarto abaixo, que começaram então a subir pelo parapeito para o quarto acima. Como isso foi descoberto, quais ações disciplinares se seguiram e quais implicações isso teve para o nosso grupo de jovens é uma história muito longa para contar aqui. Basta dizer que houve ampla oportunidade para confissão e absolvição. No entanto, as notícias da escapada nos precederam em casa, embora não tão rapidamente quanto no mundo atual das mídias sociais e dos celulares. Depois de voltar, muito do meu tempo foi gasto defendendo o líder voluntário dos jovens de pais que estavam compreensivelmente muito chateados.

    Bom sofrimento! Eu nem suspeitava que as janelas dos andares superiores dos hotéis pudessem ser abertas! Agora tenho o estranho hábito de verificar as janelas toda vez que faço check-in em um hotel com mais de dois andares. A questão, na verdade, é que os anjos existem e estavam dispostos a proteger esses dois jovens (presos, sem dúvida, entre neania e pais) de seu próprio comportamento de risco. Nossos grupos de jovens foram poupados de nosso momento eutiquiano, uma genuína bênção – visto que nem eu nem o pastor da outra congregação poderíamos fazer uma imitação adequada de Paulo.

    Os adolescentes se colocam em risco com frequência, às vezes percebendo isso e outras não. E isso não torna a história de Êutico muito mais relevante, autêntica e relacionada com o trabalho com jovens de hoje? Pense por um momento que, no ambiente atual, o componente do risco não precisa ser procurado. Adolescentes não precisam procurar se colocar em risco. Mais e mais, o risco procura o adolescente. O risco está no ambiente diário em que o adolescente vive.

    A pornografia, por exemplo. Na minha adolescência, conseguir pornografia exigia alguma iniciativa, algum esforço. Alguém tinha de dar um jeito de conseguir a revista, geralmente através do irmão mais velho de alguém. Hoje, a pornografia é um predador a apenas dois cliques na internet. É acessível, viciante e anônima.[3] Até que ponto os jovens são capazes de imitar o jovem José – outro exemplo bíblico de jovem anteriormente omitido – e fugir da esposa de Potifar, ou seja, da pornografia, permanece uma questão a ser respondida não apenas por adolescentes, mas por adultos também. Na verdade, a pornografia é apenas um exemplo dos comportamentos de risco que estão prontos para seduzir, atrair e trair os jovens de hoje.

    Agora temos os três componentes que nos são apresentados por Êutico: um jovem, entediado e em risco. Há apenas mais um componente da história a ser examinado que, de muitas maneiras, é o mais problemático. Ninguém percebe.

    O que seria necessário para evitar toda a cena sórdida? Tudo que precisaria acontecer seria uma pessoa, olhando ao redor da sala à luz de velas, ver Êutico e perceber, primeiro, que Êutico está na janela – que não é um bom lugar para se estar – e, segundo, que suas pálpebras estavam se fechando. Não é tão difícil perceber alguém caindo no sono. Eu sou professor universitário. Sei com o que se parece. Tudo que essa pessoa precisaria fazer é notar que Êutico estava caindo no sono – começando a relaxar, afrouxando a mão que segurava o peitoril da janela – e, em seguida, estender a mão cuidadosamente e lhe dar uma pequena cutucada: Ei, Êutico, desça e sente-se aqui no chão comigo.

    Problemas relacionados com a juventude começam exatamente aqui, porque muitas vezes a nossa resposta ao jovem em risco é um grito. Imagine alguém na sala superior, percebendo o jovem em risco na janela, pular e gritar: Saia da janela; VOCÊ VAI MORRER! Isso é contraproducente. Se isso tivesse acontecido com Êutico, o choque do grito o teria derrubado.

    Êutico precisa de um amigo, um adulto, que esteja ao seu lado e que gentilmente o cutuque e o convide a voltar para a sala e para um lugar mais seguro. Não precisa de um grito que seja interpretado como rejeição ou julgamento, afastando-o.

    Acredito que este seja o segundo grande desafio para o trabalho com jovens hoje. Na cultura em que vivemos – uma sociedade hedonista, voltada ao consumo, centrada e resolvida em si mesma – todos os nossos jovens estão em risco. Mesmo aqueles que nós, adultos, consideramos mais bem ajustados e maduros, têm desafios e dificuldades que nos incomodariam muito se estivéssemos conscientes disso. Estamos? Estamos dispostos a perceber? Estamos dispostos a cutucar? Estamos dispostos a convidar e continuar convidando durante todos os anos da adolescência, para um lugar mais seguro?

    Se esse é o segundo grande desafio, qual é o primeiro? O primeiro grande desafio é tomar a fé que nos foi dada, a herança teológica que pertence à nossa igreja, e colocá-la em prática no trabalho com jovens. Observe que o objetivo real não é apenas uma juventude segura. O verdadeiro objetivo é ter jovens perdoados, jovens redimidos, jovens que vivem na graça de nosso Senhor Jesus Cristo.

    Por que esse é o objetivo principal? Porque alguns dos nossos jovens estão caindo pela janela, alguns de mais alto e mais longe do que outros, e precisam ser levantados por meio do perdão dos pecados oferecido somente por Jesus Cristo. Outros estão sentados na janela cochilando. Eles precisam ser cutucados gentilmente pela lembrança do nosso batismo e da força que vem da mesa do Senhor. Precisam da gentil orientação de adultos carinhosos. E ainda outros são os irmãos mais velhos que estão conosco o tempo todo, nem entediados nem em risco. Nossa atenção é necessária para eles também por dois motivos. Primeiro, para que saibam que também são amados e têm nossa total atenção, mesmo que não estejam em risco. E segundo, para que compreendam a verdadeira natureza da lei e do evangelho e não comecem a julgar; mas, em vez disso, se vejam como pecadores perdoados que vivem pela fé na graça de Deus em Jesus Cristo.

    Temos uma teologia para o trabalho com jovens que fala com todos esses três públicos adolescentes. Creio… que a teologia luterana pode informar, responder e dirigir o trabalho com jovens hoje de formas verdadeiramente úteis. Creio que a teologia luterana é excepcionalmente dotada para construir ações genuinamente eficazes com jovens, de maneira profunda e duradoura. Creio que a teologia luterana acrescenta a profundidade e a percepção que outras pessoas que trabalham com jovens também acharão útil. E, ao mesmo tempo, também creio que a teologia luterana está aberta para receber a sabedoria que outros reuniram ao trabalhar com jovens. Não poderia haver melhor momento de explorarmos como isso pode ser feito e o que será útil para nós. Vamos começar.

    Eu sou velho demais para o trabalho com jovens, o que, por um lado, torna o trabalho com jovens, o estudo do trabalho com jovens e o escrever sobre o trabalho com jovens, muito difícil. Eu não gosto de parques aquáticos do jeito que já gostava. Meus filhos deixaram a adolescência há mais de meia década, e minha adolescência foi em outro século; poderia muito bem ter sido em outro planeta. Lembro-me de quando o número de telefone do nosso grupo era um toque longo e dois curtos. Eu me lembro quando adquirimos nossa primeira televisão. Assim, o bastão deve ser passado para aqueles cujos níveis de energia façam com que aguente servir e cuja constituição física o faça ficar acordado pelo menos até as sete horas da manhã, quando os pais vierem buscar seus filhos.

    Por outro lado, acredito que estou exatamente na idade certa para o trabalho com jovens. Posso atuar no papel de avô! Observe – e a pesquisa tende a confirmar isso – que a facilidade de comunicação às vezes pula uma geração. O resultado é que os adolescentes podem falar com a vó ou o vô com muito mais facilidade do que podem conversar com a mãe e o pai. Tudo que preciso fazer é estar pronto, com meus ouvidos abertos. Naturalmente, há mais coisas envolvidas do que simplesmente estar pronto para ouvir; embora não devamos desconsiderar o efeito sobre um adolescente quando ele realmente é ouvido. Precisamos manter nossos olhos abertos e cuidar as janelas para ver o que está acontecendo. Manter nossos olhos abertos é o tema da Parte I deste livro.

    Existem três janelas diferentes a partir das quais vamos olhar, cada uma com sua visão significativa sobre a adolescência: a janela da frente, a janela da universidade e a janela do Wartburg. Cada uma oferece informações que são necessárias para que possamos cuidar das janelas fielmente.

    A janela da frente é a janela da nossa vida e da fé. Pensamos muitas vezes sobre Deus. Assim fazem os adolescentes. Pensamos com frequência em nossa fé. Assim fazem os adolescentes. E pensamos muitas vezes sobre como a nossa vida se relaciona com a nossa fé, como fazem os adolescentes. Por que não pensamos nessas coisas em conjunto? A janela da frente reconhece o quanto a teologia desempenha um papel no trabalho com jovens e pergunta se a teologia luterana tem ou não alguma coisa a dizer sobre o assunto.

    A janela da universidade é a janela da pesquisa, pela qual descobrimos o que especialistas em sociologia e psicologia têm a dizer sobre onde os adolescentes estão em suas atitudes e crenças em relação a Deus. Suas dicas são corretivas se formos cair no mau hábito de assumir que os adolescentes são baldes vazios esperando ser preenchidos com a teologia que tão ansiosamente queremos despejar neles. Eles não são baldes vazios. Este livro fala sobre Teologia aplicada ao trabalho com jovens, não Uma teologia dos jovens ou Uma teologia para os jovens. Mas tal livro poderia ser escrito porque existe um conjunto genérico de crenças sustentadas por muitos adolescentes que constituem uma teologia dos adolescentes. Por essa janela, teremos uma chance de vê-la – talvez não tão claramente quanto desejaríamos, mas ela estará lá.

    A imagem da janela do Wartburg é outra maneira de sugerir que há um jeito especial pelo qual os seguidores de Lutero se aproximam da espiritualidade, que tem implicações para a espiritualidade do adolescente. Ouvi dizer que, no arejado castelo de Wartburg, Lutero tinha uma visão dominante da paisagem em volta. Os cristãos luteranos não têm apenas uma visão dominante da espiritualidade, mas também temos uma visão receptiva da espiritualidade que nos diferencia não apenas de outras perspectivas, mas também nos liberta no evangelho de Jesus Cristo.

    Imagine que seu dever seja lavar essas três janelas, para que todas as manchas desapareçam e você possa ver claramente através de cada uma delas. Uma vez que a tarefa esteja completa, você estará pronto para a Parte II, aonde iremos, usando essas três janelas como pano de fundo, olhar para Êutico em nossa teologia…

    Você já observou isso? Você sente isso? Você leu sobre isso? Talvez eu seja mais sensível a isso, porque a cada semestre levo um grupo de estudantes do trabalho com jovens para conferências de diferentes durações com uma variedade de apresentadores; mas me parece que o trabalho com jovens, como concebido por aqueles que o fazem e por aqueles que apoiam quem o faz, está passando por algum tipo de transição importante.

    Aqueles que atuam no trabalho com jovens hoje parecem inquietos e descontentes. Há menos certeza, menos confiança em objetivos, metas e visão para o trabalho com jovens. Quanto mais somos encorajados a definir uma visão para o trabalho com jovens, mais espessa se torna a neblina da adolescência. Quanto mais aprendemos sobre o estabelecimento de metas, menos parecemos capazes de colocar a bola na rede e pontuar esses objetivos. Quanto mais competentes somos em estabelecer objetivos, mais inaceitáveis eles se tornam.

    EXPLORANDO NOSSAS FRUSTRAÇÕES

    Mark Oestreicher, que atuou em Youth Specialties,[5] coloca desta forma:

    O problema é este: a maneira como estamos fazendo as coisas já não está funcionando. Estamos falhando em nosso chamado. E, no fundo, a maioria de nós já sabia disso. É por isso que precisamos de uma mudança memorável em nossas suposições, abordagens, modelos e métodos.[6]

    Estamos falhando? Mike King, da Youth

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