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Formação de Professores para Educação Profissional e Tecnológica:: Políticas, Cadeias Produtivas e Politecnia
Formação de Professores para Educação Profissional e Tecnológica:: Políticas, Cadeias Produtivas e Politecnia
Formação de Professores para Educação Profissional e Tecnológica:: Políticas, Cadeias Produtivas e Politecnia
E-book448 páginas5 horas

Formação de Professores para Educação Profissional e Tecnológica:: Políticas, Cadeias Produtivas e Politecnia

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Sobre este e-book

Lançando um novo olhar sobre o campo da Formação de Professores e da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), campo que, historicamente, tem se colocado como palco de disputas e tensões na esfera do trabalho e da educação, esta obra propõe-se a responder sobre as políticas que vêm concorrendo para a formação do professor que trabalha nessa área da educação, tendo em vista os interesses do capital ou do trabalho no contexto da reestruturação produtiva.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de fev. de 2021
ISBN9786555234589
Formação de Professores para Educação Profissional e Tecnológica:: Políticas, Cadeias Produtivas e Politecnia

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    Pré-visualização do livro

    Formação de Professores para Educação Profissional e Tecnológica: - Luiz Aparecido Alves de Souza

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO FORMAÇÃO DE PROFESSORES

    A todos os profissionais da educação que permitem que um novo sentido do possível abra caminhos para uma outra sociabilidade – a do trabalho associado e comum.

    AGRADECIMENTOS

    Quero externar aqui meu agradecimento a todos que contribuíram para que este estudo se concretizasse.

    A Xavier, por cuidar de mim. Sua bondade, seu carinho e sua compreensão se tornaram bálsamo nesse tempo de estudo. Aos meus pais, Alziro Alves de Souza (in memoriam) e Maria Paula Batista de Souza, exemplos de trabalho e honestidade. Aos meus irmãos, Maria Aparecida, Neide Maria, José Roberto, Reginaldo, Fátima, e a suas famílias, exemplos de luta constante.

    Aos meus amigos de longa data e uma segunda família: Claudomiro, Gleybson, Adair, Francisco, Aguinaldo e outros tantos que permitiram confidências e cumplicidades nos momentos de Cafofo. Ao coletivo do Grupo de Estudos Café Filosociológico (GECAFE) do Colégio Estadual Presidente Abraham Lincoln, em especial, Taysa, Fernanda e Vanessa pelo incentivo e pela torcida. Aos colegas da Pró-Reitoria de Ensino do Instituto Federal do Paraná, em especial, Adnilra, Paulo, Vanessa, Rosane, Marissoni, Hanny, Rafael, Márcia, Evandra e Patrícia Teixeira minha gratidão. Um especial destaque a Izaías Costa Filho (Kiko), pelo companheirismo nesse estágio da formação.

    Aos professores do mestrado e doutorado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná, pelas magníficas aulas, que contribuíram para meu processo formativo como pesquisador. Um agradecimento especial ao Prof. Dr. Geraldo Augusto Pinto, da UTFPR, por apontamentos precisos no processo da pesquisa.

    Ao Grupo de Pesquisa Trabalho, Educação e Políticas Educacionais, necessário e importante espaço de interlocução e de trabalho associado aos desafios de construir a pesquisa no Brasil. Os debates foram imprescindíveis para o desenvolvimento deste livro.

    Aos professores doutores Armenes de Jesus Júnior, respeitado intelectual do campo crítico; Rosane de Fátima Batista Teixeira, estudiosa da Formação de Professores; Maria Antônia de Souza, brilhante pesquisadora que me ensinou os primeiros passos da pesquisa no mestrado; e Pedro Leão da Costa Neto, que é referência em honestidade e generosidade intelectual.

    Por fim, à Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Rodrigues Pereira, dileta orientadora, de uma sensibilidade e paixão pela pesquisa que encanta a todos que a cercam. Muito obrigado por sua atenção, sua generosidade e seu cuidado.

    Os Institutos Federais constituem um espaço fundamental na construção dos caminhos com vista ao desenvolvimento local e regional. Para tanto, devem ir além da compreensão da educação profissional e tecnológica como mera instrumentalizadora de pessoas para o trabalho determinado por um mercado que impõe seus objetivos.

    (Concepção e Diretrizes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia)

    Não há estrada real para a ciência, e só têm probabilidade de chegar a seus cumes luminosos aqueles que enfrentam a canseira para galgá-los por veredas abruptas.

    (Karl Marx)

    PREFÁCIO

    O obra ora apresentada ao leitor e aos debates políticos educacionais é fruto de uma longa reflexão de seu autor.

    Efetivamente, não é resultado de poucos anos de trabalho, mas de prolongados estudos e a partir da sua condição de professor da rede pública de ensino do Paraná, também do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do mesmo estado e dos compromissos com a educação das classes trabalhadoras no contexto de um Brasil em disputa por projetos antagônicos do capital e do trabalho.

    Produzido no âmbito do Grupo de Pesquisa Trabalho, Educação e Políticas Educacionais do Programa de Educação da Universidade Tuiuti do Paraná, que mantém, desde 2013, uma agenda de estudos e eventos, este texto incursiona por temas relevantes das políticas de Educação Profissional e a necessária formação de professores para essa modalidade de educação. Para tanto, detém-se na análise da legislação de criação da Rede de Institutos, esmiúça com o devido cuidado suas nuances, aponta sua ambiguidade, sem deixar de destacar a possiblidade de uma educação politécnica emancipatória. Debruça-se num estudo crítico sobre educação politécnica e suas implicações na formação do trabalho para além do capital; alinha-se com a defesa da formação de professores sob essa perspectiva.

    Professor Luiz adentra no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Paraná para com auxílio de autores clássicos, examina seus documentos, suas políticas de expansão e relações com as cadeias produtivas locais; trabalha com os editais de contratação de professores para lhes apontar seus limites pragmáticos.

    Mergulha, nosso autor, no perfil dos professores do Instituto no sentido de perscrutar sua formação, ouve-os através de questionários para dizer ao leitor se perfilham a formação politécnica e seus compromissos com a formação emancipatória de trabalhadores.

    A odisseia empreendida neste estudo possibilita arrematar importante tese:

    As políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica tem atendido a polivalência e ambiguamente apontado a politecnia como possibilidade, anunciada, mas não efetivada. No contexto da reestruturação produtiva, as políticas de formação de professores se apresentam disputadas: se de um lado, os documentos expressam para uma educação anunciada nos pressupostos da politecnia, por outro, nas políticas institucionais, se alinham aos interesses das cadeias produtivas e, portanto, a uma educação polivalente. (SOUZA, 2020, p. 268)

    Mas, professor Luiz, orientado pela XI tese ad Feuerbach (MARX, 2007, p.30) e seu conteúdo ontometodológico – Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo-, elege/propõe ao Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Paraná cinco importantes políticas a serem perseguidas que o leitor pode conhecer em sua síntese final.

    Eis uma obra que pugna por uma humanidade emancipada! Bem-vinda!

    Prof.a Maria de Fátima Rodrigues Pereira

    Curitiba, 12 de fevereiro de 2020

    referências

    MARX, Karl; ENGELS, Friederich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

    SOUZA, Luiz Aparecido Alves de. Formação de Professores para Educação Profissional e Tecnológica: políticas, cadeias produtivas e politecnia. Curitiba: Appris, 2020.

    APRESENTAÇÃO

    O campo da formação de professores sempre foi palco de disputas na processualidade histórica neste país. E, em especial, quando se coloca o debate no contexto da educação profissional e tecnológica, os dilemas, as disputas e tensões se acirram, ainda mais no contexto da EPT. O acirramento se dá por conta de como esse país foi se constituindo em seu curso histórico: na expressão de uma política e economia dependente e subalterna às forças imperialistas que se colocaram na esfera mundial. Mas não só isso! A formação social brasileira também se subalternizou aos hábitos e comportamentos advindos da interferência estrangeira que se impôs, via controle do campo educacional, a formação de uma subjetividade flexível, domesticada e resiliente aos processos produtivos, da fração da classe trabalhadora, em conformação aos interesses de uma fração de elite que, historicamente, disputou o Mercado e o Estado.

    É nesse tecido social, político, econômico e cultural que a formação de professores para a educação profissional e tecnológica deve ser posta como objeto de investigação, na particularidade da expansão dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, com a Lei n. 11.892/2008. É necessário considerar que a educação profissional neste país tem, em sua gênese, a organização de um projeto político pedagógico, de absorção dos empobrecidos, órfãos e desempregados pelo modo de produção capitalista. O que tem determinado, numa configuração curricular, claro direcionamento ao mercado de trabalho (educação polivalente), sem considerar a preocupação com formação humana integral dos estudantes (educação politécnica).

    Essa dimensão ético-política da formação para o trabalho tem perpassado toda a história da educação profissional brasileira e tem interrogado, nas últimas duas décadas, as políticas de formação de professores, que atuam nesse campo educacional. Desse modo, a presente obra procura problematizar quem são os professores que atuam nos Institutos Federais; que conhecimentos científicos, políticos, éticos, estéticos e culturais são exigidos em seu processo seletivo; que desafios apontam para o ensino técnico de nível médio e tecnológico de nível superior e que compreensão trazem da relação Trabalho e Educação no exercício da docência.

    Minha preocupação de pesquisador foi considerar que a formação de professores para a educação profissional e tecnológica se dá nas múltiplas determinações, no modo como produzimos nossa existência. Uma das questões a considerar no processo da investigação colocou que, para responder as perguntas da pesquisa, seria necessário uma incursão nas políticas de formação de professores no recorte temporal de 2008 a 2018, período da criação e expansão dos Institutos Federais no país. Há de se pensar que, para o campo crítico da educação, as políticas são expressões dos interesses de frações sociais, representantes dos setores econômicos, que disputam a esfera do Estado, portanto disputam a legislação, os programas e seus financiamentos.

    Essa incursão foi desafiadora, pois se impôs a apropriar do escopo regulador da criação e expansão dos Institutos Federais, assim como delimitar a escolha de um determinado Instituto Federal no âmbito nacional, com suas legislações institucionais e editais de concursos públicos para o magistério na educação básica, técnica e tecnológica e captar os debates, os dilemas e as disputas que estão postas nessa capilaridade.

    As inquietações de pesquisador me colocaram no debate de que as políticas têm expressado uma formação de professores para atender a uma educação polivalente, de interesse de formar trabalhadores para o mercado de trabalho e ambiguamente apontado para uma educação politécnica, como possibilidade anunciada, mas não efetivada. O debate em torno desses conceitos encontram-se com mais densidade trabalhados no interior deste livro.

    O autor

    LISTA DE SIGLAS

    Sumário

    INTRODUÇÃO 19

    1

    O ESTÁGIO DO DEBATE ACERCA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA E O PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO DA PESQUISA 27

    1.1 OS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA E A FUNÇÃO SOCIAL DO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ 46

    1.2 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO 53

    1.3 QUADRO TEÓRICO 67

    1.3.1 Materialismo histórico-dialético: totalidade, mediação e contradição 68

    1.3.2 Reestruturação produtiva: arranjos produtivos locais e cadeias produtivas 71

    1.3.3 Educação e trabalho: educação polivalente e politécnica 80

    1.3.4 Política e formação de professores 89

    2

    POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: DISPUTAS ENTRE FORMAÇÃO POLIVALENTE E POLITÉCNICA 99

    2.1 O DECRETO 2.208/1997 DE FHC E AS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA 113

    2.2 OS DECRETOS DE LULA (5.154/2004) E DILMA (8.268/2014) E OS DILEMAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA 119

    3

    CRIAÇÃO E EXPANSÃO DO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ, CADEIAS PRODUTIVAS E PRINCÍPIOS DA POLITECNIA 131

    3.1 CONCEPÇÃO DE POLITECNIA NOS DOCUMENTOS FUNDADORES DOS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA 132

    3.2 EXPANSÃO DO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ (2010-2016) E

    AS RELAÇÕES COM AS CADEIAS PRODUTIVAS/ARRANJOS

    PRODUTIVOS LOCAIS 138

    3.2.1 Expansão do Instituto Federal do Paraná e cadeias produtivas locais 146

    3.3 OS EDITAIS DE CONCURSO PÚBLICO (2010 A 2016) E O PROCESSO DE ENTRADA DOS DOCENTES NO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ 152

    3.4 TENSIONAMENTOS ENTRE EDITAIS DE CONCURSO PÚBLICO DO IFPR E AS POLÍTICAS INSTITUCIONAIS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA 177

    4

    PERFIL DOS DOCENTES DO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ: O QUE REVELAM OS PROFESSORES 181

    4.1 PERFIL DOCENTE NO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ: CONDIÇÕES OBJETIVAS DE TRABALHO 188

    4.2 FORMAÇÃO DOCENTE PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NA PERSPECTIVA DOS PROFESSORES DO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ 201

    4.2.1 Educação e trabalho na educação profissional e tecnológica 206

    4.2.2 A concepção de politecnia no discurso dos professores da educação profissional e tecnológica 218

    4.2.3 Dimensão pedagógica e formação ético-política dos professores da educação profissional e tecnológica 228

    4.2.4 Formação para a docência na educação profissional e tecnológica 239

    CONSIDERAÇÕES FINAIS 259

    REFERÊNCIAS 267

    ÍNDICE REMISSIVO 281

    INTRODUÇÃO

    Tendo como objeto de investigação as políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica, este estudo teve como recorte temporal a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, pela Lei nº 11.892/2008, até o ano de 2018, e as políticas que se inserem no cenário brasileiro no que tange à formação de professores.

    Para o pressuposto que se faz neste estudo, considera-se a relação entre educação e trabalho, uma vez que a educação profissional, historicamente, é destinada à formação para o trabalho. Os intelectuais do campo da educação profissional entendem que há certa organicidade em termos de política do Estado brasileiro, com a promulgação do Decreto nº 7.566/1909, que conforme Cunha (2005) cria nas capitais dos estados as Escolas de Aprendizes Artífices para o ensino profissional, primário e gratuito. Para Kuenzer (2001) o fio condutor da história da educação profissional e tecnológica é o capital, sendo, portanto, as forças produtivas que delinearam a divisão social e técnica do trabalho que também tem definido precipuamente a educação profissional.

    A história da formação dos professores para a educação profissional e tecnológica é marcada pela falta de concepções teóricas consistentes e de políticas públicas amplas e contínuas, segundo afirma Machado (2008, s/p), e configura uma realidade que persiste até os dias atuais. Contudo é pertinente considerar que, no contexto das políticas educacionais, e em se tratando da formação de professores no Brasil, conforme explicita Kuenzer (2001), ocorreram as novas demandas do capital, no regime de acumulação flexível e do desenvolvimento de novas competências para a vida social e produtiva. É necessário perquirir, todavia, se houve mudanças nas instituições formadoras do magistério, sobretudo as instituições privadas que têm interesse num discurso de compromisso social e da ressignificação da educação como bem comum mundial para adornar sua mercadoria: a formação de professores (EVANGELISTA; SEKI, 2017, p. 12).

    Outrossim, constatamos que nos embates e disputas pela educação profissional se reivindicou e se propôs uma formação mais crítica no sentido da politecnia, como se verá quando da análise dos documentos institucionais do processo de criação e expansão dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia bem como dos discursos dos professores participantes da pesquisa.

    Para tanto, a reestruturação produtiva nos contextos das disputas acirradas entre capital e trabalho apresenta-se como o fio condutor da investigação; o contexto histórico da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira de 1996, como pano de fundo deste estudo à atualidade, seus elementos regulatórios a partir de sua promulgação.

    Conforme explicita Lima (2006), referindo-se ao campo da educação profissional, o desenvolvimento do capitalismo do pós-guerra concorreu para aprofundar as desigualdades sociais e econômicas, na forma de capital internacional, na medida em que se intensificam as análises das relações que a educação mantém com o mundo do trabalho, face a um acelerado processo de mudanças ocorrido principalmente nas últimas décadas e que vem marcando a economia de todo o mundo (p. 281).

    Considera-se como pressuposto que a educação para o trabalho, e, portanto, a educação profissional e tecnológica, encontra-se envolvida na disputa de dois projetos históricos, que elegemos para este estudo, a saber: projeto liberal-corporativo, desenvolvido no contexto do neoliberalismo; e o projeto democrático de massas, concebido pela classe trabalhadora e suas frações e diferentes formas de organização.

    Coutinho (2000) defende que o projeto denominado liberal-corporativo compõe-se das funções do Estado no campo social, com a redução e focalização de suas ações nos setores mais pobres da população. No campo econômico, defende um modelo de Estado como gestor da livre expansão do capital, única possibilidade de reversão da crise vivenciada pela sociedade, segundo essa concepção. Esse projeto propõe a auto-organização da sociedade com base na defesa de interesses corporativos, setoriais, particulares e solidários, o que vem contribuindo para a despolitização da sociedade civil¹, como pode se constatar no Movimento Todos pela Educação.²

    Para o projeto democrático das massas, o mesmo autor aponta que, em seu sentido amplo, implica a efetivação de novas relações sociais marcadas pelo acesso universal aos direitos sociais e pela socialização dos bens socialmente produzidos. Propõe a difusão de movimentos sociais de base, um sindicalismo combativo³ e politizado e a existência de partidos políticos estruturados e socialmente mais homogêneos (COUTINHO, 2000).

    São projetos sociais que concebem trabalho e educação de maneira distinta e que disputam o campo das políticas nas últimas décadas. Essas lutas manifestam-se em virtude da reestruturação produtiva, dos debates e produções sobre o tema e das lutas sociais, com os confrontos sinalizados pelos fóruns e comissões das entidades⁴ que levaram ao debate e à elaboração dos textos da Constituição de 1988 e da LDB de 1996.

    Esses projetos sociais se distinguem na concepção de educação, de escola e de sua função social. Tais concepções apresentam-se nos aparelhos e práticas do Estado⁵ e na sociedade civil conflitando em face das correlações de forças sociais em determinado período histórico. Interessa-nos compreender, nas disputas por uma conformação produtiva⁶, as políticas que se apresentaram para formação de professores da educação profissional e tecnológica e como se têm materializado nas Instituições Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, com a expansão da Rede Federal de Educação Técnica e Tecnológica, tomando como lócus de estudo o Instituto Federal do Paraná.

    A educação escolar passa a ser campo de disputas hegemônicas⁷ por políticas educacionais, em face das concepções de educação, da estrutura e do funcionamento do ensino, das condições de formação inicial e continuada dos profissionais do magistério da educação básica e das condições de trabalho e, neste estudo, da educação profissional e tecnológica, dos processos e conteúdo a serem ensinados na escola.

    O debate sobre a formação de professores para a educação profissional e tecnológica está conectado ao conjunto de debates dos grandes temas de educação para o trabalho, no Brasil de hoje. A justificativa deste estudo encontra-se na formação docente para a educação profissional e tecnológica, que necessita problematizar e entender os aportes legais que o Estado brasileiro exarou desde a LDB 9.394/96 (leis, decretos, resoluções, pareceres, portarias) até chegarmos à Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015⁸, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada.

    Desse modo, entendemos que, nessa processualidade histórica, assenta-se o debate acerca de qual projeto de sociedade se quer construir, para quais processos formativos que aproximem as dimensões da ciência, tecnologia, arte e cultura e inovação, clivados nos documentos oficializados no âmbito da criação dos Institutos Federais, em face da conjuntura atual.

    A formação de professores tem sido objeto de debates com diferentes perspectivas⁹ nos últimos anos, mas, na prática, não tem avançado o suficiente. No caso brasileiro, aquela é assegurada pela Constituição da República Federativa do Brasil (Art. 205) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/1996 (Art. 61 e 62).

    Portanto, a título de anunciar a problemática deste estudo, cabe indagarmos sobre as políticas que vêm concorrendo para a formação do professor que trabalha na educação profissional e tecnológica, tendo em vista os interesses do capital ou do trabalho no contexto da reestruturação produtiva. A que formação, portanto, têm atendido as políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia?

    A problemática aponta para o necessário desvelamento da formação de professores para a educação profissional e tecnológica, e inscreve-se nos estudos das políticas de formação de professores, expressas nos documentos de criação dos Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia, no escopo jurídico-institucional no âmbito do Instituto Federal do Paraná, nos editais de concursos públicos (2010-2016) e no questionário aplicado a professores selecionados por esses editais.

    Interessa-nos algumas indagações, a saber: primeiro, por que a educação profissional e tecnológica vem ganhando debate pós a LDB 9.394/1996, considerando as categorias educação e trabalho e o campo das disputas hegemônicas? A essa questão procuramos responder especialmente no Capítulo 3, em que tratamos da educação polivalente e politécnica em disputa no contexto da reestruturação produtiva, quando da análise dos Decretos nº 2.208/1997, 5.154/2004 e 8.268/2014.

    Segundo, com a institucionalização dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e a ampliação na oferta de ensino, estes têm se ocupado em atender aos interesses do trabalho ou do capital? Indagação que procuramos trabalhar no Capítulo 4, quando tratamos da criação e expansão do Instituto Federal do Paraná, das cadeias produtivas e da politecnia, na análise dos editais de concurso público.

    Terceiro, como se compõe a formação de professores para atuarem na educação profissional e tecnológica, num contexto marcado por projetos tão antagônicos entre o campo do trabalho e o campo do capital? Buscamos responder a essa questão no Capítulo 5, que trata das contribuições que os professores participantes apontam em relação aos processos formativos entre os princípios da educação polivalente e da educação politécnica.

    Desse modo, expressa-se como objetivo geral: analisar as políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica, na particularidade do Instituto Federal do Paraná, no contexto da reestruturação produtiva (2008 a 2018). Para atingirmos o propósito desta pesquisa, apresentamos como objetivos específicos: 1) explicitar as políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica contidas nos documentos institucionais; 2) analisar as políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica expressas nos editais de concursos públicos no âmbito do Instituto Federal do Paraná e 3) analisar a relação que os professores estabelecem entre a educação polivalente e politécnica no contexto do trabalho docente na educação profissional e tecnológica.

    Procuramos organizar a exposição do estudo em quatro capítulos, antecedidos de Introdução e seguidos pelas Considerações Finais, a saber:

    No primeiro capítulo, organizamos uma síntese de levantamento de estudos que trazem ao debate as políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica, sobretudo com a preocupação de observamos mais atentamente os estudos a partir da criação e expansão dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, de 2008 em diante, bem como explicitamos os pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa. Para o estudo das políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica, a fundamentação se assenta no método do materialismo histórico-dialético de Marx e Engels.

    Em seguida, no segundo capítulo, trazemos um estudo do contexto das políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica no âmbito da reestruturação produtiva nos governos de FHC (1995-2003), Lula (2003 a 2011) e Dilma (2011-2016) e os dilemas para essa esfera de formação.

    No terceiro capítulo, colocamos em pauta o estudo dos documentos reguladores no âmbito do Instituto Federal do Paraná, a iniciar com a Lei 11.892/2008; o Documento-Base da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (2008), o Plano de Desenvolvimento Institucional/IFPR (2014-2018), e demais documentos que entendemos que orientam as políticas de formação de professores em confronto com os 13 editais de concurso público para a entrada de 791 docentes entre 2010 a 2016. Desse modo, interrogamos o perfil de professores que o IFPR intencionou com esses editais, ancorados na hipótese de uma possível educação politécnica no âmbito da educação profissional e tecnológica como uma política institucional.

    Enfim, no quarto capítulo, cujo título, Perfil dos Docentes do Instituto Federal do Paraná: o que revelam os professores, resulta da análise dos dados coletados com questionários aplicados a docentes sobre o que dizem a respeito da formação que entendem necessária no âmbito da educação profissional e tecnológica.

    No capítulo seguinte, faz-se um estudo sobre as produções científicas no que tange às publicações no campo das políticas de formação de professores para a educação profissional e tecnológica e o percurso teórico-metodológico da pesquisa. Em especial, interessa apropriar o debate acerca dessas políticas para esse campo da formação de professores, circunscrito aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

    1

    O ESTÁGIO DO DEBATE ACERCA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA E O PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO DA PESQUISA

    Captar o fenômeno de determinada coisa significa indagar e descrever como a coisa em si se manifesta naquele fenômeno, e como ao mesmo tempo nele se esconde.

    (K. Kosik, 2002)

    Apresenta-se, neste capítulo, o estágio do debate acerca do campo da formação de professores para a educação profissional e tecnológica, no recorte temporal em que se assenta a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, assim como o percurso teórico-metodológico elegido para o desenvolvimento da pesquisa.

    A natureza do trabalho de revisão de literatura é explicitar o debate em torno das políticas de formação para os professores da educação profissional e tecnológica com recorte temporal de 2008 a 2018. Entendemos que, nesse recorte, materializam-se as políticas de ampliação da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica no Brasil, com a promulgação da Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que cria os 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e com isso se demandam desafios à formação docente para esse campo da educação. As políticas têm

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