O Assassino: Crónicas da Vida e da Morte
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Sobre este e-book
Quando matar é uma religião, tudo pode acontecer. Tudo, mesmo.
Um assassino de cognome O Cardeal executa vários atentados, mas a sua vida muda repentinamente quando no decurso de um é avistado por um jovem enigmático.
Adaptado da série de ficção em podcast O Assassino, O Assassino: Crónicas da Vida e da Morte é a prequela do livro O Cardeal, o 5º volume da aclamada série de thrillers psicológicos Afonso Catalão. Nele, poderá encontrar cenas inéditas e explicações adicionais, que irão ajudá-lo a compreender melhor algumas das personagens mais importantes deste universo, sem nunca perder o mistério e suspense a que Nuno Nepomuceno já nos habituou.
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O Assassino - Nuno Nepomuceno
Editor.
O Templo
Se lhe tivesse perguntado como é que chegara àquele ponto, não saberia responder-me. Dir-me-ia simplesmente que, um dia, executara a sua primeira morte.
Templo Dourado de Quioto, Japão
O assassino viu a mulher enveredar por uma passagem coberta de flores amarelas. Dava passos curtos, usava o cabelo preto apanhado num carrapito largo, vestia um quimono colorido e levava nas mãos um frasco de porcelana, branco e rubro, enquanto caminhava pela alameda natural, maravilhada pelas árvores de ginkgo que a rodeavam.
Ancestrais, os troncos ascendiam orgulhosamente até às copas frondosas, formando duas filas, uma de cada lado, que a protegiam. Os ramos estavam carregados de pétalas, que, levadas pela aragem leve que soprava, caíam sobre ela, como se fossem pirilampos, ao mesmo tempo que o Sol se punha sobre as colinas, tingindo de dourado todo o horizonte.
O assassino esperou que a mulher transpusesse o grande portão Torii e se dirigisse ao jardim que existia nas traseiras do templo. Rodeada de áceres vermelhos, envolvida pelo aroma que brotava das plantas, ela colheu algumas folhas de chá, encaminhando-se de seguida para o pavilhão de leitura, onde entrou.
O homem esperou que ela desaparecesse. Com um quimono negro, cruzado à frente, cingido por uma faixa carmesim, saiu da penumbra e começou a progredir devagar sobre a folhagem, com os sapatos a crepitarem levemente ao pisarem a ramaria.
O cabelo do assassino era encaracolado — preto, apesar da maturidade que o rosto revelava —, ondulando ao ritmo dos seus passos. O olhar, que lembrava o da argúcia de um felino antes de atacar a presa, ia focado num só ponto. À sua frente, uma estrutura de madeira flutuava sobre a água. Erguia-se em sobre paliçadas e os últimos dois pisos reluziam, refletindo a luz do sol com um brilho intenso. Revestidos a folha de ouro, aproximavam-se, à medida que ele se encaminhava, determinado, para o Pavilhão Dourado de Quioto.
O assassino entrou no átrio principal do templo. À primeira vista, o kondo pareceu-lhe vazio. Mas rapidamente tomou consciência de uma presença na varanda. Com uma estátua de Buda de um lado e, do outro, uma de Yoshimitsu, o antigo comandante shogun do outrora Japão feudal, um homem permanecia de costas, sentado, contemplando a água do lago adormecida perante ele. O mercenário levou a mão atrás, ao par de sabres que trazia consigo, e acariciou-os.
Um som acutilante cortou o ar, ao mesmo tempo que desembainhava as catanas. Bem treinado em kenjustsu, a arte de guerra praticada pelos samurais nipónicos, o assassino não hesitou. Avançou sobre ele,