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Vigiar e punir
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Vigiar e punir
E-book195 páginas2 horas

Vigiar e punir

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Sobre este e-book

Durante séculos a punição foi usada para expurgar as atividades que se contrapunham aos interesses dos dominantes. Quando Catrina Rey é chamada por Benício Valcarengue, inspetor do DEIC, à cena de um crime bárbaro para perfilar a atitude do assassino em colocar corpos em lixeiras, vestidas de morte, tudo volta a sua mente; seu passado complicado, cheio de dores. Para isso, Catrina resolve que é dentro do hospital psiquiátrico em que trabalha, onde vai encontrar suas respostas. Seguindo a ideia de que um serial killer que se baseia em 'Vigiar e Punir' de Foucault, ela estará numa jornada de mitologia e crime, com seus próprios Daemones, seus demônios socráticos vindos à tona.

IdiomaPortuguês
EditoraC. Ribeiro
Data de lançamento2 de dez. de 2018
ISBN9781370229390
Vigiar e punir
Autor

C. Ribeiro

Escrevendo romances policiais para um público infanto-juvenil, YA, e também adulto, a autora C. Ribeiro tem esse lado virtual impresso em alguns de seus livros, numa realidade que se passa dentro e fora dos computadores. C. Ribeiro escreve policiais da década de 50 e atuais, escreve suspense e terror, escreve ficção científica e fantasia além do nosso tempo e realidade.Ação e aventura adoráveis, que permeiam temas polêmicos, teorias de conspiração e mentes doentias.C. Ribeiro é uma autora que gosta de escrever personagens diversos, multiculturais, em todos os tipos de gêneros literários, permitindo que o leitor viaje pelas suas muitas histórias, conhecendo a maravilha que a literatura pode proporcionar.***********************Writing detective novels for children, YA and adults, C. Ribeiro has a virtual side imprinted in some of her books, a reality that takes place inside and outside computers.C. Ribeiro novels that takes place in the 50's and nowadays. Writes suspense, horror, science fiction and fantasy beyond our time.Also adorable action and adventure that permeate hot topics, conspiracy theories and sick minds.C. Ribeiro is an author who likes to write diverse, multicultural characters in all types of literary genres, allowing the reader to travel through her many stories, knowing the wonder that literature can provide.

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    Vigiar e punir - C. Ribeiro

    Capítulo 1

    Condomínio número 1.

    Bairro da Penha, São Paulo.

    08 de março; 09h00min.

    O condomínio onde tudo acontecia, e era assim chamado por seus moradores, estava no centro de uma grande discussão iniciada ano anterior; as lixeiras. Cuidar da coleta de lixo sempre foi um desafio para os síndicos já que muitos edifícios não tinham espaço adequado.

    Mas o que acontecia ali era um circo. Cinco carros de polícia, oito policiais designados à investigação e uma equipe de inteligência havia sido acionada, deflagrada pelo encontro de um corpo na grande lixeira do condomínio.

    Havia repórteres, câmeras, curiosos, informação desencontrada, e condôminos irritados pela localização erma das lixeiras, o que trazia animais e insetos, e também desocupados e usurários de drogas, que ali se reuniam para se drogar, visto o espaço sem monitoramento por câmeras num beco de uma rua sem saída.

    Contudo nada parecia aparentar uma desova comum já que havia um corpo de mulher, branca, de cabelos negros, entre 25 e 30 anos, maquiada e vestida para morrer, com a lixeira forrada de tecidos nobres, e seu corpo ali, numa cena montada.

    O investigador de polícia Benício Valcarengue do DEIC, Departamento Estadual de Investigações Criminais, havia sido acionado, e estava tão confuso quanto todos à sua volta, na manhã fria, após uma noite de chuvas e trovoadas.

    Benício era um jovem bonito, inteligente e bem sucedido na carreira. Com 1,90 e cabelos negros e ondulados, queixo proeminente, passava a impressão de homem forte e másculo. Formado pela Academia de Polícia Dr. Coriolano Nogueira Cobra, Polícia Civil do Estado de São Paulo, ele tinha seus predicativos, e não era só sua beleza máscula, nem seu QI, era sua perspicácia para saber que aquilo era só o começo de uma grande charada, de um corpo envolto em tecido, vestida como para uma sessão de fotos macabras.

    — O que conseguiu Doutor? — Benício se aproximou da caçamba.

    O homem que se virou para responder era o Dr. Nicolas Pascoalatto, jovem profissional da área da medicina legal, de barba negra e robusta, pele amorenada, escondendo o queixo quadrado, que dava a ele um ar malvado, que Benício sabia, não era real.

    Nicolas era gentil, um bon-vivant que amava sua profissão, a qual considerava uma mescla de medicina e jornalismo, porque o corpo morto conversava com ele sem palavras, se comunicava em suas dores e mazelas, e pedia investigação digna de um jornalista perspicaz.

    — Sabe que não vou poder lhe responder exatamente o que consegui sem fazer a necropsia — sorriu.

    Benício gostava de trabalhar com ele, já que haviam estado juntos nos últimos três casos de mortes suspeitas, uma inclusive, que havia estado na mídia.

    — Imaginei que ia me dizer que ela não entrou nessa lixeira para fazer um book.

    — Acredito que tudo é possível Benício... De qualquer forma, ela está com petequeias nos olhos e o osso hioide quebrado. E como o hioide não está articulado com nenhum outro osso, apenas suportado pelos músculos do pescoço, que suporta por sua vez a musculatura na base da língua, isso indica que foi quebrado.

    Benício pegou o caderno e começou a anotar algo.

    — Estrangulamento, enforcamento ou esganadura?

    — Sabe que a rigidez cadavérica é mais tardia no enforcamento, já que as manchas de hipóstase se apresentam na metade inferior do corpo com maior intensidade nas extremidades dos membros, surgindo também às equimoses post mortem.

    — Estrangulamento antibraquial? — continuava a anotar.

    — A experiência demonstra que embora em situações não tão raras, é possível o estrangulamento através da constrição do pescoço pela ação do braço e do antebraço conhecida como golpe de gravata, criminoso ou acidental. Mas pelas marcas ainda não posso afirmar que foi enforcamento por corda ou algum desses tecidos ao redor dela, só que há marcas avermelhadas ao redor do pescoço, que foi aberto.

    — Aberto? — Benício ficou na ponta dos pés e olhou pela primeira vez o corpo da jovem dentro da lixeira. — O que é isso no pescoço dela?

    — Sua língua.

    — Droga! — exclamou nervoso. — A garganta foi aberta antes ou depois da morte?

    — Na necropsia Benício.

    — Algo agora Doutor? — Benício ainda tentava manter algum bom humor.

    — Isso aqui está me parecendo uma tentativa de degolação, com a língua sendo puxada para fora.

    — Uma gravata colombiana? — Benício quis saber.

    E Nicolas se inclinou sob o corpo ali.

    — A gravata colombiana era um método de execução em que a garganta da vítima era cortada, e sua língua puxada através da ferida aberta. Era um método frequente na Colômbia, chamada de La Violencia, que começou em 1948.

    Benício olhou em volta:

    — A chuva de ontem contaminou o local Doutor?

    — Está tudo seco aqui dentro.

    — Hora da morte?

    — Pela temperatura do fígado dou entre meia-noite e duas da madrugada. Contudo a morte se deu por oclusão das vias aéreas ou obstrução da circulação das carótidas — completou o Dr. Nicolas.

    — Por que ele a enforcaria e depois puxaria sua língua para fora?

    — Está me perguntando ou falando com seu bloco de notas?

    Benício parou de escrever sem responder voltando a se erguer na ponta dos pés e observar o corpo e tecidos sob ele.

    — Vou pedir a perícia para recolher com cuidado todo tecido embaixo do corpo — Benício olhou em volta a confusão armada. — Local ermo, sem vigilância de câmeras, frequentada por meliantes, na calada da noite; parece que o assassino sabia que desovar alguém aqui seria o ideal.

    — Não está mesmo acreditando que ela veio fotografar e algo saiu errado?

    — Acha que ela ia ser fotografada sendo enforcada nesse meio de tecidos Doutor? E algo deu errado ao ponto de lhe arrancarem a língua?

    — Não sei nada... Talvez suas questões devam ser levadas a ela?

    — Catrina?

    — Estão namorando, não?

    — Sim... Mas... Catrina disse que não ia mais se envolver com casos policiais.

    — Ela se envolve com coisa muito pior dentro do Démission.

    — Trabalhar num hospício teria me enlouquecido... — Benício riu da própria piada.

    — Ela enlouqueceu?

    — Não! Mas acho que está me enlouquecendo — voltou a rir. — Não! Decididamente Catrina não vai querer se envolver nisso. Não depois de tudo que aconteceu ano passado.

    — Perder uma irmã não é um processo fácil. Mas talvez possam conversar sobre isso entre uma garrafa de vinho e outra? — Nicolas sorriu misterioso.

    — Aonde quer chegar Doutor?

    — Vai me dizer que Catrina não vai gostar de entender essa charada? — sorriu Nicolas.

    — Hei? É Dra. Catrina, ok?

    — Não vem com essa de ciúme para cima de mim, Benício. Estudei com Catrina muito tempo para chamá-la assim.

    E Benício se deu um tempo.

    — De qualquer forma só posso pedir avalição a um profiling se atender a certos critérios; crime violento, ausência de vestígios forenses ou de vestígios forenses conclusivos, criminoso apresentar alguma forma de psicopatologia, e se todas as pistas de investigação já foram exaustivamente analisadas e acabarem inconclusivas.

    — E tudo isso não está aqui?

    — Depois da primeira investigação Doutor.

    — Já disse Benício, entre uma garrafa de vinho e outra... — e o Doutor Nicolas recolheu algo debaixo do corpo que levantou e parou vendo algo estranho.

    — O que houve?

    — A importância dos livores cadavéricos nas perícias de local de crime.

    — Não entendi.

    — Acho que tem razão. Após a morte o sangue pela ação da gravidade vai se depositar nas áreas de declive de acordo com a posição do cadáver e não isso aqui.

    — Isso denota que esse não é o cenário primário do crime? — Benício olhou em volta.

    — Não. Ela foi trazida para cá e isso tudo encenado. Veja... — o Dr. Nicolas apontou, e viu o investigador Benício ficar na ponta dos pés outra vez para enxergar dentro da lixeira. —, o corpo que permanece numa determinada posição durante mais de 12 horas, mesmo que se desloque o corpo, deixa as manchas permanecerem no local da situação anterior.

    — Mais de 12 horas? Mas a temperatura do fígado está mostrando algo diferente?

    — Divergente não diferente. A necropsia vai me dar mais embasamento para entender a disparidade de tempo.

    — Droga!

    — Depois da necropsia vou poder dar uma resposta mais precisa, mas as áreas mais claras denotam onde o sangue não pôde se acumular em função da compressão dos vasos, pela posição que o corpo estava apoiado — apontou. — Essas manchas são importantes para a estimativa do tempo de morte e para o estudo da posição em que permaneceu o cadáver.

    — Droga! — Benício voltou a praguejar. — Algo mais? Ela está pálida.

    — Órgãos pálidos revelam hemorragia, pois a irrigação sanguínea foi comprometida. De qualquer forma, me parece que há excesso de maquiagem nos membros que estão endurecidos.

    — Endurecidos?

    — Depois de lavada dou um parecer melhor.

    — Está bem! Passo à tarde no IML.

    — Não acredito que vou conseguir algo até à tarde.

    — Acredite Doutor, se isso cair na mídia vão ter problemas.

    — Então mexa seus pauzinhos e consiga um auxiliar de necropsia extra.

    — Vou ver o que consigo.

    — Então mexa mais pauzinhos e consiga um parecer de Lívia Aranha.

    — Fala daquela bióloga famosa?

    — Falo da entomóloga famosa sim.

    — E por que precisa de um parecer dela?

    — Olhe em volta... — Nicolas fez um movimento circular com a mão. —, mais de doze horas de morte, fígado indicando dez, uma garganta aberta, uma língua exposta, e nenhum único inseto na lixeira.

    — Droga! — e Benício se afastou da lixeira para encontrar o policial Élcio Takawada, um policial de 35 anos, que iniciou cedo na carreira. — O que temos aqui Élcio?

    O jovem que se virou para responder era de estatura mediana, olhos asiáticos e cabelos negros e lisos. Tinha um sorriso metálico, pelo aparelho tardio nos dentes. Sua face séria, que não transmitia muitas informações, vinha destacando sua inteligência dentro do DEIC.

    — Muita reclamação pelo local escolhido para a lixeira, alguns BO por isso, muitos meliantes dormindo e aprontando aqui, mas ninguém viu ou ouviu uma mulher gritar ou ser morta.

    — Ela não foi morta aqui.

    — Isso só complica.

    — Nenhuma câmera na entrada da rua? — Benício olhou em volta.

    — É uma ruela sem saída.

    — Nenhum morador olhando pela janela? — Benício olhou para o alto.

    — Não!

    — Quem a encontrou?

    — O síndico foi avisado pelo porteiro da manhã, que trocara de turno com o porteiro da noite, que viram dois elementos suspeitos correndo, abandonando a área das lixeiras. O síndico chamou a polícia e encontramos aquilo.

    — ‘Aquilo’ era alguém Élcio.

    — Que o assassino fez questão de destruir.

    E o silêncio de Benício.

    — Descubra quem eram os dois suspeitos. Provável, os porteiros conhecem quem entra e sai das lixeiras.

    — Acha que aqueles meliantes viram algo?

    — Se viram não vão falar Élcio. Não facilmente. Por isso procure mais, algo que os faça ter medo da polícia e os convença a falar — Benício bateu a perna para espantar o frio. — Câmeras de trânsito e de lojas?

    — Vou verificar. Mas os prédios e comércio ficam longe uns dos outros nessa área, não há entrada de garagens, e aqui é uma rua sem saída. Não vejo por que olhariam para cá.

    — Nos dias de hoje e nenhum celular fotografou nada aqui?

    — Deve haver, mas ninguém se prontificou a ajudar.

    — Normal.

    — Sim. Normal.

    — Leve tudo o que a perícia conseguir encontrar, e estenda o perímetro até a próxima rua. Veja tocos de

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