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Os Dez Mais do Fluminense
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E-book235 páginas2 horas

Os Dez Mais do Fluminense

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Sobre este e-book

Os dez mais do Fluminense, escrito pelo jornalista Roberto Sander, é uma deliciosa viagem pela história do clube através das biografias de alguns dos maiores craques tricolores. O livro faz parte da Coleção Ídolos Imortais e os jogadores focalizados são: Marcos Carneiro de Mendonça, Romeu, Orlando Pingo de Ouro, Castilho, Pinheiro, Telê, Valdo, Félix, Rivellino e Assis. Eles foram escolhidos a partir de uma enquete feita entre jornalistas como, entre outros, Nelson Rodrigues, filho, Teixeira Heizer e João Máximo. O livro é ilustrado com dezenas de fotografias e muitas caricaturas. São 184 páginas de muitos causos a respeito de quem mais ajudou o Fluminense a se transformar no mais tradicional clube brasileiro. É uma obra que não pode faltar na estante de nenhum tricolor.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de abr. de 2021
ISBN9781393457152
Os Dez Mais do Fluminense

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    Os Dez Mais do Fluminense - Roberto Sander

    "Encontrei no Fluminense aquele ambiente

    que procurava na vida, ou seja, o prolongamento

    da minha família."

    A lenda

    Nos últimos anos de sua longa vida, Marcos Carneiro de Mendonça dizia que, quando bem jovem, chegou a cruzar algumas vezes com Machado de Assis, o Bruxo do Cosme Velho, autor de Dom Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas, entre outros grandes clássicos da literatura brasileira. O destino quis que, depois de abandonar o futebol, prematuramente, aos 24 anos, Marcos também se tornasse uma espécie de bruxo do mesmo bairro onde residiu o nosso Pelé das letras.

    Foi o que aconteceu quando o goleiro do Fluminense se mudou, já nos anos 40, com a esposa, a poetisa Anna Amélia, para o Solar dos Abacaxis, um casarão de arquitetura neoclássica, de dez quartos, cinco salões, biblioteca, porão, sótão, jardins e uma grandiosa área verde, disposta aos pés do morro do Corcovado. São 5.600 metros quadrados de terreno, 1.200 de área construída (hoje tombada pelo Estado) e muita história.

    Erguido em 1843 pelo comendador Borges da Costa, bisavô de Anna Amélia, o Solar recebeu, por várias décadas, a fina flor da intelectualidade brasileira. Marcos e Anna eram grandes anfitriões, um casal sintonizado com o seu tempo. Nas festas e saraus que promoviam, eram vistas, por exemplo, personalidades como o poeta Carlos Drummond de Andrade, o ministro Oswaldo Aranha, o presidente Eurico Gaspar Dutra, o acadêmico Austregésilo de Athayde, o ator Paulo Autran e a atriz Fernanda Montenegro.

    Até Vivian Leigh, estrela de E o vento levou, quando visitou o Brasil nos anos 60, contemplou os relevos que adornam o teto do salão principal, semelhantes aos do Palácio Rio Negro, em Petrópolis, suntuosa residência presidencial de verão na época em que o Rio ainda era a capital da República. Vivian certamente se impressionou também com a beleza da mobília de jantar, produzida no século XIX, na Rússia Czarista.

    O bom gosto estava impregnado em cada peça, nos mínimos detalhes do casarão dos Carneiro de Mendonça. Isso parece que exercia um certo fascínio entre os mais abastados. Foi no Solar dos Abacaxis que o magnata das comunicações, o jornalista Assis Chateaubriand, festejou a aquisição do primeiro quadro de Paul Cézanne para o Museu de Arte de São Paulo (MASP): A casa vivia cheia, era muito democrática e virou uma referência da cultura da época, conta a crítica teatral Barbara Heliodora, uma das filhas de Marcos Carneiro de Mendonça e Anna Amélia.

    O casal era tão respeitado que quando começaram as obras do túnel Rebouças, que passaria a ligar a Zona Norte à Zona Sul da cidade, o governador Carlos Lacerda, amigo da família, segundo Helen Pessoa, neta de Marcos e Anna, veio até aqui alertar para as explosões que poderiam danificar os pratos blasonados expostos na sala de visitas.

    Foi nesse ambiente que Marcos viveu. Foi nesse ambiente que ele montou uma biblioteca de 11 mil volumes – hoje de posse da Academia Brasileira de Letras – e desenvolveu seu trabalho de historiador, o que não o impediu de manter acesa a chama da paixão pelo clube que defendeu por nove anos. Foi dessa forma que ele se tornou, definitivamente, um mito tricolor, símbolo de uma espécie de nobreza que caracteriza até hoje muitos dos que trazem no peito o orgulho de torcer pelo clube tantas vezes campeão.

    A trajetória até as Laranjeiras. Marcos Carneiro de Mendonça é filho de uma tradicional família mineira. Nasceu em Cataguases, em 19 de outubro de 1896. Veio para o Rio de Janeiro bem pequeno e foi morar com os pais e irmãos em uma casa na rua do Bispo, 16, na divisa dos bairros do Rio Comprido e da Tijuca.

    Em 1902, com apenas seis anos de idade, surgiriam grandes dificuldades. Na época, o Rio foi acometido por uma violenta epidemia de febre amarela. Morreram a prima-irmã e a avó materna de Marcos.

    O menino não ficou incólume. Foi também contagiado e chegou a ficar entre a vida e a morte. Além disso, teve graves problemas intestinais, um pleuris e arritmia cardíaca. Foi salvo pela dedicação do médico Pedro de Almeida Magalhães, que cuidou do garoto como fosse seu filho. Marcos passou seis meses em Petrópolis se recuperando e, devido à sua fragilidade, era proibido de fazer qualquer esforço maior.

    Inquieto, porém, Marcos, àquela altura com seus 10 anos, andava empolgado por um esporte que, aos poucos, se tornaria uma saudável febre entre os jovens daquele início de século cheio de novidades. O Rio de Janeiro, administrado pelo prefeito Pereira Passos, passava por uma radical reforma urbanística, e, ao mesmo tempo, o futebol se disseminava rapidamente pela cidade. Já havia, inclusive, um campeonato carioca sendo disputado, e Marcos, a partir de então, virou figurinha fácil nos jogos do América no campinho da rua São Francisco Xavier.

    Como sabia que não tinha saúde para jogar na linha, onde seria mais exigido fisicamente, Marcos passou a observar atentamente como atuavam os chamados goal-keepers. Aos 15 anos, escondido do pai, já treinava no Haddock Lobo e, num certo jogo em que o titular Aires Barroso não apareceu por causa de uma viagem aos Estados Unidos, foi convocado às pressas para ocupar a posição. A derrota para o Fluminense, o campeão da cidade, não impediu que a estrela de Marcos Carneiro de Mendonça começasse a brilhar. No dia seguinte, Neto Machado, conceituado repórter esportivo do jornal A Notícia, escrevia uma crônica com rasgados elogios ao rapaz que enfrentara sem medo e com grandes defesas o melhor time do Rio de Janeiro.

    Em 1911, já no América, Marcos alcançou a posição de titular quando o goleiro Alvarenga foi defender o Botafogo. E foi justamente num jogo com o Alvinegro, já chamado de Glorioso pelo famoso título de 1910, no campo do largo dos Leões, que Marcos ratificou a sua condição de revelação precoce. Era o marco da carreira de um dos maiores ícones do futebol brasileiro:

    Image_037

    Marcos posa à frente do time tricampeão carioca. Tempos em que a paixão pelo  clube falava mais alto. Nos anos 40, ele se tornou presidente do Fluminense

    Os jornais publicaram que este jogo serviu para a apresentação ‘do extraordinário goal-keeper do América, que jogou por vezes sozinho contra o ataque do campeão de 1910’. Com meus 16 anos e meio era a consagração, relatou Marcos Carneiro de Mendonça em entrevista ao jornalista José Rezende, realizada em 1984.

    O goleiro passou a ser um sucesso. Impressionava pelo seu 1,87 m, o senso de colocação, o comportamento elegante e o ar imperial, que, entretanto, não passava qualquer arrogância. Ao contrário: era bastante educado e se dirigia aos adversários de forma extremamente respeitosa. Foram justamente essas características da sua personalidade que o levaram ao Fluminense.

    Apesar do título de campeão carioca pelo time rubro em 1913 (participou de todos os jogos da campanha de 12 vitórias e três derrotas), Marcos não andava nada satisfeito com a filosofia de trabalho que predominava no América. Líder do time, o center-half Belfort, segundo Marcos, estimulava os companheiros a tratar os oponentes como inimigos, o que, em alguns casos, transformava as partidas em autênticas batalhas. Aquela atmosfera beligerante não combinava com o temperamento do cordato arqueiro, que, naquela ocasião, acabara de conhecer Anna Amélia, que representava a antítese do que Marcos estava vivendo no clube. O encontro do goleiro com Anna foi amor à primeira vista:

    "Num certo jogo, levei duas primas ao campo. Ao final, elas me disseram que viram duas moças torcendo muito por mim, uma delas muito bonita. Semanas depois levei novamente minhas primas comigo. Quando fui apanhá-las, vi que elas haviam feito amizade com uma daquelas moças. Era Anna Amélia de Queirós, poetisa, já falando, aos 16 anos, francês, inglês e alemão. Além disso, conhecia profundamente literatura.

    Quando publicou o primeiro livro, aos 11 anos, o João do Rio (grande cronista da época) escreveu que aqueles versos não podiam ser de uma criança. Se fossem, ela se tratava de um Shelley tropical de saias. Ele se referia a um dos maiores poetas da língua inglesa. O namoro não demorou a acontecer", relembrou Marcos, já viúvo, aos 90 anos.

    Com esse referencial, Marcos não podia mesmo se adaptar à rotina de hostilidades imposta em Campos Sales. Outros atletas também não se sentiam à vontade. Daí para uma dissidência foi um passo. Um passo que fez com que o Tricolor das Laranjeiras iniciasse a sua saga de possuir grandes goleiros.

    Nascia o mito. No dia 29 de março de 1914, Marcos Carneiro de Mendonça faria a sua estreia pelo Fluminense. Vitória tranquila: 3 a 0 sobre o São Cristóvão, nas Laranjeiras. Melhor que isso foi a presença marcante de Marcos com sua indumentária revolucionária: calção e camisas brancas, o escudo do clube ao peito e, na falta de um cinto, uma fita roxa amarrada à cintura, que acabou sendo adotada.

    As moçoilas de boa família que frequentavam as sociais do Fluminense, num contínuo suspiro, estremeceram. O goleiro passava a ser alvo não só dos potentes chutes adversários, mas também dos mais diversos olhares femininos. Embora já estivesse irremediavelmente apaixonado por Anna Amélia, aquilo, obviamente, levava seu ego às alturas. Não havia como o goleiro não se sentir em casa: Encontrei no Fluminense aquele ambiente que procurava na vida, ou seja, o prolongamento da minha família, recordou o goleiro.

    O fato é que os corações tricolores estavam irreversivelmente conquistados. Com seus traços finos e as boas maneiras, Marcos era a cara do Fluminense. E o Fluminense, fundado pela alta sociedade carioca, era a cara de Marcos. O rapaz esguio, de fino trato, com apenas 18 anos, simbolizava, como ninguém, a aristocrática agremiação da rua Álvaro Chaves.

    Melhor ainda do que isso eram as atuações impecáveis. Sua sobriedade e senso de colocação o faziam terminar os jogos com o uniforme alvo praticamente intacto. Portanto, quando foi criada, em 8 de junho de 1914, a Federação Brasileira de Sports, embrião da futura Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e pensou-se em realizar um primeiro jogo oficial da Seleção Brasileira, não se teve qualquer dúvida de quem seria o nosso número 1, embora na época ele ainda não estivesse gravado nas camisas.

    Marcos é, até hoje, o mais jovem goleiro a disputar uma partida como titular da Seleção Brasileira. Antes de completar 19 anos, ele defenderia o Brasil no jogo histórico com o Exeter City da Inglaterra. Vitória por 2 a 0 no gramado das Laranjeiras, o palco maior de suas grandes exibições.

    As conquistas pelo Tricolor. Apesar de todo reconhecimento, os títulos pelo Fluminense ainda demorariam um pouco. Só no quarto Campeonato Carioca defendendo o clube é que foi dado o grito de campeão. Depois do bi do Flamengo em 1914-15 e da conquista do ex-clube América, em 1916, liderado por Marcos Carneiro de Mendonça e pelo artilheiro inglês Harry Welfare, o Tricolor estabeleceria uma primazia no futebol do Rio que se estenderia por três

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