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100 Anos de Bola Raça e Paixão
100 Anos de Bola Raça e Paixão
100 Anos de Bola Raça e Paixão
E-book540 páginas5 horas

100 Anos de Bola Raça e Paixão

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Sobre este e-book

Com o lançamento de "100 anos de bola, raça e paixão", o torcedor rubro-negro tem em mãos o mais completo documento já publicado sobre o futebol do Flamengo. Nessa edição comemorativa, como diz o escritor rubro-negro Ruy Castro no texto de quarta capa, os autores Paschoal Ambrósio Filho (autor também dos livros Pentatri e 6 x Mengão), Arturo Vaz e Celso Júnior "vão aos documentos e tiram tudo a limpo". Ou seja, reúnem, numa só obra, toda a trajetória de vitórias do Flamengo nos gramados do mundo inteiro. Nos capítulos, divididos em décadas, o leitor se deliciará com o trabalho minucioso e detalhado executado pelos autores. Nada escapou e o resultado é um banho de informações. Além disso, trata-se de um livro luxuoso (todo colorido e em papel couchet) e rico em imagens: são mais de uma centena de fotos, desenhos com reproduções de gols históricos e símbolos do clube mais querido do Brasil. De quebra, o livro ainda traz a lista dos cem maiores ídolos e cem maiores jogos nesse primeiro século de glórias.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de abr. de 2021
ISBN9781393093763
100 Anos de Bola Raça e Paixão

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    100 Anos de Bola Raça e Paixão - Paschoal Ambrósio Filho

    Copyright © Arturo Vaz, Celso Júnior e Paschoal Ambrósio Filho, 2012

    Todos os direitos desta edição reservados à Maquinária Editora. 

    Rua Olegarinha, 47 – Grajaú

    Rio de Janeiro, RJ – CEP 20560-200 

    www.maquinariaeditora.com.br 

    contato@maquinariaeditora.com.br

    Proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo

    Coordenação editorial

    Roberto Sander

    Preparação de originais

    Gratia Domingues

    Revisão

    Adriana Giglio

    Projeto Gráfico e Diagramação

    Simone Oliveira

    Capa

    Julio Galhardi

    Tratamento de imagens

    Júlio Navarro

    Livro Digital

    Obliq

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE 

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    A531c

    Ambrósio Filho, Paschoal, 1958-

    100 anos de bola, raça e paixão / Paschoal Ambrósio Filho, Arturo Vaz, Celso Júnior. – Rio de Janeiro : Maquinária, 2012.

    320p. : il. ; 23 cm

    Inclui bibliografia e índice 

    ISBN 978-85-62063-75-6

    1. Clube de Regatas Flamengo – História. 2. Clubes de Futebol – Rio de Janeiro (Estado) – História. 3. Futebol – Jogos – História. I. Vaz, Arturo, 1963-. II. Celso Júnior, 1973-. III. Título. IV. Título: Cem anos de raça, bola e paixão.

    12-7546.

    CDD: 796.3340981531

    CDU: 796.332(815.31)

    17.10.12 19.10.12

    039667

    SUMÁRIO

    100 anos passam rápido

    Glória eterna

    Clube dos 100 anos

    Uma história conhecida por muitos, talvez compreendida por poucos

    1895 a 1910 – As primeiras remadas

    1911 a 1919 – Os primeiros chutes, as primeiras taças

    1920 a 1929 – Mais títulos e muita irreverência

    1930 a 1939 – Mais perto do povo com Domingos e Leônidas

    1940 a 1949 – O primeiro tri e o esplendor de Zizinho

    1950 a 1959 – O segundo tri e a Era Dida

    1960 a 1969 – Nos anos difíceis, germina a semente do maior ídolo

    1970 a 1979 – Fabricando craques

    1980 a 1989 – A melhor década de nossas vidas

    1990 a 1999 – Vivendo sem Zico e ganhando um Maestro

    2000 a 2012 – Sempre Flamengo

    100 maiores ídolos

    100 grandes jogos

    100 ANOS PASSAM RÁPIDO

    Arthur Muhlenberg

    Me desculpem o cliché, mas parece mesmo que foi ontem. Os rapazes Baena, Píndaro, Nery, Curiol, Gilberto, Galo, Baiano, Arnaldo, Amarante, Gustavo e Borgerth entraram contritos no ground do América, em Campos Salles. Era o jogo contra o Mangueira, aquele da fábrica de chapéus.

    Poucos perceberam na hora, mas era também a estreia mundial do Flamengo no universo do futebol, pela porta do já charmoso Campeonato Carioca. Imaginem a responsabilidade daqueles rapazes. Eles só tinham uma singela missão a cumprir: parir o Flamengo! Que tremendos heróis!

    É preciso estar de pé para escrever os onze nomes dos guerreiros ancestrais que pisaram no gramado do estádio Campos Sales envergando a mítica Papagaio-de-vintém e iniciaram a era de ouro do futebol mundial, a luminosa Era Flamengo sob a qual vivemos. Quem ali presente ousaria então vaticinar que a impiedosa goleada de 15 a 2 imposta ao também rubro-negro Mangueira mudaria o mundo tão radicalmente?

    A lembrança centenária de nosso parto hoje é esparsa, esmaecida e controversa. Discute-se desde o horário em que teria se realizado o match até o placar final. Claro que a comemoração de tão importante efeméride, que seria algo simples em qualquer clube, no Flamengo foi motivo para grande cisma filosófica. Existem duas correntes de pensamento distintas em relação ao tema.

    Uma dessas correntes insiste em que não há mais nada para se comemorar, porque o centenário do nosso futebol deveria ter sido comemorado em 24 de dezembro de 2011, quando se completaram 100 anos da fundação formal do departamento de futebol do, até então exclusivamente dedicado às regatas, Flamengo. Alegam os seguidores dessa corrente historiográfica que os aniversários se comemoram no dia em que os bebês nascem e não no dia em que dão seus primeiros passos.

    E como que para colocar uma pedra sobre o assunto, os defensores do centenário 2011 costumam atacar pesado, brandindo como se fosse um porrete as palavras do vate tricolor Nélson Rodrigues:

    Pois bem. Foi em 1911, tempo dos cabelos compridos e dos espartilhos, das valsas em primeira audição e do busto unilateral de Mata-Hari, que nasceu o Flamengo. Em tempo retifico: — nasceu a seção terrestre do Flamengo. De fato, o clube de regatas já existia, já começava a tecer a sua camoniana tradição náutica. Em 1911, aconteceu uma briga no Fluminense. Discute daqui, dali, e é possível que tenha havido tapa, nome feio, o diabo. Conclusão: — cindiu-se o Fluminense e a dissidência, ainda esbravejante, ainda ululante, foi fundar, no Flamengo de regatas, o Flamengo de futebol.

    Não é um bom costume ir contra o que foi dito à sombra das chuteiras imortais, mas comemorar o centenário em 2011 seria como comemorar o aniversário do seu filho não no dia em que ele nasceu, nem mesmo no dia em que o pimpolho foi registrado, ou no dia em que foi concebido, mas no dia em que você brigou com a última namorada que você teve antes de conhecer sua esposa.

    Sou daqueles que defendem a ideia de que o futebol do Flamengo nasceu efetivamente apenas na data do seu primeiro jogo oficial. Logo, a comemoração só poderia se dar no dia 3 de maio de 2012, exatamente 100 anos após a goleada de 16 a 2 ou 15 a 2 , ó céus! no Mangueira. Eu tenho duas filhas e posso afiançar que os aniversários se comemoram na data em que os bebês vêm ao mundo e não no dia em que o espermatozoide penetrou o óvulo.

    Das primícias flamengas, o livro 100 anos de bola, raça e paixão avança com rigor histórico pelos tempos rubro-negros relacionando, indicando e apontando tantos ídolos, tantos heróis e mártires que seria até deselegante citá-los nominalmente. Acreditem, o nosso centenário provoca, excita e, no mais das vezes, nos leva ao êxtase.

    GLÓRIA ETERNA

    Roberto Assaf

    O Flamengo surgiu em 1895 como clube de regatas. Mas o futebol é que lhe deu efetivamente a imensa popularidade que desfruta nos dias de hoje. O chamado Depar-

    tamento de Desportos Terrestres rubro-negro foi criado em 1911. O primeiro jogo do time, no entanto, só aconteceu em 1912. Logo, seria fundamental que os seus admiradores, no Brasil e no exterior, pudessem ganhar um documento capaz de comemorar esses 100 anos bola rolando. Pois foi o que Maquinária Editora tratou de fazer, reunindo numa obra de luxo, fartamente ilustrada, a trajetória desse século de conquistas que levou o clube a formar a maior torcida do país, com cerca de 40 milhões de seguidores.

    Os autores ressaltam que não houve em nenhum momento a preocupação de exaltar dirigentes e nem de se posicionar politicamente, mas tão somente a de evitar que esse centenário passasse em branco. Nesse autêntico compêndio, as novas gerações poderão entender as razões dessa paixão que supera divisas e fronteiras, e os mais veteranos terão mais oportunidade de relembrar as jornadas heroicas e infinitas, que vão do bicampeonato carioca obtido em 1914 / 15, até os dias atuais.

    Na realidade, quando os craques do Flamengo começaram a chutar as bolas, naquele início do século XX, o turfe e o remo ainda ocupavam maiores espaços nas páginas dos jornais. Mas hoje pode se ter a certeza que o crescimento do clube, com espetáculos de gala nos gramados e nas dependências dos estádios, ajudou sobremodo a incluir o futebol no processo de desenvolvimento do esporte como atividade física e entretenimento, pedindo licença para integrar definitivamente a vida social da cidade e do próprio país.

    Uma lástima que a turma dos primeiros anos já não possa colaborar de viva voz com depoimentos e imagens. No entanto, a memória do clube foi sendo preservada, como será possível observar nesta obra, que conta a história, entre outras façanhas, de um título mundial, outro sul-americano, seis brasileiros e 32 campeonatos do Rio de Janeiro, além, é claro, do registro dos craques extraordinários, nativos e estrangeiros, que vestiram o que a torcida costuma chamar de Manto Sagrado.

    A brilhante trajetória fala dos tempos românticos do amadorismo, da chegada do profissionalismo, do surgimento do Maracanã, passando pelo Popeye, engolindo o espinafre que o torna invencível, até o Urubu, antes pejorativo, mas que nas últimas cinco décadas voou com seu espírito de gavião por cima dos adversários. Pois tome fôlego e inicie logo a leitura dessa verdadeira bíblia do clube mais querido do Brasil.

    Quisera ser imortal para viver a glória eterna do Flamengo.

    CLUBE DOS 100 ANOS

    Flamenguistas que ajudaram a viabilizar a edição deste documento histórico

    Alexandre Corrêa Tavares 

    Amin Alves Murad

    André Mendes Fikota 

    Annelize Carvalho da Luz 

    Antônio Costa Barroso 

    Arthur Muhlenberg 

    Arturo Costa Vaz Vaqueiro

    Camila Traverssa Muhlenberg 

    Carolina Pracownik

    Cecília Mendes

    Cesar Roberto Couri Albanese 

    Christian Miguel dos S. Abud 

    Claudio Pracownik

    Dario Leite

    Eduardo Costa Vaz Vaqueiro 

    Eduardo Vinicius de Souza 

    Eliane Luiz da Silva

    Emilia Traverssa Muhlenberg 

    Evandro Luiz Gevú da Silva Junior 

    Fabio Andre Dias Azevedo

    Fabio Girão 

    Gualter Salles

    Gustavo Bezerra Silva 

    Hamilton Bigode

    Ivan F. C. Guimarães 

    Jandira Alves da Costa 

    João Henrique Areias 

    João Pedro Cordeiro Leite

    João Pedro Guéron Barroso

    João Simões 

    João Victor Issler

    Lavínia Sobral do Couto de Assumpção 

    Leonardo Ambrósio

    Leonardo Mattos Duarte

    Luiz Henrique Fonte Nova de Assumpção 

    Marcel de Queiroz Pereira

    Marcelo Ambrósio

    Marcelo Carvalho Ambrósio Marcelo Ferraz

    Marco Aurélio Pires Ambrósio 

    Marcos del Castilho Barroso 

    Marcos Eduardo Neves

    Maria Eduarda Albanese Marques 

    Maria Luiza Araújo Ferreira Silva 

    Mariana Calado Costa

    Matheus Cario Ambrósio 

    Mauro Jorge Cunha Chaves 

    Patrícia Miranda

    Pedro Miguel Machado Ferreira Muhlenberg 

    Renata Victor Cordeiro

    Renato Belém Bastos Roberto Assaf

    Tainá Baptista Tavares 

    Thiago Mattos Duarte

    Tiago Antunes Gonçalves Ambrósio 

    Vera Lúcia Almeida Costa Vaqueiro 

    Vitor Jardim Barroso

    Yago Carvalho da Luz Costa

    FLAMENGO

    Uma história conhecida por muitos, talvez compreendida por poucos

    Conta-se que, em meados da década de 1960, Fadel Fadel, então presidente do Flamengo, estava se dirigindo ao estacionamento do Maracanã, após mais um jogo, quando foi abordado por um homem muito simples, com uma desbotada camisa rubro-negra. Simpático, como sempre, o dirigente parou para escutá-lo.

    — Seu Fadel, me desculpe, mas gostaria de falar uma coisa. O senhor é um homem bem-sucedido em seus negócios, tem uma boa família, uma casa própria e um belo carro... Eu poderia lhe fazer um pedido?

    — O presidente ficou meio sem graça e já ameaçava colocar a mão no bolso, acreditando que, com aquela abordagem, o torcedor iria lhe pedir dinheiro. Mas o homem prosseguiu:

    Por favor, seu Fadel, cuide muito bem do Flamengo, tá? O senhor tem tudo na vida, mas eu... só tenho o Flamengo...

    Se essa história é verdadeira ou faz parte do vasto folclore que envolve um clube da grandeza do Flamengo não interessa. O que vale é que seu conteúdo é bem verdadeiro. Quem não é flamenguista não tem a menor ideia do que é isso.

    Para boa parte da imensa Nação Rubro-Negra, o nosso time de futebol é a única paixão, a única alegria verdadeira que existe. Durante um século, os torcedores do Flamengo se acostumaram a ver:

    A raça de Almir Pernambuquinho, Doval e Rondinelli.

    Os dribles mágicos de Zizinho, Adílio e Júlio César Uri Geller. A dedicação de Bria, Dequinha e Liminha.

    A categoria de Domingos da Guia, Leandro e Júnior. Os gols de Leônidas, Dida e Zico.

    As defesas de Amado, Garcia e Raul.

    Os cruzamentos de Babá, Toninho Baiano e Leonardo Moura. A eficiência de Nonô, Evaristo e Andrade.

    E durante o próximo século, queremos ver outros Carlinhos, Renato Gaúcho, Petkovic, Candiota, Píndaro, Valido, Mozer, Bebeto, Jarbas, Cantarele, Gérson, Dionísio, Jordan, Índio, Riemer, Zagallo, Tita, Yustrich, Pavão... Melhor parar por aqui, pois a lista seria interminável.

    Que todos os jogadores que venham a vestir o Manto Sagrado, tenham humildade e saibam no mínimo honrá-lo e respeitá-lo.

    Que todos os dirigentes cuidem bem do Flamengo, sem vaidades e sem conchavos, que tanto prejudicam o clube.

    E que todos os torcedores continuem vibrando e defendendo o vermelho e o preto, as cores do povo. Afinal de contas, ser Flamengo é a nossa maior felicidade.

    016

    Primeiro o azul e dourado, cores escolhidas para homenagear a baía da Guanabara e o ouro brasileiro. Depois o preto e vermelho. Foi assim mesmo. Tudo era difícil. Não tinha jeito. As cores tiveram que ser trocadas porque os jovens do Grupo de Regatas do Flamengo não eram ricos, não pertenciam à elite aristocrática do Rio de Janeiro do final do século XIX, em pleno início da era republicana brasileira. O tecido dourado era caro demais, importado da Inglaterra e desbotava rapidamente, fazendo com que os remadores sempre fossem obrigados a trocar os uniformes maltratados pelo sol e pela maresia. Talvez eles não soubessem, mas tinham escolhido as cores do povo.

    E se não tinham dinheiro, porque decidiram fundar um grupo de regatas? O motivo foi simplista, como tudo na juventude: se Botafogo, Icaraí e Gragoatá tinham seus clubes, porque a rapaziada do Flamengo não poderia? Afinal de contas, naquela época, quase tudo girava em torno da baía da Guanabara, vizinha íntima daquela turma de remadores. O remo era o esporte mais popular, seguido pelo turfe. Nos fins de semana, que tristeza, os cariocas só tinham duas opções de programas esportivos: as regatas da baía e as corridas de cavalos do Jockey da Mangueira, no mesmo local onde acabou sendo construído o estádio do Maracanã.

    Antes mesmo de pensarem em constituir qualquer clube, os remadores do bairro já haviam feito uma vaquinha e comprado um velho barco de cinco remos, o Pherusa. O trabalho de reforma foi confiado a um armador da praia de Maria Angu, em Ramos.

    No dia 6 de outubro de 1895, ansiosos, os jovens foram buscar a baleeira, novinha em folha. Embarcaram e tomaram o rumo da praia do Flamengo. No meio do caminho, uma tempestade virou a embarcação e os náufragos se seguraram nela para não se afogarem. Semidestruído, o Pherusa voltou para o estaleiro. Acabou sendo roubado e nunca mais foi encontrado. Foi o primeiro dos muitos momentos de raça e superação, que iria marcar a história dos flamenguistas.

    Idealista, José Agostinho Pereira da Cunha, então, sugeriu criar-se uma agremiação de remo no bairro. No dia 17 de novembro do mesmo ano, um domingo, no casarão da praia do Flamengo, n° 22, onde morava Nestor de Barros, reuniram-se, além do anfitrião e de Agostinho, Napoleão Coelho de Oliveira, Eduardo Sardinha, Carlos Sardinha, Desidério Guimarães, Maurício Rodrigues Pereira, George Leuzinger, Augusto Lopes da Silveira, José Augusto Chalréu, João de Almeida Lustosa, Mário Spíndola, José Maria Leitão da Cunha, Felisberto Laport, Lucci Collás e José Félix da Cunha Meneses.

    Passando pela casa e ouvindo o burburinho empolgado dos remadores, o guarda-marinha Domingos Marques de Azevedo ficou curioso, acabou entrando e participando, meio que sem querer, da fundação do Grupo de Regatas do Flamengo, sendo eleito seu primeiro presidente. A turma não era boba, afinal de contas, sendo um militar, Domingos com certeza iria fazer com que houvesse respeito por parte dos dirigentes dos outros clubes.

    O estatuto da nova agremiação esportiva foi redigido à noite, numa reunião no Largo do Machado e os rapazes decidiram que a data oficial de fundação seria o feriado do dia 15 de novembro, em homenagem à Proclamação da República.

    Os problemas não tardaram, e o Flamengo, sem dinheiro, demorou um pouco a chegar a um lugar de destaque no remo carioca. Os remadores rubro-negros, que decepção, não conseguiram completar a primeira prova que disputaram e a embarcação acabou sendo rebocada para a praia por um barco do Clube de Regatas Botafogo. Errou quem pensou que isso iria esfriar o ânimo dos flamenguistas.

    Mesmo assim, a primeira vitória só veio na primeira regata no Campeonato Náutico do Brasil, em 5 de junho de 1898, com a baleeira Irerê, de dois remos. A garra dos rapazes de preto e vermelho só fazia aumentar a simpatia dos torcedores, principalmente entre as moçoilas.

    Em 1902, o Grupo havia crescido bastante e acabou mudando de nome, passando a se chamar Clube de Regatas do Flamengo. A primeira grande vitória numa prova clássica aconteceu em 1905, a Taça Sul-Americana. Mas o título carioca, tão aguardado, não chegava. Até 1910, o Flamengo venceu muitas regatas, seus remadores e barcos faziam sucesso, mas nada de conquistar o título carioca.

    Neste relato inicial, já deu para perceber que o Flamengo, desde que nasceu, vinha trilhando o caminho da superação e da popularidade. E um tal de football, um novo esporte que já ameaçava agitar a cidade, teria forte influência na transformação pela qual o clube passaria, vindo a se tornar o mais querido do Brasil, quase uma religião.

    018a

    José Agostinho Pereira da Cunha, idealizador do Flamengo

    018b

    Domingos Marques de Azevedo, primeiro presidente do Flamengo

    020

    Até 1911, o remo continuava dividindo a preferência dos cariocas com o turfe, pois o futebol ainda tinha uma imagem negativa. Muitos não viam com bons olhos aquele esporte novo, onde onze jogadores de cada lado corriam para lá e para cá, dando pulinhos dentro de campo, tentando colocara bola na baliza do adversário. Pulinhos? Um exagero dos críticos. Alguns chegavam a dizer que aquilo não era esporte para homens, como o remo, que deixava os atletas musculosos e mostravam força para chegar à vitória. Outro absurdo. Havia quem visse o futebol como coisa de ingleses e grã-finos, o jogo da elite, não era para o povão.

    Mesmo assim, o futebol não parava de ganhar adeptos, principalmente depois de 1906, quando foi disputado o primeiro Campeonato Carioca, conquistado pelo Fluminense. A colônia inglesa, muito influente na época, tinha seus clubes de futebol, como o Paysandu e o Rio Cricket, além de jogadores atuando no Tricolor e no Bangu.

    O preconceito contra o futebol só começou a diminuir porque muitos atletas do remo também praticavam o esporte bretão. Era o caso, por exemplo, de Alberto Borghert, capitão do time do Fluminense que remava pelo Flamengo.

    Ebulição nas Laranjeiras

    Quem esperaria que em plena era romântica do futebol, quando os jogadores eram amadores, que haveria uma crise nas Laranjeiras? E quem poderia imaginar que esse conflito iria gerar a surgimento inesperado de uma nova equipe, uma nova camisa disputando o Campeonato Carioca, já a partir de 1912? Mais que isso, mesmo com uma bola de cristal, nenhum daqueles dissidentes poderia prever que estava nascendo o time mais popular do Brasil e do mundo.

    No início do futebol, não existiam os técnicos. As equipes eram dirigidas por um Ground Committee (GC), formado por alguns dirigentes e jogadores. No dia 10 de setembro de 1911, na penúltima rodada do Campeonato Carioca, o Fluminense enfrentaria o Rio Cricket, a quem acabaria vencendo por 5 a 0. Mas quase que os tricolores não entraram em campo. Não é que o tal comitê barrou o atacante titular e capitão do time, Alberto Borgerth, e escalou o zagueiro Ernesto Paranhos? Um erro crucial. Borgerth era um líder e seus companheiros não gostaram a atitude do GC.

    No dia seguinte, durante uma assembleia nas Laranjeiras, ficou registrado na ata:

    O Sr. Alair Antunes pede a palavra para comunicar que não pode continuar como membro do Groud Committee, pois que um team, que elle havia affixado na pedra, foi retirado e um outro recolocado havia sido riscado. Que 7 jogadores haviam resolvido entre si não acceitar a resolução do G. Committee. Que o Sr. Alberto Borgerth, consultando jogadores para a organização de teams, proporcionaram um resultado negativo, pois que os membros se julgaram com direito a discutir opiniões que não lhe competiam.

    Era uma briga de poder. Guerra de egos. Os jogadores queriam interferir na escalação do time e o clube não iria abrir tal precedente, mesmo contrariando os atletas insatisfeitos. Um impasse que precisaria ser resolvido logo.

    A insurreição

    Os dez dissidentes se reuniram no dia 21 de setembro, na pensão Almeida, localizada na rua do Catete, 186. Eram, além de Borgerth, Emmanuel Nery, Gustavo de Carvalho, Othon Baena de Figueiredo, Ernesto Amarante, Píndaro de Carvalho, Lawrence Andrews, Arnaldo Machado Guimarães, Orlando Sampaio Mattos ( Bahaiano) e Armando de Almeida (Gallo). Todos titulares do Tricolor, que precisavam deliberar sobre dois assuntos. O primeiro: Sairiam do Flu? O segundo: Para onde iriam?

    Sem muito papo, deixar o Fluminense foi rapidamente decidido.

    E qual seria o melhor caminho para um time que já conquistara o título carioca de 1911, com uma rodada de antecedência? O Botafogo era o maior rival e já contava com uma equipe com jogadores consagrados, como Carlito Rocha, Edgard Pullen e Mimi Sodré. Não dava para ser. O Paysandu tinha uma equipe formada apenas por ingleses, sócios do clube, e os brasileiros não se sentiriam à vontade com as diferenças culturais. Essas eram as opções na Zona Sul. Não cogitaram os clubes da Zona Norte, como América e São Cristóvão, por causa das dificuldades de locomoção da época, que acabavam por aumentar as distâncias.

    Foi então que Alberto Borgerth teve uma ideia brilhante: O Flamengo!

    Caminho natural. Afinal de contas, ele era remador do Flamengo e o clube não praticava nenhum outro esporte a não ser o remo. A proposta teve aprovação unânime, porém, antes de seguir um novo caminho, os rapazes precisavam fazer tudo direitinho. Como cavalheiros, deveriam primeiro se desligar do Fluminense, para depois procurar o Rubro-Negro. Assim ditava a boa educação.

    Saída honrosa

    Ainda faltava uma partida para o campeonato acabar e o compromisso do Fluminense seria contra o América. Paranhos, o zagueiro que serviu de pivô para a crise, ao ser escalado no lugar de Borgerth, pediu aos dissidentes que participassem do confronto. Com o idealismo dos atletas amadores, todos concordaram em honrar a camisa tricolor pela última vez e cumprir com mais essa missão. Menos Borgerth, que estava afastado pela diretoria.

    O América, que terminou o certame como vice-campeão, tinha em seus quadros atletas com a grandeza de Marcos Carneiro de Mendonça, que viria a se transferir para o Flu e acabaria sendo o primeiro goleiro da seleção brasileira, e o ótimo Belfort Duarte, até hoje venerado como símbolo de nobreza e lealdade em campo. Era um adversário complicado. A partida foi no dia 1º de outubro, todos se dedicaram ao máximo, e o Fluminense venceu por 2 a 0, com gols de Gallo e Paranhos.

    O time das Laranjeiras foi campeão invicto, vencendo todas as seis partidas que disputou, já que o Carioca foi disputado por apenas quatro equipes, em dois turnos e pontos corridos. Foram 21 gols a favor e apenas um contra.

    No dia 3 de outubro, Borgerth e seus companheiros entregaram ao Fluminense um ofício pedindo o desligamento do clube. Na reunião de diretoria, não houve consenso. O presidente Atahualpa Guimarães chegou a ficar indeciso na hora de dar o voto de minerva, até que Affonso Castro convenceu o mandatário tricolor de que a saída destes atletas vai estabelecer, de modo definitivo, o princípio de autoridade em nossa agremiação.

    Era o que faltava para que os dez rapazes seguissem seu novo caminho. Dos titulares, ficaram no Flu apenas James Calvert e Oswaldo Gomes, que viria a se consagrar, em 1914, como o autor do primeiro gol da história da seleção brasileira.

    O carismático

    A luta de Alberto Borgerth, aos dezenove anos de idade, e seus camaradas ainda não havia terminado. Teriam que vencer pelo menos mais um round: convencer o Flamengo a ter um time de futebol. Persuadir os fortões do remo não era tarefa fácil, sem falar que alguns conselheiros acreditavam que tudo não passava de uma aventura e que os rapazes fariam as pazes com o Fluminense e criariam um problema para o Flamengo. Seria preciso muita lábia. O futebol ainda era alvo de muita desconfiança, visto como um esporte nada masculino.

    Dia 8 de novembro de 1911. Assembleia no Flamengo. Autorizado pelo presidente Virgílio Leite de Oliveira e Silva, Borgerth tomou a palavra e sugeriu aos associados a criação de uma seção de futebol no clube. Com seu carisma, o jovem estudante de medicina desfilava suas razões: era o time campeão da cidade e era quase certo que a Liga Metropolitana de Sports Atléticos (LMSA) colocaria o Fla na primeira divisão, mesmo com o regulamento prevendo a segundona para as equipes estreantes.

    023

    Virgílio Leite de Oliveira e Silva, presidente que ajudou a implantar o futebol no Flamengo

    Apesar de sua eloquência e dos argumentos embasados, os membros da assembleia não se convenceram de cara. Incomodava a eles o papo-furado de futebol ser um esporte de pulinhos e de bailarinos, além de ter muito contato físico entre homens.

    O presidente Virgílio Leite se convenceu, mas não poderia impor uma decisão. A assembleia era soberana, mas, apesar de uma primeira resposta negativa, viu-se que muitos passaram a considerar a possibilidade de o Flamengo ter futebol. Ao deixar a reunião, o presidente se dirigiu a Borgerth: Você está fazendo medicina, mas eu acho que darias um ótimo advogado.

    Com toda a certeza, o assunto continuou se arrastando em conversas dentro do clube. De vez em quando, num canto ou outro, havia um burburinho. A ideia ia se solidificando aos poucos, até que numa reunião extraordinária, na noite de 24 de dezembro, finalmente, foi aprovada a criação de um Seção de Desportos Terrestres e a direção foi entregue ao competente Borgerth.

    024

    Mas... Sempre existe o mas... O pessoal do futebol tinha que atender a algumas condições impostas pelos remadores. Em primeiro lugar, deveriam se virar com recursos financeiros gerados pelo novo departamento. Se a experiência não desse certo, acabava-se com o futebol. E, finalmente, os jogadores não poderiam usar a mesma camisa e nem o escudo usado pelo remo. Foi quando criaram a camisa de quadrados pretos e vermelhos, logo apelidada de Papagaio-de-Vintém, porque se parecia com as pipas baratas que os moleques costumavam brincar nas ruas.

    Junto e misturado com o povo

    Conforme Borgerth havia profetizado, o time foi aceito na primeira divisão do Campeonato Carioca, inclusive com o voto a favor do Fluminense, que também se dispôs a ceder o estádio das Laranjeiras para que o Flamengo mandasse seus jogos, já que o regulamento também exigia que o clube tivesse um estádio., Ao receber a notícia do amigo Oswaldo Palhares, tal atitude o deixou emocionado: Agora sinto ainda mais orgulho de um dia ter defendido as cores do Fluminense.

    Mas onde o time iria treinar, se o clube só tinha a sua garagem de barcos na Praia do Flamengo? O que parecia um problema, uma desvantagem, com o tempo, mostraria o quanto essa falta de campo seria benéfica e um fator fundamental para o sucesso e a popularidade do Flamengo.

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    Campo onde o Flamengo treinava, na rua do Russel (Foto de 1911)

    Próximo à sede do clube, na praia do Russel, o prefeito Bento Ribeiro mandou fazer um campo de futebol gramado e com balizas, para que a garotada da região pudesse se divertir. Bem, a meninada se divertia, sim, mas só até o final da tarde, quando apareciam, com chuteiras e roupas de treino, os jogadores do Flamengo, o mais novo time da primeira divisão carioca. Era hora dos petizes verem seus ídolos de perto.

    O escritor e economista Marcel Pereira, em seu livro A Nação, conseguiu explicar muito bem como funcionou essa aproximação:

    A garotada acompanhava o time, apontando o Píndaro, o Baena, o Gallo, o Borgerth, o Gustavinho. Para Alberto Borgerth, ali estava a explicação de tudo. Assim, a falta de um campo fez o Flamengo misturar-se ao povo, aproximar-se dele. Os garotos, em busca de ídolos, iam ao encontro deles no campo do Russel. Podiam tocá-los, podiam devolver as bolas que iam fora. E haviam de contar em casa, na escola, que tinham conhecido o Nery, que tinham batido nas costas do Amarante, que tinham apertado a mão do Bahiano.

    Para começar a entender como o Flamengo ganhou tamanha popularidade, deve-se ir fundo na análise do espírito que permeava o clube. O caso rubro-negro é uma daquelas excelentes metáforas da eterna batalha entre o velho e o novo, entre o status quo e o revolucionário. Um capítulo da história onde se encontram a voluntariedade da juventude e a inflexibilidade do velho, geralmente carregado em vícios.

    A inquietação do jovem choca-se com o medo que o tradicional tem das ideias novas e de suas possíveis consequências para a sua hegemonia. No Rio de Janeiro, o Fluminense nasceu como símbolo da aristocracia da República recém-proclamada; o Vasco representava o colonizador português: opressor, explorador, ditatorial. O Botafogo não se originou nem da aristocracia e muito menos da elite colonizadora, jamais ganhou grande popularidade. O espírito Flamengo era diferente, tinha uma alma vibrante, petulante e juvenil, que logo cativaria seguidas gerações.

    Nessa época, o futebol já começava a competir com o Remo pelo interesse da população e da imprensa. Até porque, para se praticar o remo, era preciso ser sócio de um clube e isso não era possível para grande parte da população. Já bater uma pelada, qualquer um podia, desde que se improvisassem dois times, colocassem pedras no lugar do gol e algo que servisse de bola, geralmente feita de meias.

    A estreia arrasadora

    A Gazeta de Notícias publicou no dia 2 de maio de 1912, véspera do início do 7º Campeonato Carioca:

    A abertura da temporada de foot-ball do presente anno, terá logar amanhã, com os dous primeiros matches do Campeonato do Rio de Janeiro, organizados pela Liga Metropolitana de Sports Athléticos.

    Os trainings a que se têm entregado as diversas equipes dos clubs, que se encontrarão em lutas durante a estação sportiva de 1912, bem diz o enthusiasmo que ella tem despertado.

    São oito os clubs que correrão no campeonato da 1ª divisão. Estes são: Fluminense F. Club, América F. Club, Rio Cricket and Athletic Association, Paysandú Cricket-Club, Club de R. Flamengo, Sport-Club Mangueira, São Christovão A. Club e The Bangú A. Club.

    O match entre o Fluminense e o Rio Cricket realisar-se-á no ground da rua Guanabara e o do Sport Club Mangueira e Club de R. Flamengo, no ground do América, á rua Campos Salles.

    Nesse ano, houve uma cisão no futebol carioca, com a realização de dois campeonatos. O principal, que era realizado pela Liga Metropolitana de Sports Athléticos (LMSA), o qual o Flamengo disputou, teve o Paysandu como campeão. Já o Botafogo ficou com o título do campeonato realizado pela Associação de Football do Rio de Janeiro (AFRJ), apelidada, na época, de Liga Barbante.Na tarde chuvosa de sexta-feira, 3 de maio, o time do Flamengo entrava em campo pela primeira vez, para enfrentar a equipe do Mangueira, formada por operários da Fábrica de Chapéus Mangueira. A partida foi no estádio do América, com muita lama, na rua Campos Salles, na Tijuca.

    O Flamengo entrou com a seguinte formação: Baena, Píndaro e Nery; Lawrence, Gilberto e Gallo; Bahiano, Arnaldo, Amarante, Gustavo e Borgerth. O time do Mangueira tinha Mongey, Magioli e Teixeira; Loretti, Valter e Romeu; Playsant, Valter Kimler, Campos, Levi e Otávio Pontes. O árbitro foi Belfort Duarte, zagueiro do América.

    O jornal O Paiz descreveu assim o início do jogo:

    Foi dado o sinal para o kick-off, cabendo a saída ao Flamengo, que logo ataca o goal adversário, fazendo o 1º goal em 1 minuto de jogo, marcado pelo inside left Gustavo, de um passe de Bahiano.

    Em entrevista à revista Grandes

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