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Feminismo: uma breve introdução
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E-book199 páginas3 horas

Feminismo: uma breve introdução

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Sobre este e-book

Feminismo: uma breve introdução fornece um relato histórico do feminismo, explorando suas primeiras raízes, bem como questões-chave, incluindo o direito ao voto, a libertação dos anos sessenta e sua relevância nos dias de hoje. Em que medida a vida das mulheres realmente mudou? No Ocidente, as mulheres ainda se deparam com o "teto de vidro" no trabalho, a maioria ganhando consideravelmente menos do que os homens que exercem as mesmas funções. O que devemos fazer com a insistência agora banal de que o feminismo priva os homens de seus direitos e dignidades? E como lidar com a questão da emancipação feminina em diferentes ambientes culturais e econômicos ? por exemplo, no Oriente Médio, no subcontinente indiano e na África?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de abr. de 2021
ISBN9786559566167
Feminismo: uma breve introdução

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    Feminismo - Margaret Walters

    CAPÍTULO 1. AS RAÍZES RELIGIOSAS DO FEMINISMO

    Algumas das primeiras mulheres europeias a falarem por si próprias e por seu próprio sexo, fizeram-no dentro de uma estrutura religiosa e em termos religiosos. Na nossa sociedade secular, talvez não seja tão simples trazê-las de volta à vida: reconhecer-lhes plenamente sua coragem, ou compreender as implicações ou a dimensão do seu desafio ao status quo .

    Durante séculos e por toda a Europa, houve famílias que se livraram de filhas desnecessárias ou consideradas impróprias para o casamento, trancando-as em conventos. Algumas devem ter sentido como se condenadas a uma prisão perpétua. Mas para outras, o silêncio do convento parece ter facilitado uma realização genuína: permitiu que algumas mulheres desenvolvessem um talento para a organização e algumas tornaram-se capazes de ler e pensar, descobrindo as suas próprias vozes singulares. Hildegard von Bingen, que nasceu no final do século XI e se tornou uma freira, mais tarde abadessa de um pequeno convento da Renânia, é conhecida, há muito tempo, como uma escritora notável e impressionante. Recentemente, seu grande talento musical foi redescoberto e celebrado. Mas ela ocasionalmente foi atormentada por dúvidas acerca de suas atividades não femininas. Por isso escreveu a um dos líderes religiosos da época, Bernard de Clairvaux, perguntando se ela – uma mulher sem instrução – deveria continuar escrevendo e compondo. Ele encorajou-a e em poucos anos ela ficou conhecida e foi honrada em toda a Europa. Aos 60 anos de idade, embarcou em viagens de pregação por todo o império germânico, embora nessa época só os sacerdotes tivessem permissão para pregar.

    Como outras mulheres medievais, ao buscar imaginar o quase inimaginável e ao comunicar a sua compreensão do amor de Deus, voltou-se à experiência da mulher, especificamente à materna, e escreveu sobre a maternidade de Deus. Deus mostrou-me novamente a sua graça, escreve, como... quando uma mãe oferece leite a sua criança que chora. Algumas mulheres religiosas imaginam, com ternura materna, o menino Jesus. Uma beguina flamenga medita sobre o que a mãe de Deus deve ter sentido:

    por três dias ou mais [ela] segurou-o perto dela para que Ele se aninhasse entre seus seios como um bebê... às vezes beijava-o como se Ele fosse uma criança pequena e às vezes segurava-o em seu colo como se Ele fosse um cordeiro dócil.

    Só porque sou uma mulher, devo então acreditar que não lhes devo falar da bondade de Deus...? perguntou a inglesa Julian de Norwich, no início do século XV. Ela maravilhou-se com o fato de que aquele que foi seu Criador ter escolhido nascer da criatura que é feita. Além disso, argumentou:

    nosso Salvador é a nossa verdadeira mãe, da qual somos eternamente nascidos e com quem estaremos sempre ligados... Somos redimidos pela maternidade da misericórdia e da graça... à natureza da maternidade pertencem o amor terno, a sabedoria e o conhecimento, e isso é bom, pois embora o nascimento do nosso corpo seja simplesmente baixo, humilde e modesto em comparação com o nascimento da nossa alma, ainda é ele que o faz nas criaturas, que são feitas através das mulheres.

    Enquanto outras mulheres fizeram a analogia brevemente, Julian de Norwich prossegue elucidando a comparação de forma muito direta. Cristo é como

    a mãe gentil e amorosa que sabe e reconhece a necessidade de sua criança, e cuidadosamente zela por ela. A mãe pode dar a sua criança leite para mamar, mas a nossa querida mãe Jesus pode alimentar-nos com ele próprio e o faz muito generosa e ternamente...

    Margery Kempe, contemporânea de Julian e que viajou de sua casa em Essex para visitá-la, produziu um relato de sua própria vida – provavelmente ditado a um escriba – que tem sido descrito como a primeira autobiografia em inglês. A sua história de vida revela, com toda clareza, porque sua autopreocupação e a atuação melodramática de suas próprias misérias enfureceram tantas pessoas que entraram em contato com ela. Mas sua história também é, de forma inesperada, profundamente comovente; e mais do que isso, é impressionante simplesmente porque ela insiste em levar a si mesma e suas experiências a sério. Margery deparou-se com o aspecto doloroso e terrível da maternidade que tinha inspirado a celibatária Julian. Ela esteve miseravelmente doente durante toda sua primeira gravidez e, após um parto prolongado e muito doloroso, ficou exausta e deprimida: com o trabalho que teve no parto e com a doença anterior, perdeu as esperanças de sua vida. Em alguns momentos, chegou perto de se matar. Recorda que foi confortada por uma visão de Cristo, sob a forma de um jovem bonito, sentado à sua cabeceira; ele a informou: quando estiver na cama, você pode ousadamente levar-me até você como seu marido. Mas foi apenas anos mais tarde, e após ١٤ gestações, que Margery conseguiu finalmente negociar com seu marido exigente: se ele parasse de insistir em sexo, ela pagaria suas dívidas e renunciaria ao rigoroso jejum de sexta-feira para poder comer e beber com ele. Ele concordou, embora com um sarcasmo sugestivo que ecoa desagradavelmente através dos séculos: Que teu corpo esteja tão livremente disponível para Deus como esteve para mim.

    Com notável energia e determinação, Margery partiu em peregrinação pela Europa. Apesar de seu choro e lamentação constantes enfurecerem tanto seus companheiros peregrinos, a ponto de eles a abandonaram no trajeto, sua coragem – e determinação obsessiva – permitiu-lhe chegar a Jerusalém e inclusive até Constantinopla.

    No final do século XVI, um número crescente de mulheres começou a discutir sua própria situação de forma mais consistente e agressiva, embora ainda inseridas em uma estrutura religiosa. A Reforma permitiu que mais mulheres recebessem uma educação. Em 1589, naquilo que um historiador chamou de a primeira peça da polêmica feminista inglesa, Jane Anger assumiu uma posição desafiadora ao insistir que Eva era superior a Adão: um segundo modelo e, consequentemente, aperfeiçoado. Enquanto Adão foi formado a partir de impurezas e barro imundo, Deus fez Eva a partir da carne de Adão, para que ela pudesse ser mais pura do que ele, o que mostra evidentemente o quão nós mulheres somos mais excepcionais do que os homens... Da mulher nasceu a salvação do homem. Uma mulher foi a primeira que acreditou, e igualmente foi uma mulher a primeira que se arrependeu do pecado. Anger decai irritada e comicamente para vida doméstica cotidiana. Lembra que são as mulheres que garantem que os homens sejam alimentados, vestidos e limpos: "sem nossos cuidados, deitam-se nas suas camas como cães no lixo, e seguem como uma cavalinha³ nojenta nadando no calor do verão".

    Mas qualquer uma que quisesse defender seu sexo deveria enfrentar as imagens poderosamente negativas das mulheres nas escrituras – Dalila era traiçoeira, Jezebel assassina, enquanto Eva era diretamente responsável pela Queda da raça humana: a mulher o tentou e ele comeu. São Paulo era habitualmente invocado contra qualquer uma que se pronunciasse ou fizesse perguntas constrangedoras sobre a atitude da Igreja em relação às mulheres: Mantenham suas mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar, instruiu aos Coríntios. E novamente, na epístola a Timóteo: se desejam aprender qualquer coisa, que perguntem aos seus maridos em casa: porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.

    Gradualmente, algumas poucas mulheres encontraram a confiança necessária para enfrentar estas proibições das escrituras. Algumas ofereceram interpretações dissidentes do Gênesis, argumentando que Adão foi, afinal, tão culpado quanto Eva pela Queda. Então, em 1611, Aemilia Lanyer lembrou seus leitores que Cristo

    foi gerado por uma mulher, nascido de uma mulher, alimentado por uma mulher, obediente a uma mulher... ele curava mulheres, perdoava mulheres, confortava mulheres... após sua ressurreição, apareceu primeiro a uma mulher.

    E, em 1617, Rachel Speght comentou ironicamente:

    Se Adão não tivesse aprovado aquela ação de Eva e não estivesse disposto a seguir os passos que ela tinha dado, teria a reprovado, já que ele era sua cabeça, realizando um pouco o mandamento para não abrir mão da sua posição de mestre.

    Outras insistiram que Deus havia sinalizado o seu perdão ao fazer de Maria, uma descendente de Eva, a mãe de Cristo.

    Ao longo do conturbado século XVII, as mulheres encontraram mais liberdade especialmente entre as seitas dos muitos e variados pequenos grupos que rejeitavam a Igreja estabelecida, em favor de formas mais puras de culto. Algumas, pelo menos, sentiam-se inspiradas a pregar ou a profetizar. Os historiadores modernos apontaram o papel importante que as mulheres desempenharam, no final da Inglaterra elisabetana, entre os separatistas religiosos que fugiram da perseguição emigrando para a América do Norte ou para a Holanda, bem como na atividade como pregadoras. Estiveram ativas também entre os pequenos grupos dissidentes que conseguiram sobreviver clandestinamente na Inglaterra, até emergirem espantosa e abertamente durante a Guerra Civil e o Interregno. Keith Thomas enumera algumas destas congregações independentes: Brownistas, Independentes, Batistas, Milenarianos, Familistas, Quakers, Seekers e Ranters. Independentemente de suas diferenças teológicas, todas elas acreditavam na necessidade da regeneração espiritual em todos os indivíduos. A experiência que os Quakers chamavam de Luz Interior era mais importante do que a observância exterior – e essa luz não faz distinção sexual. Como afirmou um escritor contemporâneo, um homem fiel, sim, ou uma mulher também, podem eficaz e verdadeiramente soltar e amarrar, tanto no céu como na terra, como todos os ministros do mundo.

    Já há algum tempo, várias congregações independentes vinham permitindo que as mulheres debatessem publicamente e votassem nos assuntos da Igreja. Nos anos 1640, algumas delas, particularmente entre os Quakers, foram mais longe. Em 1659, o Quaker Fox argumentou que Cristo está no masculino como no feminino, que redime de acordo com a Lei... Cristo no masculino e no feminino, que estão no espírito de Deus, não estão sob a Lei.

    Não poderia o espírito de Cristo, que é gerado por Deus tanto no feminino como no masculino... falar? perguntaram Katherine Evans e Sarah Chevers. Cada vez mais as mulheres sentiam-se motivadas, divinamente inspiradas, a falar nos encontros e até no serviço, embora fossem muitas vezes recebidas com uma oposição amargurada. Eram criticadas por estarem inchadas de orgulho e vangloriosamente arrogantes e, ainda pior, por estarem usurpando a autoridade dos homens. Em 1646, John Vicars, por exemplo, queixou-se amargamente das "donas de casa ousadas e atrevidas... sem toda a modéstia própria de uma mulher⁴... para tagarelar... muito diretamente o contrário da inibição do apóstolo".

    John Bunyan opunha-se totalmente a esta participação ativa das mulheres, argumentando que Satanás inevitavelmente tenta Eva, que é mais fraca, em vez de Adão: o homem foi feito o líder da adoração e o guardião do jardim de Deus. Referiu-se às mulheres como aquele sexo simplório e fraco. Citando a primeira epístola aos Coríntios, argumentou que as mulheres não são a imagem e glória de Deus como os homens são. Elas são colocadas abaixo. Bunyan desaprovou as reuniões separadas de mulheres, que nada mais faziam do que encorajar a indisciplina. Não acredito que [as mulheres] devam ministrar a Deus em oração perante toda a igreja, insistiu, acrescentando sarcasticamente: para isso eu deveria ser um Ranter ou um Quaker. Em qualquer reunião pública, a parte dela é segurar sua língua, aprender em silêncio.

    Mesmo nos anos 1670, a corajosa Quaker Margaret Fell ainda sentia a necessidade de defender a independência de consciência das mulheres e seu direito de desempenhar um papel ativo no culto. Em um texto chamado Women’s Speaking Justified, defendeu enfaticamente: Aqueles que falam contra... o espírito do Senhor pronunciando-se em uma mulher, simplesmente em razão do seu sexo... falam contra Cristo e sua Igreja, e são da Semente da Serpente.

    1. A cena é vista com um toque de sátira – no entanto, é dirigida à oradora séria ou ao público desatento? Um deles está realmente dormindo, outros demonstram desaprovação.

    O profeta Joel foi algumas vezes citado como uma resposta à proibição de São Paulo do espírito sobre toda carne:

    ... e os seus filhos e as suas filhas profetizarão, seus velhos sonharão sonhos, seus jovens terão visões: E também, naqueles dias, sobre os servos e criadas derramarei o meu espírito. E mostrarei maravilhas nos céus e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça.

    Para muitos, a visão extasiada de Joel pareceu particularmente relevante durante as grandes convulsões causadas pela Guerra Civil e pelo Interregno; havia um sentimento generalizado de que o apocalipse era de fato iminente. A seita que se autodenominou Homens da Quinta Monarquia⁵, por exemplo, acreditava que com a queda dos quatro grandes impérios seculares do mundo – Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma – o quinto – o Reino do Cristo

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