Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã
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Sobre este e-book
Contudo, não se trata somente de celebrar uma personagem, durante muito tempo ignorada, mas também de considerar o que, no pensamento de Olympe de Gouges, se mantém atual: igualdade das mulheres/igualdade dos sexos, não-violência, justiça social, denúncia da escravatura e do racismo, defesa das minorias…
Olympe de Gouges
Vítima do seu século, das suas tomadas de posição contra as derivas da Revolução, Olympe de Gouges é guilhotinada a 3 de Novembro de 1793. No dia seguinte à sua execução, a necrologia publicada no jornal Le Moniteur por Pierre-Gaspard Chaumette, Procurador da Comuna de Paris, atenta contra a sua memória, denigre a sua audácia, convertendo-a em insolência e aplaude a sua execução: «Lembrem-se da impudente Olympe de Gouges, que primeiro instituiu as sociedades de mulheres e abandonou os cuidados do lar para se intrometer na República, sob quem a cabeça caiu sob o ferro vingador das leis.» Alguns dias depois, a imprensa revolucionária francesa acentua a carga: «Quis ser homem de Estado e parece que a lei puniu esta conspiradora por ter esquecido as virtudes que convêm ao seu sexo.» Subindo ao cadafalso, Olympe de Gouges grita à multidão reunida à volta da guilhotina: «Filhos da pátria, vingareis a minha morte!» Contudo, estas diatribes jornalísticas mergulham a mulher polémica e reivindicadora num período duradouro de amnésia colectiva, desconcertante e voluntária, da historiografia francesa até ao final do século XX.
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- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Uma mulher visionária a qual admiro pela coragem de enfrentar uma sociedade patriarcal. Inovadora por sua época e brilhante em suas colocações e pensamentos.
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Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã - Olympe de Gouges
declaração dos direitos
da mulher e da cidadã
olympe de gouges
prefácio
A Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã de Olympe de Gouges (1791) é uma versão crítica da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão nascida da Revolução Francesa (1789), ela mesma inspiradora da Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948).
Marie Gouze, escritora com o pseudónimo de Olympe de Gouges, é uma humanista que luta pela igualdade dos seres humanos e a defesa dos oprimidos. O seu feminismo assume-se como uma das suas lutas pela libertação. Começa assim por construir a sua identidade, abandonando o nome do seu defunto marido e construindo o seu nome literário, recorrendo ao da sua mãe e a um patrónimo.
Decide-se por exprimir as suas reivindicações sob a forma declarativa, tal como os Pais Fundadores americanos e os Revolucionários franceses, a fim de torná-las efectivas, apesar de os seus numerosos panfletos não terem produzido, até lá, os efeitos desejados.
A Declaração de 1791 não é uma simples imitação da Declaração de 1789, onde a palavra Homem é apagada e substituída por Mulher. Olympe de Gouges inscreve a mulher até então esquecida, demonstrando, dessa forma, que a nação é efectivamente bissexuada e que a diferença sexual não pode ser um postulado em política, nem na prática da cidadania.
Autêntica reescrita do texto edificador, a referida Declaração reformula certos artigos, altera o modo de enunciação, acrescenta elementos através da frequência de interrogações oratórias, adopta um tom polémico, criando, assim, efeitos eficazes e interpelativos.
Desde o preâmbulo, Olympe de Gouges opta pela interrogação retórica na segunda pessoa do singular: «Homem, és capaz de ser justo?», o singular de Homem tendo por objectivo reforçar a pluralidade da apóstrofe. Mas a sua batalha é ainda mais árdua já que deve igualmente convencer as mulheres a segui-la e, no seu postâmbulo, lança um apelo – Mulher, acorda – até porque a hostilidade que Olympe de Gouges encontra frequentemente se traduz na oposição ou apatia de congéneres, deplorando-o no prefácio da peça Mirabeau aux Champs-Elysées (1791): «Mulheres nunca tiveram inimigos maiores que elas mesmas. Raramente se vê mulheres aplaudirem uma bela acção, a obra de uma mulher»[1]. Exorta, assim, as mulheres a reagirem e a saírem do anonimato que lhes é imposto, e em que, por vezes, algumas condescendem, obrigando-as a usar artifício e dissimulação: «O que a força lhes arrebatou, a astúcia lhes devolveu.» O anonimato tem, pois, uma dupla consequência: tornar a mulher invisível e corrompida, uma condição que perverte a natureza feminina: «…elas comandavam no crime como na virtude. O governo francês, sobretudo, dependeu, durante séculos, da administração nocturna das mulheres; o gabinete não tinha segredo para a sua indiscrição; embaixada, comando, ministério, presidência, pontificado, cardinalato; enfim, tudo o que caracteriza a tolice dos homens, o profano e o sagrado, tudo foi submetido à cupidez e à ambição desse sexo…».
Ora, de acordo com Olympe de Gouges, o homem, escravizado durante a Revolução Francesa, teve necessidade da mulher para se libertar: «O homem escravo multiplicou as suas forças, mas teve que recorrer às tuas para poder quebrar as suas correntes.» Resultado surpreendente, e paradoxal, da Revolução, em que a mulher teve um papel importante, já que foi graças