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Quem Somos? Diálogos sobre o Conhecimento e a Realidade Cognitiva do Sujeito
Quem Somos? Diálogos sobre o Conhecimento e a Realidade Cognitiva do Sujeito
Quem Somos? Diálogos sobre o Conhecimento e a Realidade Cognitiva do Sujeito
E-book706 páginas7 horas

Quem Somos? Diálogos sobre o Conhecimento e a Realidade Cognitiva do Sujeito

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Sobre este e-book

Quem somos? O que significa pensar sobre o que representamos no mundo? Esses questionamentos já duram milhares de anos e, ainda assim, este texto nos mostrará que permanecem mais indefinições do que respostas sobre tais perguntas. Nesse aspecto, poder-se-ia situar esta obra entre a complexidade do conhecimento e a complexidade desses questionamentos, que implicam na história do pensamento humano.
Somos idealizadores dos pensamentos, ou programados a sermos pensados por eles? Até que ponto você está disposto a questionar sobre a estrutura complexa da realidade psíquica de seus pensamentos? Como se encontrar em um mundo subjetivo, imbricado em uma realidade mais fictícia que real? Em que o seu eu se incorpora? O que é procurar conhecer a si mesmo e a multidimensionalidade do conhecimento? Quais seriam as suas respostas? Mesmo sem muitas conclusões, temos pelo menos a capacidade de pensar sobre esses questionamentos neste exato momento.
É sobre isso que discutiremos com este material, levando em conta a necessidade de todo ser humano buscar a resposta mais próxima e necessária para suas angústias existenciais. Assim, convido-lhe a refletir de maneira crítica e criadora sobre os pensamentos que motivam os seus pensamentos. Quais são as suas capacidades criadoras desenvolvidas ao longo de sua vida? Essas indagações revelam o grau de complexidade existente em todo diálogo que nos projeta sobre os diversos significados e formas de processar nossos pensamentos.
Demonstra-se com essas discussões que quase sempre as definições construídas sobre o processo cognitivo dos seres humanos terminam em grandes indefinições. Caímos em um mar carregado de dúvidas. Por conta disso, pode-se afirmar que somente os ousados poderão herdar o privilégio de experimentar o verdadeiro sabor de se ir além das aparências e fazer da sua subjetividade uma proposta contínua para contradizer as ficções fantasiosas do mundo moderno.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de ago. de 2021
ISBN9786525011462
Quem Somos? Diálogos sobre o Conhecimento e a Realidade Cognitiva do Sujeito

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    Quem Somos? Diálogos sobre o Conhecimento e a Realidade Cognitiva do Sujeito - Carlos Dinely Esteves

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    À Delza Dinely Esteves;

    À professora Gracinês Cidade;

    À Maria Leite Esteves;

    À María Teresa Aguilera Hinojosa;

    À Thaissa Figueiredo Esteves;

    À Mariana Carvalho Esteves;

    À Sofia Freitas Esteves;

    A Vinícius Moreira Esteves;

    À Hanna Lua Santos Pimenta;

    A Carlos Rener Pimenta Esteves;

    A Argemiro Leite Esteves (in memoriam);

    À Maria Dinely Esteves (in memoriam);

    A Renner Douglas Gonçalves Dutra (in memoriam);

    Ao refúgio da minha canoa na busca da inspiração.

    NÃO ME PERGUNTE QUEM SOU

    (FOUCAULT)

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço a todos aqueles que, de maneira direta ou indireta, incentivaram-me na elaboração deste livro. Em especial, meus alunos, meus irmãos e meus amigos professores e professoras.

    PREFÁCIO

    O processo de individuação é característico do momento em que há a cisão entre a condição coletiva e individual de um sujeito integrante de uma dada cultura. Constitui uma marca profunda no inconsciente do indivíduo e na memória coletiva de um determinado grupo social. Compõe aquele momento de cisão e pertencimento, de identidade e rompimento, de pensamento e ação. É sempre um hiato, um momento de passagem. É algo, mas ainda não é. Torna-se algo, mas ainda não está completo. É pura subjetividade. Constitui-se na objetivação do sujeito, ser de cultura, integrante de um determinado grupo, ao mesmo tempo em que há um profundo desejo de rompimento com aquilo que lhe dá origem e originalidade.

    O ser humano de carne e osso é um ser em aberto, é de natureza plástica, no sentido de que ele é um ser que se define pela indefinição precisa de seu ser. Por isso, mais do que possuir uma natureza, diz de sua condição. Assumimos que não há uma natureza humana, mas uma condição humana. Esta se dá por uma infinidade de formas de expressão cultural, da qual depende a formulação de sua própria identidade.

    Dizer que o ser humano é um ser em aberto significa expressar que, quando ele se fecha em torno de si mesmo, aniquila a sua própria existência e mergulha no vazio do não sentido e da infelicidade. A onda de depressão assola o planeta no momento, talvez mais cruel que o Covid-19, pois é silenciosa e consome nosso ser pelas entranhas. Essa condição do presente resulta das condições sociais, políticas e econômicas do presente. Em toda a história, nunca tivemos tantas formas de comunicação, inclusive em tempo real e, na mesma medida, nunca estivemos tão distantes.

    O mal do século não será a Covid-19, embora tenha nos causado muitos males e muitas mortes. A Covid-19 está sendo enfrentada por todos, mas a depressão só por suas vítimas que sucumbem em silêncio. Tão próximos e tão distantes. Há um abismo entre nós. Construímos esse fosso!

    Não há projeto humano que seja possível de se realizar quando a ideia que orienta e concebe tal projeto fundamenta-se na ideologia opressora do egoísmo. Uma identidade confundida consigo mesmo como única condição de horizonte, como única expectativa de realização de si é, em si, a própria condição.

    Um projeto que se proponha a reconhecer o lugar do outro como horizonte de realização, de modo a proporcionar o reconhecimento de que a autenticidade do eu só se torna possível diante do outro, transfigurado na forma de nós.

    O horizonte existencial do eu não se reduz nele mesmo, apenas inicia-se no indivíduo. Limitar a perspectiva do eu em torno de si mesmo é impedir a existência da liberdade humana. É no reconhecimento do outro como horizonte existencial que o eu encontra sua potencialidade e a potencialidade de ser autenticamente livre. Nesse caso, a liberdade é puramente ação de responsabilidade com a condição humana que para poder ser, depende, radicalmente, de sua atualização em cada cultura e em cada indivíduo, em cada processo de individuação e de culturalização.

    Individuação, autonomia e cultura constituem a condição da subjetividade, isto é, a subjetividade não é uma forma autônoma de pensamento sobre si, de forma independente da cultura e da ação. Ela é a forma como o processo de individuação é produzido no interior da cultura, como autonomia e heteronomia são produzidas como processos de identidade e identificação de si.

    A condição humana realiza-se entre a autonomia e a identidade produzida pela cultura. Entre um desprendimento de sua originalidade e um permanente retorno a essa condição original.

    No espaço da cultura, a identidade do indivíduo reduz-se à identidade de grupo. Assim, não existe autorreconhecimento a não ser pelos vínculos com o grupo. Essa situação sempre cumpriu um propósito fundamental da condição humana: potencializar a dimensão da ação comunitária no lugar da exclusivamente egoísta.

    Nesse caso, a autonomia realiza-se como potencialidade dentro do próprio grupo social. É o modelo burguês que rompe com essa perspectiva. No caso, o rompimento dos laços consanguíneos constitui a forma de natureza constitutiva da autonomia. Portanto, o salto da individuação constitui um salto de natureza, ou melhor, como condição que passa a instituir uma forma de expressar a sua própria natureza, embora que sempre como condição de ser, portanto como estar sendo. Como momento de transfiguração, aquele instante de passagem de um momento a outro!

    Individuação, cultura e universalidade constituem polaridades do horizonte humano e só se justificam na condição de horizonte, portanto em perspectivas de realização. Nisso, a vida humana revela-se como o ponto de encontro e de contradição entre a esfera universalizante e particularizada da existência.

    O centro de nosso conflito situa-se quase sempre no hiato entre ação e cognição, subjetividade e crítica, identidade e individualidade, liberdade e autoconhecimento, reflexividade e ontologia, existência e necessidade comunicativa, conhecer e representar, conhecimento de objetos e representações, diversidade e criatividade, cognição e desejo, ideologia e mercado, estrutura da consciência e determinação.

    Longe de tudo isso, representar o tradicional dualismo cartesiano e o maniqueísmo judaico-cristão constituem-se contradições dialéticas compondo nossa condição de SI para a práxis onde a condição humana se realiza historicamente como infinito de possibilidades, superando as determinações históricas que nos marcam ideologicamente.

    A contradição é aquele instante de rompimento representado no processo de individuação e autonomia. A consciência concreta desse momento permite um salto radical que nega a negação de si para se tornar identificação, subjetivação, pensamento concreto realizado abstratamente como resultado de seu processo. Tal movimento produz a memória, que torna a consciência de si uma ação sobre si mesmo, capaz de alterar sua própria condição, produzindo sobre si mesmo outra condição que estava ausente na história, mas que se torna parte da condição de ser à medida que nega as formas de negação, pela ação, representação e pensamento de si sobre si mesmo. Esse é o processo do conhecimento, que não existe sem a condição do autoconhecimento reflexivo sobre si.

    Esse é o debate profícuo proposto pelo livro. O horizonte de si é a perspectiva de todos nós. Só realiza-se à medida que realizamos em nós a condição própria de ser. Somente aquele instante de existir como forma de expressão, como comunicação autorreflexiva que realiza a totalidade de nossa condição de ser identidades abertas ao mundo, tal como sua própria configuração, sendo nossas expressões e representações...

    Ao saber dado só há construção! Isso é o que nos propõe o livro Quem somos? Diálogos sobre o conhecimento e a realidade cognitiva do sujeito, horizonte de vir a ser que se realiza, antes de tudo, na própria cognição.

    Evandro Ghedin

    Professor titular de Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas

    APRESENTAÇÃO

    Diante dos esforços de compreender o mundo da subjetividade e as articulações do pensamento, creio que com este livro pode-se discutir pela aproximação dialógica entre o autor e você, que se compromete em participar de uma conversa simples, mas que tem o intuito de desconstruir um mundo carregado de tantas armadilhas reflexivas. O maior desafio não é somente sabermos que pensamos, mas que também somos pensados por nossos pensamentos e os processamos, assim como somos processados no decorrer de nossas ações. Visto que todo agir é uma reação projetada pelo pensamento operante, comprovando o quanto estamos entre o que é real ou pseudorreal. Quando deparamo-nos com o fato de que o cotidiano é constituído de grandes mentiras, passamos a beber da angústia de querer mudar o mundo onde vivemos. Porém, no momento em que você, amigo leitor ou amiga leitora, decide tomar atitudes contraditórias às normalidades do mundo, você é surpreendido(a) por pessoas taxando-lhe de chato(a) e arrogante. Nesses aspectos, eu diria que a todos nós, quando falamos de fatos que desestruturam de certa forma a estrutura aparente que nos cerca, ocorre por meio de uma dose de loucura um comportamento contrário ao que é classificado como normal. E, por isso, somos considerados loucos. Percebe-se, assim, que a sociedade ocidental, na sua patetice consumista, considera um padrão contraditório à sua normalidade, algo absurdo, sem lógica, pois não é permitido dentro do sistema de relações sociais modernas enxergar fora dos padrões estabelecidos. Nesse sentido, percebe-se que a maioria das pessoas reproduz em SI um ego que se autossustenta como estado permanente de renovação de necessidades. Por conta disso, quanto mais aprisiona-se o processo cognitivo, mais se cria tabus sobre o que pensar e como pensar sobre a realidade.

    Portanto, não é tão simples construirmos uma postura crítica sobre a nossa realidade existencial, pois sofremos quando percebemos que a sua visibilidade é complexa por ser mais invisível que visível. Mas é preciso ter a coragem de anunciar os desencontros de nossas buscas e fazer das inseguranças um motivo sempre a mais para alcançarmos uma melhor compreensão do que é configurado como algo manifestado. E assim que eu e você, amigo(a) leitor(a), tenhamos o objetivo comum de reconhecer não somente as falhas de nossa cognição, mas acima de tudo construir possibilidades de renovação de nossa maneira de pensar. E, para isso, é preciso acreditar no improvável, no que acreditamos não ser possível conseguir. Como exemplo disso, cito este livro, com o qual no decorrer de sua construção enfrentei diversas dificuldades, mas isso não serviu como empecilho, serviu como incentivo para que as propostas deste material fossem apresentadas. Por mais que tenhamos dificuldades, não significa que estejamos incapacitados, pelo contrário, as dificuldades alimentam o desejo de sair do comodismo e confrontar o que nos projeta a ser como identidade mais fictícia que real.

    A novidade do texto é a aproximação com exemplos práticos acerca dos elementos condicionantes, os quais contornam o processamento dos hábitos em sociedade. Proponho-me, com você, a questionar e identificar algum viés crítico de reflexão referente ao uso e à construção da subjetividade e as possibilidades de poder contestar o que se manifesta como crença. Dessa maneira, o livro representa o desejo de compartilhar a ideia de construir por meio do diálogo com você, leitor ou leitora, uma consciência histórica mais criativa sobre o tema proposto em discussão.

    Quem somos? O que significa pensar sobre o que representamos no mundo? Esses questionamentos já duram milhares de anos e, ainda assim, este texto nos mostrará que ainda permanecem mais indefinições do que respostas sobre tais perguntas. Nesse aspecto, pode-se identificar esta obra como uma busca de possibilidade de diálogos entre as perspectivas conceituais construídas sobre o ser e sua complexa estrutura psíquica e biológica. O que se sabe sobre o pensamento em construção? Esses questionamentos colocam o ser humano diante da necessidade de explicar a profundidade daquilo que faz dar sentido à sua maneira de ser. Por outro lado, poderia mais uma vez perguntar: o que é ser? Ser o que? Partindo desses questionamentos, convido você a dialogar comigo para aprofundarmos melhor sobre os significados das incertezas, como também dos conceitos que se tornaram tão certos, que são quase impossíveis de desconstruir a sua lógica.

    Vale ressaltar o quanto somos, por um lado, idealizadores dos pensamentos e, por outro, idealizados pelo pensamento organizado em sociedade. A maneira de pensar no mundo revela uma identidade de pensador, de um ser pensante que se manifesta pela sua dinâmica de pensar sobre o que vê, sente e experimenta. O mais importante não é alcançar tantas respostas, mas saber perguntar sobre o que é necessário que se pergunte e se conheça. Tal importância se dá pelo fato de fazermos parte de um campo de relações de conceitos, uma estrutura lógica interpretativa da linguagem que se constrói em sociedade. Dentro dessa perspectiva, podemos fazer outras indagações: sobre como é possível diante desta página, pensarmos neste exato momento? Se formos mais a fundo, teremos a necessidade de saber se estamos dispostos a construir as condições necessárias para questionar sobre o que e como pensamos. Comprovando-se que o sujeito por ser é de caráter conceitual, não somente porque pensa, mas também porque é pensado. Ou seja, é uma criação de SI mesmo para com o mundo, e o mundo para consigo mesmo. Proponho que durante o diálogo por meio da leitura, você possa compartilhar comigo o desejo de autodescoberta, de conhecer o que tanto acreditamos ser e compreender como identidade. O que é incorporado por um EU que acreditamos ser? Como é possível conhecer essa terceira pessoa chamada por meu ou seu nome? Mesmo sem muitas respostas e diante de tantas indefinições, temos pelo menos a capacidade de pensar sobre aquilo que estamos questionando.

    É sobre isso que discutiremos com este material, levando em conta a necessidade de todo ser humano buscar a resposta mais próxima e necessária para suas angústias existenciais. Assim, convido-lhe a refletir de maneira crítica e criadora sobre os pensamentos que motivam os seus pensamentos. Quais são as suas capacidades criadoras desenvolvidas ao longo de sua vida? Tais perguntas revelam o grau de complexidade existente em todo diálogo que nos projeta para pensarmos sobre os diversos significados e formas de se processar os nossos pensamentos.

    Demonstra-se com essas discussões que quase sempre as definições construídas sobre o processo cognitivo dos seres humanos terminam em grandes indefinições. Caímos sempre em um mar carregado de dúvidas. Por conta disso se pode afirmar que somente os ousados poderão herdar o privilégio de experimentar o verdadeiro sabor de se ir além das aparências e fazer da sua subjetividade uma proposta contínua para contradizer as ficções fantasiosas do mundo moderno.

    Nesses aspectos, afirmo que as problemáticas que pretendo discutir com você neste livro abrem espaço para se elaborar novas possibilidades referentes à cognição e à construção de conhecimento. Partindo desse princípio, as perguntas citadas nos parágrafos anteriores somente terão sentido na vida daqueles que buscam desmistificar as armadilhas presentes no processamento da sua reflexividade. Pois, deparamo-nos com o quanto a vida que levamos é carregada de imposições conceituais, as quais nos influenciam na construção de nossas atitudes. Nesse sentido, vale a pena rever tais imposições para proporcionar um diálogo que venha possibilitar a desconstrução de antigos conceitos inabalados, que por mais envelhecidos que sejam, ainda podem estar resistindo e influenciando a sua reflexividade no decorrer da vida.

    Portanto, a proposta presente neste trabalho é de reavaliar as atitudes reflexivas e, a partir disso, abrir um novo caminho dialógico para com a vida que estamos levando. No entanto, este livro somente terá sentido se, diante de tantos questionamentos, empenharmo-nos em fazer desta leitura a possibilidade de procurar olhar a realidade naquilo que ela pode ser realmente por trás de sua gentil aparência. Sem essa perspectiva, a leitura corre o risco de se tornar inútil, pois de nada adiantaria dialogar sem o verdadeiro sentido, que é de se aproximar de uma realidade quase sempre desconhecida: o seu e o meu pensamento sobre SI e sobre o mundo pensado.

    O autor

    Sumário

    INTRODUÇÃO 19

    CAPÍTULO I

    1. CONHECIMENTO OPERANTE E COGNITIVO 31

    1.1. COGNIÇÃO OPERANTE E O FILOSOFAR DO CONHECIMENTO 48

    1.2. SUJEITO E REALIDADE 63

    1.3. NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA 70

    1.3.1. Processo mediador da ação reflexiva entre os níveis de consciência 72

    1.3.1.1. O primeiro nível 74

    1.3.1.2. O segundo nível 75

    1.3.1.3. O terceiro nível 77

    CAPÍTULO II

    2. AS DIMENSÕES DO CONHECIMENTO 89

    2.1. A DIMENSÃO SIMBÓLICA E HISTÓRICA DO CONHECIMENTO 98

    2.2. A DIMENSÃO DO CONHECIMENTO EM KANT 104

    2.2.1. A dimensão crítica do conhecimento a priori e analítico sintético 106

    2.3. A DIMENSÃO CRÍTICA DA CRÍTICA DA RAZÃO PURA 120

    2.3.1. A dimensão do conhecimento como emancipação do sujeito em Kant 123

    2.3.2. Algumas considerações de Schopenhauer sobre a dimensão do conhecimento em Kant 136

    2.3.3. A dimensão da Filosofia e do filosofar 149

    CAPÍTULO III

    3. UMA REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A ALTA MODERNIDADE 163

    3.1. RELAÇÕES CONJUGAIS E MODERNIDADE 164

    3.2. GIDDENS E SUAS CONSIDERAÇÕES REFLEXIVAS SOBRE A MODERNIDADE 174

    3.3. A PESSOA DO SUJEITO UM CAMPO CONTRADITÓRIO ENTRE O SI E O EU 181

    3.3.1. Da imprensa à modernidade 198

    3.4. OS PARÂMETROS EXISTENCIAIS DA ALTA MODERNIDADE 201

    3.4.1. Relações entre modernidade e identidade 209

    3.4.2. O processo de configuração do eu ontológico 215

    3.4.3. A dimensão da segurança ontológica do ser 220

    CAPÍTULO IV

    4. O DRAMA DO SUJEITO EM SOCIEDADE 233

    4.1. QUESTÕES ONTOLÓGICAS DO SER 242

    4.1.1. Corporeidade e identidade do eu 248

    4.1.2. A motivação como elemento mediador da ação humana 255

    4.1.3. O drama da loucura como possibilidade 262

    4.1.4.

    Equívocos e ressignificados da idiotice 271

    CONSIDERAÇÕES FINAIS 295

    REFERÊNCIAS 307

    INTRODUÇÃO

    A grande diversidade história que é a humanidade me convence do quanto ela é ainda hoje relatada a partir de velhos questionamentos referentes ao campo existencial e à sua complexidade. Qual o verdadeiro significado ontológico do ser? Como pensar sobre isso, sem conhecer os processamentos do pensamento? Toda história humana não se constrói sem relações, ela somente pode existir em relação e assim torna-se complexa e interativa. Sempre será um desafio tentar responder a essas perguntas, visto que não é possível alcançar todas as respostas. Assim, me proponho com este livro questionar sem pretensões de demonstrar tantas respostas, mas com questionamentos que poderão possibilitar a aproximação de um melhor amadurecimento a respeito do que pensamos sobre o que conhecemos. É importante, amigo leitor ou amiga leitora, que tenhamos a ousadia de propor a chance de nos descobrir diante do que se manifesta como real, visto que a realidade pode ser apenas uma ficção daquilo que acreditamos ser a verdade.

    Não podemos esquecer que o mais essencial para a nossa espécie sempre foi tentar se descobrir por aquilo que mais sabemos fazer: pensar sobre SI e sobre o mundo onde vivemos. Estamos sempre dispostos a perguntar sobre o que somos e para onde vamos como espécie na atual modernidade? Diante de tantos questionamentos percebi que, por mais que se possa parecer inútil construir esse diálogo, não podemos permitir que nossa capacidade racional sirva apenas para computar o que é proposto a computar. Eu e você somos muito mais que uma obediência racional, somos muito mais que afazeres domésticos ou científicos reduzidos a interesses do mercado de consumo. É preciso rediscutir os rumos das políticas implantadas em nossas atitudes, para nos descobrir mais nesse mundo carregado de uma individualidade a qual coloca a nossa dignidade em risco. Pois por trás desse mundo que reforça interesses individuais se esconde a mediocridade, que ao se manifestar às vezes é tão invisível que podemos correr o risco de acreditar no seu aparente sorriso ingênuo. Revela-se assim a contradição daquilo que podemos pensar realmente sobre o que podemos ser na relação com o outro. Não podemos mais beber da ingenuidade diante daquele que sempre propõe os mesmos momentos, as mesmas conversas e as mesmas atitudes. É preciso repensar no que estamos fazendo conosco, e reconhecer as reais necessidades do nosso EU como ser no e com o mundo.

    Gostaria, a partir desse desafio de descobertas, de propor que façamos uma viagem de leitura em que possamos dialogar entre nós e construir uma amizade pelo amor que temos pelo conhecimento. Esse amor é uma atitude que na sua diversidade revela a afeição que devemos ter para com a capacidade de pensar sobre nossos pensamentos. Fenômeno esse que podemos identificar como qualidade humana, afinal de contas somente nós somos capazes de pensar sobre as possíveis causas e as consequências de nossas ações. Logo, compreende-se que o princípio do amor é a princípio o ato de poder pensar sobre SI e sobre o outro. Afinal, somente com o outro em relação é possível me destacar como alguém, um eu no mundo em relação e nunca isolado. Estamos em conexão por necessidade comunicativa de sermos e estarmos identificados diante daquele que se aproxima e convive conosco. É dentro dessa complexidade que o sujeito se descobre como pensador, que necessita sempre redescobrir a liberdade de pensar e desvendar o desconhecido, presente nele e no mundo.

    Fazemos parte de uma realidade complexa, interligada por uma natureza orgânica e social, em que uma depende da outra para existir. Somos compostos de células que nos permitem ser desenvolvidos por um processo comunicativo vivo presente no mundo orgânico de nosso corpo. Somos uma realidade corpórea que nos faz existir como seres vivos em relação constante com o outro. Sem essa dinâmica de estar-com-o-outro se tornaria impossível desenvolver as capacidades cognitivas necessárias para nos humanizar. Somos por natureza essa complexidade carregada de possibilidades de interação que nos impulsiona e estimula a procurar saber sobre a realidade de um ser que sempre precisa ser resgatado no decorrer de sua história. Somos uma realidade complexa, que quando esquecida por SI mesma, pode tornar-se tão atrofiada a ponto de produzir atitudes desumanas e desprezíveis.

    É preciso não somente reconhecer, mas considerar o quanto a capacidade racional humana precisa ser incentivada e amadurecida para renovar as ações de leituras de nossa cognição sobre o mundo. Comprova-se assim que somos a espécie que na sua complexidade somente evolui quando interage com outros sistemas complexos semelhantes. Somos por natureza uma complexidade diferencial de outros seres vivos, não por sermos racionais, mas por possibilitarmos que essa interatividade cognitiva se construa como racionalidade. Não é o suficiente reconhecer a inteligibilidade humana, não somente um processamento de pensamentos, ou seja, não nascemos prontos, é preciso reconhecer que fazemos parte de um projeto humanizador que se constrói em conexões interligadas e socializadas. Quando o sujeito se esquece desse fato, esquece também do que é. Comprovando que não somos uma realidade pensante, sem interatividades, pelo contrário, somente podemos usar nossa cognição operante pelo fato de passarmos por um processo de socialização e aprendizagem de faculdades para desenvolvermos nossas capacidades.

    Todo sujeito é parte de uma realidade orgânica a qual se estrutura como conexão que, não compreendida como tal, pode ser reduzida à mediocridade presente na subjetividade moderna. Essa subjetividade configura uma individualidade que faz do EU um objeto reciclável, para o seu bom uso renovado e reaproveitado nas suas práticas sociais. Por outro lado, não se pode esquecer que essa realidade orgânica é complexa na sua conexão biológica e social, um pronome que revela uma primeira manifestação que se identifica como EU, mas que, para aquele que o vê, é identificado em outra realidade, o outro, um TU, uma segunda manifestação como sujeito. Uma dinâmica identitária que por sua profundidade demonstra o ser humano como a espécie mais complexa do planeta, pois não se trata somente de uma realidade neural, mas também do poder de criar e recriar o mundo.

    Nesse aspecto, vale a pena enfatizar que fazemos parte de uma realidade cognitiva que ainda não é tão conhecida pela ciência, pois o cérebro ainda não foi decodificado por inteiro. Não somos ainda capazes de alcançar todos os conhecimentos necessários sobre esse processador que nos dá vida e nos permite conceituar o que é existente. Por mais que possamos alcançar muitas respostas sobre a complexidade que todo sujeito faz parte, sempre ficará uma nova dúvida, sempre ficará a necessidade de responder uma nova questão, uma nova incerteza. Comprovando o quanto é importante olhar mais para as incertezas, diante de uma composição orgânica que revela uma identidade genética que vem bem mais além do que podemos imaginar. Eis a beleza de olhar para uma complexidade que também possui sua autonomia, afinal de contas, o mundo celular é o que nos compõe, pela intangibilidade celular a qual nos proporciona a vida.

    A natureza da complexidade humana não é apenas algo sistemático do consciente ou do inconsciente, mas do que é gerado como estímulo orgânico existente, existe uma força orgânica que estimula nossos atos, em construção e interação com o meio social representado por cada sujeito. Os estímulos orgânicos existem independentemente dos tipos de sistemas sociais, porém somente podem exercer sua força biológica e se desenvolver se o social também criar perspectiva de relações interativas e vitais. Por exemplo, neste exato momento ocorrem sem sabermos os

    estímulos por meio da hipófise, para que eu possa interagir com você no momento que escrevo este livro, mas isso não poderia acontecer se eu não soubesse escrever, e se você não soubesse ler. Isso ocorre e em duas situações distintas, em tempos diferentes e circunstâncias distintas, no entanto somos livres para criar em cada mundo subjetivo a imaginação necessária para uma boa conversa, que, apesar de estarmos próximos pela leitura, também estamos distantes pelo espaço e o tempo ocupados por cada um. Assim, eu convido você a dialogar promovendo o único espaço comum, ocupado em tempos diferentes, que é esta obra. Isso acontece porque o nosso cérebro tem o poder de nos fazer transcender pelo poder cognitivo e nos relacionar por meio da leitura. Na verdade, a cognição humana possui autonomias quase nunca percebidas pelo sujeito, por isso diríamos que é maravilhosa e impressionante a possibilidade do cérebro de exercer a sua função independentemente do que podemos acreditar ou ter consciência sobre o que ele pode estar processando.

    Quando se trata do primeiro capítulo, nos damos conta de que as informações que nos chegam são processadas por um sistema neural, que é estimulado e produz conexão, mas não sabemos como, muito menos a hora do acontecido. No exato momento em que você, como leitor, respira é praticamente impossível perceber os estímulos existentes entre o aparelho cognitivo e o aparelho respiratório. Nesse caso, somos livres para pensarmos, porém não temos como identificar a relação exata entre o pensamento como neurotransmissões orgânicas do aparelho respiratório e o pensamento humano diante dos afazeres cotidianos.

    Isso é identificado quando percebemos que, mesmo sem saber como, o ato de respirar se processa; ele acontece e nos mantém em adequadas condições para preservarmos nossas condições vitais. Os impulsos da respiração não são perceptíveis pelos sentidos, porém esses impulsos nos autocondicionam com o ambiente, o qual estimula a integração de todo organismo vivo. O mundo é um ecossistema interligado na sua complexidade que proporciona a vida. Cada organismo composto por bilhões de células se organiza e estimula o nosso pulmão a gerar o oxigênio necessário para respirarmos dia após dia.

    Quem somos? Essa foi a pergunta que gerou questionamentos que possibilitassem produzir este texto. Como é possível conhecer a SI mesmo? Partindo desse questionamento me dei conta da necessidade de construir um trabalho que pudesse levar em conta a relação do processo cognitivo, na incorporação de atitudes pelo sujeito. Nesse aspecto, revela-se a natureza humana como uma terra fértil, geradora de incógnitas pensantes¹, importantes e necessárias para a fertilização desse solo chamado de realidade humana. Por mais que existam pessoas que tenham se esquecido de sua capacidade de questionar sobre tal realidade, ela existe e nos permite ser o que somos. Foi dentro dessa dimensão que me deparei com a necessidade de possibilitar uma rediscussão sobre o significado de nosso aparelho cognitivo e os elementos que nos condicionam a ver o mundo como ele aparentemente se manifesta ou como realmente ele pode ser.

    Este trabalho iniciou pela necessidade, como professor de Filosofia, de construir uma referência textual que pudesse facilitar o diálogo sobre o conhecimento e a realidade cognitiva do sujeito. Como docente, procurei com este livro fazer uma ferramenta que possibilitasse uma melhor aproximação com aquele que busca se conhecer no mundo. No decorrer da construção do texto, percebi o quanto o tema é complexo por se tratar de uma reflexividade profunda sobre o que podemos conhecer de nossa realidade física e mental. Por conta disso, proponho um diálogo indagador sobre o tema proposto, de maneira amigável com você, que se aproxima de uma conversa profunda sobre SI e sobre o seu EU em desenvolvimento. Espero, meu amigo leitor ou minha amiga leitora, lhe ajudar a rever as indagações das indagações diante de tantas verdades já estabelecidas como verdades permanentes e às vezes impercebíveis.

    Procuro no decorrer dos capítulos construir discussões paralelas entre tempos atuais e as problemáticas abordadas em cada capítulo no intuito de corresponder com as exigências do tema proposto. As primeiras ideias surgiram por meio de discussões sobre a dimensão ontológica do ser enquanto sujeito em processo de construção de conhecimento, durante minhas aulas de Filosofia. Os alunos, apesar de a maioria não se interessar muito por temas relacionados a questões ontológicas, mesmo sem saberem construíam indagações relevantes relacionadas à busca de significados ligados ao campo existencial de sua história como participante de uma prática social.

    Nesse aspecto, a proposta para a elaboração deste texto sempre teve como direção a construção de um diálogo. Um diálogo que viesse contradizer o dogmatismo, quando se trata da realidade do ser e seu processo de relação em sociedade. Procuro ao longo do livro questionar os questionamentos que porventura existem antes de toda leitura, como também que venham a surgir durante e depois deste encontro entre autor e leitor(a). Durante todo o trabalho tento construir um relacionamento com você, para que saiba que durante a leitura você tem todo o direito de se posicionar de maneira ativa com o seu pensamento questionador. Desde já saiba, meu amigo ou minha amiga, que a sua interação com este livro não pode ser compreendida como ato passivo, mais ativo por meio da ação cognitiva que o faz ser uma das espécies mais criativas neste planeta. Assim estamos diante de um trabalho que poderá servir como referência para reflexões que venham ajudar no reconhecimento histórico da arte de pensar sobre um SI, como realidade reproduzida como parte de uma identidade inconsciente a qual será discutida no terceiro capítulo. Assim, estamos diante da proposta de indagar sobre crenças atuais e antigas que norteiam nossa maneira de pensar e de construir críticas sobre o campo existencial de que eu e você fazemos parte. Por conta disso, levou-se em consideração a problemática existente entre o ser ontológico, suas dimensões com o mundo e suas perspectivas do que são em seus aspectos mais reais possíveis. No entanto o grande desafio com este texto está em promover um diálogo mediador e construtivo sobre a problemática ontológica do sujeito e os aspectos de seu EGO EXISTENCIAL cotidiano. Uma autocrítica das críticas já construídas e das que porventura serão construídas durante a leitura deste livro.

    No decorrer do corpo do texto, apresento quatro capítulos que são interligados à problemática da prática cognitiva como prática reflexiva do sujeito sobre SI e sobre o seu contexto subjetivo nas construções de suas relações durante a sua construção de conhecimento em suas experiências de vida. Nesse aspecto, abre-se espaço para colocar em questão os postulados que norteiam o pensamento, a partir de uma perspectiva ontológica. Aos poucos iremos nos dar conta de que o ato de conhecer algo não pode ser resumido a partir de um único ponto de vista, é preciso usar do bom senso para compreender o quanto sabemos pouco sobre o que realmente somos. Com este trabalho você, meu amigo ou minha amiga, terá a possibilidade de escolher no decorrer de suas indagações sobre os possíveis significados de nossa estrutura subjetiva como sujeito. Um artífice de si e do mundo em construção.

    Os quatro capítulos representam a proposta de discutir o filosofar entre uma construção teórica reflexiva e a prática social do sujeito no seu cotidiano. Para isso, levamos em conta o contexto atual da modernidade e as circunstâncias que influenciam o processo de formação da subjetividade atualmente, como campo de força ideológico. Como conhecer o conhecimento como nossa realidade psíquica? É preciso nos descobrirmos como recriadores de um EU que precisa ser valorizado a partir da liberdade de poder contradizer o que nos impõe como crença, a ideia de satisfazer o desejo insaciável da ordem de consumo. Torna-se, então, indispensável um diálogo sobre o que estamos fazendo conosco e quais as consequências que poderão ocorrer quando alguém se esquecer de olhar para o que ele está representando no palco da vida. É sobre esse palco que nos propomos levantar questionamentos em conjunto com você, para que juntos possamos criticar as reflexões e ações já construídas, como também aqueles que ainda irão se construir no decorrer de nossa história. O caminho proposto com essa reflexão encontra-se na importância de que todos nós, como pensadores, somos convidados a reconhecer mais profundamente o contexto de uma subjetividade que mais esconde do que demonstra a real realidade do EU.

    Como a realidade humana faz parte de uma totalidade complexa, propomos no primeiro capítulo apresentar a relação entre o sujeito e um mundo pouco conhecido por ele: o mundo celular e sua complexidade. Esse contexto é aqui descrito como elemento histórico de uma totalidade que se configura na e com a identidade humana. Nesse sentido, é possível nesse capítulo se defrontar com a vida em sociedade, dentro de dimensões não somente antropológicas, mas também dentro da dimensão orgânica das células humanas. Não somos somente seres sociais, mas também uma composição frequente de células que se socializam entre si. Por conta disso, irei, no decorrer do capítulo, levantar questões referentes à realidade orgânica que nos permite construir pensamentos, pois somos constituídos como um ato comunicativo das células, o qual nos permite ter vida e processar pensamentos.

    Nesse aspecto, fazemos a relação entre a capacidade de raciocinar e os comandos realizados pelo cérebro, independentemente de nossa vontade. A partir desse contexto, o primeiro capítulo estrutura-se por meio de informações referentes à complexidade orgânica que somos e sua relação com os condicionantes sociais. Partindo dessa problemática, percebemos que cada identidade faz parte de uma natureza social e que, para se manterem vivas, interagem entre elas e constituem o sujeito que na maioria das vezes ainda não se deu conta do que realmente é. Uma aparência, uma imagem viva, mas também criada para ser uma representação que quase sempre se destaca como um paradoxo entre o que pensamos que somos e o que é possível realmente sermos. Uma identidade que não pode ser definida, pois ela por natureza necessita das modificações para seguir seu fluxo histórico, como é de toda natureza humana.

    No entanto, quando buscamos por respostas sobre tais questões, nos damos conta de que não é tão visível como os positivistas ou os dogmáticos acreditam que poderia ser. Afinal, o mundo é complexo e exige que toda prática pensante vá além das aparências classificadas como verdade absoluta. Portanto o primeiro capítulo serve como fermenta para nos darmos conta das nossas capacidades cognitivas e da importância de conhecê-las e explorá-las da melhor maneira possível.

    No segundo capítulo, trata-se da dimensão do conhecimento, apresentando uma discussão sobre os diversos aspectos do conhecimento. O conhecimento como força simbólica que está também interligado no contexto orgânico do sistema neural no que se concebe como crença sobre um fato, um objeto etc. Levamos em consideração o quanto a relação sujeito-objeto apresentada por Kant ainda é necessária de ser retomada para compreender o quanto as experiências são importantes para procurarmos compreender pelo menos em parte as nossas atitudes. Nesse capítulo procuro filosofar em conjunto com o leitor no intuito de contextualizar esses aspectos e poder, assim, construir leituras mais coerentes sobre o mundo. Na verdade, esse é o principal objetivo com este livro, reconhecer nossas capacidades cognitivas e buscar alternativas para fortalecê-las. Mas para isso é preciso que se entenda que não será possível enquanto não percebermos que o filosofar faz parte da experiência de cada sujeito no seu ato de pensar na realidade vivenciada por ele.

    É preciso que tenhamos a coragem de assumir e elevar a nossa autoestima, pelo reconhecimento de tais capacidades e fazer delas a contradição das distorções presentes quando se observa a realidade. Logo, nos damos conta da necessidade de se discutir sobre os pseudojuízos, pois nem tudo o que é apresentado como conceito serve para desvendar as aparências ditas como verdade. Diante desses aspectos, além de Kant, utilizamos também como embasamento teórico Schopenhauer e Bourdieu, no intuito de referenciar o contexto da subjetividade como uma prática conceitual no dia a dia, a qual deve ser questionada e reelaborada. Por um outro lado, também utilizamos os posicionamentos de Gallo, sobre o desafio de ensinar Filosofia, com o comprometimento de fazer dela a possibilidade de ajudar os alunos a reconhecerem os significados de suas capacidades de conceituar o mundo.

    O produto do conhecimento é o resultado da história reflexiva do sujeito que se faz ser humano por conta dessa capacidade de pensar. Ter consciência de tal produto é sinônimo da presença do espírito de criatividade. Sempre levando em conta a necessidade de fazer da realidade o ponto de partida de toda reflexão que venha possibilitar um conhecimento além de toda criticidade. Nesse sentido, o filosofar nunca pode ser uma proposta para se fechar em um objeto ou em uma verdade, mas uma proposta contínua dialógica para pensar e repensar sobre o que acreditamos ser real.

    No terceiro capítulo, apresenta-se uma reflexão crítica sobre a alta modernidade, tendo como referência a sociedade atual e o contexto fictício de um mundo que tem como base a zona de conforto de um consumo desenfreado. Ressalta-se o drama no mundo moderno em que as pessoas, por mais que não percebam, são vítimas de condições presentes nas suas relações, as quais constituem o drama existencial da vida moderna. Encontramo-nos no decorrer do texto nos questionando sobre: o que fazer diante da necessidade de manter a vida na direção mais humana possível? Mais uma vez nos encontramos diante de um grande desafio, que é o de construir uma postura por meio de uma consciência mais amadurecida pelo filosofar. Não podemos esquecer que fazemos parte do dia a dia em que somos parte de uma família à qual somos ligados, mas também ela é influenciada a ser em parte o que é a modernidade. No entanto, ninguém é obrigado a seguir o que é proposto todos os dias a ser seguido, comprovando o quanto somos revolucionários ao contradizer o que deforma a dignidade humana. É preciso construir uma direção muitas vezes oposta até os mais próximos de nossa família, por isso às vezes o filosofar torna-se tão insuportável para alguns, pois nem todos gostam de ouvir a verdade sobre suas atitudes. Nesse sentido, levo em conta a proposta reflexiva de repensarmos sobre a construção de relações baseadas nas redes sociais, no intuito de dialogarmos sobre o real significado das relações, as quais, para serem saudáveis, precisam se desenvolver mais no valor da presença humana e não nas ficções apresentadas nas redes sociais.

    Procuro no decorrer do capítulo apresentar a relação da identidade com o estado emocional do sujeito e suas implicações na constituição da identidade. O mais interessante de tudo é saber que todos nós sempre teremos como referência um motivo para incorporar uma maneira de viver e compreender a vida. Nesse aspecto, os fatores emocionais sempre farão parte de nossa realidade subjetiva, visto que todo efeito do que move as ações são os impulsos de atitudes que também demonstram parte do que somos. Todo sujeito é levado a pensar e agir sobre o efeito do que lhe dá sentido ao fazer algo. É preciso lembrar que toda comoção ou processos emocionais alteram os comportamentos, logo também podem influenciar de maneira significativa a identidade do sujeito no seu processo de formação. Isso comprova que a emoção move o que o sujeito é levado a ser, move o que ele pensa que é ou acredita estar sendo. Implicando nos impulsos que o sujeito constitui como parte do que ele acredita que deve seguir e fundamentar na sua história biográfica. Seria a celebração das atitudes que visam a uma zona de conforto que nem toda vez ajuda o sujeito a voltar-se para sua realidade.

    Deparamo-nos no decorrer do capítulo com o surgimento de uma nova espiritualidade no mundo global, em que a vontade sobressai no direcionamento da consciência do sujeito. Ela se constitui diante de um campo de força que se expressa pelas diversas necessidades criadas como ciclo de renovações de vontades. Esse ciclo é causado pelo fluxo constante de uma busca desenfreada para dar sentido a uma vida baseada somente nos desejos do mundo moderno. Com isso, nos damos conta do quanto é complexo falar da identidade dentro de um campo ideológico, como é a modernidade atual, fundamentando e constituindo uma identidade que tem como maior referência um cotidiano supérfluo e sem sentido para as necessidades mais importantes para as pessoas. Isso implica em afirmar que todos, seja eu, você, amigo leitor ou amiga leitora, precisamos nos conhecer mais diante do impasse sobre o que nos motiva a viver e o que está por trás de nossas motivações. Fazemos essa ressalva pelo fato de as incorporações de atitudes que nos projetam assimilarem aspectos de um mundo moderno que quase sempre impede de lembrarmos do que realmente somos. Assim, é muito melhor ser taxado como um louco, um diferente dos demais, do que servir de marionete para um mundo pelo resto da vida.

    As considerações sobre a modernidade revelam o drama entre o que o sujeito assimila como crença no seu dia a dia e, por outro lado, a necessidade de ele procurar consciente ou inconscientemente identificar o significado verdadeiro do seu EU, um conflito ontológico que precisa ser desconstruído para que ele possa se descobrir mais. No entanto o maior desafio é construir recursos subjetivos que venham ajudar a contradizer o que não é possível enxergar a olho nu. Ou seja, é preciso construir meios reflexivos mais profundos para aproximarmos das verdades escondidas sobre o que realmente atendemos e seguimos durante nossas relações em sociedade. Não se pode esquecer de que somos uma composição de atitudes que revelam parte do que somos e, por outro lado, parte do que os outros são presentes em nós. Isso ocorre pelo fato de o mundo moderno nos projetar a ser uma ficção, e por isso a realidade psíquica torna-se cada vez mais insegura. Por isso é preciso mais terapia em consultórios, que nada mais vão do que informar a importância necessária que temos de nos conhecer e aprender a administrar nossas descargas emocionais diante do outro que se relaciona conosco. Com esse capítulo, proponho apresentar o desafio de saber um pouco de nossa realidade e as implicações da modernidade sobre a formação da identidade do sujeito, um desafio que nem todo mundo está disposto a encarar. Não é à toa que, durante a construção desse diálogo, seguiremos dentro da perspectiva de que a posição dialógica do filosofar e do filosofante é de caráter dialético, pois você também irá filosofar e questionar o que questiono; o objetivo do livro é estimular sempre novos questionamentos. Nesse aspecto, espero possibilitar com o trabalho a prática brilhante de fazer do questionamento um diálogo cada vez mais profundo e crítico sobre as questões que irão ser apresentadas com este material. Sempre com o objetivo de construir a autoconsciência sobre o que fazemos e acreditamos ser real.

    Tanto no terceiro capítulo como no quarto, destaco a importância de as pessoas autoconhecerem-se em um mundo de relações que nos conecta a todos por meio de atitudes, visto que tudo o que fazemos faz parte deste mundo que nos faz adquirir aspectos de uma identidade, que na maioria das vezes não se sabe como se constitui, ou como foi estruturada. Partindo desse contexto complexo, temos como desafio demonstrar a importância de buscar a compreensão sobre as experiências construídas pelo sujeito no defrontar com a sua realidade. O experimentar não significa descobrir algo ou se conhecer, mas pelo menos serve de recurso para ser questionado, tendo como foco as atitudes em processo de manifestação. Isso implica em afirmar que estamos diante de um mundo moderno que se estrutura em um processo de transformações, seja no campo ideológico sobre as práticas culturais, seja quando se trata de tecnologias cada vez mais sofisticadas para o consumo. O mundo, como sabemos, está em constante mudança, porém isso não quer dizer que os que fazem parte dele irão melhorar os aspectos de sua humanidade, visto que o egoísmo eleva o índice da mediocridade, em que cada vez mais as pessoas reduzem-se a uma individualidade, de modo que os momentos passageiros se tornam indispensáveis nas suas convivências. Configura-se assim um fenômeno cosmológico em que o EU se consagra cada vez mais por ficções e nunca por aquilo que realmente ele pode ser definido nos seus conflitos e nas suas reais necessidades.

    No quarto capítulo, é tratado o drama do sujeito em sociedade, descrevo o sujeito dentro de uma dimensão discursiva a qual revela a sua insegurança no mundo da pós-modernidade. Fundamenta-se por meio de um discurso imposto pela lógica do capitalismo que se apresenta pela necessidade de ceder à rotina do consumo para alcançar o bem-estar. Instalou-se no mundo da consciência das pessoas o discurso paradigmático de que a vida segura somente ocorre pelo que você ganha e é capaz de demonstrar como poder de compra. Estamos diante de axiomas que têm como lógica vital a relação do sujeito com o que ele pode representar para o mercado. Nesse sentido, o sujeito deixa de representar a sua originalidade, os aspectos de sua humanidade, e às vezes, como já vimos, é esquecido por ele por seu discurso de consumo.

    Procuro com esse capítulo pensar sobre questões ontológicas as quais revelam o processo existencial e a natureza psíquica do sujeito, levando em conta a sua autoidentidade, um processo de formação difícil de ser percebido. Tudo o que se refere a tais questões revela um campo existencial conflituoso, pois quando o EU ultrapassa a sua realidade individual se dá conta de que ele é muito mais difícil de ser compreendido quando se trata de sua trajetória histórica. Deparamo-nos com o quanto a imagem de cada sujeito é expressa por atitudes incorporadas no decorrer da vida, para modular estilos de vida que servem mais para escravizar do que para libertar nossa consciência. Mas, para isso, é preciso desconstruir aqueles velhos paradigmas que não permitem que o cérebro se fortaleça diante de tantas barreiras conceituais que impedem de pensarmos de maneira mais livre para recriarmos à nossa maneira de pensar.

    O EU se constitui em mordaças que o impedem de se conhecer, deixando-o durante sua trajetória vulnerável a uma subjetividade moderna que o torna fechado em SI mesmo. Tudo gira em torno de uma necessidade momentânea que o faz acreditar que a maior felicidade do mundo é a realização do prazer de realizar os seus sonhos de consumo. Uma satisfação incontrolável, que nunca é satisfeita, pois ela não corresponde ao que realmente cada EU é por sua humanidade. No entanto milhares de pessoas neste exato momento continuam lamentando por conta de não possuírem um bem material, mas nunca por não conseguirem se decifrar como pessoa. Nunca lamentam por não conseguirem ser mais humanas na sua história de vida. E o que mais surpreende é que mesmo quando se dão conta de que precisam ser mais humanas e conhecedores de SI mesmas, não se importam muito com isso e às vezes remoem todos os campos negativos de sua vida, para fixar cada vez mais barreiras que somente servem para se esquecer do valor da sua dignidade humana.

    Partindo da necessidade de se conhecer, nos deparamos com o fenômeno da loucura, a qual não tem somente como significado um problema patológico, mas traz consigo a atitude de contradizer o que se apresenta como estado de normalidade e de obediência. Revelando o quanto é necessário contradizermos as normas para que elas sejam, dentro das possibilidades, modificadas e assimiladas não mais para nos tornarmos escravos, mas livres em aceitá-las ou não. Não pretendo imaginar uma sociedade sem normas, sem leis, mas propor uma autoavaliação das normas enraizadas para o consumo e o estilo de vida moderno que paralisam a beleza da criatividade do

    pensamento humano. Portanto, quando apresento os aspectos da loucura, o interesse é de despertar o leitor sobre os aspectos positivos da qualidade de ser louco, não como ameaça à sociedade, mas como aquele sujeito sonhador que busca desesperadamente desvendar a SI mesmo e a uma realidade mais real a ser seguida.

    Para valorizar a realidade psíquica da qual somos constituídos, é preciso compreender que somos parte de um discurso que se manifesta por nós em sociedade. E diante do que é criado no discurso como verdade não devemos nos sentir obrigados a tomar todos os dias da mesma água discursada. Nesse sentido, é pertinente que sejamos mais críticos recreativos sobre a nossa imagem constituída, sobre conceitos discursivos em um mundo vivenciado por nós, que precisamos contradizer e nos opor diante do que desvaloriza nossa capacidade de pensar. Nesse contexto, percebe-se que o discurso não revela somente um palavreado no decorrer de uma conversa, mas a complexidade da realidade social, que se manifestam por meio de enunciados que se exprimem na e com a identidade do sujeito. O discurso é o produto do pensamento que se articula com as palavras, sustentando-se por meio do que é multiplicado nas práticas discursivas. A partir dessa problemática, procuro traçar nesse capítulo a necessidade de buscar por meio da ironia um diálogo entre EU e você, amigo leitor ou amiga leitora, para que juntos, no decorrer da leitura, possamos refletir sobre novas possibilidades de ver o ser humano e seus desafios diante do que é proposto para seguir como padrão de vida e maneira de pensar sobre o que ele é e os modelos comportamentais que ele deve seguir. Eis o grande desafio de tentarmos juntos decifrar durante nosso diálogo, a dinâmica discursiva do mundo atual moderno, no que se refere aos parâmetros adotados para identificarmos o bom sujeito. O que classificamos como bom homem ou boa mulher? Partindo dessas perguntas poderemos avaliar os parâmetros que movem a nossa tomada de conceituação sobre a qualidade de pessoa que acreditamos sempre demonstrar e adotar como modelo. Qual é o modelo de sujeito que você acredita ser o melhor? O que comprova que você está certo? Esses questionamentos poderemos confrontar melhor no decorrer desta leitura e assim construirmos um diálogo que poderá somar com o que de mais importante procuramos descobrir, os conhecimentos necessários sobre a nossa realidade intrínseca, o nosso

    Nesse aspecto, nos damos conta de que a estrutura do EU incorpora atitudes, gestos, como também uma postura de compreensão das coisas. Uma herança que por meio da consanguinidade permanece conosco por muitas décadas. Partindo desse aspecto, não somente incorporamos um papel social, mas também somos incorporados por ele, principalmente quando deixamos de acreditar em nossa capacidade de nos opor a modelos psíquico-sociais que desfiguram e alteram a consciência que temos diante do que representamos por atitudes. É importante considerar que apesar da presença do feedback entre o que incorporamos e o que é refletido por meio de tal incorporação, nem toda vez isso é mantido com tanta fidelidade. Podendo muito bem o sujeito transgredir aquilo que é proposto para ele assumir como identidade, mas nunca se sabe se ele será realmente o autor daquilo que ele tenta projetar como imagem de SI, afinal de contas quase sempre representamos o que fizeram de nossa identidade em atitudes renováveis todos os dias.

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